P.O.V. Cam

Eu era feliz. Eu tinha uma familia, uma casa, tinha passado em uma faculdade para cursar direito, mas o mais importante: Eu tinha Sam.

Passamos alguns meses elaborando nosso plano caso nós dois passássemos na mesma faculdade, e sim, cogitávamos outras, mas era no primeiro plano que eu estava me apoiando.

Quando eu vi que Sam tinha passado em todas as suas opções fiquei super feliz por ela,  impressionado não, porque eu conhecia a minha garota, mas meu foco era o plano em que ficássemos juntos.

No dia que ela me contou que não iria para Columbia comigo, eu fiquei sem chão. Eu sabia da possibilidade, mas não esperava ficar tão longe dela. Foi quando tivemos a nossa primeira briga.

Com o passar dos meses, ainda no ano que tínhamos partido para a faculdade, começamos a nos afastar, e tanto ela quanto eu tínhamos constantes crises de ciúmes. Entretanto, era de Sam que estávamos falando. Se eu tinha certeza de alguma coisa, era que eu queria ela na minha vida para sempre.

Ao final do ano, quando as brigas e o distanciamento estavam ficando insuportáveis, eu decidi. Eu viajaria até Sammy e a pediria em casamento. Gastei boa parte das minhas economias naquele anel, mas valeria a pena.

Eu não precisava casar com Samantha agora, mas teríamos uma segurança de que isso aconteceria um dia e, para mim, aquilo já era mais do que o suficiente.

Entretanto, no dia em que liguei para combinarmos a data que eu a veria, ela jogou a bomba:

—Oi, Passarinha. - Ela estava linda, mesmo pela chamada de vídeo. Ela sempre estava linda.

—Oi, Cam. - Ela parecia desanimada.

—Está tudo bem?

—Eu queria conversar com você. - Eu também, estava com saudade. Pensei, mas antes que eu falasse ela se pronunciou.- Eu te amo, com cada pedacinho do meu coração, e espero que saiba disso.

—Sam, eu… - Tentei falar, mas ela me cortou.

—Por favor, me deixa terminar. Se não, não vou conseguir. Não faz isso mais difícil do que já está sendo. - Ok. Eu havia entendido. Ela estava terminando comigo. Senti uma dor forte no peito, como se meu coração estivesse se desintegrando. Soltei uma lágrima, mas a limpei, antes que Sam visse. - Eu estou cansada de brigar, Cameron. Eu estou cansada de sentir ciúmes. Estou cansada da sua desconfiança e estou cansada da distancia.

—Sam, eu concordo, mas…- Eu queria contradizer, explicar, mas ela me cortou mais uma vez.

—Concorda? - Ela olhou para a tela novamente.

—Sim, mas…- Ela me cortou novamente.

—Isso é bom, porque, depois de tudo o que a gente viveu, a última coisa que eu queria era ter um final ruim com você. - Foi quando eu percebi que, não importava o que eu falasse naquele momento, a decisão dela já havia sido tomada, seria melhor apenas aceitar.

— O que eu menos quero é ter lembranças ruins de você, Sam. Não sei se seria, sequer, capaz disso.

—Obrigada, Cam. Por tudo.

—Você também, Sam. - E saiba que eu também te amo, com cada pedacinho do meu coração, completei mentalmente enquanto ela desligava.

Eu chorei! Chorei muito e nem saí do quarto pelos três dias seguintes. No terceiro dia a noite, meu colega de quarto me arrastou para o bar, dizendo que era melhor me afogar na bebida em um lugar com um monte de gente do que chorar sozinho no quarto.

Foi naquela noite, naquele bar, que encontrei Gisela pela primeira vez. Gisela era o tipo de garota que sabia o que queria e não parava até conseguir, o que foi de grande ajuda pra mim, já que ela decidiu que o que ela queria era eu.

Gisela era bonita, não podia negar, mas era uma beleza completamente diferente da de Samantha, o que olhando por um lado, era bom, já que não me lembrava ela.

Menos de um mês depois, estávamos namorando. O problema é que o tipo de pessoa que Gisela era enjoa facilmente depois de alcançar o objetivo que queria. Por isso nosso relacionamento não durou muito.

De qualquer forma, foi um bom ponto de partida e me deu exatamente o que eu precisava para manter minha cabeça longe de Sam. Sim, longe, já que era impossível esquece-la.

A partir desse, surgiram muitos e consecutivos relacionamentos, alguns de uma noite, outros de um pouco mais de tempo, mas nunca muito tempo. Toda vez que eu recebia uma notícia de Sam por acaso as coisas iam por água abaixo.

Mas mantive minha cabeça nos estudos, caso estejam se perguntando, minhas notas eram ótimas, resultados das técnicas de estudo de Sam e, ainda antes de terminar a faculdade, eu já estava empregado.

Me afundei ainda mais em mulheres e no trabalho, quando nas férias logo após a formatura, fui visitar a minha família. Emma estava na Califórnia, para a formatura de Sam, mas consegui ouvi-lá chegar no meio da noite, batendo com as malas em tudo.

Na manhã seguinte, estava indo em direção a cozinha, quando a ouvi conversando com a minha mãe:

—Aí, do nada, o cara levantou, falou várias coisas, como algo sobre ter salvado a vida de Sam e como a formatura era um novo capítulo para eles, e pediu a minha amiga em casamento no meio do restaurante. - O que? Sammy iria casar?

—Ela aceitou?

—É claro que ela aceitou, os dois estão morando juntos há quase um ano. - Era oficial. Eu tinha perdido a mulher da minha vida para alguém melhor e não deixaria ninguém me machucar assim de novo.

***

Assim que cheguei em casa, um apartamento de dois quartos no centro da cidade, cogitei jogar o anel pela janela. Sim, eu ainda guardava o anel que havia comprado para Sammy tantos anos antes, mas não tive coragem. Só fechei a pequena caixinha e guardei ainda mais fundo no armário.

***

Um dia, quase um ano depois, recebi uma ligação da minha irmã:

—Como vai o cara mais canalha de Manhattan?

—Com saudades da minha irmã gêmea, que me abandonou.

—Saudades não mais, meu querido. Estou indo morar com você. O quarto extra da sua casa ainda está vago?

—Está sim, Em. Vou ficar muito feliz de te ter aqui.- Suspirei. - O aluguel aumentou e estou precisando de alguém para dividir as contas.

—Você não tem noção do quanto essa noticia me deixa feliz, maninho. Eu chego quarta-feira que vem, você vai me buscar no aeroporto. Te mando todas as informações do voo. Te amo, bye. - Ela falou tudo de uma vez e não esperou a minha resposta para desligar. Típico.

Isso era bom. Minha irmã estava indo morar comigo.