Acordo todo suado depois do sonho. A lembrança do nosso último dia. Meu pau também estava acordado e eu sabia que teria que resolver isso antes de ficar doloroso. Não iria abaixar nem se eu pensasse em qualquer outra coisa. Pois eu não esqueceria a memória vívida tão cedo. Aproveito isso e vou ao banheiro e me alivio. Tomo um banho demorado e agora já posso pensar mais racionalmente. E droga! Como é que eu ainda tenho esse sentimento tão intenso sobre ela.

Só posso ter sido enfeitiçado.

Ligo para os meus pais e o aviso que estou em casa. Eles até querem voltar mais cedo, mas os deixo mais calmos quando digo que não tenho hora para voltar e que talvez tenha residência fixa em Forks. Alice não passa nem dois minutos comigo e se despede. Tenho certeza que está ganhando terreno com o.… paquera? Estou velho demais para acompanhar as gírias pré-adolescentes. Se bem que eu não usava muitas.

Pego carteira, chaves, celular e um guarda-chuva. Forks é sempre assim. Ao que parece, só um lugar é tão quente que se pode passar uma semana por lá sem que a chuva seja um grande problema. O acampamento Cullen. Depois de tomar café, tomo o caminho de lá. Eu sentia que devia começar por ali, no último lugar onde Bella e eu nos amamos. Dessa vez, encontro outro vigilante, o Mike. No dia anterior era Eric.

— Senhor Cullen, é bom que esteja aqui. Seu avô disse que alguém apareceria enquanto ele fazia a viagem de caça, mas não pensei que seria tão cedo.

— É, eu tive uma folga do trabalho e quis ficar em casa. Mas sei que meu avô gostaria que eu viesse aqui ajudar.

— Sim, ele e a senhorita Swan. - Mike voltou lentamente para dentro da cabine de vigilância. Passos que estava de acordo com a sua idade e experiência no acampamento. 58 anos de idade, vinte deles trabalhando com o velho Cullen.

— O que disse? - Era da minha Swan que ele falava? "Minha" nos meus mais doces pensamentos...e sonhos.

— Não diga que eu a chamei de Senhorita aqui, ela não gosta. - Ele sorri. - Força do hábito.

— Guardo seu segredo. - Um sorriso surgiu em meus lábios. A esperança de que apostar minhas fichas em vir aqui estavam certas. - A quanto tempo ela trabalha aqui?

— Eu tô vendo esse sorrisinho aí, Edward. Não espero nada além de respeito para com aquela menina. - Ele faz uma cara séria. Sem medo nenhum de que eu sentisse raiva dele. - Ela trabalha aqui há quase oito meses. A primeira temporada dela foi essa que finalizou a pouco tempo. É técnica em enfermagem e é de grande auxílio, principalmente quando as crianças inventaram de jogar paintball. Brincadeirinha perigosa.

— Ela está aqui hoje fazendo o quê?

— Ela mora aqui. Entendo ela, coitada, ficar longe da cidade depois de passar tudo aquilo...

Devo ter feito uma cara curiosa demais. Mike me olhou sorrindo triste. Balançou a cabeça e resolveu pensar antes de falar. Não demora muito e ele continua.

— Ela está aí. Só ela pode contar sobre a vida dela. De fofocas basta Jessica e as amigas dela. - Ele piscou um olho e sorrimos. Lembrei da gorduchinha da senhora Newton. Dona Jéssica cozinhava na minha época de campista e pelo visto continua. Me despeço de Mike e desço com o carro. Estaciono próximo a entrada dos ônibus das crianças. Tem um carro ali parado também.

Caminho até o lago e vejo que os botes, coletes e pedalinhos estão bem conservados. Do outro lado tem o criatório de peixes e também o salão principal. Lá é onde ocorrem as festas oficiais, mas eu sabia das extraoficiais além do alto da floresta. Eu ia em algumas na minha época. Uma em especial eu nem devia ter ido.

Eu e Bella discutimos sobre faculdade e futuro. Eu queria muito trabalhar com música e, se eu pudesse dizer ao Edward do passado, diria que ele estava certo em seguir por ali. Seria mais fácil ao lado dela? Talvez. Isabella queria...o nada. Ela sempre desviava do assunto quando o tema era o que fazer do futuro. Eu tinha minhas dúvidas sobre Bella e o medo de ser insuficiente. Mas ela era tão segura de si, praticava esportes radicais, sempre era a capitã dos times do torneio anual. Só não participou no último ano pois estava treinando para ser a rainha do baile daquele ano, e ela ainda tinha suas dificuldades em andar com saltos. Eu achava isso uma besteira. Mas ela tinha uma meta naquele ano em especial, como ela disse: "Minha meta agora é.…viver!"

Algo grande pulou na minha frente. Caio de mal jeito no chão. Mas nem me machuco, a palma arde um pouco. Vejo o cachorro voltar de onde eu acho que veio. Ele é grande demais pra um cachorro e seu pelo é branco e preto. E parece ser babão. Escuto uma risada que logo é contida e vejo ela, a mulher mais linda... que brega esse pensamento, mas bem, não estou mentindo, juro. Posso analisar que o tempo parece ter duplicado pra ela, não era ruim. Bella sempre parecia atemporal, mas hoje, seis anos depois, ela tinha mudado. Muito.

Bella parecia ter vivido dez anos a mais e não cinco, desde que nos vimos. O cabelo curto e castanho natural, a pele, antes pálida demais, agora ganhava um pouco de dourado, quase imperceptível em pessoas pardas, mas nela dava de ver. O acampamento tinha esse mistério de ser o lugar mais quente, onde o sol aparecia por grande parte da temporada. Em nada lembrava a Isabella que insistia em usar maquiagem, sempre retocava. Seus cabelos loiros, que eu sabia que eram tingidos, eram longos e dava até um ar ainda mais jovial a ela. O choque entre a Bella de antes e a de agora, à primeira vista, me deixa um pouco perplexo.

Ainda linda. Mas mudada.

A Bella de antes me amava.

E a Bella de agora?

— Precisa de algo senhor... - ela se aproximou. Acariciou a cabeça do cachorro babão. Ela me encara, parece me reconhecer. Sua respiração fica arfante.

— Oi, Bella!