Future Looks Good escrita por Love Rosie


Capítulo 6
Capítulo VI - You know anybody, everybody else can lie


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAAAAAAAA TAHII OBRIGADA PELA RECOMENDAÇÃO MARAVILHOSAAAA!!

Ah, oi pessoal. Desculpem pelo surto, é que eu fiquei hiper mega feliz com isso. Sério, fez meu dia, estou me sentindo realizada. Se vocês soubessem o quanto eu me sinto insegura sobre minha escrita... Uma recomendação representa demais pra mim, então Tahii, esse capítulo é todo seu. Muito, muito obrigada por recomendar e favoritar a fic.
Deixo meu agradecimento especial também à Trice, que fez comentários maravilhosos, além de favoritar FLG.

Sobre esse capítulo em questão devo dizer que quem sofreu com o último não vai ser consolado agora, sinto muito.
Boa leitura e até sexta!



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R O S E   G R A N G E R – W E A S L E Y

Quarenta e três dias, era essa a quantidade de tempo que mamãe não me enviava uma mísera carta. Desde que voltara para a escola ela não me escrevia, nem mesmo para encher o saco perguntando se estava estudando para os N.I.E.M.s. Minha indignação com o cenário não melhorou quando durante o café da manhã vi Hugo receber, além de uma carta enorme com a caligrafia dela, um livro de feitiços para que se preparasse para os NOMs. Francamente, ela estava passando dos limites da infantilidade.

Okay, eu poderia pegar a droga de um pedaço de pergaminho e escrever um pedido de desculpas pelas palavras nada bonitas que proferi contra ela em nosso último encontro? Até poderia se ela não estivesse completamente errada em me chamar de preguiçosa por escolher o caminho mais fácil. Como se quadribol fosse mesmo muito fácil. Além disso a mãe era ela, e com 44 anos deveria se portar como adulta, eu estava no auge de meus dezessete anos e tinha todo o direito de pegar uma pirracinha de leve, ela não!

Para piorar tudo, Scorpius também não havia me dado bola desde nossa discussão no banheiro dos monitores. Me ignorava nos corredores, e até mesmo nos fins de semana em que os primos Weasley se reuniam para jogar conversa fora ele, que antes sempre acompanhava Al, não aparecia mais. Estava na cara que estava me evitando, o que era até bom na verdade. Não precisava de mais distrações já que o primeiro jogo da Grifinória seria no sábado daquela semana e precisava focar no bom desempenho do time, ainda que a Corvinal estivesse fazendo uma campanha péssima nesta temporada.

Conversei com a diretora McGonnagal e ela permitiu que eu treinasse todos os dias depois das aulas, já que não desejava estar fora de forma quando começasse a jogara para valer no time que escolhesse ficar. Essa era outra coisa que não saía da minha cabeça, não conseguia decidir para onde ir. Quer dizer, Chudley Cannons era meu time do coração, porém o time estava aos pedaços desde que me entendo por gente (e tenho certeza que já estava destruído bem antes disso); as Holyhead Harpies era um time completamente feminino, o que me deixava muito tentada a aceitar o convite delas, contudo não gostaria de ser apenas mais uma Weasley que passou por lá. Viver à sombra de tia Gina era menos desagradável do que viver à sombra de qualquer homem, mas ainda assim estava longe do que eu almejava. O Puddlemere United por sua vez, havia recentemente vencido três campeonatos consecutivos da Liga e ficado em segundo lugar na Taça Europeia, era o time com mais destaque nos últimos tempos, entretanto o machismo escancarado dos dirigentes me deixava com o pé atrás em ajudar a dar fama e vitória para aquela equipe. Meu bolso ficaria cheio, entretanto o custo seria vender minha alma para pessoas que pensavam que meu desempenho em campo seria pior por ser uma mulher.

Eram esses os pensamentos que circundavam minha mente durante o exercício de voo. Tentava ir casa dia mais rápido e com mais equilíbrio. O objetivo era dar o maior número de voltas pelo campo no menor tempo possível e sem usar as mãos durante as curvas. Minerva cedera uma hora de treino por tarde, tempo exato entre a última aula e o jantar e por isso tentava variar entre diferentes exercícios para não ficar maçante, todavia sempre encerrava o ciclo com o treino de voo, que era diário.

Quando desci da vassoura, no entanto, me espantei pelo campo não estar vazio como nos outros dias. Lá estava ele, com o uniforme da Sonserina, braços cruzados sobre o peito, me olhando seriamente, muito diferente do que eu estava acostumada a ver. Seu olhar não escondia nem um pouco da mágoa que sentia, pelo contrário, transbordava. Ele não disse nada, mesmo quando me aproximei, um pouco sem folego devido ao esforço recente. Entendi o recado, era eu quem deveria começar, ele já havia dado o primeiro passo só de estar ali.

— Oi – saudei ofegante e um tanto sem graça.

— Oi. Deve imaginar o porquê de eu estar aqui. – foi direto.

Tinha plena noção de que minha atitude no banheiro dos monitores não havia agradado em nada o loiro e, para ser bem sincera, nem a mim. Não era do meu feitio agir daquela maneira, ignorar nossos combinados, reduzir nossa relação a algo físico. Era evidente que o que tínhamos era muito mais sólido do que isso, envolvia carinho e reciprocidade, acima de tudo.

— Você fugiu de mim por quase um mês, Scorpius – okay, não era porque eu estava errada que ele estava certo – E por mais que entenda sua chateação, devo enfatizar que não foi muito justo comigo, não me deu sequer direito de defesa.

Ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

— Eu sei que errei. – confessou – Que dificultei uma chance de reconciliação, mas no fim das contas percebi que precisava desse tempo.

Opa, terreno perigoso. Por que diabos ele precisava de um tempo afastado de mim? Fiquei em silêncio, com medo do que ele diria a seguir. Então era isso, Scorpius Malfoy terminaria tudo entre nós um dia antes do dia dos namorados?

— Não me entenda mal, Rose – começou – Tudo isso... nós, essa coisa que temos, é confuso demais. E pela primeira vez na vida eu queria ter algo fácil para me agarrar. Você sabe como tudo sempre foi difícil para mim nesta escola e até mesmo antes dela. Todos os boatos, fofocas, os cochichos que ouço pelos corredores até hoje por causa da minha família. A minha amizade com Albus, por mais verdadeira e incrível que seja, não era nada aceita pelas nossas famílias até pouco tempo e ainda assim, seu primo não é a pessoa mais simples de lidar no mundo. – ele coçou a nuca, franzindo um pouco o cenho para dar continuidade – E aí tem você, complicada de conquistar desde o início e mesmo depois, complicada de decifrar, de entender. – respirou fundo. Até pensei em interrompê-lo para me defender, porém aquele era o momento de ele abrir o coração e eu não poderia tomar isso também – Não quero brigar mais, Rose. Os termos nos quais nossa relação está pautada já são suficientemente complexos. Apenas vim em busca de ouvir de você um pedido de desculpas, se é isso que está disposta a fazer porque, apesar de não sermos oficialmente namorados, não quero estar brigado com você amanhã. – passamos um tempo em silêncio e ele, ao ver que não me manifestaria tão cedo, emendou – Mesmo assim, quero deixar claro que não vou me humilhar por você sabendo que não estou errado. Estou disposto a ouvir, mas não vou prosseguir de onde paramos e fingir que nada aconteceu.

Engoli em seco diante de suas palavras. Não sei o que aconteceu naquele mês, apenas sabia que nunca antes Scorpius havia sido tão incisivo em suas palavras comigo. Senti minha boca seca, uma repentina vontade de chorar, coisa que fazia com mais frequência do que gostaria de admitir nos últimos tempos.

— Eu estou arrependida não pelo que fiz, mas pela maneira que fiz. – declarei – Estenda, Scor, está sendo um período complicado para mim.

— Está sendo um período complicado para todo mundo, Rose – ele interrompeu – E se quiser conversar sobre seus problemas, seja eles quais forem, estarei aqui para ouvir. Isso se chama companheirismo e é muito mais bonito do que usar meu corpo como objeto para distração.

— Eu sei. – admiti, a vontade de chorar aumentando, começando a alcançar minha garganta. Os olhos ardiam, a visão embaçava e evitava piscar para não correr o risco de alguma lágrima cair – E peço desculpas, está legal? Já que veio em busca disso, aí está. Me desculpe, Scorpius. – pedi olhando diretamente em seus olhos. – Também não quero estar brigada com você amanhã.

E ele sorriu, um sorriso acolhedor que quase apagou a imagem dura que que tive de sua face minutos antes. E involuntariamente sorri de volta porque seu sorriso me acertava com doses altíssimas de calma e felicidade, um sorriso capaz de abrigar cada célula do meu corpo, de confortar cada um dos meus 166 centímetros de pele. Porque ele estava certo. Aquele maldito Malfoy era muito mais do que um objeto, era meu grande refúgio.

Se eu tivesse uma palavra que pudesse definir o nosso dia dos namorados seria delicioso. Isso porque foi repleto dos doces que afanamos dos nossos colegas de quarto populares demais para darem falta de algumas das inúmeras caixas que recebiam. Além disso, eu mesma havia recebido uma pequena caixa de chocolates com a carta de um garoto que sabia ser do terceiro ano. Era fofa a forma como ele escreveu na cartinha que acompanhou o embrulho do presente, deixando claro que aquilo não era de forma alguma esperança de que um dia fosse dar mole para ele, e sim uma pequena demonstração de sua admiração por mim.

Em outros dias dos namorados fui mais popular entre os garotos de Hogwarts, porém com o passar dos anos os garotos começaram a me considerar um tanto agressiva nas respostas que dava aos seus convites ou nos agradecimentos pelos seus presentes. Digamos que eles não estavam errados em querer se afastar, afinal de contas era essa mesma a minha intenção, espantar os interesseiros. Estava focada demais no quadribol para namorar, coisa que até David Finnigan, meu único casinho em todos esses anos, percebeu antes mesmo que lhe desse um fora.

E aí Scorpius apareceu. Na verdade ele havia aparecido muito tempo antes, o fato é que comecei a enxergá-lo e deixar de lado minhas concepções já enraizadas sobre como relacionamentos eram prejudiciais e comecei a pensar em como meus dias nunca mais seriam completos se Scorpius Malfoy não estivesse neles. É, eu sei, meloso demais e nunca admitiria nada disso em voz alta.

Passar o dia dos namorados com ele escondida nos fundos da biblioteca rindo de sua árdua jornada para conseguir pegar uma caixa de cima da cama de Luke Zabini para depois descobrir que não se tratava de chocolates e sim de roupa íntima comestível que alguma garota mal intencionada havia enviado, parecia mais do que certo. Era exatamente ali que deveríamos estar, fazendo companhia um ao outro.

Como o loiro mesmo enfatizara, não éramos oficialmente namorados, então não nos comprometíamos a dar presentes neste dia, era um dos muitos combinados da nossa relação, contudo pela primeira vez quis que não tivéssemos combinado aquilo porque desejei escrever-lhe bilhetes perfumados e presenteá-lo com um suéter azul que vi na loja da Madame Malkin durante o recesso, um tom escuro que sei que combinaria com seus olhos acinzentados. Tentei afastar este sentimento durante todo o dia, obviamente sem sucesso. O arrependimento tomou conta de mim e decidi que estava na hora de começar a flexibilizar nossos acordos.

Aos poucos, fomos nos adaptando a uma nova realidade que permitia que andássemos juntos pela escola como bons amigos, sem nos importar com os comentários que viriam disso. A respeito de nossas escapadas para o banheiro dos monitores, digamos que sutiãs não mais estavam inclusos na lista de roupas íntimas que deveriam permanecer no corpo e isso fez com que novas sensações fossem incluídas na minha lista pessoal que elencava os talentos de Scorpius.

Com o fim do inverno e anunciação da primavera, achamos prudente que nossos encontros aos sábados pudessem se alternar entre biblioteca e jardim, desde que numa área mais afastada. Era um bom lugar para ler, fazer piqueniques e dar alguns beijos debaixo da sombra das árvores que felizmente possuíam troncos suficientemente largos para nos esconder da vista de quem mais estivesse andando por ali. Era mais arriscado do que nosso esconderijo de sempre, mas eu poderia ceder um pouco nesse sentido, devia isso a ele.

Com os N.I.E.M.s cada vez mais próximos, nossos encontros passaram a ser mais para estudar do que qualquer outra coisa. As provas estavam oficialmente marcadas para a primeira semana de junho, justamente a semana do meu aniversário. Digo com tranquilidade que aquele era o pior presente que poderia receber. Além de que com isso, a final da Copa das Casas havia sido adiada para a última semana de aulas e, por mais que eu e os demais componentes do time do sétimo e quinto anos não tivéssemos que nos preocupar com os exames finais regulares da escola, boa parte dos integrantes ainda teriam de ficar por conta deles. Deveria, como capitã, traçar uma estratégia para que o time não precisasse tanto deles, afinal de contas não era minha intenção fazer ninguém reprovar por causa do quadribol, minha mãe me mataria se isso acontecesse.

Ah, falando nela, finalmente havia enviado uma carta para contar o que meu pai achou do presente de aniversário que pedi para que ela comprasse em meu nome desde o ano anterior. Foi uma carta curta, sem muita emoção para falar a verdade. Ela explicou o quanto estava atolada de trabalho no Ministério, que a Diretora McGonnagall havia lhe contado sobre meu bom desempenho no ensaio sobre aparelhos eletrônicos que entreguei em Estudo dos Trouxas. Disse que me daria bem na Sessão de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. É, ela ainda não tinha desistido de me enfiar no Ministério e agora ainda sugeria algo no mesmo departamento de Scorpius. Tentei não ser grossa ao responde-la, então me limitei a dizer já havia escolhido o time para o qual iria, mas que gostaria de conversar com papai e tia Gina antes de anunciar a todos. Quando recebi seu retorno, quatorze dias depois, quase no fim de março, a mensagem foi ainda mais breve e desalmada do que a anterior, o que me desmotivou a escrever mais. E em um mês e meio ela não enviou mais nada. Esperava que nas próximas semanas, quando finalmente os N.I.E.M.s se tornassem uma realidade, ela enviasse pelo menos um bilhete desejando boas provas. No fim do dia ainda era Hermione Granger, a bruxa mais inteligente de sua idade, e prezava pelo bom rendimento de seus filhos na escola.

Em mais um dos sábados no jardim, sobre uma manta turquesa esticada sobre a grama, estávamos eu, Scorpius e diversos livros sobre História da Magia. O clima estava agradável, o calor do verão começava a dar as caras, avisando que a estação estava próxima. Os agasalhos já não eram mais necessários àquela altura, visto que até mesmo a brisa leve que batia em nossos rostos trazia consigo resquícios de calor. Mesmo num dia bonito como aquele, minha mente estava um verdadeiro caos, com Scorpius tentando, sem sucesso, enfiar na minha cabeça a ordem dos acontecimentos da Segunda Guerra.

— Não consigo conceber que você não compreenda um período do qual seus pais fizeram parte – Scorpius se divertia com a minha confusão. Era irônico que eu soubesse mais sobre a Revolta dos Duendes do que sobre O Ressurgimento de Lorde Voldemort já que meu próprio padrinho estava lá. Mas também não era como se tio Harry gostasse de relembrar os fantasmas mais sombrios de seu passado, como o colega morrendo em sua frente sem direito de defesa. – Vamos lá novamente: qual a ordem dos acontecimentos da terceira tarefa do Torneio Tribruxo em 1995?

— Isso antes ou depois de você e meu primo embolarem tudo? – provoquei na tentativa de ganhar tempo para pensar. Scorpius apenas revirou os olhos indicando que deveria responder de acordo com o que estava nos livros – Certo, os quatro competidores entraram e o primeiro a perder a tarefa foi Viktor Krum? – chutei e o rapaz em minha frente negou com a cabeça, fazendo com que eu corrigisse – Tia Fleur? – ele assentiu desta vez.

— Pode ir direto para a parte do cemitério, isso da ordem dos competidores com certeza não vai cair.

— Então por que me fez estudar? – indaguei irritada. Aquela maldita matéria não entrava na minha cabeça – Preciso ler de novo, não me lembro.

Ainda que desgostoso, ele me entregou o livro que antes segurava. Era absurda a forma como ele absorvia tudo rapidamente com tamanha clareza, eu precisava ler pelo menos quinze vezes a mesma coisa para que lembrasse de alguns fragmentos apenas. Encostei na árvore atrás de mim para que pudesse ler mais confortavelmente. Estava concentrada quando mexi um pouco o livro e um papel caiu dele. Abri esperando que fosse um dos resumos milagrosos de Albus, os quais ele se recusava a me passar. Eram seu segredo para conseguir ir bem nas provas e eu não entendia bem os poderes daqueles papéis, mas Hugo dizia que era o que lhe salvou de uma reprovação em Poções em seu quarto ano. Fiquei um tanto decepcionada ao ver que era apenas uma carta e juro que guardaria de volta se a letra não tivesse chamado minha atenção.

Londres, 16 de maio de 2024

Querido Scorpius,

Não mensura o alívio que suas cartas estão me proporcionando, de fato estão sendo um afago ao meu coração de mãe, que tanto vem sofrendo nos últimos tempos.

Imagino que anseia logo por uma resposta à carta que me encaminhou na última semana, e devo desde já tranquilizá-lo, garantindo que de forma alguma seu conteúdo mais intimista fez com que minha visão sobre você ser um garoto deveras inteligente e talentoso fosse alterada, muito pelo contrário, apenas pude notar qualidades ainda mais admiráveis, como a preocupação em buscar o meio mais pacífico para dirimir conflitos, além de...

Fui impedida de terminar de ler pois o papel foi bruscamente tomado de minhas mãos. Ao olhar para frente me deparei com Scorpius de pé, a expressão nervosa, típica de quem havia sido pego no flagra, o que se aplicava adequadamente àquela situação.

— Isso é da minha mãe. – praticamente rosnei, a voz trêmula, não sei se pela raiva ou pela mágoa.

— Bom, ela apenas respondeu minha confirmação sobre coisas do Ministério, sabe? – tentou desconversar, mas não me deixei levar pela sua falsa cara de inocente.

Larguei o livro de qualquer jeito no chão, me levantando em seguida e mesmo sendo consideravelmente mais baixa, encarei-o da mesma forma que fazia quando ele era goleiro e eu estava na frente dos aros, prestes a arremessar a goles, deixando bem claro que não estava para gracinhas.

— Posso não ser a mais espetacular aluna de História da Magia, mas isso não faz de mim uma idiota, Hyperion. – apontei para o papel que ele involuntariamente amassava na mão – Você deu sua resposta em janeiro, esta carta é de dois dias atrás, quinta-feira. – fiz questão de enfatizar bem a data – Resposta a algo que você – apontei para seu peito – enviou na semana passada. Algo de teor intimista.

Estava me remoendo de raiva. Primeiro da minha mãe que não se dava ao trabalho de me enviar sequer um bilhete para saber se eu estava viva ou morta, contudo quando o assunto era o Malfoy não se importava em gastar seu precioso tempo para redigir cartas que ocupavam pergaminhos intieros. E raiva de Scorpius por ser tão... Scorpius. Perfeitinho, adorável, encantador, um verdadeiro talento da burocracia, se é que isso existia. E um belo de um mentiroso que mesmo ouvindo todas as minhas lamúrias sobre como a ausência de mamãe estava me machucando, se comunicava com ela na maior cara de pau.

— Você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. – argumentou como se aquilo fosse livrá-lo de ter de me explicar seus atos contraditórios.

— Um erro não anula o outro e convenhamos que o seu foi muito maior – rebati – O que você quer afinal, Scorpius?

— O que eu quero? Que bosta de pergunta é essa, Rose?

— Sempre soube que admirava o trabalho dela, nunca escondeu que era um grande fã, mas o que exatamente pretende enviando e recebendo cartas de teor intimista da Ministra da Magia?

— Eu não pretendo nada, são apenas cartas, correspondências, conversas! – exasperou-se – Tem razão, sempre admirei sua mãe, é uma honra poder me comunicar com ela de alguma maneira e é somente isso! Sobre isso de teor intimista, era só algo que disse sobre aquele dia que meu pai e eu fomos à sua casa.

— Mentiroso – acusei sem dúvida alguma. Scorpius sabia mentir muito bem, mas eu era muito melhor em detectar os seus vícios enquanto fazia isso. Ele franzia as sobrancelhas, piscava muito mais vezes do que o normal e ainda mordia a parte interna da bochecha quando terminava de falar – Por que está mentindo para mim? O que está escondendo? – meu tom era completamente acusatório.

— Eu não vou alimentar esta discussão sem cabimento, Rose. – anunciou, começando a recolher seus objetos sobre a manta. Estava mesmo prestes a abandonar a conversa. O silêncio se instaurou por um tempo até que eu criasse coragem para dizer o que estava pensando, algo que eu mesma não queria acreditar.

— Está comigo só por causa dela? – minha voz falhou, não consegui esconder a dor que aquela pergunta me causava. Scorpius, que estava agachado recolhendo alguns livros, se virou no mesmo instante, me encarando com os olhos arregalados de espanto.

— Como um absurdo desses passou pela sua cabeça, Rose?

— Faz todo sentido. – falava tão baixo que vi a necessidade dele se aproximar para entender o que saía da minha boca. O bolo na garganta aumentando mais a cada segundo – Eu sou filha dela, do mesmo ano que você, poderia servir como uma garantia para o caso de não conseguir se aproximar dela por esforços próprios.

Vi a expressão de Scorpius se transformar em puro ressentimento.

— Rose, olhe bem para mim – fiz o que ele pediu – Acredita mesmo que eu seria capaz disso? – e encarando aqueles olhos apreensivos, as mãos trêmulas segurando as minhas, só consegui negar com a cabeça.

O Scorpius que eu conhecia, o meu Scorpius nunca seria capaz de fazer isso.

— O que é então? Me explique, Scor. – supliquei.

Ele suspirou, suas mãos ainda agarradas às minhas.

— Eu não posso, Rosie. Me desculpe, não posso dizer.

E lá estava o choro, que a essa altura havia se tornado companheiro de longa data. Puxei minhas mãos com agressividade, a decepção tomando conta de mim. Ele não jogaria baixo, não estava fazendo por mal, mas ainda era um garoto solitário, carente e que havia ficado órfão muito cedo. E apesar disso não ter sido uma escolha, mentir e ocultar informações de mim era.

— Estava me usando de escada para chegar e ela esse tempo todo?

— Isso que está dizendo não faz o menor sentido, Rose. Nem você acredita nisso. – quem ele pensava que era para definir no que eu acreditava ou não?

Estava tudo desmoronando, eu estava confusa, era fato, porém tudo parecia muito plausível. O abandono dela para comigo, a aproximação de Scorpius, os elogios que ela tecia a ele, o modo como ela não escondia que preferia que eu fosse um pouco mais como ele. Igual a ele. Ela queria ser mãe de alguém diferente do que eu era e ele, bem, a vida de órfão não lhe dava muitas alternativas.

— Saiba que ela pode estar sendo atenciosa e cuidadosa agora, mas a realidade é muito diferente. Ela pode ser péssima como mãe quando quer – alertei começando a juntar minhas próprias coisas e enfiar tudo apressadamente na mochila – Ela esquece aniversários e chega atrasada a formaturas.

Senti a mão de Scorpius em meu braço, fazendo-me virar para ele quando já estava pronta para retornar ao meu dormitório.

— Não está insinuando o que penso que está, não é, Rose? – o tom que usava era cauteloso e levemente ameaçador, e mesmo assim não conseguiu me intimidar.

— A não ser que esteja interessado romanticamente em Hermione Granger, o que eu duvido, a única explicação plausível é que esteja a querendo como mãe. – declarei e ele soltou uma risada em tom de escárnio, afastando-se.

— Agora sei porque nunca consegui entender você, Rose. Você não faz o menor sentido, até porque seus próprios pensamentos são uma junção de toda incoerência existente no planeta. – seus olhos estavam cinza escuro, sua expressão cada vez mais fechada, a testa franzida fazia com que as sobrancelhas loiras e grossas quase se encontrassem – Para sua ciência, eu tenho mãe e não é porque ela está morta que eu deixo de ter ou devo passar a procurar alguém para substituí-la. De todas as palavras que você já disse na intenção de me magoar, essas foram as mais cruéis.

Bastou ver sua expressão angustiada e sua voz triste para que me arrependesse de minha fala.

 Malfoy bufou, o rosto antes contorcido agora suavizava e a careta de bravo agora demonstrava apenas alguém cansado

— Eu juro que tentei, Rose. Por anos, mesmo com todas as possibilidades contra mim, mesmo com Albus azucrinando em cima de mim, dizendo que você nunca daria uma chance, mesmo com ele dizendo que eu nunca passaria de um casinho para você, que nunca chegaríamos a ter nada sério, eu não dei ouvidos. E continuei tentando. Mas agora chega, estou exausto de tentar e não conseguir nada além de decepção.

— O que você está dizendo? – a compreensão já havia se instalado em minha mente, mas precisava da dolorosa confirmação.

— Estou dizendo – tomou fôlego antes de continuar – Que nós dois juntos, essa relação confusa que temos, é algo que não existe mais a partir de agora.


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