Assim que Larissa conseguiu se acostumar com a claridade do ambiente e manter seus olhos abertos depois de acordar, estranhou por alguns segundos o fato de não estar no próprio quarto, porém logo um sorriso se espalhou por seu rosto ao lembrar que estava em um hotel muito bom que tinha orgulho de ter sido capaz de bancar.

Desde o começo do ensino médio havia feito um trato consigo mesma, trabalhava meio período e estudava ao máximo em qualquer tempo vago que tivesse, agora estava formada com ótimas notas e aprovada na faculdade que queria, então merecia a viajem de férias que tanto economizara para ter antes do início das aulas.

Antes que tivesse tempo de levantar, um corpo minúsculo caiu sobre o seu e uma juba de cachinhos loiros fez cocegas em seu rosto ao mesmo tempo que uma voz animada preenchia seus ouvidos.

— Levanta, Larissa! Olha o solzão lindo que tá lá fora e você aí vegetando.

Por um instante ela se arrependeu de chamar Adriana SanValle para acompanhá-la na viagem, mas não passaria um mês inteiro sozinha em Fortaleza, uma cidade que só conhecia por suas pesquisas na internet. E que companhia seria melhor do que a louca de estimação que tinha o costume de chamar de melhor amiga?

— Agora tá explicado porque diabos o quarto tá tão claro. — Resmungou em resposta, empurrando-a para o lado e se espreguiçando. — Drica, se eu não tivesse passado três horas de voo ouvindo a sua risada escandalosa do meu lado, eu nem acreditaria você tava naquele avião. Acho que o sangue tava em falta na fábrica de humanos e te mandaram com Redbull, só pode.

— Ah, aquele filme é hilário e quatro horas de sono são mais que suficientes. — Adriana replicou saltando para fora da cama e puxando os cabelos para prendê-los em um rabo de cavalo improvisado, expondo todo seu rosto cor de jambo enfeitado por um sorriso. — Vamos, gata. O céu já acordou e nós também. Toma um banho bem gostoso e troca essa roupa que a gente vai sair. Quero comprar um biquíni pra gente poder conhecer alguma praia hoje.

— Comprar? Você tem pelo menos uns cinquenta biquínis, garota. — Larissa constatou, olhando-a indignada.

— Mas eu não trouxe justamente pra gente fazer comprinhas. — ela disse ainda em um tom animado demais pra quem dormira tão pouco.

— Aaaaaa! Eu te odeio, Adrianaaaaa! — Resmungou de novo, dessa vez cobrindo o rosto com um travesseiro, logo sentindo seus tornozelos sendo puxados por aquele projeto de anã e sabendo que não adiantaria reclamar, teria que ir.

Depois de levantar fazendo sua melhor expressão de contrariada, Larissa pegou roupas na mala e foi tomar banho, deixando que a agua morna escorresse por seu corpo levando com ela a preguiça e o sono. Dar uma volta e conhecer um pouco de Fortaleza não era mesmo uma ideia ruim, lidar com a agitação natural da melhor amiga ao acordar que era a parte difícil. Mas fazer o que se amava aquela maluca?

Em alguns minutos já estava arrumada e saindo do banheiro, não tendo tempo nem de dizer “estou pronta” antes de ter seu braço enlaçado por Adriana, que a arrastou para fora do hotel, onde pegaram um táxi.

— Pra onde, moças? — o homem de meia idade perguntou, olhando-as pelo retrovisor.

— Shopping Iguatemi. — disse Adriana sem hesitar.

— Shopping Iguatemi? — repetiu Larissa arregalando os olhos. — Drica... Às vezes você esquece que você é uma burguesa safada. Eu não.

— Ai, para de drama, criatura. Tu já fez questão de pagar o nosso quarto, agora deixa eu gastar meu dinheiro. — replicou revirando os olhos e rindo. — Do que adianta ser uma burguesa safada se não posso encher a minha BF de mimos?

Larissa revirou os olhos, mas logo em seguida sorriu e concordou. O que nem foi ruim já que as ruas onde passaram de táxi eram de fato lindas de se ver por conta do Edson Queiroz ser um bairro nobre de Fortaleza, além de que o próprio Shopping Iguatemi era muito bonito e um ótimo lugar para turistas entupirem os storys do Instagram de tanto tirar fotos e fazer vídeos.

Depois de passar horas rodando de loja em loja a procura de biquínis perfeitos (no plural já que Adriana fazia questão de comprar um para a melhor amiga mesmo que ela tivesse trago), as duas pegaram outro táxi e pediram ao motorista a recomendação de alguma praia legal que elas pudessem visitar, ao que o homem indicou a Praia do Futuro.

O caminho até lá durou certa de vinte minutos. Ao descer do táxi e olhar ao redor, viram várias barracas restaurantes e só aí perceberam que ainda não tinham comido nada, então logo escolheram uma delas e pediram o almoço ao som de uma banda que tocava forró ao vivo.

Enquanto esperava, Larissa deu outra boa olhada ao redor e percebeu há alguns metros de distância um rapaz de cabelos pretos e sem camisa, expondo a pele bronzeada, ajoelhado na areia fazendo a arte de paisagem na garrafa de vidro com areia colorida. Esse era o tipo de coisa bem típica que ela faria questão de levar para casa como lembrança, então pediu para Adriana olhar seus pertences enquanto ia verificar o preço das garrafinhas.

Ela não precisou se anunciar, pois assim que se aproximou seu corpo fez sombra sobre o garoto, que logo direcionou as íris castanhas e bem escuras para vê-la.

— Bom dia, moça. — cumprimentou-a com um forte sotaque nordestino, abrindo um sorriso simpático e muito bonito.

— Bom dia. — Larissa respondeu retribuindo o sorriso. — Quanto custa uma dessas que você tá fazendo?

— Olhe, desse tamanho aqui tá sessenta, mas pra tu eu faço até por cinquenta. — disse ele mostrando uma garrafinha de cerca de oito ou dez centímetros. — Ou se tu quiser eu tenho um’as maior que essa.

A garota arregalou os olhos por trás das lentes do óculos e perguntou embasbacada. — É sério?

A resposta inicial veio em forma de uma gargalha, porém ele também falou. — Nam. Eu to zoando. To só treinando, aprendi a fazer tem pouco tempo com meu ti, sei nem quanto é. Eu troco por uns minutos de conversa e o seu nome, se tu tiver paciência de esperar eu terminar.

Larissa fez uma breve expressão pensativa, então sorriu e se sentou na areia. — É... Acho que parece um bom negócio. Começando pelo nome, me chamo Larissa.

— Prazer em lhe conhecer. Eu sou o Danilo. — o garoto respondeu esbanjando charme com apenas um sorriso.

— Prazer.

Larissa não se arrependeu nem um pouco daquela “permuta”. O tal Danilo não era só um gatinho, ele também tinha uma conversa interessante e o sorriso era provavelmente a coisa mais fofa que ela já havia visto. Mas aquelas férias eram para curtir praias, comida típica e festas, não para paquerar, então ela apenas pegou a pequena garrafa com paisagem de areia e voltou para a mesa sem pedir o número daquele pedaço delicioso de mal caminho.

E se o próprio Danilo não pediu era porque não devia estar a fim dela e todo o charminho que ele parecia estar jogando era apenas um carisma natural.

— Rendeu alguma coisa? — Adriana indagou animada assim que Larissa sentou à mesa.

— O que quer dizer? — ela respondeu de sobrancelhas franzidas.

— Qual é? Daqui dá de ver que o boy é magia. — replicou com um sorriso malicioso. — Pegou um contato? Marcou algum role?

— Ah. Eu não vim aqui pra isso, Drica. — Larissa revirou os olhos sentindo um calor subir pelas bochechas. — O Danilo é legal e super charmoso, eu não vou negar. Mas eu quero relaxar e curtir a cidade, não os garotos dela. E também não foi nada de mais, a gente só conversou.

— Larissa. Você vai olhar pra mim na cara dura e dizer que não ficou nem um pouquinho interessada. — Adriana insistiu, estreitando os olhos.

— Vou. E mesmo que tivesse, o que te garante que ele tá? — ela disse, dando de ombros.

— Porque você é uma grande gostosa. Além disso ele tá olhando pra você.

— Não tá nada.

— Dá uma viradinha discretamente pra ver se eu estou mentindo. — desafiou com um brilho perspicaz nos olhos.

Por um lado Larissa odiava dar o braço a torcer para Drica porque ela não desperdiçava nenhuma chance de esfregar em sua cara depois, mas naquela ocasião a curiosidade falou mais alto que o orgulho e ela deu uma espiadinha, sorrindo ao comprovar que Danilo estava mesmo falhando miseravelmente em disfarçar seus olhares para ela.

— Ai caramba, eu não acredito.

— E é assim que eu provei duas coisas: primeiro que ele tá a fim, segundo que você tá também. Se dois mais dois é quatro, um interessado mais outro é vapo. Volta lá e pega o whats dele ou face, sei lá. — Adriana mandou com a maior cara de safada no exato momento em que o garçom parou ao lado da mesa e começou a servir os pratos.

Larissa olhou mais uma vez para Danilo, mordeu o lábio e suspirou. — Melhor não. Em um pouquinho de conversa eu já gostei dele. Se eu me apaixonar e logo depois tiver que voltar pra casa, vou passar um tempão tendo que superar um boy e vai ser um saco.

— Você é uma chata. — respondeu Drica revirando os olhos e começando a comer.

Larissa riu por fora, mas por dentro já estava imaginando que teria problemas para parar de pensar em Danilo e seu sorrisinho lindo.