Nos caminhos da vingança escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 17
Na estalagem de Sheng




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/795422/chapter/17

A lua já iluminava o caminho e a luz escassa do sol fazia com que o céu ficasse com várias cores. As corujas começavam com seu piado e de longe se podia ouvir o coaxar de alguns sapos de uma lagoa próxima. Tatsuo estava mergulhada em seus pensamentos enquanto ouvia o pisar das folhas secas. O caminho que trilhara até ali não fora algo tão fácil. Naqueles três dias aconteceram coisas inusitadas como cruzarem no caminho de alguns assaltantes que ela junto com Kenshi tiveram que eliminar a fio de espada. Passaram por aldeias com pessoas que viviam em condições desumanas, as vezes pedindo comida ou apenas um copo de água. Com toda sua experiência Tatsuo não via a hora de chegar no clã do Dragão Vermelho, pois se sentia sem ação quando se deparava com tais situações. 

Quando chegaram na estalagem se depararam com um lugar nada convidativo. Era um sobrado feito com madeira de bambu, mas a madeira estava bem gasta devido ao tempo deixando o local com um aspecto abandonado. Cassie olhou em volta, pegou o mapa dentro da sua mochila e com ajuda da luz de um poste que tinha ali perto foi verificar se era aquele o lugar em que passariam a noite. Ficou olhando por alguns instantes e concluiu:

— É aqui mesmo.

— Vou ver se tem alguém ali dentro - disse Kenshi colocando a mão na fronte e depois de alguns segundos concluiu - tem apenas um casal jovem e estão nos esperando.

Em seguida Cassie foi até a porta e deu três batidas fazendo um barulho oco entre as madeiras. Não demorou para que uma jovem de pele bronzeada, olhos amendoados e cabelos trançados abrisse a porta. Ela olhou cada um dos viajantes e perguntou:

— Vocês são o pessoal da general Blade?

— Isso mesmo - respondeu Takeda logo atrás de seu pai.

A jovem deu passagem aos hóspedes e deixou que se sentassem em umas cadeiras simples de madeira. Eles se sentaram deixando suas respectivas bagagens no chão empoeirado. Podia-se ouvir como que se alguém estivesse batendo em alguma madeira com um martelo e anfitriã se apresentou:

— Me chamo Xiu-Mei e o que está fazendo barulho ali em cima é o meu marido Sheng. Estamos fazendo uma reforma nessa estalagem, pois compramos recentemente esse lugar que estava abandonado. Espero que um dia vocês possam ver como irá ficar, pois temos bons planos para essa estalagem.

O entusiasmo de Xiu fez com que eles se acalmasse diante do que pensavam sobre aquele lugar, pois como herdara uma bom dinheiro encontrou aquele lugar para terem seu ganha-pão e tinha esperanças de ver aquele negócio dar frutos. Um dos parentes de Sheng é monge na academia Wu Shi e foi ele que indicou a Sonya aquela estalagem. 

Xiu chamou-os para subir e conhecer os quartos. Ela primeiro entrou no quarto dos rapazes apresentando o cômodo onde tinha dois futons novos e uma parte separada com uma cortina feita de um plástico mole onde ficava uma banheira feita de porcelana para o banho e do outro lado um espaço separado com uma pequena parede de bambu fino para se trocar de roupa. Os dois gostaram do lugar que parecia aconchegante e ficaram por ali. Em seguida Xiu levou Cassie e Tatsuo para o quarto delas que era igual ao dos rapazes só que com um pouco mais de espaço. 

— O que acharam do quarto meninas?

— Achei muito bom - respondeu Cassie - bem espaçoso e você Tatsuo?

— Gostei também!- respondeu Tatsuo passando a mão pela cortina da banheira sem olhar para as duas.

— Que bom que gostou - exclamou Xiu com um sorriso - ficamos muito felizes em saber que íamos acolher vocês aqui. Kung Jin está bem, não é?

— Conhece o Jin? - perguntou Cassie atonita.

— Ele e meu esposo cresceram juntos. Sheng tem um tio que é monge na Wu Shi e sempre foi fã de Kung Lao. Soube que ele apareceu como espectro na batalha do Sky Temple e mesmo ele assim queria vê-lo.

Ao ouvir aquilo Tatsuo quase revelou o segredo que seu amigo havia pedido para guardar. Respirou fundo e sentiu suas mãos suar. Para disfarçar o nervosismo disse:

— Tive a oportunidade de treinar com Kung Jin e ele sempre falou muito bem de Kung Lao. Tenho certeza que ele foi uma pessoa incrível.

— E era. — respondeu Xiu com um lhar triste — Mas infelizmente está do lado do mal agora. Como eu queria que ele voltasse a vida. Por causa do meu marido acabei pegando admiração por ele e torço para que ele volte ao convívio dos vivos um dia.

Tatsuo se sentia culpada por não revelar a verdade, mas era preciso manter o segredo. 

Xiu deu uma olhada na janela e disse:

— Vou lá para baixo terminar o jantar de vocês. Podem ficar a vontade.

Em seguida ela saiu deixando Cassie e Tatsuo no quarto. Cassie foi até a janela, ficou um pouco ali admirando a paisagem por alguns instantes e perguntou:

— Se importa se eu tomar banho primeiro?

—Pode tomar - respondeu Tatsuo pegando a sua soultaker.

Olhava para ela e sentia certo remorso pelo que aconteceu naquela noite entre ela o Kenshi na estalagem da senhora Yuri. Passou mão na soultaker acariciando-a e lembrando de Takeo, respirou fundo e uma profunda comoção tomou-lhe conta fazendo cair algumas lágrimas e disse em japonês:

— Me perdoe, Takeo. Eu trai você.

Ela não ouviu nenhuma resposta, olhou em direção ao céu estrelado e começou a refletir em cada palavra que a senhora Yuri havia lhe dito. Tatsuo tinha medo de assumir aquela paixão que lhe corroía por dentro e tentava imaginar o que Kenshi estava pensando dela, pois naqueles três dias ela só falava com ele o necessário. 

— Já terminei - disse Cassie se enrolando na toalha.

Tatsuo se voltou para Cassie que refazia o coque em seu cabelo. Guardou a soultaker, colocou-a do lado do futon que iria dormir e foi até a sua bolsa procurar a roupa e a toalha para se banhar. Já vestida, Cassie terminou de estirar sua toalha em uma das janelas e disse:

— Vou descer para te esperar para jantar.

Tatsuo anuiu com a cabeça e Cassie saiu do quarto deixando-a sozinha. Quando a japonesa estava prestes a tirar sua blusa notou a presença de alguém e não demorou para que Kenshi aparecesse na porta com a cabeça baixa e sem a faixa nos olhos. 

— Já vai descer? - ele perguntou.

— Sim, aconteceu alguma coisa?

— É que eu quero garantir que você não irá jantar isolada de nós novamente.

— Isso não irá acontecer. Vou tomar um banho rápido e já desço.

O espadachim anuiu com a cabeça e fechou a porta. Tatsuo procurou a chave  e quando a encontrou trancou-a para evitar algum infortúnio enquanto tivesse tomando banho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nos caminhos da vingança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.