Na Mira do Vampiro escrita por construindoversos


Capítulo 20
A passagem secreta




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— Ih, Duda, o Toninho ficou uma fera por você não ter deixado ele vir com a gente - observou Da. Dalila, enquanto pilotava seu belíssimo Puma vermelho conversível.

— Não sei por quê! Ele não tem nenhuma experiência nesses assuntos e fica logo com medo. E, além do mais, alguém tinha de ficar na retaguarda embromando a minha mãe, no caso de ela querer saber onde eu estou...

— E você, tem experiência com vampiros?

Duda sorriu levemente, sem responder.

— Ai, Duda, você me diverte! Sua mãe também vai me odiar se descobrir que eu ajudei você - volveu ela com um sorriso maroto.

Da. Dalila era uma senhora de 50 anos, alegue e esportiva, com um gosto especial por carros de corrida. O oposto da filha, Amanda, que às vezes fazia mais o papel de mãe.

— Chegamos. A rua é esta.

— Cadê a loja? - perguntou Duda, ansioso.

— Logo descobriremos. Deixa eu estacionar aqui nesta vaga mesmo. É muito difícil conseguir um lugar na cidade.

Duda saiu do carro e ficou orientando a avó, que, com alguma dificuldade, tentava encaixar o pequeno carro num imenso espaço.

— Deixe-me ver o número - pediu Da. Dalila, saindo do carro e estendendo a mão para o neto, que lhe passou o pequeno pedaço de papel.

Os dois caminharam pela rua e rapidamente Da. Dalila avistava a discreta fachada da loja.

— Funerária Além da Vida. É ali, Duda. Está vendo uns caixões na entrada? - disse Da. Dalila, encaminhando-se com o neto para a loja.

— Não esquece, hem, vó! O sujeito vai tratar a senhora com muito respeito e, enquanto você o distrai, eu vou fazendo as minhas investigações...

— Como você tem tanta certeza que o rapaz vai me tratar com educação?

— Ora, vovó, ele é vendedor; e, além disso, é assim que os vilões fazem nos filmes.

— E se nós dermos de cara com o vampiro? - perguntou Da. Dalila, assustada, acreditando na história do neto.

— Ele não é trouxa de aparecer em público. Fica fria, vó.

Entraram na loja.

Da. Dalila começou a fingir que estava interessada nos caixões, e assim foi andando pela funerária.

Duda, ao contrário da avó, não tinha a mínima discrição; observava tudo sob os olhos do criado do vampiro, que o vigiava continuamente.

Por fim, ele aproximou-se de Da. Dalila e cumpriu todo o ritual do bom vendedor:

— Bom dia, senhora. Em que posso servi-la?

Apesar da tentativa de ser gentil, Da. Dalila pôde perceber que a simpatia não era uma das virtudes do homem.

— Bom dia. Estou procurando um caixão...

— Para quê? - disse o criado do vampiro, automaticamente.

— Para nada - respondeu Da. Dalila, traída pelo nervosismo. - Hã... quer dizer, como? - indagou ela, tentando retomar a conversa.

— Desculpe-me, senhora. Na verdade, a minha pergunta não foi adequada. É evidente que a senhora procura um caixão para alguém, não é mesmo?

— Não... - disse ela, hesitante.

O criado do vampiro espantou-se.

Então, ela murmurou:

— É... é para minha irmã, coitada. Faleceu há um mês...

— Há um mês! - estranhou ele.

O criado do vampiro indicou uma cadeira para Da. Dalila, em frente a uma pequena escrivaninha, e em seguida também se sentou.

Sua dúvida, porém, não se dissipara:

— Sua irmã morreu há um mês e a senhora ainda não a enterrou?

— De certa forma, sim - continuou ela -, pois há coisa de um mês ela entrou em coma quando caiu no banheiro...

— Ela entrou em coma quando caiu no banheiro... - repetiu o homem, estranhando a história.

— Ela não caiu simplesmente; ela pisou no sabonete...

— O quê?!

Enquanto Da. Dalila tentava distrair o criado do vampiro com aquela conversa sem sentido, Duda xeretava por todo lado à procura de alguma coisa que pudesse incriminar o homem que, segundo ele, camuflava suas atividades demoníacas disfarçando-se de agente funerário.

O criado do vampiro mantinha Duda sob vigilância. mesmo conversando com Da. Dalila.

— Pois é - insistia ela -, minha irmã estava tomando banho calmamente, quando pisou no sabonete e escorregou...

— Ah! Ela caiu no banheiro, bateu com a cabeça e por isso entrou em estado de coma...

— Pois é, bateu com a cabeça na borda da banheira, teve uma hemorragia interna. Parece que um dos vasos sanitá... digo, sanguíneos do cérebro rompeu-se. Segundo o médico, a situação piorou e aí...

— Já entendi - disse ele, compreensivo. - Não precisa continuar a me contar tão terrível tragédia, minha senhora, eu compreendo que essa história deve deixá-la transtornada... Bom, já que ela vai morrer com certeza, eu vou lhe mostrar uma coisa...

O agente funerário tirou um livro preto de uma das gavetas da escrivaninha e, quando ia passá-lo a Da. Dalila, viu Duda abrindo o velho armário que ficava ao fundo da loja com documentos e outras papeladas.

— Ei, garoto! Não pode mexer aí, não! - falou ele em tom severo.

— Duda! Não seja metido, menino! - reforçou Da. Dalila, tentando disfarçar. - Saia já daí!

Duda saiu do armário e foi sentar-se num banco de madeira que ficava em frente a uma paisagem pintada na parede. Ficou admirando a pintura.

— O senhor me desculpe - disse Da. Dalila -, eu não queria trazê-lo, mas não tinha com quem deixar...

— Não tem problema, crianças são assim mesmo - retrucou ele com falsa compreensão. - Voltemos aos caixões...

— Pois não - concordou Da. Dalila.

O criado do vampiro abriu o livro preto mais ou menos no meio e colocou-o ao alcance dela. Havia vários tipos de caixões desenhados.

Da. Dalila folheou o livro como se estivesse realmente interessada em comprar algum.

Duda levantou-se do banco de madeira e começou a examinar a parede pintada, que ia desde o teto até o rodapé.

O criado do vampiro, inquieto, olhava constantemente para trás, a fim de vigiar o garoto.

Duda continuava a examinar a parede. Passava o dedo indicador pela pintura como se tivesse percebido algo.

A mulher escolheu aleatoriamente um dos caixões do mostruário e indicou o modelo ao agente funerário, que estava cada vez mais preocupado com a investigação de Duda.

Da. Dalila percebendo a excitação dele, tratou de agir...

— Eu gostei muito deste modelo aqui - disse ela, como se estivesse escolhendo um vestido novo e não um caixão, tal o entusiasmo.

— Sei... - disse o criado do vampiro, profundamente incomodado com Duda. - Olha, minha senhora, não vou enganá-la, este modelo que a senhora escolheu é um dos mais caros. A senhora pode ter uma noção de como ele ficará depois de pronto pelo desenho. Repare como ele é todo trabalhado manualmente. É um trabalho de artista!

— É muito caro, é? - perguntou ela, representando um desânimo digno de uma grande atriz.

— Depende. Qual é a altura da sua irmã?

— Mais ou menos a mesma que a minha - volveu Da. Dalila, levantando-se e fazendo um estardalhaço proposital.

Nesse momento, Duda acabava de achar uma passagem secreta na parede pintada. Mas, quando se preparava para abrir a porta, o homem se levantou e disparou para lá, fumegando.

— Feche isso, garoto!

Duda pulou para trás, assustado.

— Que que tem ali?

O criado do vampiro postou-se à frente da porta secreta.

— Não tem nada, garoto - disse ele, ofegante.

— Então por que o senhor não deixa a gente ver?

— Minha senhora, quer fazer o favor de pedir ao seu neto para não ficar bisbilhotando, quer?

— Duda! Não faça isso, menino! Venha sentar-se aqui do meu lado - ela continuava a fingir.

— Vó, aqui tem uma passagem secreta! - falou Duda com falsa ingenuidade.

— Que passagem secreta o quê! - gritou o criado do vampiro, tentando abafar o assunto.

Ele tirou uma chave do bolso do paletó preto e fechou a tal porta com ela. A fechadura estava muito bem camuflada pela pintura.

— Assim ninguém pode trabalhar em paz! - praguejou o homem.

Duda foi para junto da avó.

Quando o criado do vampiro voltava para seu lugar a fim de continuar o negócio, Da. Dalila levantando-se, sugeriu:

— Vamos fazer uma coisa, moço. Podemos deixar para resolver isto amanhã, na parte da tarde; eu virei sozinha e então nós acertaremos tudo com detalhes, correto?

— Como a senhora quiser. Mas eu pensei que sua irmã precisasse do caixão logo...

— Não. Ela pode esperar até amanhã - disse Da. Dalila, convincente.

— Bem, faça como a senhora achar melhor.

— Está bem. Então amanhã, na parte da tarde, eu venho. É melhor. Meu neto vai estar na escola e assim não importunará.

— Tudo bem. Eu estarei aqui. A senhora me desculpe, mas é que eu não tenho paciência com crianças; não estou acostumado com elas.

— Eu é que peço desculpas ao senhor.

— Nem pense nisso. O problema é comigo mesmo. Às vezes eu penso que já nasci deste tamanho.

— Então até amanhã, seu...

Da. Dalila estendeu a mão, mas ele não retribuiu, confirmando a impressão que ela havia tido dele no início.

O criado do vampiro não disse mais nada, nem os cumprimentou.

Da. Dalila e Duda saíram da loja.

— Não tem paciência com crianças, hem! - murmurou Duda. - Só quer o sangue delas para o mestre, né?

Os dois foram caminhando em sentido contrário ao do tráfego, até chegarem onde estava estacionado o Puma conversível.

— Viu como o cara tem culpa no cartório, vó? - comentou Duda, entrando no carro.

— Você tem razão - retrucou Da. Dalila, com a atenção voltada para o trânsito. - Ele ficou nervoso quando você descobriu aquela passagem secreta na parede! Ali deve ter alguma coisa muito importante, meu filho...

— Eu acho que o caixão do vampiro está escondido lá dentro. Que que você acha?

— E o que mais poderia ser?

— É por isso que devemos voltar pra investigar...

— Ah, não, Duda! Eu não aconselharia você a se intrometer nisso. Agora é que seria a hora de convocar o Ferretti e o Elias. Eu poderia testemunhar que a atitude do homem da funerária foi muito suspeita diante daquela passagem secreta, mas eu não gostaria de ver você metido em confusão. Sua mãe me mataria!

— Por que você não quer me ajudar, vó?

— Não, Duda, amanhã eu viajo para Goiânia; vou acompanhar todos os movimentos da próxima etapa do Campeonato Brasileiro Fórmula 3. Você promete pra mim que não vai se meter em confusões?

Duda, colocando a mão direita para trás do banco e cruzando os dedos, disse cinicamente:

— Palavra de escoteiro.

Da. Dalila e Duda continuaram o trajeto de volta.


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