A semana passou rápido demais. Agora que a sensação de que tudo acontecia em terceira pessoa, como se eu observasse de fora, não era mais parte da minha vida eu mal conseguia acompanhar as coisas. Jess parecia feliz que eu tinha voltado ao normal e se aproveitava disso para contar todas as coisas que aconteceram nos meses que eu parecia um zumbi, e em como Mike estava prestes a finalmente chama-la para sair, e eu a deixava falar, feliz por não precisar preencher o silêncio. Angela e eu estávamos cada vez mais próximas, conversando sobre os livros que estávamos lendo, desde que me encontrou tendo uma crise de pânico no banheiro logo antes do almoço um dia, e desde então estava sempre por perto, ajudando quando percebia que estava me sentindo mal.

Na sexta feira, com a promessa de sol no fim de semana, foi combinado que iriamos para La Push no dia seguinte. Os pais de Mike cobririam nossos turnos para podermos aproveitar os raros momentos de sol com nossos amigos.

Eu estava ansiosa, pois pela primeira vez desde que eu tinha me aproximado de Jake duas partes da minha vida que não deveriam estar juntas, a que estava voltando a ter contato com os amigos humanos e a que estava se envolvendo com o sobrenatural (de novo), iriam se encontrar. Espero que ao menos esse encontro seja mais calmo do que quando Edward sentou-se pela primeira vez em nossa mesa, quando todos pararam de falar ao mesmo tempo e ficaram encarando o vampiro ao meu lado.

Pensar nele não era tão doloroso quanto antes, apesar de eu ainda me sentir sozinha e vazia durante a noite. Mas, desde o dia que Jake ficou ao meu lado a noite toda, isso também estava melhorando. Eu percebi que não estava sozinha naquele dia, que ele pode ter ido embora, e que pode ter deixado uma bagunça para trás, mas que eu estava conseguindo, aos poucos, arrumar. Era como uma casa abandonada: estava vazia, escura e quebrada. Mas, com a ajuda de alguns bons amigos, o hall de entrada não estava mais destruído. Era como reformar essa casa antiga, aos poucos eu conseguiria ficar bem por completo. Não é um processo rápido, nem fácil, mas também não é impossível.

Eu acordei cedo demais no sábado, antes das 5h da manhã, por conta dos pesadelos, e decidi lavar roupa já que nas últimas semanas eu tinha negligenciado minhas responsabilidades em casa. Morar com Charlie era quase como morar sozinha, e muitas vezes isso era ótimo, mas outras nem tanto. Mas não me importava, gostava de cuidar da casa. Era algo para fazer, ajudava a me sentir útil.

Depois de terminar de lavar e guardar as roupas ainda eram 8h, então fiz uma lista do que era necessário repor em nossa despensa e me arrumei para ir ao mercado. Aproveitaria e pegaria uns salgadinhos e refrigerantes para levar até a praia mais tarde. Estava trancando a porta quando ouvi a madeira atrás de mim ranger. A sensação de desespero surgiu do nada e me tomou por completo, fazendo com que eu derrubasse as chaves e não conseguisse respirar. Estava tremendo quando me virei e vi Jacob atrás de mim. Quando me viu chorando ele atravessou a distância rapidamente e me abraçou.

— Você me assustou! – disse, com a voz fraca e tremula por conta do susto – O que você está fazendo aqui, Jake?

— Charlie ligou para Billy e perguntou se eu poderia vir para cá e te fazer companhia, vai ter um turno longo de novo.

— Mais desaparecimentos? – perguntei, baixinho, lembrando que não tinha visto Charlie ontem ao voltar do trabalho.

         Não houve resposta, mas senti o corpo de Jake tensionar. Isso já era resposta suficiente. Tremendo, me afastei de Jacob e peguei a chave no chão. Sem questionar, Jake me seguiu até o carro e esperou pacientemente do lado do motorista. Levantei uma sobrancelha em questionamento, mas joguei a chave para ele. Estava chovendo e eu não gosto de dirigir com o tempo assim de qualquer forma, apesar de ser 90% do tempo em Forks.

         Depois da visita ao mercado, Jake me ajudou a guardar as compras nos armários desbotados e a organizar uma mochila para ir para a praia e, curiosamente, uma muda de roupa que ele insistiu que eu levasse. Sabia que algo não estava certo, mas confiei nele. Ele insistiu novamente em dirigir e nós continuamos em silêncio até chegar na reserva, e em algum momento Jake deixou uma das mãos descansar em meus ombros e eu deixei que continuasse ali, era uma sensação confortável.

         O dia foi tranquilo, sem nenhum imprevisto. Nenhum lobo perdeu a paciência e expôs o segredo para meus amigos humanos, mas houve certo estranhamento quando Sam e Emily se juntaram ao grupo, afinal eles tinham mais de 20 anos e moravam juntos. Era estranho para um grupo de adolescentes se sentir confortável, mas até essa tensão foi dissipada ao longo do dia.

         - Bella. – Emily estava vindo até mim com uma expressão preocupada – Houve um desaparecimento em Forks, um menino, e Charlie e um grande grupo de busca está se organizando para ir atrás dele. Sam e alguns dos meninos mais velhos vão ir, e Jake achou melhor que você ficasse comigo hoje. Charlie achou uma boa ideia.

— Victoria? – perguntei baixinho, meu corpo inteiro tremendo já

— Acho que sim, Bella. – sua expressão estava sombria – Mas Jake e Jared vão ficar com a gente, para proteção. Os outros vão acompanhar o grupo de busca.

— Tudo bem. – suspirei, olhando meus amigos se organizando para voltar para Forks – vou avisar eles, e já podemos ir se quiser. Você está com carro?

— Podemos ir com o seu. – Emily disse com uma risadinha, piscando e indo até Sam.

         Me dirigi até meus amigos e me despedi deles, avisando que ficaria com Emily essa noite para uma noite de garotas. A preocupação e o medo já me deixando gelada e com as mãos tremendo desde que foi confirmado o novo desaparecimento, a sensação de que não estava protegida e de pavor fazendo meu coração apertar e as lágrimas lutarem para sair de meus olhos. Respirei fundo e fui até o grupo de lobos, todos com o corpo tenso e olhos conturbados. Tinha algo a mais nisso tudo, eu só não sabia exatamente o que, e isso me deixava com mais medo. Jake não costumava esconder coisas de mim.