Clichê escrita por Day


Capítulo 4
I bet u can get that girl - blackinnon


Notas iniciais do capítulo

oieee!! eu sei que demorei, perdão (maratonei The Office pela terceira vez.... recomendo d+, assistammm)

não vou me alongar muito aqui pra compensar o tempo, então só digo que aqui eu abri o coração pro clichê meloso demaaaaaaaaaais hahaha nem nego

espero que gostem, boa leitura!! revisei há muito tempo, então se tiver erro que eu tiver perdido de ver, podem avisar.

ps de sempre: a falta de formalidade em diálogo/mensagem é proposital!!!!!!!



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DUAS SEMANAS E MEIA DEPOIS

Sirius não sabia o que era aquilo. O tempo de duração máximo de seus antigos casos tinha chegado e, ao invés de estar próximo de terminar o que quer que tivesse com McKinnon, ele estava em uma posição completamente oposta. Ao invés de começar a evitá-la, ignorar suas mensagens e ligações, ter cada vez menos contato, não, ele agia ao contrário. Dos sete dias da semana, cinco tinham sido passados na companhia dela. As horas corriam quando estavam juntos, pareciam precisar sempre de mais tempo do que dispunham.

Agora, ao invés de estar na sua casa, sozinho, acompanhado de uma cerveja e procurando o que fazer para o fim de semana, ele estava na casa dela, na companhia dela, sem qualquer vestígio de cerveja e, para completar, assistindo a um filme que, em circunstâncias normais, ele nunca veria. Marlene tinha chegado sem avisar — literalmente — e agora se apossara de uma posição na rotina dele que era, até então, desconhecida.

Mas, era bom. Era melhor do que tinha imaginado algum dia há muitos anos, quando cogitou entrar em um relacionamento longo. Relacionamento?, pensava consigo mesmo. Não sabia se deveria rotular assim, muito embora as circunstâncias parecessem levá-lo a esse caminho. Sua alergia a qualquer tipo de relacionamento parecia amenizada na presença de McKinnon; sua aversão era diminuída e sua resistência era levada quase à nulidade.

Tampouco podia negar que gostava; gostava de ouvir a voz e a risada dela, gostava das conversas à toa que tinham um pouco antes dela ir trabalhar e depois que chegava, gostava de como ela o abraçava durante a noite no meio do sono, claro que gostava do sexo — não tinha como não — e até da comida dela ele gostava, pelo amor de Deus.

Sirius Black estava rendido por Marlene McKinnon.

Viu os créditos subindo na tela, indicando o tão esperado fim do filme, ao qual ele não tinha dado atenção desde mais ou menos a metade. Ela virou em sua direção e Sirius notou que tinham lágrimas nos olhos dela? Estava chorando com o filme? Não se aguentou e deixou escapar uma risada quando viu a expressão de tristeza que ela sustentava.

— Eu não acredito que você chorou.

— Eu não acredito que você não chorou! — respondeu, pessoalmente ofendida pelo não-choro dele. Secou as lágrimas, juntou os baldes de pipoca que há muito tinham acabado e foi até a cozinha. Sirius assistiu seus movimentos, perdido na leveza que ela tinha para fazer as coisas. — O que vai querer jantar?

— Você.

— Black! — McKinnon gritou, jogando um dos baldes que recém pegara e que, por muito pouco, não o atingiu na cabeça. — Falei sério, o que você vai querer jantar?

— Qualquer coisa, desde que você seja a sobremesa.

— Eu vou matar você.

Naquela noite, assim como na anterior e antecessora a esta, eles comeram algum prato resultante das aventuras culinárias dela — e que, mais uma vez, tinha se saído maravilhosamente bem —, e simplesmente aproveitaram a presença um do outro. Sirius permitiu-se, de novo, imergir em tudo que McKinnon podia oferecer, desde coisas pequenas até as grandiosas, contanto que fossem dela.

Diferente do que tinha pensado, não fizeram nada antes de dormir. Ela o abraçou e ficou ali, quieta, passeando com o indicador pelo peito nu dele; ele tinha os olhos fechados, enrolando uma mecha do cabelo dela nos dedos e perdido no perfume que usava. Na sua mente, passavam cenas das últimas semanas e, pela enésima vez, Sirius tentou entender em que ponto as noites casuais que tiveram levaram àquele ponto.

— Posso falar uma coisa? — ela pediu, de repente. Ele concordou calado. — Eu não queria nada disso quando te vi aquele dia, sabia? Tinha saído de mais um namoro fracassado, queria inaugurar uma fase descompromissada e inconsequente de mim mesma, mas veja só: falhei com louvor.

Sirius pigarreou antes de responder, pensando com cuidado nas palavras. Nem imaginava que aquilo tudo podia ser verdade, afinal, dentre os dois, ela sempre tomou as iniciativas para continuar levando o que tinham adiante.

— Eu nunca fiquei esse tempo todo com alguém antes — confessou, por fim. McKinnon apoiou-se no cotovelo para olhar nos olhos dele. Seu olhar era um enigma, mas seu sorriso era vitorioso. — É a primeira vez que passo mais de duas semanas com a mesma pessoa.

— Sério?

— Seríssimo. Nunca fui fã de compromissos, sempre fui o que você tentou ser e posso garantir: isso aqui é muito melhor, confie em mim — as palavras saíam pela boca dele sem controle, não podia medir o que estava dizendo e, quando se deu conta, estava dito. — Meus amigos até duvidavam que, um dia, uma mesma mulher me prenderia por mais de quinze dias, mas você está aqui pra provar que eles estavam errados. E mais — disse, pegando uma boa mecha de cabelo dela — morena! Eles querem morrer quando falo de você.

Sirius a viu abrir a boca em um perfeito O, em choque com o que tinha ouvido, e riu. E a expressão que McKinnon carregava agora era, ao mesmo tempo, encantadora e cômica. Provavelmente estava chocada por ouvir aquilo tudo, mas, sobretudo, com a última frase, com certeza, chocada em saber que ele falava dela para seus amigos — e como ele poderia não falar? Se não fosse a insistência de James, não estaria ali nunca.

Não só a insistência, mas o dinheiro que ganhou na manhã seguinte. Olhando em retrospecto, Sirius concluía facilmente que teria feito tudo de novo, do mesmo modo, mesmo de graça. Talvez, principalmente se fosse de graça, porque ela sozinha valia muito mais do que o dinheiro que arrancou de Potter. Dinheiro este que não mencionaria, nunca, seria para sempre o segredo sujo deles.

— Você fala de mim?

— Claro. É com você que eu passo a maior parte do dia há dias, como eu poderia não falar? — ela sorriu mais abertamente e beijou de leve os lábios dele.

— Ora, Sirius, parece que rompemos com as nossas convicções.

— Parece que sim, Marlene.

Ela o beijou e, se até então não tinham feito nada, agora fariam.

≡≡≡

Marlene se odiava por muitos motivos: por raramente conseguir terminar quebra-cabeças, por sempre procurar spoilers de filmes e séries que via e de livros que lia, por às vezes deliberadamente negligenciar suas amizades, por não se dedicar como deveria aos exercícios físicos e muitos outros motivos. Acima de tudo, se odiou quando mandou mensagens para Black e, agora, estava no ápice de seu ódio próprio: imersa em uma imensidão de cabelos negros e longos por quase duas semanas ininterruptas.

Não sabia dizer para onde tinha ido a versão que construiu quando o conheceu, mas desconfiava que o desaparecimento dela era inteiramente culpa dele; era difícil para ela resistir aos olhos, à boca, às mãos, aos beijos dele. Não tivera tempo suficiente para construir uma barreira forte o bastante contra qualquer apego antes de vê-lo chegar, disposto a derrubar a barreira inacabada.

Agora, ela ansiava o momento do dia em que se veriam, se falariam e se tocariam; olhava ansiosa para o celular várias vezes na mesma hora checando se ele tinha mandado mensagens e sorria como adolescente quando via o nome dele na tela; esperava que Dorcas perguntasse dele, só para ter um pretexto de mencioná-lo nas conversas.

— Você disse que ia evitar contato, Marlene!

— Eu sei, mas você o viu quando veio aqui, é mais forte do que eu — respondeu, encolhendo-se na cadeira. — Sei que falei de ser descompromissada e tudo mais, mas tá sendo tão bom. Se um dia desses ele disser que não quer mais, eu vou aceitar e, aí sim, me descompromissar de tudo isso. É minha última tentativa, eu juro.

— Você jurou isso da última vez, e olha só a conversa que estamos tendo. Você não pode jurar o que não pode cumprir, Lene.

— Dora, eu já sou grandinha, tá bom? Não morri de amores até hoje, e não vai ser agora que vou morrer.

Amor, Marlene? Amor?!

— Foi uma expressão!

Desde aquele dia, Marlene evitou a amiga, mas ficou com as palavras dela presa na cabeça. Não era amor, era? Não podia ser, não tinha como ser. Duas semanas, duas, era um tempo ridiculamente curto para começar a cogitar se falar de amor ou coisa parecida. Ela sabia quando estava amando alguém e, até então, o que sentia quando pensava em Black não era parecido, mas era próximo.

Sabia que amor vinha de jeitos e em situações diferentes para pessoas diferentes, na maioria dos casos dependia da intensidade e frequência com que se tinha contato com outra pessoa — o que a preocupava um pouco, dado o fato que há dias não saíam um do apartamento do outro. Marlene estava certa em ter medo que aquilo pudesse acontecer quando descobriu quão perto ele morava.

Três quadras eram perto demais, era acessível demais, rápido demais de chegar. Era cômodo que vivessem tão próximos, não levava mais de dez minutos a pé para que deixassem de se falar por mensagens para estarem se falando cara a cara, e isso não saía da cabeça dela.

Era culpa da facilidade de chegar até ele que ela estivesse total e irremediavelmente encantada — além de potencialmente apaixonada — por Sirius Black? Não sabia lidar com isso, não podia, tinha que acabar com isso, matar esse sentimento que crescia dentro do peito, mas para tanto era necessário se afastar e ficar tão longe quanto conseguisse. E o problema que Marlene não conseguia ficar afastada.

Sua angústia precisava de um tratamento de choque. Nesse caso, era estar o mais perto dele possível. Não estava raciocinando de modo adequado quando alcançou o celular e procurar o número de Black.

marlenemckinnon

pode vir aqui?

agora!!!!

siriusblack

jaja to ai na porta

Menos de dez minutos — como sempre —, lá estava ele. Era sempre assim: uma mensagem, um chamado, a confirmação e a ida; sem pretexto, sem perguntas, sem motivo.

— Aconteceu alguma coisa?

— Eu não queria ficar sozinha, só isso.

— E o que você quer fazer? — a pergunta era carregada de malícia, não só no tom, mas no sorriso que ele sustentava.

Marlene ignorou a pergunta e o puxou para dentro. Queria mais um daqueles fins de tarde despreocupados, quando ficavam sem fazer nada, mas juntos, se possível esquecendo que o mundo progredia do lado de fora do apartamento, imersos um no outro. Eram dias como aqueles que a faziam se questionar se realmente não o estava amando; se, por acaso, estivesse, não tinha certeza se deveria falar, afinal era muito cedo para aquilo. Ainda havia chances de ser apenas fruto da enorme ilusão amorosa em que estava permanentemente inserida.

Naquela noite, quando deitou com ele, sem quaisquer segundas intenções, enquanto tocava a pele quente dele e sentia o cabelo enroscado em seus dedos, Marlene sentiu necessidade de falar. Não de seus sentimentos conflituosos, ou das dúvidas que carregava consigo, mas do antes, do que tinha brevemente sido antes dele. Falou sua tentativa frustrada de ser desprendida e, não esperando resposta, foi surpreendida pela avalanche de informações que ele lhe dera, mas sobretudo em saber que era assunto entre os amigos dele.

Mandou a ausência de segundas intenções para o espaço e o beijou como não tinha beijado antes, expressando em um beijo tudo o que sentia. Foi o melhor sexo que tiveram; muito, muito, melhor do que a primeira vez, infinitamente melhor do que todas as outras, superando todas as vezes em que tinham transado até ali. Ela se surpreendia a cada vez com o quão bom Sirius Black podia ser, em todos os meios e sentidos, e com cada mínima parte de seu corpo.

Depois daquilo, os dias passaram voando, e ficaram ainda mais unidos, se fosse possível. Um dia qualquer, Marlene reparou que algumas de suas roupas tinham sumido, descobrindo que, como não podia deixar de ser, estavam no apartamento de Black; notou que o mesmo acontecia com ele ao encontrar duas camisetas e um short dele em seu guarda roupa.

Se antes não era nada, já não podia dizer o mesmo agora.

Antes que pudesse notar, já fazia um mês desde que tinha embarcado na relação com Sirius Black — fosse lá o rótulo que tinha. Um mês que a tinha feito esquecer que chegou a cogitar evitar aquilo tudo; logo ela, que amava dormir abraçada e acordar ao lado de alguém, que amava ter com quem compartilhar pequenos acontecimentos diários, amava saber que, no fim do dia, teria alguém para ouvir suas frustrações, mesmo que não as compreendesse.

Por mais que não parecesse, ele cumpria com cada um dos requisitos.

Não podia mais negar que aquilo tudo caminhava a passos largos para se tornar um relacionamento firme, compromissado. Ela odiava incertezas, odiava o desconhecido, precisava saber se os dois estavam na mesma página, ou faria questão de estar na mesma página que ele, desde que estivessem juntos; não se importava de retroceder seu sentimento, conquanto que pudesse avançar ao lado dele.

— Quero falar com você. É sério — disse assim que ele atendeu. Preferiu ligar, assim, a resposta não poderia ser de outro jeito, senão imediata. — Vem aqui mais tarde, tudo bem?

Eu estou encrencado?

— Não, longe disso, bem longe.

Então tudo bem, eu vou. Mas, só porque não estou encrencado — ele riu e ela não pôde evitar de rir junto.

— Cale a boca, você viria de todo jeito que eu sei.

Pouco depois do pôr do sol, ele estava à sua porta. Marlene evitou todas as cerimônias e, de uma única vez, falou tudo o que sentia, falou sem pausas para não correr o risco de ser interrompida. Falou que há dias vinha se questionando sobre o que tinham, e o que seria no futuro, falou que depositava expectativa demais nele e perguntou se estava tudo bem com isso, porque, independente dele cumpri-las ou não, as expectativas já estavam lançadas. Falou que gostava dele do mesmo modo como tinha gostado de seus ex — recebendo um olhar torto a essa altura —, o que podia ser preocupante, afinal, namorou todos que gostara daquela maneira.

Por fim, perguntou como ele via o que tinham e como se sentia a respeito de tudo, mas principalmente como se sentia a respeito dela.

— Mars — ela perdia a síntese quando era chamada assim —, o que eu disse no outro dia não era mentira. Nunca fiquei com alguém por tanto tempo, se eu ainda estou aqui, é porque gosto de você o suficiente pra isso. Eu gosto do que a gente tem, cada detalhe, cada parte, cada momento. Eu gosto de você, eu gosto de você, de tudo que você faz e como você faz. Eu podia ter sumido em tantas situações, podia ter desaparecido há semanas, mas eu não quis; se eu sumisse, não teria mais você.

“Não gosto de pensar em expectativas colocadas sobre mim, porque meu histórico é quase inteiro de quebra-las. Se você estiver preparada pra isso, então por mim tudo bem. Só peço que me avise quando as expectativas estiverem muito altas, assim eu tento cumprir com um pouco do que você pensa. E, por fim, eu também tenho me questionado sobre tudo, porque, como falei, já podia ter ido embora, mas, de novo, eu não fui. Entendeu?

Marlene o beijou, sendo puxada para sentar-se no colo dele. Não esperava por nenhuma das palavras que tinha ouvido, mas precisava confessar que eram boas, eram muito melhores do que podia imaginar. Se soubesse, quando o viu pela primeira vez naquele pub, que dentro de um mês estariam falando coisas profundas como aquelas, ela provavelmente riria. Ele a vinha tirando do sério desde o primeiro dia.

— Hoje não — falou sobre a boca dele. — Hoje eu quero só ficar com você. Deitada, abraçada a você, sem nada além disso. Podemos?

— Podemos — respondeu entre beijos mais calmos, mais suaves. — Fique aqui que eu vou fazer algo para comermos.

— Você cozinha muito mal, sabia?

— Sabia, mas vou cozinhar mesmo assim e você vai comer. Suas expectativas em mim não envolvem comida, eu espero.

— Não, não envolvem — ela riu.

Ficou o observando enquanto tentava fazer comida, o que claramente não era sua melhor habilidade. Marlene não se importaria de cozinhar para ele ou para qualquer outro; via na cozinha um meio de liberar o estresse que sempre sentia, era sua válvula de escape e seu refúgio em dias muito pesados, chegando a situações em que sua geladeira era repleta de comida pré-pronta resultado de picos de ansiedade. Sirius, por outro lado, não conseguia esconder sua falta de intimidade com tudo que o cercava, o que a fazia rir um bocado.

Marlene tinha estado tão absorta em assisti-lo que mal notou quando um celular apitou e brilhou a tela com mensagem. Não podia ser o seu próprio, que estivera longe por tempos. Alcançou o celular dele, vendo que o nome de James Potter era o que piscava no visor. Ela o tinha visto algumas vezes de relance, e ouvido histórias a respeito dele o bastante para saber que era o melhor amigo do homem à sua frente.

— Potter mandou mensagem.

— Pode abrir.

jamespotter

um mês com a mesma mina hein champ

tu ganhou a aposta cara parabéns

já te transferi os cem pila do mes

Todo seu mundo ruiu, o chão parecia desaparecer embaixo de seus pés e o ar lhe fugia dos pulmões. Sua visão embaçou imediatamente graças às lágrimas que brotaram nos olhos, e a garganta travou com o choro que prendia. Marlene não pensava em nada, porque não lhe ocorriam palavras suficientes para formar um pensamento. A mão que segurava o telefone tremia, assim como todo seu corpo.

Não sabia se tremia de raiva, de tristeza ou de arrependimento. Como pudera ter sido tão burra a ponto de se abrir daquela maneira para, menos de uma hora depois, ter seus sentimentos dilacerados com três mensagens? O pior era que ela não se sentia tão surpresa quanto deveria, era como se já esperasse por aquilo, não era uma surpresa total.

— O que foi? — ouviu-o perguntar. Ele a encarava com um misto de choque e preocupação. — O que o filho da puta do Potter mandou pra te deixar assim? Eu vou matar aquele desgraçado.

— Sai da minha casa.

— O que?

— Sai! Sai daqui, Black, vai embora! Sai daqui agora, eu não te quero mais, nem aqui e nem lugar nenhum. Some daqui! — ela gritava enquanto caminhava até onde ele estava. Com os punhos fechados, socava o peito e onde mais dele pudesse alcançar. — Sai daqui, eu não quero te ver, sai!

— Marlene! — ele a segurou. — O que aconteceu?

Cem pila, Black? É isso que eu vali esses dias todos? Espero que tenha valido a pena, Potter já fez a transferência pra você do meu valor.

Ele passou a mão pelos cabelos, em visível desconforto e raiva. Em outras situações, aquele movimento a teria tirado do sério, mas não agora. Ela queria que ele desaparecesse de seu apartamento o quanto antes ou não sabia o que faria.

— Me deixe explicar...

— Eu não quero ouvir nada de você, nada! Eu quero que você vá embora agora. Se você não for, eu vou ligar pra polícia. Sai daqui agora!

Ele se deu por vencido e saiu, sem falar mais nada.

≡≡≡

Que ficasse na lista de afazeres futuros de Sirius Black: matar James Potter.

siriusblack

FILHO DA PUTA!!!!!! ELA LEU ESSA PORRA DESSA MENSAGEM SEU DESGRAÇADO

PORRA POTTER EU TO COM TANTO ODIO DE VC AGORA

PQ VC AINDA LEMBROU DESSA PORCARIA DE APOSTA

EU NEM QUIS ENTRAR NESSA

jamespotter

ela leu? ouch

não quis entrar mas saiu duzentos conto mais rico ahhaha

siriusblack

eu vou te matar

anote isso

é uma promessa

Sirius não podia crer naquilo. Por vários e vários momentos tinha se esquecido daquela aposta ridícula, e não acreditava mesmo que James se lembraria — mas, lá estava a prova de que, sim, ele lembrou. Xingou a si mesmo e ao amigo durante todo o caminho até chegar em casa; xingou-se por nem lhe passar pela cabeça que aquilo era uma possibilidade, levando em consideração que Potter não tinha muita noção; xingou-o por ter estragado algo que, até aquela mensagem, estava indo tão bem.

Não era a primeira vez que passava por aquilo, por um término — ou o que fosse que tivesse acontecido —, não entendia como ou por que estava tão abalado. Com qualquer outra, a solução mais prática e fácil seria, bom, procurar uma substituta e candidatas não faltariam. Mas, não era qualquer outra, já tinha deixado de ser há um tempo, e agora ele não sabia o que fazer.

Sua vontade era de fazer o caminho inverso, voltar ao apartamento de Marlene, olhar para ela e... e o que? Não existiam palavras que o justificasse, nem explicações que pudessem ser boas o suficiente. Tudo o que tinha era o que tinha sentido ao lado dela nos últimos dias e, além disso, o quão mal se sentia naquele momento. Nunca antes esteve daquele modo, aflito por ter de ir embora, não quando ele queria ter ficado.

Já em seu apartamento, aproveitou que estava sozinho e gritou. Pura e simplesmente, gritou. Pouco se importava se os vizinhos o ouvissem ou se reclamassem, eles podiam se foder depois. Jogou o celular longe, como se aquilo pudesse fazer as mensagens desaparecer, não do aparelho, mas também da memória dela. Afundou o rosto nas mãos, frustrado com os últimos vinte minutos de sua vida.

Não demorou para que fizesse o que sempre fazia em situações de frustração: beber. Acabou com seu estoque pessoal de cervejas antes que pudesse se dar conta disso. Sua mente era um emaranhado de pensamentos e sentimentos, todos que, de um jeito ou de outro, acabavam em Marlene McKinnon.

Por mais que quisesse voltar, estava consciente de que ela não abriria a porta e não o deixaria entrar, ao menos não no estado em que estava. Como era de se esperar, com todas as alterações causadas pelo álcool, Sirius deixou de visualizar com clareza as possibilidades à sua frente e, antes que seu lado racional já muito enfraquecido pudesse impedi-lo, alcançou o telefone do lugar onde caíra e procurou pelo número dela.

Ligou uma, duas, três vezes. Caixa postal. Esperou. Ligou mais uma, duas, três, quatro vezes. Nada. Precisava falar com McKinnon, simplesmente precisava.

siriusblack

mars por favor me atende por favor me deixa falar com vc

me atende por favor

Marlene me responde

por favor lene

marlenemckinnon

esquece que eu existo Black

eu nunca mais quero ver você

ESTE CONTATO BLOQUEOU VOCÊ

As duas mensagens dela o destruíram a ponto de fazê-lo desistir de tentar mais algum contato, por enquanto. Não sabia lidar com o aperto, a dor, a pontada — nem ao menos conseguia definir — que sentia ao ler aquilo. Talvez fosse devido, e ele merecesse aquele sentimento incômodo e intragável que o fazia fazer coisas que normalmente não faria; era a recompensa que o carma lhe dava.

Naquela noite, saiu para comprar mais cervejas e bebeu até perder por completo seus sentidos, dormindo jogado no chão da sala com o celular em uma mão e algumas garrafas ao redor. Sirius tinha atingido o fundo do poço por muitos motivos antes, mas aquele era novidade: bebendo para esquecer uma garota, depois de ter tentado com afinco contato e, se ainda pudesse piorar, ter chegado ao ponto de chorar. Não muito, mas chorado.

Ele acordou no outro dia com a pior ressaca dos seus últimos tempos, a cabeça a um passo de explodir tamanha dor, os músculos do corpo retesados e os olhos se negando a ficarem abertos. O celular que segurava permanecera desbloqueado na breve conversa com McKinnon na noite anterior e reler a última mensagem fez doer de novo. Eu nunca mais quero ver você.

— Porra, Marlene! — gritou.

Precisava vê-la o quanto antes, antes de dar a ela a chance de sair para pubs de novo, antes de conhecer alguém. Era egoísmo pensar aquilo, mas precisava tentar. Não tinham dito todas aquelas coisas um para o outro se fosse só da boca para fora, Sirius tinha a necessidade de tentar; já tinha feito tanto por ela que não fizera por ninguém antes, que uma coisa a mais não faria diferença.

Mandar mensagem estava fora de questão. Ir à casa dela também, sabia que não passaria da porta. Sabia muito bem onde deveria ir.

≡≡≡

Marlene tinha olheiras abaixo dos olhos causadas pelas poucas horas que tinha dormido. Mais da metade de sua noite fora gasta chorando, chorando por algo tão estúpido quanto Sirius Black. Ela não podia acreditar que estava naquela mesma posição de novo, depois de tanto lutar contra isso, depois de ter tentado se desvencilhar daquilo. Sua fraqueza, mais uma vez, foi maior.

Assim que o viu sair pela porta, sentiu que algo dentro de si estava quebrando, as expectativas que tinha criado agora se voltavam contra ela da maneira mais dolorosa possível. Jurou a si mesma que nunca mais teria que viver um término, uma separação — mesmo que não soubesse se aquilo se encaixava em uma dessas coisas —, mas lá estava: sentada no chão de sua cozinha, abraçada aos próprios joelhos e chorando mais do que sabia que podia.

Sua mente viajava pelos dias que passaram juntos, e todos agora eram vistos sob uma perspectiva diferente: a perspectiva na qual Black fazia tudo que fez visando mais o dinheiro do que a presença dela. Isso doía, doía mais do que os rompimentos anteriores que tivera; nestes, ao menos, sabia que não tinha sido usada por um motivo tão fútil, mesquinho e infantil.

Não podia acreditar no quão ingênua e burra conseguira ser em seguir com aquilo, mesmo com todas as suas convicções de fazer o contrário, mesmo depois de ouvir — da boca dele! — que ele nunca  tinha ficado tanto tempo com alguém. Como não pôde prever que, no fim das contas, não passou de uma ilusão?

Naquela noite, ela foi vencida pelo cansaço depois de horas de choro. Acordando, então, com as malditas olheiras.

Ir trabalhar na manhã seguinte foi particularmente difícil, sua vontade era de ficar deitada o resto do dia, sem qualquer contato com o mundo externo e, se possível, acompanhada de todo o açúcar que tivesse disponível. Usou de todos os truques de maquiagem que conhecia para deixar sua cara mais apresentável, e tirar dali qualquer vestígio de que tinha chorado; queria evitar perguntas, principalmente de Dorcas — seria ainda mais doloroso dar razão à amiga.

— Bom dia, McKinnon. Tem um cliente esperando você.

— Tudo bem, obrigada.

A última coisa que ela queria era ter que prestar serviço ao cliente naquela manhã, na verdade não queria ter que prestar serviço nenhum a ninguém, queria poder voltar para casa e ficar embaixo das cobertas até aquilo que sentia ir embora. Contudo, já que precisava manter seu emprego e, para isso, teria que prestar serviço ao cliente, preferiu encarar a situação como chance de mandar seus pensamentos para o mais longe de Sirius Black possível.

Funcionaria, se ele não estivesse parado à sua frente.

— Vai embora. Eu tenho um cliente pra atender.

Eu sou o cliente — Marlene não conseguiu segurar a expressão de surpresa que moldava seu rosto ao ouvir aquilo. — Nós precisamos conversar.

— Não, não precisamos. Eu falei pra você esquecer que eu existo e que nunca mais queria te ver. Você não lê nenhuma mensagem que te mandam? Quem foi a sortuda de ler o que eu mandei ontem?

— Mars, po...

— Não me chame assim!

Sirius deu um passo para trás com o grito dela. Por sorte, estavam sozinhos em uma sala à parte, ou teriam atraído muitos olhares na direção em que estavam. Era nítido no rosto dela que a última noite não tinha causado efeitos negativos somente nele, não, Marlene tinha os olhos pequenos e pesados, carregados de sono, e ainda estavam inchados pelo choro.

Ele se sentiu ainda pior por vê-la daquele jeito e saber que era sua culpa, de certo modo. Mas, queria que ela soubesse que não era a única naquela situação, queria dizer a noite horrível que tivera e quantas vezes a chamou por um apartamento vazio. Queria que ela soubesse que, muito embora as palavras estúpidas de Potter fizessem parecer o contrário, o que tiveram valeu a pena, por cada minuto. Queria poder tentar expressar verbalmente quão horríveis suas últimas horas foram.

Precisava que Marlene o deixasse falar para isso.

— Nunca foi o dinheiro, McKinnon — ela estreitou os olhos diante do sobrenome. — Não vou negar em dizer que, no começo, pode ter sido. Nos primeiros dias, e depois não mais. Eu nem lembrava mais dessa porra de aposta, eu só pensava em você. Preciso que você acredite em mim.

— Eu não sei se posso acreditar no que você diz mais. Agora é difícil não achar que foi tudo pelo dinheiro — Marlene respondeu baixinho, quase em um murmúrio.

Não foi pelo dinheiro! — Sirius ergueu um pouco a voz, fazendo-a levantar os olhos para ele. Quis beijá-la ali mesmo, pouco se importando com o lugar onde estavam. Em um ato arriscado, alcançou sua carteira e pegou uma nota de dinheiro. Uma nota de cem. Rasgou-a no meio, assistido pelo olhar incrédulo dela. — Foi esse valor que eu recebi. Não me importo com ele. Não foi o dinheiro.

— Você acabou de rasgar uma nota de cem? Perdeu a cabeça? Ficou louco?

— Fiquei, Mars, fiquei louco por você! Eu não menti quando disse aquilo tudo pra você ontem, não menti em nem uma palavra, em nada. Eu poderia ter ido embora, sim, mas eu não fui, não por essa porcaria de dinheiro, mas por você, caralho.

Marlene o olhava atônita. Não sabia o que falar e menos ainda o que pensar. Uma parte dela queria desacreditar naquilo, desconfiar até o último cabelo do que ouvia — sua paranoia a fazia até duvidar se a nota era, de fato, verdadeira e com valor. Outra parte relutava em recusar as palavras, querendo tomá-las como reais. Qualquer que fosse a parte de si a ser ouvida, não apagava a madrugada chorosa que teve.

Podia sentir fisicamente os olhos dele presos nela, em cada movimento que faria e atento em quaisquer palavras que dissesse. O problema é que ela estava travada, congelada ali de pé, no meio daquela sala, sem saber o que fazer com seus sentidos; não sabia o que deveria pensar ou falar, não sabia nem se devia continuar encarando-o com tanta fixação — era mais forte do que ela, de qualquer jeito.

Sirius deu um passo na direção dela e, vendo que não recuou, caminhou até estarem a poucos metros de distância, perto o bastante para sentir o cheiro do perfume que tanto apreciou nos últimos dias. Com um movimento calmo, lento e cuidadoso, levantou a mão até poder tocar uma mecha do cabelo dela que lhe caía no rosto e a afastar dali.

— É melhor assim — afirmou com a voz calma, e, como se acordasse de um transe, Marlene o empurrou e se afastou. — Marlene, por favor. Eu preciso que você confie em mim, acredite no que eu disse, porque não foi nenhuma mentira.

— Eu... preciso de um tempo pra digerir tudo isso.

— Quanto tempo?

— Não sei — respondeu, firme. — Eu te aviso quando estiver pronta.

— Vai me avisar como, se bloqueou meu número? Vai me desbloquear?

Marlene sorriu. Era um sorriso que ele não conseguiu decifrar.

Talvez.

Ele assentiu, sabendo que não conseguiria mais nada além daquilo ali. Despediu-se dela com um aceno e saiu. Ao menos tinha tentado, e receber um sorriso acompanhado de um talvez era melhor do que a total negativa.

Precisava se resolver com Potter agora, e se precisaria se controlar para não o socar com toda força quando o visse. Alcançou o telefone para ligar para o amigo, mas parou no meio da ação quando seus olhos recaíram sobre outra notificação na tela.

marlenemckinnon

ESTE CONTATO DESBLOQUEOU VOCÊ

estou pensando, ok?

Sirius sorriu para a tela como se tivesse ganho um prêmio e sentiu o peito aquecer de uma maneira até então desconhecida.


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Notas finais do capítulo

aiai só posso dizer que sou cadelinha d+ desse casal ahahha

comentem o que acharam, ok? beijos e até o próximo ❤

ps: meu tt caso queiram seguir pra interagirmos hehehe @thisissrenata (só avisa que seguiu pra eu saber!!!!)



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