Legado escrita por LC_Pena


Capítulo 2
Capítulo 2. Sapato




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— Tem um item da lista que eu tentei, tentei e tentei, mas não vai rolar sem a sua ajuda. — Flora informou falsamente tristonha, para a sua dupla de Feitiços da turma do terceiro ano.

James suspirou pesado, consertando seus óculos novos no rosto, porque haviam sido dois anos da mais absoluta paz, onde Flora se metia em suas confusões sozinha e ele se safava das suas próprias, usando sua capa da invisibilidade, o mapa do maroto, seu charme ou a combinação das três coisas.

Bons tempos, que haviam acabado há dois segundos.

— Você ainda não esqueceu essa lista bendita, Flora? — O grifinório falou exasperado, porque era de se esperar que os corvinais fossem mais inteligentes e menos teimosos do que isso!

— Claro que não! A cada coisinha que eu descubro, a história de amor dos meus pais faz menos sentido e... Tá, eu confesso que o lance do visgo do diabo foi meio disparatado, foi mais uma curiosidade banal, mas esse item, esse aqui, eu juro, James, tem tudo a ver com os meus pais!

— Mas que obsessão é essa pela história de seus pais? — James perguntou com apenas metade da atenção na outra terceiranista, já que a professora ainda estava explicando a lição do dia na frente da classe.

— Os dois são consideradas pessoas incrivelmente especiais, mas não faz o menor sentido que eles tenham terminado juntos, vamos ser sinceros! — A menina falou cética, depois suspirou como se as coisas fossem muito difíceis e a vida muito complexa para seu gosto. — Só queria saber que tipo de pessoas eles eram, para ver como eles se apaixonaram.

— Tá, mas por que isso é tão importante para você? — O garoto foi mais enfático, fazendo uma careta ao perceber que havia escrito a palavra “você” no pergaminho. Rasurou as anotações chateado.

— Isso não importa, o que importa mesmo é que te espero na frente da entrada para a torre da Grifinória, a meia noite! — A garota o informou dando uma piscadinha com seus olhos azuis claros grandes demais para serem bonitos.

— Não estarei lá. — Ele respondeu de má vontade.

***

— Você, senhorita, está atrasada! — James sussurrou, enquanto a puxava para dentro de um armário de vassouras apertado. A dupla de monitores lufa-lufa estava no corredor ao lado, fazendo sua ronda da meia noite.

Flora arregalou os olhos de susto, mas não disse nada até que o amigo conferisse se o perigo havia passado no mapa do maroto. James fez um sinal para que ela se explicasse, um gesto bastante eloquente para quem estava preso em um armário com uma capa, um mapa, a mochila e a varinha amontoados nas mãos.

— A vida dos relés mortais é difícil, não dá para atravessar a escola com tanta rapidez como gostaríamos! — A menina se justificou chateada, depois deu um sorrisinho travesso. — Vejo que veio preparado...

— É o meu kit de primeiros socorros, vai que você decide que a gente tem que fazer uma excursão até o Salgueiro Lutador!

— Como você adivinhou?!?! Não, brincadeira, espera, James! Brincadeira! A gente não vai lá fora, porque, eu tenho quase cem porcento de certeza que o item da lista está aqui dentro do Castelo. — Ela explicou, passando quase cem porcento de confiança para o grifinório.

— E qual seria esse item, Flora?

— Os sapatos da minha mãe! — Ela respondeu contente, depois sua expressão se tornou meditativa sob a luz da varinha de James. — Um par em específico, que ela gostava bastante, mas perdeu.

James se conteve para não revirar os olhos, porque se as histórias de seu pai sobre a tia Luna fossem todas verdades, era bem capaz de alguém ter escondido dela, na verdade. Seu pai sempre se referia a ela com um sorriso saudoso no rosto.

Agora que havia parado para pensar...

— Flora, então toda essa coisa da lista é sobre sua mãe? — O terceiranista perguntou cuidadoso, porque a garota não falava muito sobre esse assunto.

— Nem tudo é sobre ela, mas o item... Esse é, então... — Flora deu de ombros, então revirou os olhos para a expressão desconfortável do amigo. — Não seja uma florzinha de estufa, não é grande coisa, ok? Não te contei antes para você não tirar conclusões precipitadas.

— Talvez eu tivesse sido mais solícito se soubesse que você queria saber mais sobre sua mãe... Eu não sou tão insensível quanto pareço! — Ele se justificou na defensiva, então a corvinal preferiu fingir que concordava, porque James na verdade era tão sensível quanto gostava de demonstrar que não era.

— Já disse que não é grande coisa, ok? Então tá... Sapatos! Minha mãe tinha esse par de tênis com pequenas asinhas nos calcanhares, eram seus favoritos quando ficava sonâmbula! — Ela explicou com cuidado, porque aquilo era uma coisa esquisita. — Dormia de sapato, porque só Merlin sabia onde ela poderia parar...

— Bem sensato! — James falou com sinceridade, fazendo a amiga sorrir agradecida. — Devia ser assustador, mas que bom que ela tinha senso de humor.

— Tinha sim, mas era meio doidinha, alguns colegas a chamavam de “Di-Lua”. — Flora explicou menos animada, então deu de ombros novamente, começando a ficar incomodada com o espaço pequeno do armário. — Já podemos sair para o nosso destino?

— Que seria? — James perguntou irônico, fazendo um gesto para a garota sair na frente, depois de ter conferido no mapa que os lufa-lufas já estavam bem longe.

— A torre de Astronomia! — Flora apontou para o local no mapa aberto mas mãos de James, que a encarou com uma careta engraçada. — Minha mãe era meio avoada, mas meu pai me contou que as pessoas achavam engraçado esconder as coisas dela por aí, mesmo que ela não ligasse e mesmo que não tivesse graça nenhuma, na verdade!

— Bem, mas por que a Torre de Astronomia? — O grifinório perguntou desconfortável, porque esconder coisas era uma pegadinha que ele já havia feito com alguns primeiranistas – seu irmão incluso – mas não mencionaria nada disso para Flora.

Algo o dizia que ela ficaria uma fera se soubesse disso e ele queria evitar a fadiga da discussão.

— Porque se a chamavam de Di-Lua e a graça desse tipo de brincadeira é esconder as coisas em um lugar óbvio, para que a pessoa se passe por boba, então... Di-lua, lua, estrelas, astros... Astronomia! Os tênis devem estar na Torre de Astronomia!

— Eu vou ficar muito surpreso se tiver um par de tênis pairando esse tempo todo sob nossas cabeças por lá. — James falou irônico, mas como sempre, seguiu Flora sem reclamar. Sem reclamar muito, de todo modo.

Usaram o accio aprendido às escondidas por James e vasculharam a Torre até a deixarem de ponta cabeça, mas nada de tênis alados. No final da noite, Flora se sentou pensativa perto de um dos telescópios da sala.

James não disse nada, só a entregou uma das fatias de torta de rins que havia roubado da cozinha mais cedo. Era um cara prevenido.

— Talvez ela não tenha encontrado, porque não fez falta para ela. — James tentou consolar, então a menina sorriu para ele, dando de ombros.

— É, não era grande coisa mesmo...

Grande coisa ou não, no Natal daquele ano Flora abriu, entre os muito presentes que ganhara, um tênis com pequenas asinhas coladas nos calcanhares. Não tinha um remetente, mas mesmo assim, aqueles viraram seus sapatos favoritos!


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Notas finais do capítulo

Tá, eu matei Luna, que tipo de monstra eu sou?



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