Clichê escrita por Day


Capítulo 5
Amd we meet again - doremus


Notas iniciais do capítulo

oieee!! desculpa a demora de novo hahaha (dessa vez maratonei parks & recreation que, aliás, recomendo d+ tb!!!!)

eu AMO sem tamanho esse clichê de hoje, sériooooo. e meu deus, eu amei demais colocar o Remus nessa posição (aliás esse boy que usei na imagem, meu deus do céu ahacuadsv)

revisei há tempos, então não sei se passou algum erro. caso sim, me avisem

ps de sempre: informalidade proposital nas falas/mensagens.

enfim, é isso, enjoy!



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E aí? — Lily perguntou, animadíssima com a história de Dorcas, pelo telefone.

— Fomos pro apartamento dele e, amiga, é uma mansão em um prédio. Uma cobertura enorme em um prédio chiquérrimo naquele bairro ainda mais chiquérrimo — Dorcas respondeu, visivelmente orgulhosa da noite que teve com o loiro que conhecera há uns dias, numa festa para a qual tinha sido arrastada à força por Lily. — Ele disse que ainda faltava organizar umas coisas, porque recém mudou pra cá, vai começar um emprego novo, sei lá. Eu tava ocupada demais com a boca e o restante do corpo dele pra prestar atenção.

As duas riram e a loira continuou a dar os detalhes. Agradecia por ter alguns minutos livres, sem que sua chefe lhe sobrecarregasse com um milhão de tarefas ou pedisse relatórios de produtividade impossíveis de serem feitos, pois, bem, não tinha produtividade nova para ser relatada num intervalo de dois dias. Embora estivesse empenhada em dar — quase — todos os detalhes, sabia que o tempo desocupado logo acabaria, afinal só estavam livres até que o novo diretor da empresa chegasse.

— E foi isso — terminou. Antes que a ruiva pudesse falar mais alguma coisa, uma voz as chamou na porta.

— Meadowes, sala de reuniões. Agora. Ele chegou.

Você ao menos pegou o nome ou o telefone dele? — Lily perguntou, enquanto ela caminhava até a sala no final do corredor.

— Claro. O telefone tá bem aqui — disse, se referindo ao celular — e o nome dele é....

—... Remus Lupin, novo diretor da filial!

Dorcas parou onde estava, em choque demais para raciocinar dois com dois. Parecia uma peça do destino, uma pegadinha muito bem elaborada que aquilo estivesse acontecendo. Sua vontade era de cavar um buraco no chão e enfiar-se nele para nunca mais ter que sair e olhar para qualquer pessoa dentro daquela sala. Do outro lado da linha, Lily, que ouvia tudo, ria num misto entre choque e divertimento, o que só a fez querer morrer um pouco mais.

Todas as palavras que conhecia fugiram de sua boca, assim como seus pensamentos foram varridos de sua mente, deixando-a sem saber o que fazer, falar ou pensar. Estava estática enquanto as coisas ao seu redor continuavam naturalmente; podia ouvir as pessoas ao seu redor conversando, enquanto seu cérebro permanecia travado. Pouco a pouco, viu a figura de terno, há um minuto longe, se aproximar mais e mais até estar parada à sua frente.

Com um autocontrole que até então não sabia que tinha, ela piscou várias vezes para focar sua visão e ter certeza que, não, não era uma peça do destino ou uma pegadinha muito bem elaborada, como cogitou antes. Ali, diante de seus olhos, estava a última pessoa que achou que veria de novo em tão pouco tempo. Como?, era o que se perguntava. Quais eram as chances reais de aquilo acontecer no mundo real? Baixas, baixíssimas, próximas do zero, mas lá estava ela, provando que próxima de zero não era zero.

— Bom dia — ele a cumprimentou, estendendo a mão em sua direção. Parecia calmo, tão diferente dela.

— Hm, bom dia — respondeu, apertando a mão dele. Estremeceu com o toque, mas fez de tudo para não transparecer. Não sentia a necessidade de se apresentar, como todos fizeram, mas precisava agir como todos estavam agindo. Respirou fundo antes de dizer o próprio nome. — Dorcas Meadowes.

— É um prazer conhecê-la — a resposta era claramente carregada de segundos significados que só ela entendeu. Bom, Lily também, que ria do desconforto da amiga. Dorcas desligou a chamada de imediato.

As apresentações continuaram por mais alguns minutos, algumas horas ou uma vida toda, Dorcas não saberia dizer. Mesmo depois de muito tempo de todos saírem da sala, ela permaneceu parada onde estava, ainda sem reação. Precisava processar várias e várias vezes o que tinha acontecido, buscar na cabeça referência de alguma outra situação tão constrangedora que já tivesse vivido para, então, ter noção de como deveria se portar.

Voltou para sua sala, ainda em fase de absorver a nova informação, ensaiando mentalmente como deveria agir na frente dele sem querer morrer de vergonha. Não sabia porque tinha vergonha, contudo, não tinha sido um problema dias antes, mas agora parecia que estava prestes a se tornar, e um problema grande. Considerou a possibilidade de ele não estar transformando aquele... inconveniente em algo de tamanha importância, como ela estava.

Por fim, acabou se convencendo de que, muito provavelmente, não teria tanto contato assim com ele — uma vez que suas posições na empresa eram longe demais uma da outra. Respirou aliviada com a própria conclusão, acreditando fortemente naquilo e tomando como verdade. Jurou a si mesma que não o veria com tanta frequência, que não ouviria tanto sua voz e não teriam mais nenhum tipo de contato.

Sua conclusão durou até entrar na sala e vê-lo em pé, apoiado em sua mesa, brincando com a sua ampulheta em uma mão e a sua agenda na outra. Parecia tão entretido em deixar a areia cair de um lado para o outro e em ver o que ela tinha anotado para o dia que não a viu fechar a porta.

— Essa agenda é minha? — afirmou, num tom que pareceu muito mais uma pergunta.

— Ah, você chegou. Demorou — ele respondeu, deixando as coisas sobre a mesa. — Queria falar com você.

Dorcas engoliu em seco. Assentiu. Indicou que ele sentasse e sentou-se em seguida. Tudo no mais absoluto silêncio. Antes que ele dissesse qualquer coisa, mil e uma coisas passaram na cabeça dela. Chegou a cogitar a possibilidade de ser demitida, tamanha sua apreensão. Sua perna direita tremia em ansiedade. Batia os dedos na mesa, esperando por alguma palavra. Não fixava os olhos em nada, mudando a direção de seu olhar a cada segundo. Tudo ainda em silêncio.

Até que, finalmente, ele abriu a boca para falar.

— Bom... — não era o começo que ela queria. — Acho que será mais prudente deixarmos os últimos... acontecimentos do modo como estão agora.

Me matando?, pensou consigo mesma.

— Secretos. Tudo bem pra você?

— Ahn, sim, tudo... ótimo, tudo ótimo — não ousaria dizer que mais uma pessoa além deles sabia dos acontecimentos. — Há algo que eu possa fazer pra você?

— Receio que não, por enquanto — disse, se levantando. — Até mais, srta. Meadowes.

— Até, sr. Lupin.

Assim que ele saiu, Dorcas deitou a cabeça na mesa e se permitiu ficar naquela posição até perder a noção do tempo. Não podia crer na sua falta de sorte, ou no quanto tinha sido agraciada com uma noitada boa com o cara que, menos de uma semana depois, se revelou seu novo chefe. Nem em seus piores pesadelos, algo remotamente parecido com isso acontecia.

Não pôde deixar de agradecer pelas horas correrem depois daquele que ela nomeou como o pior momento de seu dia, podendo enfim ir embora. Passou pelos corredores de cabeça baixa, evitando de antemão qualquer contato visual que pudesse acontecer porque sabia que não sabia como teria que reagir. Não era como se tivesse tido tempo suficiente para aprender a lidar com sua nova realidade e, até isso acontecesse, o desconforto seria seu companheiro constante.

Em casa, livre e protegida da presença de Lupin, Dorcas pôde relaxar pela primeira vez em horas. Alcançou o celular para atualizar Lily de seu dia; se conhecia bem a melhor amiga, era quase certeza que estivesse morrendo por atualizações e fatos posteriores à chamada.

dorcasmeadowes

EU TRANSEI COM MEU CHEFE

EU TRANSEI COM MEU CHEFEEEE!!!!

LILY DO CÉU EU ESTOU TREMENDO ATÉ AGORA

É A SEGUNDA VEZ EM TRÊS DIAS QUE ELE ME FAZ TREMER

EU VOU TER UM SURTO ME RESPONDA LOGO

remuslupin

Número errado, Meadowes. Sinto informar que não sou Lily.

Sinto muito em fazê-la tremer, não foi a intenção.

Se não tinha morrido até então, podia se considerar uma pessoa morta agora. Maldita hora que achou sexy salvar o contato dele como Lupin, Remus; maldita hora em que o sobrenome dele e o nome de Lily precisavam começar com a mesma letra.

Atônita e, se possível, com ainda mais vergonha — e agora um potencial sentimento de auto depreciação —, Dorcas apenas olhou para a tela, sem saber o que — e como — responder. Começou a digitar algumas coisas, mas acabou por apagar todas, nenhuma mensagem seria capaz de salvá-la da vergonha descomunal que sentia. Talvez fosse melhor não responder nada, não havia resposta que a salvasse.

Releu a última mensagem, imaginando qual teria sido o significado, à qual tremedeira ele se referia. Havia duas tremedeiras com motivos muito diferentes, e ele sabia disso.

Com muito mais cuidado dessa vez, procurou pelo número de Lily e relatou o resto de seu dia, incluindo o último minuto extremamente perturbador e altamente constrangedor, certificando-se a cada palavra de que era o contato certo.

lilyevans

meu deus DO CÉU DORCAS

eu não queria ser vc pra não passar por uma vergonha dessas

pelo menos ele transa bem né?

dorcasmeadowes

muitoooooo

Falar com a amiga serviu como escape naquela noite, permitiu relaxar pela primeira vez no dia.

Quando se mudou do interior para a cidade grande, aceitando o emprego de secretária de uma grande companhia, sua maior ambição era fazer daquele emprego um caminho a uma posição mais alta, complementando sempre que possível seus estudos. Jamais imaginou que seu caminho a uma posição maior seria encurtado daquela forma — e, pior, ela não estaria diretamente na posição mais alta.

≡≡≡

Remus Lupin sempre foi muito correto com tudo o que fazia, levava muito a sério o compromisso com o que era certo ao invés do que era mais fácil. Não era surpresa para os que o conheciam que tivesse alcançado grandes feitos tão rapidamente na vida, assim como não foi nenhum choque quando revelou que se mudaria para assumir a direção de uma das várias filiais da empresa na qual já trabalhava há anos.

Seu planejamento, sempre tão metódico, contudo, não envolvia uma saída sozinho e o retorno acompanhado. Não, não envolvia mesmo, mas tinha feito. E tinha sido bom. Bom o suficiente para fazê-lo querer de novo. Mas, antes que pudesse pensar em repetir, precisava primeiro se instalar na cidade, ter comodidade suficiente para si e, só então, para outra pessoa.

Nem todos os anos sendo tão correto e metódico jamais o puderam preparar para as apresentações de seus novos funcionários, em especial a secretária loira que o olhava com a mais pura expressão de choque no rosto — não que ele também não estivesse chocado, pois estava, e muito, só conseguiu disfarçar mais rapidamente.

Algo lhe dizia que ela não falaria nada a ninguém, mas precisou se certificar. Gostou da organização das coisas dela, dos quadros pendurados na parede e das fotos dispostas sobre a mesa — fotos estas que passou um tempo considerável olhando, até se entreter com a ampulheta e, se estivesse certo, a agenda. Viu que não havia nenhuma referência a si nas obrigações próximas.

Não falaram por mais de três minutos, e era provavelmente o máximo de contato que teriam aquele dia. Até as mensagens que ela enviou. Remus riu alto ao saber que fizera tremer duas vezes em três dias. Respondeu com toda formalidade que podia e não esperou que ela fosse mandar mais alguma coisa — realmente não mandou.

Ela parecia ainda mais desconfortável em sua presença na manhã seguinte, quando se viram de novo. Mesmo com a sala repleta de pessoas, Remus percebeu que os olhos dela permaneciam baixos, fixos nas anotações que fazia da reunião que estavam tendo. Vez ou outra, quando, de relance, ela a olhava atenta, fazia questão de sorrir, vendo-a encolher os ombros em vergonha.

— Será preciso fazer alguns relatórios gerais, para que eu possa ter uma visão ampla dos negócios aqui — falou, ao fim da reunião. — Srta. Meadowes, alguma dúvida no que tange os relatórios que mencionei?

— Não — respondeu, em um fio de voz quase inaudível. Remus a olhou confuso, esperando por uma resposta que conseguisse ser ouvida. — Não — seu tom foi mais firme agora.

— Ótimo. Peço que compareça mais tarde à minha sala para elaborarmos juntos — ela assentiu, em silêncio. E então, mais tarde, a viu parada na porta de sua sala, carregando um pouco mais de pastas do que conseguia. — Deixa que eu te ajudo — pegou o excesso de pastas e indicou a cadeira para que sentassem.

Pelas próximas duas horas, ou quase isso, não fizeram nada além de analisar, computar, organizar e mapear dados dos últimos cinco anos de empresa, organizando-os em categorias. Remus observou que não era o único metódico ali, ela se valia não só de cores, mas de canetas e fitas adesivas diferentes para cada tipo de informação.

Ele gostou de vê-la trabalhar.

Analisou em retrospecto para a primeira vez em que a viu, buscando mentalmente em qual momento se sentira atraído por ela. Pode ter sido quando ela riu de alguma coisa que a amiga dissera; ou quando a viu dançar como se não tivesse mais ninguém ao redor; ou, ainda, quando ela olhou na direção em que estava e sorriu para ele.

Definitivamente a última opção, majorada pelas anteriores.

Mantiveram contato visual à distância por um tempo até que, por acidente, se esbarraram em um dos cantos do bar em que estavam. Remus lembrou de achá-la ainda mais bonita de perto, como a luz precária ressaltava o brilho que ela tinha nos olhos e como o cabelo, já desarrumado, lhe dava um ar maroto.

Não sabia, quando a beijou ali, longe dos olhares das outras pessoas, que estariam frente a frente alguns dias mais tarde encarregados de algo muito mais monótono do que os beijos que trocaram.

— Dorcas — chamaram na porta —, estou indo almoçar, quer alguma coisa?

— Não, obrigada. Vou terminar isso aqui e depois me viro pra comer — respondeu, virando-se para ele em seguida. — Se quiser ir, eu dou conta de terminar sozinha.

— Vamos almoçar.

— Não, tá tudo bem, eu term...

Vamos almoçar — repetiu, entonando a primeira palavra. — Isso pode ser terminado depois.

Ela o olhou confusa, afastando uma mecha do cabelo que caía sobre o olho. Melhor assim, Remus pensou consigo.

— Obrigada, mas acho que vou ficar. Se eu for, você vai...

— Te fazer tremer de novo? — o olhar dela foi de confusão à vergonha em milésimos de segundo diante da pergunta dele, fazendo-o rir com o modo como suas bochechas adquiriram um tom avermelhado. — Prometo não fazer isso. Além do mais, é uma chance de se afastar dessa infinidade de números por uma hora e meia. Vamos?

— Tudo bem. Vamos — acabou cedendo.

Remus a deixou escolher onde iriam, um restaurante italiano próximo à empresa. Não podiam dizer que era a situação mais confortável em que já estiveram, entretanto podiam dizer que era agradável — já era um bom começo; descobriram que eram uma boa companhia um para o outro. Meadowes acabou por se soltar depois de alguns minutos e, então, ele pôde concluir que ela exercia o mesmo magnetismo sobre si até mesmo enquanto esperava a comida.

Esqueceram que, agora, trabalhavam juntos, deixaram de lado o fato de estarem em um intervalo de almoço em pleno expediente e conversaram sobre tudo, exceto o trabalho. Remus Lupin podia ser muito ardiloso para conseguir o que queria, e o que queria era ter uma boa conversa com Dorcas Meadowes, e foi o que conseguiu. Descobriram que eram mais parecidos do que imaginavam; ambos gostavam cinema europeu, bandas dos anos 60 e, ironicamente ou não, comida italiana; preferiam gatos a cachorros; e tinham convicção de que Ross traiu Rachel em Friends.

— Esse é um ponto que não cabe discussão — afirmou a loira, totalmente segura do que dizia, rindo. Seu olhar caiu sobre o celular e, num instante, a expressão alegre que tinha foi substituída por preocupação. — Estamos atrasados, o horário de almoço já acabou. Preciso voltar ou...

— Você está comigo. Ninguém vai reclamar do seu atraso, eu garanto — ela concordou, quieta. — Fique aqui um minuto, vou pagar a conta e poderemos ir.

— Eu pago a minha parte — ele riu, ignorando por completo a frase.

Pouco depois, estavam, de fato, prontos para voltar. Só de pensar que, assim que chegassem, não poderiam seguir a conversa que estavam tendo era um bom motivo para não querer sair do restaurante. Remus duvidava um pouco que pudessem continuar usando o tom descontraído que — depois de muita insistência por sua parte — tinham alcançado no ambiente de trabalho.

Ela o esperava enquanto digitava alguma coisa no celular — era demais pensar que estivesse comentando sobre o almoço que tiveram? Sim, seu subconsciente respondeu. Chamou-a com um aceno e caminharam para o lado de fora, aproveitando o curto caminho entre o restaurante e o prédio em que trabalhavam para discutirem um pouco mais sobre os — cada vez mais crescentes — assuntos em comum que tinham. Foram interrompidos por um homem de meia idade vendendo flores.

— O casal mais bonito de hoje estaria interessado em uma flor para a bela moça?

— Hoje não, obrig...

— Claro — ele respondeu, interrompendo-a no meio de sua negativa. Remus comprou um arranjo pequeno e agradeceu ao homem antes de virar-se para ela. — Vai combinar com a decoração da sua mesa.

— Obrigada, eu acho — e, tão logo tinha sumido, o desconforto reapareceu.

Diferente da última hora, voltaram em completo silêncio. Não era tão incômodo como parecia, dessa vez a presença um do outro parecia ser o suficiente para preencher a pequena caminhada de volta. Ele reparou como ela olhava para as flores que segurava, deixando escapar um sorriso vez ou outra.

Tinha sido uma boa manhã e as chances de a tarde serem igualmente boas eram altas. Ainda que o primeiro pensamento de ambos quando se viram — de novo — estivesse carregado de negatividade, descobriram que não necessariamente precisava se manter assim; bastava deixar o inconveniente de lado e aproveitar a companhia mútuo que se faziam.

Pelos meses seguintes, seguiram em uma convivência amistosa e cada vez menos desconfortável. Remus passou a vê-la mais como sua secretária e não tanto como a garota do bar, e tinha quase certeza de que a visão dela a seu respeito também seguia pelo caminho mais profissional. Logo, antes que percebessem, era como se nada tivesse acontecido.

Exceto, talvez, que tinha acontecido e muito provavelmente não aconteceria de novo.

Aquele era um dia excepcionalmente agitado para todos, com obrigações e compromissos para cada minuto de cada hora do expediente. Era preciso orquestrar algumas transações grandes, movimentando um montante de dinheiro bastante considerável para todos — e que iria, com a mais absoluta certeza, incrementar o bônus de final de trimestre, incluindo o de Remus.

Remus, que estava à beira de um colapso de nervos. Com o telefone tocando a todo tempo, pessoas entrando e saindo de sua sala sem parar, uma quantidade próxima do infinito de e-mails para responder e, se ainda tivesse tempo livre, precisava organizar o que aparentemente seria uma confraternização. Não entendia como as pessoas podiam pensar em confraternizar quando sua própria cabeça era focada em fechar as transações.

Sabia que aquele era um cargo potencialmente estressante, e concordou em passar por momentos como aquele quando o aceitou, mas ainda podia se permitir ficar frustrado. Do exato modo como estava agora: com a testa apoiada sobre a mesa e as mãos esticadas ao lado da cabeça, respirando fundo como se pudesse aliviar o estresse. Poderia ficar ali pelo resto do dia, se batidas na porta não o tivessem trazido de volta à realidade.

— Sr. Lupin, linha dois no telefone pra você.

— Obrigado, srta. Meadowes — ela assentiu e saiu.

Depois que foram almoçar no segundo dia dele ali, decidiram mutua e secretamente fingir que nada antes de suas apresentações formais tinham acontecido, e estavam se saindo muito bem. Ao menos quando estavam na presença dos outros. Quando sozinhos, por vezes era incontrolável deixar que algum comportamento corporal lhes escapasse do controle e fosse percebido quase de imediato.

Com muito esforço por parte de cada um dos funcionários, o trimestre foi fechado, o dinheiro entrou em caixa, todos estariam levemente mais ricos quando o salário do mês caísse e Remus, em especial, parecia um pouco mais orgulhoso de si por ter conseguido organizar uma festa. Uma festa organizada por Remus Lupin. Era uma loucura sem tamanho, ainda mais considerando que nunca fora uma pessoa fã de festas; preferia idas ocasionais a bares, mas nada além disso.

Mas, contrariando todas as suposições a seu respeito, lá estava: festando. Era sempre estranho ver as pessoas com quem trabalhava fora do ambiente de trabalho, mas um estranho bom. Podia conhecê-los fora das roupas sociais, vê-los fora da bolha de responsabilidade e pressão que era o serviço todos os dias, interagir com eles sem que o tratassem com formalidade em demasia — o que, particularmente, o incomodava às vezes. Sobretudo, podia beber e relaxar. Não bebia desde que tinha se mudado, na fatídica noite em que conhecera Dorcas Meadowes, e estava ansioso em ter seu reencontro com a bebida depois de meses.

Quase como se seus pensamentos pudessem se materializar, a viu ao longe acompanhada de uma ruiva, a mesma com quem esteve quando se conheceram; conversavam com entusiasmo e, por vezes, ela ria de algo dito — a risada que ele gostava de ver, mas principalmente de ouvir. Imaginou se aquela não seria a tal Lily para quem Meadowes deveria ter enviado mensagens em seu primeiro dia, riu consigo mesmo pensando se fosse.

Foi tirado de sua imaginação por alguns colegas o convidando para um jogo envolvendo álcool. Remus não entendeu bem as regras, mas acabou participando mesmo assim e, no fim das contas, se divertiu muito mais por não ter entendido o que e como deveria fazer. Saiu dali com algumas doses de tequila no sangue e umas latas de cerveja vazias.

Andando com certa dificuldade, caminhou até um canto onde vários pufs estavam. Sua cabeça girava e seus sentidos já não funcionavam com normalidade; não conseguia ver direito, tampouco escutar com clareza. Mas, ainda assim, conseguiu entender seu nome ser dito por alguém atrás de si e, como mágica, sua audição pareceu nunca ter estado melhor.

— Não sei como você consegue trabalhar com ele sem se jogar nele!

— Lily, pelo amor de Deus! — ela a ouviu responder. — Eu preciso manter meu emprego, sabia?

— Ah, Dora, faça-me o favor. Emprego tem aos montes aí, mas um homem daquele não. Você precisa aproveitar mais as oportunidades que a vida te dá.

— E quais oportunidades são essas?

— A melhor de todas deve ser, com certeza, jogar tudo que tá em cima daquela sua mesa e transar ali mesmo.

Remus riu ao ouvir aquilo, riu alto, evidenciando sua presença e, em resposta imediata à sua risada, as duas se calaram. Levantou-se e, por um segundo, tudo ao seu redor girou, caminhou até onde as meninas estavam. As duas não conseguiam esconder, tampouco disfarçar, a surpresa ou choque ou fosse lá o que fosse que tinham em suas expressões ao vê-lo de braços cruzados à sua frente.

— Então essa é sua vontade, srta. Meadowes? Transar em cima da sua mesa? É sempre tão arrumada que uma ideia dessa me assusta — ela corou violentamente ao ouvir aquilo, encolhendo os próprios ombros em vergonha. Virou-se para a ruiva que, naquele momento, estava com o rosto tão vermelho quanto o cabelo. — Prazer em conhecê-la, Lily, como vai?

— B-bem... — engoliu em seco, recompondo-se. — Dora, eu acho que já vou indo, tá bem? Qualquer coisa, me liga ou me manda mensagem.

— Certifique-se de que é o número dela dessa vez — ele sussurrou depois de a amiga dela já ter se afastado. — Sabe, se quiser, eu posso te ajudar na sua vontade.

Não sabia que queria que aquilo que propôs acontecesse, não até falar. Sentia-se mais enérgico só de pensar naquela possibilidade, sua pulsação acelerou e sua respiração ficou subitamente pesada. Podia ser efeito de toda a bebida que tinha ingerido, mas podia muito bem ser um desejo subconsciente enfim se manifestando. Estavam próximos o bastante para ele ver que não apenas a sua respiração estava alterada.

— Você quer? — ela perguntou com a voz quase inaudível.

Você quer?

— Quero.

Ele a beijou ali onde estavam, pouco se importando caso os vissem — essa era a última coisa em que pensariam. Descobriu que, há muito, queria sentir a boca dela sobre a sua de novo, apreciar a sensação boa que era ter os fios de cabelo da nuca puxados e a pele dali arranhada de leve; queria há semanas estar com o corpo colado ao dela, sentindo-a entregue àquilo, exatamente como estavam. Desceu os beijos para o pescoço, ouvindo-a ofegar com isso.

— Vamos embora daqui — sentenciou e viu que ela concordava.

≡≡≡

Dorcas se preocuparia depois com a sequência de coisas inconsequentes e irresponsáveis que fez. Iria aproveitar ao máximo a chance que estava tendo de, enfim, fazer o que tanto queria, embora nem soubesse; aproveitaria para beijar todas as partes do corpo dele que queria, para tocar bem mais do que sua mão em cumprimento e, principalmente, para chamá-lo por mais do que o sobrenome.

Aproveitou o momento em que ele levou uma das mãos à sua coxa para levantar a perna e passá-la pela cintura dele, deixando-os ainda mais perto. Gemeu sobre o beijo ao sentir que não era a única excitada com o que faziam.

Depois daquilo, os acontecimentos estavam embaralhados em sua memória; lembrava-se de ir embora para o apartamento dele — mais arrumado dessa vez —, de se livrar do vestido que usava o mais rápido possível, de beijar qualquer parte dele que encontrasse e ser beijada da mesma forma. Mas, principalmente, de fazer o que Lily dissera; na mesa, no sofá, na cama, no chuveiro.

E então, quando a ficha caísse, iria se permitir sentir perdida em um misto de prazer e arrependimento. Antes disso, aproveitaria a sensação de completude que perpassava seu corpo naquele momento, enquanto esperava sua respiração normalizar e os batimentos cardíacos se estabilizarem. Do seu lado, via-o ainda de olhos fechados, com alguns fios loiros caídos sobre a testa suada e o que provavelmente era uma marca que causara em seu pescoço.

— Você vai ter que usar maquiagem nisso aqui — falou, tocando o roxo. — Desculpa, não foi a intenção te marcar.

— Não tem problema, é meu castigo.

— Castigo pelo que?

— Ter demorado demais pra fazer isso — ele respondeu e a beijou de novo.

Ali, completamente entregue ao beijo e ao momento, Dorcas se perguntou porque também tinha demorado tanto tempo para fazer aquilo. No meio da madrugada, sentiu seu corpo ser abraçado por braços fortes e sorriu, em êxtase. Deixaria a razão lhe atingir na manhã seguinte.

E atingiu, atingiu com força. Quando acordou e se deu conta de onde estava, tudo o que fizeram voltou à sua mente sob uma lente de culpa e preocupação. Ao seu lado, ainda dormindo, Lupin tinha um semblante despreocupado e livre de apreensões, e a primeira coisa que ela pensou foi em seu emprego. E se alguém descobrisse? O que falariam? O que fariam? Ela perderia toda a pouca, pouquíssima, estabilidade que tinha.

Cobriu-se com o lençol para que ninguém a visse — como se ele já não tivesse visto o suficiente há algumas horas — e caminhou para fora da cama. Suas roupas da noite anterior estavam espalhadas, não pelo quarto, mas pela sala e uma onda de constrangimento pelo que fizeram a atingiu; alcançou as peças e tentou se vestir o mais rápido possível, em silêncio.

Já perto de terminar, sentiu que era observada. Levantou o olhar e o viu escorado no batente da porta do quarto de onde tinha acabado de sair. Antes que ele pudesse dizer ou perguntar qualquer coisa, ela se adiantou em falar:

— Eu preciso ir.

— Por quê?

— Porque eu não sei se devo ficar, não sei nem se devia ter vindo — ele riu de lado. — O quê?

— Nada. Só que é, no mínimo, engraçado você falar isso agora, sua ideia muda muito rápido — Dorcas ergueu a sobrancelha em desentendimento. — Ontem você não parecia tão certa de que não deveria ter vindo, pelo menos não quando você tremeu.

Ouvir aquilo a fez perder as palavras por um minuto, e ele riu da sua expressão confusa e brava ao mesmo tempo. Levantou-se do sofá e, sem falar nada, caminhou até a porta. Antes de sair, virou-se na direção dele uma última vez.

— Te vejo no trabalho amanhã, Sr. Lupin. Boa sorte com o pescoço.

Sua cabeça fervilhava em pensamentos, emoções e sensações. Precisava, antes de tudo, entender o que situações como aquelas causavam em si para, só então, saber como lidar com elas. Não tinha mais idade para se deixar levar por um cara com um papo bom, um beijo ótimo e um sexo maravilhoso — sua adolescência já estava há anos para trás. Mas, principalmente, precisava entender aquilo tudo pelo fato não tão simples, mas grande o bastante, de que o cara em questão não era ninguém menos do que seu chefe.

Assim que chegou em casa, mandou mensagens para Lily. Não importava que a amiga talvez não entendesse a situação como um todo, nem que sua opinião fosse favorável a transar no local de trabalho, Dorcas necessitava falar com alguém. Contou tudo de uma vez, em uma grande, confusa e urgente mensagem.

lilyevans

eu SABIA que vc ia pra lá

com um homem daqueles eu tb iria sem nem pensar

dorcasmeadowes

lily FOCO FOCO no meu problema

me ajuda!!!!!

lilyevans

ok vamos lá

eu acho que vc pode gostar dele, mas não tenho certeza. as coisas que vc disse são ditas quando a gente gosta de alguém (experiência própria aqui!!!)

sobre ele ser seu chefe: esquece que transou loucamente pelo apartamento dele quando estiver no trabalho (a não ser que vcs transem na sua mesa)

enfim

acho que vc precisa conversar com ele e saber se ele tb fica todo confuso assim

dorcasmeadowes

vou tentar conversar se eu não explodir de vergonha quando ver ele de novo

e eu não vou transar na mesa que eu trabalho lily evans

Pelo resto do dia, ficou com as palavras de Lily na cabeça. Conversar com ele. Conversar com ele. Conversar com ele. Era um mantra repetitivo que preenchia o silêncio do apartamento vazio. Até poderia conversar, mas sobre o que? As duas vezes que dormiram juntos sem compromisso algum para depois precisarem manter uma fachada profissional na frente dos outros? Ou sobre como ela estava tão confusa com o que pensava e sentia a respeito, não só da última noite, mas dos últimos meses convivendo juntos?

Chegou até a parar na frente do espelho e tentar conversar com ele com seu reflexo. Não era fácil nem falar para si mesma todas aquelas coisas, falar para Lupin seria incrivelmente pior e ela não sabia se queria passar por isso. Nem ao menos imaginava qual reação ele poderia ter; temia que a achasse ridícula, com comportamento de uma adolescente apaixonada pelo primeiro cara que beijou ou o primeiro com quem transou — ele não era nenhum dos dois para ela, contudo.

Quanto mais pensava naquilo, mais se remoía por dentro, fosse de vergonha ou de angústia e ansiedade. Parte de si queria que o dia seguinte chegasse logo, mas outra parte — muito mais forte — queria que o tempo parasse naquele dia; preferia viver naquela sensação para sempre do que encarar o desconhecido que era falar sobre aquela sensação.

Sempre ouvira que quanto mais pensar em uma coisa, maiores as chances de se realizar. Talvez fosse exatamente o que tinha acontecido quando, ao ouvir o celular apitar em notificação, viu o nome Lupin, Remus na tela. Odiou-se um momento por não ter apagado o número dele ainda.

remuslupin

Preciso de ajuda para esconder isso no meu pescoço.

Bom, já que é obra sua, imagino que você saiba o que fazer.

dorcasmeadowes

passe bastante gelo

se não resolver eu escondo com maquiagem amanhã

     remuslupin

Vou tentar.

Obrigada, Meadowes.

Ela odiou toda aquela formalidade. Para que escrever uma mensagem como se fosse uma redação, com as palavras e pontuações perfeitas daquele jeito? Revirou os olhos para o celular, como se ele pudesse ver. As palavras de Lily voltaram a martelar em sua cabeça enquanto olhava a conversa aberta. Conversar com ele. Conversar com ele. Conversar com ele.

Era agora ou não seria nunca. Preferia se esconder por trás do telefone a fazer aquilo cara a cara.

dorcasmeadowes

queria conversar com você, podemos?


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Notas finais do capítulo

ai eu amei tanto colocar os dois no restaurante, tão fofinhos ❣️❣️

comentem o que vocês acharam, mesmo que seja pouca coisa, já é o bastante!!!

prometo não demorar tanto pelo resto hahaha

meu tt pra quem quiser interagir @thisissrenata

bjsss e até o próximo



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