Na Mira do Vampiro escrita por construindoversos
Toninho deu de cara com Duda, tão apalermado quanto ele, preparando-se para tocar a campainha.
Ouvindo o grito, Alberto Kriegel saiu do banheiro, enrolado na toalha, para verificar.
Os meninos fecharam a porta rapidamente e correram para a escada de serviço.
Kriegel fez uma ronda pelo apartamento e, não vendo nada, voltou para o banheiro, não sem antes parar diante da bela jovem deitada na cama, como se quisesse ter certeza de que não poderia ter sido ela a responsável pelo grito.
Na escada, Toninho desabafou:
— Eu vi, Duda!... A moça... o vampiro... morta...
— O quê?! Calma, Toninho. Fale devagar...
— O vampiro, Duda!... Estava lá... com a moça... morta!
— O vampiro?! Mas que moça é essa? Não tô entendendo nada, meu irmão...
— Pô! Eu estou falando grego, Duda? Eu tô dizendo que vi o vampiro em pessoa lá no apartamento! - reafirmou Toninho, já recuperando o fôlego. - Tinha uma moça bonita deitada numa cama de casal. Ela estava morta, rapaz!
— Que que você está me dizendo? O vampiro ressuscitou?! - Duda repetia as palavras mecanicamente, sem acreditar no que estava ouvindo. - E essa moça que você disse que tava morta lá dentro?
— Ela era loira, estava toda vestida de branco. Pálida como uma vela! Parecia que alguém tinha tirado todo o sangue. Igualzinha àquela do jornal... - acrescentou Toninho, dando ênfase à parte sobre o sangue.
— Então, a mulher que você viu foi a segunda vítima dele. Você reparou se ela tinha os dois furos no pescoço?
— Hã? - Toninho fez uma pausa para reflexão, depois emendou: - Sei lá se tinha furos no pescoço! Não deu pra ver. Eu tinha que salvar a pele, mané!
— Você tem certeza que era o vampiro? - insistia Duda.
— Certeza, não. Você é que é o especialista, né? Ele estava todo vestido de preto e dava ordens para aqueles dois caras da caminhonete, aí eu pensei...
— Viu! - gritou Duda com entusiasmo. - Não te falei que aqueles caras eram suspeitos? Como era esse homem todo vestido de preto que você diz ser o vampiro?
— Era alto, cabelos escuros e tinha uma expressão fria...
— Hum! Parece que é ele - disse Duda com certeza. - Toninho, agora é que a coisa vai começar a esquentar! Se esse cara que você viu lá no apartamento for mesmo o vampiro, a moça bonita foi sua segunda vítima. Se essas coisas forem confirmadas, quer dizer que a maldição pode se espalhar por toda a cidade... Ninguém vai escapar do vampiro. Temos que agir rapidinho!
— Por que não saímos logo daqui antes que alguém ouça a gente?
— Espere um pouco - retrucou Duda, sem ligar para as palavras de prevenção do amigo.
Os dois dialogavam tranquilamente na escada, sem lembrar que, a qualquer momento, poderiam ser pegos...
— Há uma coisa estranha nesse troço... - tornou Duda, após meditar.
— O que é?
— Como pode ser o vampiro, se eles só saem da toca de noite?... Mas, por outro lado, a descrição que você fez do sujeito confere exato com a figura do vampiro. Estamos diante de um enigma.
— Ora, os vampiros modernos não gostam só da noite não, meu camarada! Eles gostam de curtir uma praia também. Lá eles podem ver as garotas de biquíni...
— Pára de dizer besteira, Toninho! Eu tô falando sério! Não deu pra sacar o que ele combinou com os capangas?
— Nadinha. Mas é claro que eles tinham uma missão ultra-importante, pois foi o próprio chupador de pescoço quem falou isso...
— Como é que você sabe?
— Eu ouvi de dentro do caixão, ué - respondeu Toninho com certo orgulho.
— E não ouviu eles dizerem pra onde estavam indo? - insistia Duda, para conseguir o maior número de informações possível.
— Não, isso eles não falaram.
— A teia está mais emaranhada... - disse Duda em tom de mistério.
— Que teia?
— Eu quero dizer que a coisa complicou de vez, Toninho. Bom, a gente tem que descobrir se o sujeito que você viu é mesmo o vampiro ressuscitado, quem é a moça morta lá no apartamento, e se essa morte tem alguma ligação com aquela que saiu no jornal. Aí só falta descobrirmos aonde foram os dois homens da funerária e, também, se este apartamento é o esconderijo do vampiro...
— Só isso?! Então é moleza! - exclamou Toninho em tom de deboche. - Por que a gente não vai lá dentro e acaba com o vampiro? - desafiou, mantendo o tom.
— Engraçadinho! Não podemos enfrentar um vampiro sem preparo. Vamos ter que adiar o confronto para outro dia, quando estivermos prevenidos...
— E quando será isso? - volveu Toninho, preocupado.
— Não sei... - respondeu Duda com o pensamento longe. - O que está me deixando grilado é que o porteiro falou de uma tal de Da. Catherine, uma velha estranha que tinha falecido. Será que foi o sangue dela que o vampiro usou para ressuscitar...
— Uau! Chupar sangue de velha? Que gosto! - brincou Toninho.
— Talvez essa tal velha fosse a dona do apartamento...
— É, mas não tinha nenhuma velhinha morta ali dentro, e sim uma senhora gata!
— Estranho... - Duda voltava a refletir.
— Ah! E por falar nisso, esse porteiro está envolvido com a turma do vampiro.
— Isso eu já sabia, meu caro! - rebateu Duda com presunção.
— Sabe o que mais, vamos embora que já é tarde - disse Toninho, descendo os primeiros degraus. - A gente vai perder a hora da aula...
— Correção: já perdemos - retrucou Duda, seco.
Ele ia voltando em direção ao apartamento, quando Toninho o deteve:
— Vai aonde?
— Ver se a moça que o vampiro matou tem os furos no pescoço...
— Tá maluco! - volveu Toninho, segurando-o pelo braço. - Você acha que eu vou enfrentar esse bicho sem nenhuma arma? Tá doido! Você só me mete em enrascada! Vamos embora...
— Então vamos de elevador - sugeriu Duda com a maior naturalidade.
— Que elevador nada! Vamos de escada mesmo...
Os dois desceram a escada cautelosos. Ao chegarem na portaria, notaram que não havia ninguém por perto, então foram saindo...
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