Audeline escrita por Jardim Selvagem


Capítulo 9
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Música: If You Found This It's Probably Too Late - Arctic Monkeys



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— Vem comigo.

Rosalie soltou as mãos frias do homem com rispidez.

— Tá doidão? Tenho que achar minhas amigas, não iria a lugar nenhum com você mesmo que minha vida dependesse disso.

Ele riu e murmurou algo incompreensível.

— Vem comigo — repetiu. — Conheço um lugar de onde você poderá ver todos que estão aqui.

Ofereceu sua mão a Rosalie, que, após um instante de hesitação, aceitou. O homem puxou-a para os fundos da pista de dança, levando-a até uma porta estreita e enferrujada. Abriu-a e a escuridão engoliu os dois. Ele a guiou pelos degraus em espiral acima, segurando-a com facilidade quando ela pisava em falso.

Chegaram a um mezanino localizado logo em cima do palco. Ele tinha razão; dali de cima era possível ver tudo que se passava lá embaixo.

Não há de quê, madame — disse, um sorriso brincalhão nascendo nos lábios.

Rosalie revirou os olhos, notando mais tarde do que deveria que ainda tinha os dedos entrelaçados nos dele. Soltou suas mãos e pigarreou, tentando empurrar para o fundo do estômago a onda de timidez. Olhou adiante e começou a vasculhar cada metro cúbico do local.

— Não estou achando ninguém…

Ali! — Ele apontou para um canto à esquerda.

Ela acompanhou a direção de seus dedos e, suspirou aliviada, encontrou Leah e Bree conversando com dois homens. Ao menos de longe, as duas pareciam bem.

Quando Rosalie voltou-se para o homem, ele tinha a mesma expressão estranha de minutos atrás, a testa com uma coleção de linhas fundas.

— Ainda acho que vocês deveriam ir embora.

— Ainda acho que a sua técnica de sedução é uma merda.

Um sorriso brotou nos lábios dele e ela não conseguiu evitar sorrir também.

— Escuta, agradeço a ajuda, mas posso me virar muito bem sozinha a partir de agora.

Ele olhou para Rosalie e depois para o bar embaixo, trocando o peso nos pés. Suspirou como se estivesse rendendo-se. Tirou do bolso uma caneta e pegou a mão dela mais uma vez. Os dedos gélidos pareciam queimar a pele de Rosalie. Ele escreveu uma série de números em sua palma, a urgência impressa na caligrafia.

— Ligue quando chegar em casa.

Os olhos dourados transbordavam de preocupação. Despediu-se e andou até a porta de saída.

— Ei!

Virou-se para ela.

— Qual o seu nome?

— Hmm… Como foi mesmo? Ah, sim… Não interessa.

Rosalie sufocou uma risada.

— Vai à merda.

Ele sorriu.

— É Emmett.

— Bom, então até nunca mais, Emmett.

Ele se apoiou contra a porta.

— Não vai me dizer seu nome, não é?

— Não.

Emmett sorriu uma última vez e sumiu em direção às escadas.

Rosalie decidiu que era melhor descer e se juntar às outras.

Quando chegou por trás delas, Bree deu um pulinho de susto.

— Onde você estava?

— Onde vocês estavam? Um minuto a poucos metros de mim e depois foi só eu tirar meus olhos de vocês por um segundo e vocês somem!

— Bem, seus olhos pareciam muito ocupados com o bonitão que conversava com você…

— Cala a boca, novata.

— E depois, no fim das contas, quem sumiu foram vocês… dois… sozinhos.

Leah apertou os lábios, tentando abafar o riso.

— Pra sua informação, eu e Emmett estávamos apenas procurando vo…

— Ahhh, então o nome é Emmett?

Rosalie jogou as mãos para o ar, bufando em frustração.

— E o que é isso na sua mão? O número do telefone dele?

Bree e Leah riram e Rosalie sentiu as bochechas esquentarem.

— Parem de encher meu saco. Vamos ao que interessa. Descobriram alguma coisa que preste?

— Pelo que os funcionários contaram, Lauren vinha aqui regularmente. — Leah deu um gole em sua cerveja. — E sempre acompanhada das mesmas pessoas. Um homem e uma mulher.

— Como o cara da universidade falou…

— Exatamente.

— O mais importante é que conseguimos os nomes. Laurent Da Revin e Victoria Sutherland. Reservavam sempre a mesma mesa, bem ali… — Leah apontou para um cantinho obscuro. — Perto da saída de emergência.

— O que estamos esperando? Vamos até…

— Já checamos. Não estão aqui hoje. Um dos bartenders ouviu os dois conversando sobre irem para Forks na última vez que estiveram na casa.

— Então nosso trabalho por aqui terminou — Bree disse, girando o corpo em direção à porta de saída.

Rosalie puxou a manga de sua camiseta.

— Aonde você pensa que vai, novata? Vamos ficar e dançar um pouco! Aquele cara que estava cantando vai voltar e…

— Rosalie, pelo amor de tudo que é sagrado, vai dar três horas da manhã. Eu estou morta.

Rosalie aproximou-se de Bree e respirou fundo, fungando teatralmente.

— Hmmm… Não, continua vivinha da silva. Acabei de checar.

— Vamos para casa, por favor. Não gosto desse lugar.

Olharam para Leah em busca de apoio.

— Mais vinte minutos e depois vamos embora. Tudo bem? Para as duas?

Bree fechou a cara, mas assentiu. Rosalie correu para a frente do palco.

Rosalie dançava sozinha ao som das batidas pesadas quando alguém aproximou-se. Sentiu-o chegar por trás, movimentando-se no mesmo ritmo que ela. Virou o corpo para ficar de frente para o homem, e os dois abriram um sorriso casual. O desconhecido apoiou as mãos na cintura de Rosalie, trazendo-a para perto, o nariz agora a centímetros de seu rosto. Instantaneamente, ela sentiu o cheiro forte que irradiava do corpo dele. Não era possível. Mais um que tomou banho de perfume? Aquilo era algum tipo de novo código de conduta masculina que ela não estava sabendo?

O homem beijou-a de repente, apertando o corpo dela contra o seu. Ele tinha o gosto doce de energético misturado com vodka, e também uma outra coisa que Rosalie não soube identificar num primeiro segundo.

Era estranho.

Metálico.

Quase como se…

Como se fosse…

A compreensão desabou em sua cabeça com a força de um bloco de concreto.

Rosalie afastou o homem com o máximo de delicadeza que conseguiu — não queria levantar suspeitas. Não em território inimigo.

— Preciso ir ao banheiro… Me espera aqui?

O homem concordou, e ela forçou as pernas a andarem rápido. Chegou ao bar onde Leah e Bree bebiam alguns drinques. Agarrou seus pulsos sem cerimônia e tentou arrastá-las em direção à porta de saída.

— Rose, espera, anda mais devagar…

— O que está acontecendo?

Anda mais devagar, estou falando sério, vou acabar c…

Rosalie não ouviu o final da frase de Bree. As portas do Bar 54 fecharam-se com um estrondo, o ruído atravessando o local e perfurando seus tímpanos. Agora havia apenas algumas lâmpadas acesas no teto, as gaiolas balançando lentamente, num momento lançando luz e no outro escuridão, como se tivessem perdido o vigor das horas anteriores e naquele instante agonizassem, gastando as últimas forças para sustentar o ritmo mortiço.

Mas Rosalie não prestava atenção em nada disso. Seus olhos fixavam-se no que acontecia lá nos fundos do palco, dentro da gaiola gigante que horas atrás ela achara atraente e divertida.

Em meio às grades de ferro, a mulher aproximava-se do homem para abraçá-lo.

As luzes balançavam como um pêndulo antigo sobre a cabeça de Rosalie.

Um, dois, três, quatro, cinco. Escuridão novamente. Ela não enxergava mais nada.

Um, dois, três, quatro. Feixes de luz. A mulher já o tinha em seus braços, um sorriso doce no rosto.

Um, dois, três. Hora das sombras.

Um, dois. O último lampejo. Ela descansava as mãos no seu pescoço.

Um.

Hora do vampiro.

As garras da mulher esfolaram o pescoço do homem até revelar a carne viva e sangrenta, a carótida inchada pulsando. Ela abriu a bocarra como se fosse engoli-lo, fincando nele os caninos e incisivos pontudos. O sangue jorrou na criatura de olhos pretos, manchando-lhe a face e os cabelos.

As lâmpadas estagnaram, agora mortas. As luzes apagaram-se e as deixaram no breu traiçoeiro.

A saída de emergência, onde está a porra da saída de —

— Rosalie!

Ela se virou a tempo de chutar a criatura que avançava. Elas tatearam desesperadas no escuro, encontrando as bordas das mesas e cadeiras. Atiraram os móveis sobre as criaturas de bocas vermelhas esgarçadas que vinham em sua direção. Leah quebrou uma garrafa e cortou os pedaços de pele que estavam ao seu alcance.

Bree, acha a saída! — Rosalie conseguiu dizer, forçando a entrada do ar nos pulmões.

Enquanto ela continuava a quebrar o que encontrava pela frente nas cabeças dos vampiros, Bree encolheu-se no chão, babatando no escuro até encontrar a mochila de Rosalie. Pegou o celular jogado no fundo e acionou a lanterna, mirando a luz na paredes do bar, os olhos antes sonolentos agora abertos, esbugalhados, buscando qualquer vislumbre de uma porta de emergência.

— Achou?

— A-ainda n-não…

O estômago de Rosalie contorcia-se. A bile subia pela garganta, suas entranhas queimando. Não tinham muito tempo. Qualquer vantagem trêmula que conseguissem se extinguiria em questão de minutos. Leah parecia exausta de tanto lutar. Os reflexos de Bree alenteciam. Os braços e as pernas de Rosalie estavam em chamas.

Eles eram muitos, irrefreáveis e incansáveis. Espalhados pelo bar como um vírus. Os que ainda não tinham ido até elas estavam momentaneamente ocupados alimentando-se de outras pessoas. No palco, na pista de dança e nos fundos do bar, eles formavam pequenos ninhos ao redor dos humanos, lutando uns com os outros pelo sangue fresco. As roupas e rostos sujos de vermelho. Sangue escorrendo pelas bocas famintas. Era selvageria. Era um pesadelo.

Sem o veneno, as ações delas seriam apenas um placebo. As criaturas logo se recuperariam dos golpes.

Não temos tempo não temos tempo não temos tempo —

O grito de Leah irrompeu na escuridão. Rosalie e Bree olharam para ela, e o terror inundou seus rostos. Do pulso de Leah desciam filetes de sangue. Ela tentava em vão enxergar o que acontecia à sua volta. Os que antes atacavam Rosalie e Bree agora corriam em direção à Leah.

A cabeça de Rosalie girava. Precisava agir. Agora.

Merda, a mochila!

— Bree! A mochila!

— O-o quê?

— Tem uma garrafa… — Rosalie parou, sem fôlego, socando o nariz de um deles e chutando seus quadris. — A garrafa! Joga a garrafa!

Leah gritou mais alto desta vez. Eles a cercavam, agrupando-se, formando o ni —

A garrafa, merda! AGORA!

Bree jogou o objeto o mais longe que conseguiu. Ele se chocou contra a parede do bar, o vidro quebrando-se em diversos cacos. O conteúdo se espalhou, formando uma grande poça escura no chão.

As criaturas imediatamente pularam em bando para a área, os olhos animalescos hipnotizados. Agacharam-se ao redor da poça, as bocarras lambendo sôfregas o líquido do chão.

Rosalie puxou Bree para si enquanto Leah arrastava-se até elas.

Era o último — sussurrou, os olhos desvairados. — Era o último e agora estamos fodidas…

— Era o último o quê?

Mas Leah ficou sem resposta. Rosalie já tinha desabado no chão.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Vou ficar muito feliz com o seu comentário!



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