Na aula, perguntei a Harry se havia conseguido resolver o enigma do ovo e pela expressão que fez, aposto que nem havia tentado algo. 

Harry comentou que depois que eu saí, ele e Ron combinaram de ir para o baile com Parvati Patil e sua irmã gêmea. Aparentemente, nenhum dos dois ouviu algum “rumor” sobre mim pela manhã, já que não fizeram nenhuma pergunta sobre o assunto. De todo jeito, era possível ver algumas garotas cochichando e olhando em minha direção, mas isso não importa, acho que se a própria Rita Skeeter escrevesse algo sobre o assunto, eu não ligaria. A opinião que me importa é a dos meus amigos.  Eles estão bem? Então estou bem também.

Após a aula decidi voltar ao dormitório e fazer o básico que não tive tempo de fazer pela manhã. Um bom banho certamente me ajudaria a relaxar.

Quando voltei ao quarto, uma Gina curiosa estava sentada esperando uma explicação.

—Então… Qual gêmeo devo agradecer por agora eu poder te chamar de cunhada?

Quase tropecei em falso quando ouvi a menção à “cunhada”. Já estava planejando contar a mesma história do Fred sobre o jogo, mas caiu a ficha de que eu precisaria de alguém para conversar. Quando o assunto era Ronald Weasley, não contei a ninguém e a sensação que eu tinha era de estar fazendo um papel de trouxa esperando alguma atitude dele. Quando pude conversar com Fred, foi bom perceber que Ron só estava agindo como qualquer garoto da idade dele e não  tinha nada de errado comigo. Agora o problema era outro e não dava para conversar com Fred sobre ele mesmo.

Gina foi uma excelente  companhia enquanto dividimos uma barraca na Copa Mundial de Quadribol. Decidi contar tudo, desde o verão. De passar horas pensando no jogo que ele me deu de presente (que agora ficava ao lado da minha cama e já tinha quatro vezes o tamanho inicial), de me encontrar sozinha com ele na biblioteca. Do abraço, do beijo… Dos beijos… Falar sobre isso me fez perceber como tudo aconteceu rápido demais e, sinceramente, nem sei se realmente gosto do Fred ou só criei um interesse repentino devido a recente proximidade.

Gina ouviu atentamente, reagindo aos momentos fofos e julgando Ron, assim como eu, quando falei sobre eu estar do lado dele enquanto ele tentava "caçar" garotas e sequer pensou em me convidar. Terminei falando sobre a fala da professora Mcgonagall e como Fred contornou a situação para me deixar bem. Fiquei feliz por ele ter feito isso por mim, mas me senti culpada pois nós  dois tínhamos quebrado as regras.

—Fred tem quatro irmãos mais novos, Hermione. Acho que essa personalidade mais protetora é tão natural quanto a de pregar peças. Mas no seu caso, acho que ele não fez pensando em você como uma irmãzinha… 

—Será..?

—Hermione! As coisa que vocês fizeram com certeza não é carinho entre irmãos, né?(isso soou tão estranho quanto imagino?) Meu irmão é bem saidinho. Já ficou com bem mais garotas que o Jorge, com certeza, mas eu achava que ele teria um lado mais romântico quando tivesse coragem de sair com a Angelina. Quando ele convidou ela para  baile, eu tinha certeza que ele ia tomar jeito e ter algo sério com alguém, mas agora me parece que a pessoa com ele está sendo romântico é você.

Fiquei tão corada quanto eu poderia ficar.

—É, mas eu gosto do Ron… Pelo menos era o que eu pensava até o Fred mexer com minha cabeça. Talvez eu goste dos dois. Talvez eu não goste de nenhum, sei lá… Eu não sou exatamente uma especialista em sentimentos!

— Pode deixar que a especialista nesse caso sou eu! - Gina respondeu orgulhosa. Ela é 1 ano mais nova e fala como se tivesse 10 a mais! Bem, que escolha eu tenho além de confiar nos conselhos da minha cunhada?

— Ok, minha cara conselheira. O que eu faço em relação a Fred e Ron?

—Nada.

—Como assim?!

— Hermione, ninguém está te pedindo para assinar um termo de compromisso, nem namoro, nem nada. Você tá pensando demais em algo subjetivo, você não tem que escolher alguém… Não é como se fosse o fim do mundo e você tivesse que escolher algo que fosse mudar o resto da sua vida nesse exato momento! Relaxa…  Pense na Hermione agora. O que ela quer nesse momento? Paz? Sossego? Porque eu acho que o que faria bem à Hermione agora é deixar todas essas indecisões de lado e pensar em como será ir ao baile com o aluno mais charmoso da Durmstrang.

O baile! Quase me esqueci de responder ao Krum!

  Agradeci a Gina e disse que precisava ir à biblioteca. Saí o mais rápido que pude rumo ao 4º andar. 

Encontrei Viktor Krum em sua mesa tradicional lendo um capítulo de Hogwarts, uma história. Sem garotas ao redor dessa vez. Pelo visto o horário de almoço é o melhor momento para encontrá-lo sem correr riscos.

—É um dos meus livros preferidos.

Comentei para chamar sua atenção. Ele sorriu para mim. O mais próximo de um sorriso que seu rosto sério poderia chegar.

— É impressionantee como a estrutura da Hogwarts é enfeitiçada para manter clime sempre acanchegante… Em Dursmtrang, no temos aulas algumas semanas devido tempestade de neve tornar quase impossible sair dos dormitórios.

— Como se sente não tendo que usar casacos de pele o tempo todo?

—Mais leve, con certeza. Vou ficar mal acostumado.

Dei uma risada. Ele me olhou como se estivesse ansioso.

—Eu aceito ir ao baile com você, Krum.

Seu rosto apresentou covinhas enquanto sorria.

—Me chame de Viktor, Hermounee. 

Sorri de volta.

Tudo aconteceu de maneira leve e espontânea. Gostaria que o resto da minha vida fosse temperada com essa sensação de baunilha. Com Ron as coisas pareciam amargas e com Fred, picantes.

Sentei na mesa com Viktor e ficamos cada um estudando seu livro, sem trocar mais palavras. Percebi que estava com fome e ele se ofereceu para me acompanhar no almoço, mas certamente eu não sentaria na mesa da Sonserina e por ordem do seu diretor, todas suas refeições definidas por um cardápio balanceado seriam servidas na mesa da Sonserina.

Me despedi e fui para o Salão Principal comer na mesa da Grifinória. 

Não vi Fred o resto da tarde. No início da noite, levei Harry e Ron para ver o Dobby. Ele parecia tão empolgado com seu trabalho como da última vez que o vi.

Mais um dia termina e enfim terei uma noite de sono sossegada.

***

No dia seguinte, encontrei Gina no salão Comunal e falei sobre ter visto Viktor. Comentei sobre ele ser bem mais tímido do que se imagina de um atleta famoso e ela brincou que quando ela fosse uma atleta famosa, iria aproveitar todas a regalias que pudessem aparecer. Combinamos de nos arrumarmos juntas para o baile e fomos para a aula.

À noite, fui a procura de Filch, pois ele supervisionaria a limpeza da sala de Troféus. Fred também estava lá, não conversamos desde o incidente na varanda.

O trabalho foi desgastante, não podíamos usar magia como punição. Como vim de uma família não mágica, aquela experiência não era nova. Achei que Fred poderia apresentar alguma dificuldade, mas acho que que sua experiência vem de um sólido histórico de detenções. 

Ele não parecia querer me olhar na cara. Às vezes eu tinha impressão que estava me olhando, mas no segundo em que eu ia encará-lo, ele virava o rosto.

Aquela detenção poderia ser mais divertida sem a presença de Filch. Provavelmente Fred sabia dezenas de histórias de quadribol e eu teria algumas sobre Hogwarts para compartilhar, mas ao contrário disso, toda a limpeza foi feita num ambiente silencioso. Apenas ouvíamos uma ou outra conversa de Filch com sua gata sobre como era bom ver jovens delinquentes pagando por seus pecados.

Ele nos acompanhou até a entrada do Salão da Grifinória e enfim ficamos a sós.

Fred olhava para o chão. 

Quando estava prestes a subir as escadas, eu segurei sua mão.

—Algum problema, Fred?

Perguntei receosa. Ele pareceu surpreso, mas então vestiu uma máscara de humor indiferente e respondeu.

—Sem problemas Granger. E você? Como tem passado?

Ele respondeu de maneira cordial, quase sínica… Talvez um pouco amargurado.

—Estou, só que… Parece que você está me evitando.

— Pensei que fosse isso que você quisesse. Agora que tem um pretendente famoso, não precisa de outro Weasley para tapar a vaga não ocupada pelo meu irmão tapado.

Aquilo me pegou desprevenido.

—Do que você está falando, Fred? 

Tentei falar sem elevar demais a minha voz, apesar dessa resposta ter me deixado exaltada.

—Lino comentou comigo que viu vossa senhoria aceitando o convite para o baile do Viktor. Pensei que sua resposta ao meu irmão era um jeito de alfinetá-lo… e com toda razão. Mas pelo visto, outro rapaz realmente havia notado sua beleza perdida entre os livros… Melhor ainda, um rapaz famoso com grande habilidade para realizar a Finta de Wronski.

Fred estava com ciúmes?

—Fred, eu vou com Viktor, você vai com Angelina, qual o problema nisso?

— O problema é que… - ele pareceu parar e rever suas palavras, espero que tenha revisto a possibilidade de comentar qualquer coisa machista - eu achei que aquilo havia significado algo para você, mas pelo visto só eu senti que algo seria diferente entre a gente.

Eu queria dizer que ele estava certo, que seria diferente e ficaríamos juntos voando em um Pégaso num romântico conto de fadas, mas não seria racional da minha parte e Gina me ajudou a lembrar como preso pela minha razão.

—Fred… 

Só agora notei que eu ainda segurava sua mão. Mantive ela comigo.

—Significou muito para mim, sim. Mas não vamos agir de forma precipitada. Você gosta da Angelina, aproveita essa oportunidade de estar perto dela sem que seja algo que envolva quadribol! Eu vou com Viktor. Ele não parece conversar com mais ninguém de Hogwarts, pode ser uma boa forma de trocarmos experiências. E dê a Angelina a noite especial que ela merece… Saia com ela de novo. Se algo a mais rolar, divirta-se! Seja romântico e cafona… Ou aja como você gostar de agir com alguém que você gosta - imagino que seja de um jeito mais malicioso que eu possa falar- e não crie algum receio pensando que me deve alguma… fidelidade ou coisa asim, porque não deve.

Não consegui decifrar seu olhar. Seu comentário a seguir foi baixo, nem parecia um Weasley falando

—Podemos continuar conversando normalmente?

Sorri e segurei sua mão com as minhas duas mãos.

—Com certeza! Ainda preciso lhe dar consultoria sobre jogos e não quero perder meu humorista preferido.

—Ainda bem, Não sei onde mais encontraria alguém que tenha feito a matéria de Runas antigas. Não quero nem imaginar ter que mandar uma coruja para o Percy!

Ele apertou minha mão. Estava quente, me fazia imaginar ganhar mais um abraço aconchegante Weasley.

— Depois do baile, se ainda quisermos algo um com outro, vamos fazer isso do jeito certo. Hogsmeade, cerveja amanteigada, Dedos de Mel? 

—Parece perfeito para mim!

Ele me puxou e deu um beijo em minha bochecha. Meu rosto ficou quente, tive uma súbita vontade de beijar ele como antes. Mas me segurei. Vamos com calma, temos todo tempo do mundo…

Ou será que não?