Catarse escrita por WinnieCooper


Capítulo 3
Depois




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Fiquei pensando em tudo. No quanto a vida é efêmera, de que de um dia para o outro não estamos mais aqui, que todos nossos planos vão por água abaixo e nada mais tem sentido. Fiquei pensando que ninguém é insubstituível e que dali alguns dias todos teriam superado a morte de Frank. Fiquei pensando se isso era possível com sobrenomes. Fiquei pensando se era possível ser “era” e não mais “é”.

Me encaminhei com ela em silêncio até chegarmos a um ponto que dava para aparatar sem que nos olhassem.

— Por que me trouxe aqui? – perguntei a ela.

— Eu vim pela comida. Além de ser de graça. Melhor lugar para se comer. – ela me deu um sorriso. Parecia soar verdadeira, mas com certeza era brincadeira.

— Isso é sério? Essas pessoas estavam sofrendo. Era uma pessoa querida para elas. Existia dor ali.

— Existe dor em todo lugar Draco... – estou nervoso, quero dar um soco na parede.

— O ponto é que ele era uma pessoa. Eu sou uma pessoa. – porque ela não enxergava que fazia algo errado, porque invadir uma celebração fúnebre, era no mínimo errado, consumir uma comida em meio a condolências falsas, era errado.

— Estou vendo isso. Parece que pela primeira vez. – ela me olha com tanta verdade, que me sinto cada vez menor, cada vez pior.

— E tudo está tão errado. – bufo nervoso com um nó em minha garganta.

— O que há com você? – a pergunta dela se transformando na gota d’água num copo cheio de erros e inseguranças.

— O que há é que eu sou um erro. Sou feito de erros e não importa o quanto quero esquecer, eles me assombram. E eu me odeio por isso. Tem dias que não levanto da cama, tem dias que não como, tem dias que eu só quero não existir. É isso. É isso o que há comigo. -termino com o rosto tão próximo a ela que posso sentir sua respiração.

— Por que empurra tudo isso pra longe? – ela pergunta não se afastando de mim. Eu não respondo. Não sei o que responder. – Não pode esconder seus sentimentos. Não pode soterra-los como um caixão num enterro. Eles estão aqui Draco. Deve expulsá-los de dentro de você. – ela se aproximou mais um pouco de mim. Nossos lábios quase se roçando. – Numa catarse.

Então ela me beijou. Com urgência. E eu retribui na mesma urgência. Talvez estivesse precisando de seu beijo para me acordar do que estivesse vivendo. Talvez seu beijo fosse minha catarse. Talvez ela fosse minha catarse. Essa garota que havia acabado de me conhecer. Que parecia ler meus pensamentos, que parecia não se importar com meus erros, não se importar com meu sobrenome. Talvez ela fosse minha libertação das minhas amarras do passado. E eu a beijei: uma. Duas. Três vezes. Seguidas. Não queria solta-la. Não precisava ser ninguém porque sabia que ela era o alguém que precisava.

Ela me chamou para tomar um café antes de retornar para nossas casas e eu aceitei. Ficamos caminhando pela Londres trouxa bebendo o líquido quente. Ela sorria e parecia livre. Livre para ser o que ela quisesse ser sem a imposição de seus pais ou de sua irmã perfeita. E eu queria sentir essa liberdade.

Assim que aparatamos para deixá-la na frente de sua casa. Pedi:

— Podemos refazer esse primeiro encontro errado?

— O que? – pareceu ofendida. – Foi meu melhor primeiro encontro. Deixou-me chateada.

Eu sorri. Surpreendentemente sorri. Ela chegou perto de mim e depositou um beijo leve em meus lábios.

— Podemos marcar outros primeiros encontros. Tenho muitas ideias: Intrusos num casamento, numa coletiva do primeiro ministro, numa liquidação de brechó. – ela sorriu e começou a andar para longe. – Você vai me dar muito trabalho ainda.

 Eu fiquei parado a vendo entrar. Completamente bobo pela garota que havia acabado de conhecer, que insistia em não estar apaixonando, mesmo já estando completamente louco por ela.

Não nos damos conta de estarmos no fundo do poço, não até que uma estranha nos dê a mão e nos diz para nos libertar. Libertar de erros, de preconceitos, de um sobrenome. Eu tinha muita coisa para me libertar ainda, mas torcia para que Astoria permanecesse ao meu lado. Desejando mais que tudo que ela fosse minha catarse.


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Notas finais do capítulo

Gostaria tanto de saber qual a opinião de vocês.