Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 20
Nossos Nó(s)


Notas iniciais do capítulo

Olá Leitoras(es) Maravilhosas(os), chegamos oficialmente ao fim dessa jornada. Foi muito importante e gratificante escrever essa fanfic, colocar em destaque essa família que é formada por seres humanos completamente diferentes, mas que se completam de maneira tão bonita. Aprendemos muito escrevendo, mais ainda lendo os comentários de vocês. Cada capítulo era um aprendizado diferente para levar para a vida. Foi especial voltar a escutar Sandy (em especial) e Junior e perceber o quanto as músicas deles falam de amor, de vida, de pessoas. E é exatamente disso que é feita essa família. São nós eternos. Vamos agradecer em especial a Kraposo e a Amanda vocês foram as pessoas que nos deram força e vontade de continuar escrevendo, passar de dez para vinte capítulos. Obrigada. Agradecemos de coração.
Agora chega de papo, só podemos desejar uma excelente leitura!



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Sorri, pra mim
Não deixa o sol se pôr
Aqui estou querendo parar o tempo

           

Estamos de braços dados, caminhando. Todos estão olhando para nós dois, eu sei o quanto isso ficará para sempre em nossas memórias. E mesmo que veja a mulher em que ela se tornou ainda vejo a garotinha que corria para mim ao fim do dia, que ficava em meus ombros tentando alcançar as nuvens, tocar as estrelas.

            Quando ela se vira, posso ver em seus lábios a felicidade estampada. Seus olhos brilhando pelas lágrimas que ela segura. Está tão bonita, com os cabelos presos e flores coloridas. Sinto sua mão apertar meu braço, sinto o quanto não quer que nada dê errado. Eu a seguro, a conduzo e por fim a entrego.

            Beijo sua testa.

            Por um momento vou voltando no tempo. Vejo ela indo trabalhar comigo, vejo ela se formando em Hogwarts, vejo ela em fotos do baile de inverno, vejo seu primeiro dia na plataforma, vejo sua primeira vez na escola trouxa, seu primeiro passo, o jeito que dormia em meus braços. Vejo ela em meus braços logo após dizer oi ao mundo.

            Uma longa vida. Passamos por tanto momentos, crescemos. Ela como filha. Eu como pai. Mal consigo escutar as palavras que são ditas ao longo da cerimônia. Mal consigo perceber quando estamos caminhando para a festa. Hermione me guia entre toda a multidão, ela sorri satisfeita.

            ― Como ela está feliz. – Sua voz me faz voltar para o agora. Deixar para trás todos os outros momentos em que Rose também estava feliz. – Lembro do nosso casamento. Meu pai chorou tanto, perguntou se eu queria desistir.

            ― Perguntou? – Ela nunca tinha me dito isso.

            ― Sim, não é fácil para nenhum pai deixar sua filhinha seguir a vida. – Ela segura meu braço, se encosta em mim. – Mas é preciso.

            ― Eu não disse para ela desistir. – Falei indignado.

            ― Eu sei, você gosta de Scorpius, mesmo fingindo que não. – Ela ri.

            ― Não gosto não...

            Somos interrompidos por nossa filha. Ela corre até mim. Me abraça.

            ― Obrigada. – Sua voz está banhada de emoção. – Eu te amo papai.

            Quando ela se afasta, seu marido também nos abraça. Agradece. Parece muito mais emocionado que ela. Quase enxergo lágrimas muito bem controladas, mas o vermelho nos olhos revelam a verdade. Hermione está certa. Eu gosto daquele garoto, não importa qual seja o sobrenome dele. Porque ele me faz enxergar toda a felicidade que Rose por tanto tempo não conseguia expressar.

            Enquanto se afastam volto a vislumbrar aquela menininha com cabelos armados feito a mãe, ruivos como os meus. Uma sabe-tudo esfomeada. Única em cada uma de suas características.

            ― Nossa família está crescendo. – Hermione sorri.

            ― Nossos nós cada vez maiores, apertados, indestrutíveis. – Seguro sua cintura e a beijo.

            E coloco em minha cabeça que não estamos perdendo, mas ganhando. Ganhando novas lembranças. Boas. Bonitas. Consteladas entre rosas e estrelas.

            E tudo está bem.

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É só sorrir pra mim
E a vida que eu vivi sem você
Eu quero desviver

    

        Quando eu percebi nós já estávamos juntos. Ela já dormia em meu pequeno apartamento que mais parecia um estúdio. Eu dormia em seu quarto alugado. Nós tínhamos roupas perdidas, tínhamos escovas de dente, dormíamos juntos praticamente todos os dias sem nos importarmos com o lugar.

            Mas nós não tínhamos tido o que eu gostava de chamar de “primeiro encontro”. Ninguém poderia me culpar por ser alguém que buscava um primeiro encontro incrível. Eu cresci em uma família cujo os pais se conheceram aos onze anos e ficaram separados por pouquíssimo tempo, apenas algumas férias escolares. Eu fui influenciado a ler histórias trouxas e também a assistir filmes que eram famosos nos anos 80 e 90, além de todas as comédias românticas que Rose dissecava apontando machismo, misoginia, preconceito, gordofobia e ainda assim assistia até o fim e derramava lágrimas.

            Internamente eu sempre fui um romântico. Mesmo que permaneça com meu ar introvertido, que seja contido e discreto. Eu tinha mais desenhos do meu primeiro amor do que qualquer outro ser humano poderia ter e eu continuo melhor amigo dela apesar de qualquer circunstância.

            Então em uma bela tarde em que nós estávamos deitados no chão do meu estúdio, pensei o quanto queria um primeiro encontro com ela. Um primeiro encontro depois de todas as noites juntos, de todas as tardes, de cada um dos outros milhares de encontros.

            ― Eu preciso de algo. – Falo um pouco constrangido, mas aliviado em perceber que ela está sonolenta.

            ― O que? – Sua voz é lenta, suave, até mesmo um pouco rouca.

            ― Um primeiro encontro. – Sinto meu pescoço queimar juntamente com minhas orelhas. Uma cortesia Weasley para momentos de vergonha, ansiedade e afins.

            Íris levanta a cabeça com os olhos completamente despertos. Praticamente escala meu corpo até chegar o mais próximo possível do meu rosto. Seus olhos estão grandes, seu cabelo completamente bagunçado, a boca com o batom manchado. E ainda assim ela se parece as garotas dos artistas que trabalham com pin-up.

            ― Como assim primeiro encontro?

            ― Nosso. Nós não tivemos um primeiro encontro... – Coço meus cabelos enquanto vejo que ela está segurando o riso. – Um primeiro encontro do tipo primeiros encontros. Está entendendo?

            ― Não estou. Nós tivemos muitos encontros. – Ela sorri. – Na verdade se parar para pensar estamos em um pós encontro.

            ― Você não entendeu, um primeiro encontro como em Amor ou Amizade.

            ― Eu sempre esqueço que você conhece mais comédias românticas do que eu. – Ela sorri. Mas sabe do que eu estou falando, porque fiz ela assistir esse filme em uma tarde chuvosa. – Você quer que a gente ande de patins? Ou quer ir a uma balada em que soltem espumas em nós?

            Percebo que não usei o filme certo para a analogia.

            ― Nenhum dos dois. Talvez eu tenha usado o filme errado. – Suspiro tentando encontrar opções melhores. – De um jeito Nunca fui beijada.

            ― Em alguns momentos eu percebo que namoro uma adolescente dos anos 90. – Íris começa a rir. Enquanto eu continuo cada vez mais vermelho. – Desculpe. Eu não podia perder a piada, sabe como gosto quando você fica assim.

            ― Desconfortável?

            ― Não. Completamente entregue. Vermelho. Fofo. Tímido. – Ela toca meus lábios. – Especialmente bonito.

            ― Eu quero um encontro normal. Isso é esquisito?

            ― Um pouco. Mas você é bruxo. Então já entendi que nosso relacionamento não será o mais normal do mundo. – Ela sorri. – Eu aceito o convite.

            ― Convite?

            ― Para nosso primeiro encontro.

            Então ela começa a se vestir, prende o cabelo de um jeito que não melhora muito a aparência desarrumada que ele possuí depois de nossas tardes no chão do estúdio. Coloca os sapatos e quando está com a porta já aberta volta a falar.

            ― Te espero às 19h. – Seu sorriso é bobo. – Traga flores e chocolates.

            Enquanto escuto a porta sendo fechada, eu começo a rir. Porque certamente teremos o melhor primeiro encontro do mundo. Tão maravilhoso que as pessoas vão querer escrever sobre e fazer filmes.

            Depois de um tempo começo a desenhar. Todos os pontos do encontro que planejo. Eu na porta dela segurando flores e uma caixa de chocolate. Nós dois andando na London Eye, olhando para as luzes de Londres. Nós andando de mãos dadas e comendo sanduiches. Sentados em um cinema aleatório. Nós nos beijando embaixo de um poste. Por fim, eu a deixando em sua casa, beijando sua mão e implorando para ela me ligar.

            Na tela antes em branco vejo que acabei desenhando um nó feito das melhores cenas. Sorrio satisfeito pela obra. Faço floreios com minha varinha para que o desenho seque o mais rápido possível. O dobro e sei que além de chocolate Íris também ganhará um desenho. Começo a me preparar.

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Vou recriar o mundo
Pra gente caber junto
Desalinhar o tempo
O espaço por nós dois
Eu te encontrei dentro de mim

 

Ele suava frio e estava verde, gaguejava mais do que o normal, meu pai o julgando em cada ato e se remexendo na cadeira de desconforto. Sei que ele quer o melhor para mim, como fazê-lo entender que não existe nenhum outro melhor que Ronald em minha vida? Nas despedidas, minha mãe o abraça forte e diz que espera o ver mais vezes em casa, ele sorri aliviado. Se despede de meu pai com um aperto de mão. Digo que vou o acompanhar até lá fora, meu pai me entrega um olhar cortante de desconfiança, mas não me impede.

Damos as mãos, esse ato tão pequeno e gigantesco que nos acostumamos a fazer, paramos na calçada e antes dele aparatar para longe de mim o abraço.

― Seu pai está nos olhando pela janela.

Ele me diz perto do meu ouvido e posso sentir seus músculos rígidos de tensão.

― Então é melhor a gente não se beijar. – digo de brincadeira, mas o escuto resmungar em protesto. – Ou você me beija e aproveita toda sua juventude, em que anos mais tarde esses serão momentos que lembrará, o namorar na calçada de minha casa, a tensão e o amor dos primeiros dias de namoro.

Ele ri e posso sentir relaxando aos poucos, ele se afasta um pouco do abraço, suas mãos pousadas em minha cintura, as minhas em seu pescoço. Tudo o que vejo na noite escura e nublada em cima de nossas cabeças é seu rosto salpicado de sardas, seus olhos azuis brilhantes e sua boca se aproximando da minha.

Fecho os olhos, os beijos com ele são sempre diferentes. Uns urgentes como se o amanhã e o depois não existisse, outros, descobridores, com mãos passando por todos os lados, lábios mordiscados e pescoço encoberto de pequenos beijos que arrancam suspiros, outros como esse, calmos e carinhosos, com sua mão acariciando meus cabelos e meu rosto, como se eu fosse tão frágil ao ponto de quebrar se me beijasse mais forte. Eu não gostava muito desse, preferia as outras versões. Gostava quando escapava de noite e aparatava na Toca e deitávamos juntos em sua cama e dormíamos, beijávamos o tempo todo e conversávamos sobre tudo segurando as mãos.

O sinto se afastar de mim pós beijo e murmuro em protesto.

― Seu pai está acendendo e apagando as luzes.

Virei meu rosto e de fato vi, meu pai, na janela, nos observando, sua mão apertando o interruptor acendendo e apagando a luz da frente como se conversasse em código Morse dizendo VOLTE PARA CASA URGENTEMENTE!

Voltei meu rosto para ele de novo e resolvi ignorar a mensagem de meu pai. Aproximei meu rosto e disse com os lábios grudados nos dele.

― Posso imaginar um futuro, em que exatamente isso acontece, só que agora somos nós lá dentro e nossos filhos aqui fora.

Minhas palavras fazem cócegas nele. Rony abre um sorriso enorme, segura minha cabeça com as duas mãos e sussurra ainda com os lábios grudados nos meus.

― Prometo que serei bem mais compreensivo. Afinal, a juventude é pra ser vivida ao máximo.

Ele me beija, mas começo a rir e balanço a cabeça descrente de que ele seria compreensivo. Permito que ele me beije novamente.

Adoro imaginar um futuro com ele, uma casa com crianças, uma nossa e várias de seus irmãos, brincando e correndo. Um bairro trouxa, profissões que nos deem estabilidade financeira e nos permitam viajar às vezes. Um telefone, televisão e costumes trouxas no meio dos bruxos. Imaginar um futuro é maravilhoso, quero viver isso o mais breve possível. Melhor do que imaginar é ver que o pouco que imaginei já se faz presente, meus pais sãos e salvos de volta da Austrália. Eu voltando para Hogwarts dali uns dias, ele começando seu curso de auror. As dores sendo curadas, mesmo que às cicatrizes ainda marquem presença para sempre.

Começamos a conversar, sobre um futuro imaginado, rio com ele, nos beijamos, começamos a brigar por qualquer coisa, ele me beija. Namoramos na calçada de casa e depois de minutos de despedidas intermináveis ele aparata e vai embora. Volto para casa, meu pai parou com sua mensagem em código Morse e agora me encara na sala, fingia assistir um reality show de reforma de casas com minha mãe.

― Está tudo bem pai.

Digo me aproximando dele, seu rosto carrancudo, seu coração doendo de ciúmes de deixar sua única filha namorar na calçada.

O beijo no rosto e o abraço. Sussurro em seu ouvido um obrigada. É o suficiente para ele respirar mais aliviado e entender que eu cresci.

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Não posso mais ser só
Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

Ele estava se esforçando, era nítido, depois do jantar na casa de Scorpius, de conversar com o pai dele e se convencer que eu estava feliz e que somente ele me faria feliz, as caretas e virar de olhos no primeiro jantar de pazes com meu pai em casa estava ocorrendo de maneira calma e natural.

Ele não o desafiou para um jogo de xadrez desta vez, apenas se despediu de Scorpius com um aceno de cabeça, minha mãe o abraçou dizendo para voltar sempre e logo. Comecei a me encaminhar para fora de casa, para me despedir dele na calçada. Foi quando meu pai segurou em meus braços.

― Aonde vai Rose?

― Vou levar Scorpius até lá fora. – Digo calmamente, olhando minha mãe de esguio e gritando com a mente para que ela me desse cobertura.

― Está tudo bem Rony.

Ela vem a meu resgate e segura às mãos de meu pai e o afasta de mim. Vou com Scorpius para fora de casa.

Já na calçada, ele me encara com medo e suspira cansado.

― Achei que as coisas com seu pai estavam melhores...

― Achei que ele se comportou bastante bem hoje.

Eu sorrio e o abraço, não tenho mais medo ou vergonha. Scorpius me aperta no abraço. Sinto seus músculos rígidos de tensão.

― Ele está nos observando.

Não preciso virar o rosto para identificar o rosto de meu pai me encarando na sala, mas mesmo assim o faço e lá está ele, se corroendo por dentro de ciúmes e me observando. Uma luz plaina da janela até nós, ela permanece em cima de nossas cabeças. Sei que ele apertou seu desiluminador.

― Me beije.

Peço para Scorpius que me olha apavorado devido a luz nos iluminando como se fossemos os atores principais de uma peça de teatro. O foco estava em nós e queria representar muito bem meu papel de adolescente apaixonada pelo namorado.

Ele não hesita mais e me beija, suavemente, segura meu rosto com suas mãos e acaricia minhas bochechas com o polegar num movimento em círculo, repetitivo.  Suspiro, me sinto flutuar. Estamos representando o papel de Romeu e Julieta, não numa sacada, mas sim na calçada.

Ele começa a rir e reparo na luz do desiluminador, vindo e indo num vai e vem, apagando e acendendo, num ritmo que dizia ENTRE EM CASA IMEDIATAMENTE.

Ignoro meu pai e abraço meu namorado. Quem nos visse de cima, olharia um casal namorando num ritmo de uma discoteca, mesmo que não existisse música eletrônica.

Scorpius está mais a vontade apesar do ciúmes de meu pai. E imagino que minha mãe, tenha o convencido de parar com a história do desiluminador, pois no meio do abraço tudo ficou escuro e permaneceu escuro.

As estrelas e a lua nos iluminavam agora e eu amava ficar sob as estrelas com ele. Scorpius sempre foi muito ligado a elas e sempre me contava inúmeras histórias e lendas sobre as estrelas. Seu nome era uma constelação, assim como o nome de seu pai.

E foi sobre estrelas que começamos a conversar naquela noite, ele me contava sobre uma constelação, eu o beijava, dizia sua melhor técnica para descobrir os desenhos no céu, eu o beijava, me contava pela milésima vez como sua mãe salvou seu pai através das estrelas, eu o beijava. Era maravilhoso curtir minha adolescência o namorando na calçada de casa. Depois de vários minutos ele aparatou para sua casa e eu entrei na minha.

Meu pai estava na frente da televisão tentando prestar atenção em algum documentário sobre os animais da savana, mas sei que não entendia nada do que o narrador dizia. Me aproximei dele e o abracei. Sentei com meu pai no sofá e deitei minha cabeça em seu colo.

― Me diga tudo sobre o que está assistindo, eu amo te ouvir.

Ele pareceu sorrir aliviado, pude sentir minha mãe, que nos observava da poltrona lendo um livro, relaxar os ombros. Meu pai contou, tudo sobre os animais da savana e todas as atrocidades que os seres humanos faziam com eles e eu prestei atenção, porque estar com ele em momentos assim era tudo o que precisava.

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Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

            Quando nós tínhamos a idade deles estávamos tentando fazer algo grande, tecnicamente salvar nosso amigo de um cara de cobra completamente alucinado que não aceitava perder. Consequentemente salvaríamos o mundo bruxo e obvio que o mundo dos trouxas, que parecem não enxergar lá muitas coisas. Só que eles, nossos filhos, estão vivendo um momento tão diferente. Eles não precisam se esconder em prédios velhos, florestas, se arrastando sem saber a direção correta e evitando usar magia em excesso. Sou grato pela realidade deles. Muito grato.

            Exceto quando é fim de semana e eles resolvem sair com os amigos e sem os pais. Exceto na primeira vez em que minha filha prefere se arrumar ao invés de ficar lendo livros. Exceto quando preciso me preocupar com coisas que nem mesmo reconheço, porque nessa idade eu me preocupava com tantos assuntos diferentes.

            ― Eu sabia que esse dia chegaria. – Cochicho com minha adorável esposa que parece muito calma.

            ― Que momento? – Ela tira os olhos da biografia que lê com afinco. Se apaixonando por mais uma grande mulher da história.

            Eu balanço a cabeça em direção aos quartos. Escutamos uma música que não reconheço em uma língua que não falo. E escuto risadas e garotas muito animadas. Todas Weasley. Porque quando se trata de se festas os primos se dão muito bem.

            Hermione fecha o livro e começa a sorrir. Parece pensar em várias lembranças não vividas.

            ― Elas parecem tão felizes. – Coloca as mãos no coração. – Rose parece tão feliz.

            ― Não estão felizes demais? – Questiono enquanto vejo Hugo descendo as escadas.

            ― Está entrando no modo pai superprotetor. - Ela começa a rir.

            Nosso filho se joga no sofá e bufa irritado.

            ― Essas garotas vão me enlouquecer com essa música chata. – Ele começa a desenrolar o fio de um fone de ouvido. Os coloca e passa a nos ignorar por completo enquanto fecha os olhos e respira fundo. Em seguida também começa a ler.

            ― Hugo é igualzinho a você. – Hermione parece tão feliz quanto as garotas do andar de cima.

            ― Sério? – Aponto para ele, concentrado no livro ignorando tudo a sua volta.

            ― Vocês estão chateados porque as meninas vão se divertir e vocês vão ficar aqui. – Ela gosta de ver nosso filho tão parecido com ela.

            ― O que acontece nessas festas? Essa música esquisita.

            ― Querido, elas vão dançar, conversar, dar risadas... – Sou sorriso cada vez mais aberto. – Conhecer garotos, se apaixonar.

            ― O que?

            ― Ron, nós não tivemos essa oportunidade. Estávamos o tempo todo preocupados, tentando nos manter vivos e a salvo. Mas tudo está bem. Elas precisam disso. Nós também precisávamos. Nas férias que passava em casa lembro-me de escutar as histórias de primas sobre as festas, sobre se divertir. Ficava pensando como seria quando fosse minha vez. Só que na minha vez foi um pouquinho diferente. E eu não me arrependo, eu nem era muito de festa e essas músicas. Mas deixe que elas tenham a oportunidade de escolher gostar ou não. Nós não tivemos.

            Eu acento. Sei que Hermione está certa. Em grande parte do tempo ela está. Mas ainda assim é difícil entender que elas realmente precisem disso. Que Rose precise. Por fim vou para cozinha fazer algo em que sou bom. Chocolate Quente. Quando finalmente a música termina sei que elas estão prontas. Rose está pronta para uma aventura em que não estarei por perto para ajudar, que não terei como tirar a camiseta e entregar a ela, que não poderei oferecer um sorvete. E isso talvez seja o que esteja me matando, ela está pronta para uma aventura em que não posso protegê-la.

            Volto para a sala. Elas descem as escadas e estão tão bonitas. A energia e juventude são tão intensas que quase podemos tocar em ambas e tentar pegar um pouco para nós.

            ― É tão injusto nós termos que ficar. – Lily senta-se no braço da poltrona de Hugo. Quando olho para ela posso enxergar tanto de Ginny.

            ― Logo vão ser vocês. – Hermione responde sorridente. – Cadê Rose?

            ― Ela estava repassando a lista dela. – Lily revirou os olhos. – Verificou a bateria do celular várias vezes, contou ambos os dinheiros, bruxo e trouxa.

            Minha esposa levanta uma sobrancelha em minha direção que quer dizer “eu avisei”, e eu consigo respirar aliviado. Pelo menos um pouco aliviado.

            Ginny entra sem bater com os garotos logo atrás e Harry por ultimo. É dia de colocar a conversa em dia e poderei desabafar sobre o quanto não entendo essas músicas dos jovens. E porque eles insistem em escutar línguas que não compreendem.

            ― Certo, vou levar vocês e depois buscar. – Minha irmã á a tia legal, a mãe legal. A pessoa mais velha que contradiz todas as outras pessoas velhas. – Vamos? Cadê Rose?

            ― Pronto tia, estou aqui. – Rose desce apressada.

            E sinto o alivio tomar conta de mim. Sei que Hermione está revirando os olhos, e questionando a escolha de vestimentas de nossa filha, ainda mais em comparação as outras meninas. Mas ela está tão bonita.

            ― Querida, está linda.

            ― Obrigada papai. – Ela começa a rir. – Mas não exagera.

            Talvez eu estivesse mesmo exagerando. Ela não estava nem de vestido ou alguma roupa brilhante. Usava uma calça jeans sem nada demais, uma camiseta preta e tinha pegado uma das muitas jaquetas de meu guarda-roupa.

            Sei que não estarei presente, mas de alguma forma estarei com ela.

            Quando vejo ela saindo pela porta, sei que ainda a verei sair muitas vezes. Provavelmente uma delas definitiva. Mas também aprendi nessa noite que em todas vezes de alguma maneira estarei com ela. Nunca a deixarei sozinha.

            ― Está orgulhoso? – Hermione me abraça.

            ― Muito.

            ― Eu sabia. Vamos que agora é a vez dos adultos se divertirem. – Ela me arrasta para cozinha, Harry está abrindo um uísque de fogo. Temos nossa própria maneira de nos divertir.

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Sorri, pra mim
Sonha e eu vou buscar
Eu só preciso do teu sim
E tenho onde erguer meu lar

 

            Eu sempre escutei sobre nossa família ser um nó. Mas não apenas a nossa, era como se todos que chegassem perto de nós acabasse entrando em um circulo e que nunca mais o deixassem. Lembro da primeira vez que fomos descritos como “inseparáveis”, estávamos no terceiro ano e algumas garotas tentavam se aproximar de Scorpius e Albus. Elas não queriam se aproximar de mim. Foi quando percebi que tinha criado meu laço, meu nó. Com eles.

            É estranho pensar nisso quando já é adulto, casado, formado, com emprego estável e precisa se despedir do seu irmão mais novo. Já tinha me despedido de Albus quando ele resolveu estudar esportes praticados por outros bruxos do mundo, estava entediado com o quadribol e sinceramente não aguentava mais chamar atenção por onde passava. Filho de um herói de guerra e de uma jogadora famosa de quadribol. Tudo que ele desejava era o anonimato. E mesmo longe ainda sentia que continuávamos sendo aquele trio inseparável. Aquele nó a parte que eu tinha criado.

            Acredito que talvez seja algo nosso, que passou de geração. O ato de criar família sem precisar de sangue para isso. Pelas histórias que escutamos, era algo que vovó sempre fazia. Recebia as pessoas de braços abertos, as envolvia, as permitia ficar. Abria o laço, os colocava para dentro e apertava o nó. Garantia que apesar dos dias, das escolhas, da vida, eles poderiam voltar e ali seria um lugar seguro. É isso que fazemos. Principalmente o Hugo. Ele traz a pessoa, ele cura, ele transforma em leveza tudo que é pesado demais. Então é claro que sua despedida me faz querer chorar e acaba trazendo tantas lembranças embaralhadas e trançadas.

            Ele segura as malas na porta.

            Me sinto uma velha senhora ao abraçá-lo apesar de ser somente dois anos mais velha. Sinto vontade de chorar, mas ele parece calmo quando retira do seu bolso o presente que nosso pai repassou a ele, aperta o desiluminador e vai roubando todas as luzes da casa. E depois as devolve em seu lugar.

            ― Maninha, eu sou igual as luzes. Vou por um tempo, mas voltarei sempre. – Enquanto sinto sua mão em minha cabeça me acalmando como se fosse um gato, agradeço mentalmente por ele.

            Pela nossa amizade que foi além de irmãos, que me garantiu tantas certezas, que me emprestou tanta confiança, que me permitiu ser eu mesmo no meio de tantas versões.

            ― Tem que voltar, senão eu te amarro em um dos nossos nós e nunca mais te solto. – Falo batendo de leve nele.

            Scorpius assisti tudo com uma caneca nas mãos e um sorriso no rosto.

            ― Sua irmã detesta despedidas hein...

            ― Exceto quando é para se despedir de nossa mãe. – Hugo diz rindo.

            Bato nele pela piada.

            ― Engraçadinho, anda logo que Nova Iorque te espera. – Digo o empurrando, mas não sem antes entregar um beijo na bochecha.

            ― Eu volto. Volto assim que me chamar, assim que precisarem de mim. – Sua voz é intensa. É uma promessa. – Assim que achar que o nó vai se soltar, eu volto e aperto de novo.

            ― Te odeio. – Falo finalmente deixando as lágrimas caírem.

            ― Eu também, sua chata. – Seu rosto está iluminado.

            Íris acena da calçada, seu cabelo parece ainda mais colorido. Penso o quanto ela deve gostar de Hugo, só isso explica deixar tudo para trás e segui-lo. Não sei se outra pessoa faria o mesmo que ela. Mas sei que o amor deles é bem bonito de se olhar.

            Fecho a porta, penso em quantas despedidas precisamos participar ao longo da vida. De quantas precisamos para nos acostumar. Se um dia nos acostumamos. E não encontro resposta para nenhuma das questões. Só sei que mesmo nos despedindo ainda continuamos conectados de alguma maneira.

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Sorri, pra mim
Sonha e eu vou buscar
Eu só preciso do teu sim
E tenho onde erguer meu lar

            Levei chocolate, flores e um ursinho em forma de tartaruga para ela. Um desenho enrolado como pergaminho e amarrado com uma fita roxa. Toquei a campainha enquanto ajeitava a roupa, implorando para não ter exagerado e para que ela estivesse falando sério pela manhã.

            ― Tudo isso é meu? – Quando ela abre a porta fico surpreso. Seu vestido é azul marinho e tão bonito, parece um vestido de protagonista de filme. Normalmente as colocam em versões vermelhas, mas a dela é tão melhor. E seus cabelos penteados, e o batom vermelho, os sapatos. Ela é a mocinha da comédia romântica quando percebe que precisa dar uma chance ao amor. Sinto meu coração ser sorrateiramente arrancado.

            ― Sim. – Respondo entregando todos os presentes que preenchiam meus braços.

            ― Eu não estava falando das coisas. – Sua risada é tão contagiante. Ela segura em minha gravata colorida e me puxa para perto. – Estava falando de tudo isso. 

            Sempre me surpreendo quando ela me beija dessa maneira, é como se nunca mais eu fosse conseguir beijar novamente, como se fosse o ultimo beijo. O melhor beijo. Aquele que se em algum momento ela me deixar ficarei procurando pelo mesmo tipo de beijo por todos os cantos.

            E por mais que todos me digam que beijos são todos iguais, sei que eles estão errados. Certamente não encontraram esse tipo de beijo, que te faz querer beijar mais uma vez, e outra, e mais uma. Até perceber que passou horas e você continua beijando sem se importar com nada.

            Quando nos separamos vejo seu sorriso de novo. Agora ela pega os presentes, cheira as flores, abraça a tartaruga e a beija. Abre os bombons e sente o perfume de cacau. Por fim, desenrola o desenho. Preto e Branco, um suave colorido apenas nos cabelos. Vejo sua emoção, mas tento disfarçar.

            ― Pronta? – Questiono ansioso.

            ― Estou.

            Primeiro a levo no cinema, mas esqueço os ingressos em casa e não conseguimos entrar. O que é terrível, era seu filme preferido. Peço tantas desculpas, mesmo que ela diga que está tudo bem. Não temos o que fazer por esse tempo, o restaurante tem reservas, mas calculei o tempo de filme e fiz apenas para o horário após. Fico frustrado com nosso encontro arruinado.

            ― Vem comigo! – Ela diz enquanto me arrasta pelas ruas de Londres. Uma Londres que ela parece conhecer bem melhor do que eu.

            Andamos por um tempo e depois paramos para comer um sanduiche na rua. O gosto é delicioso, mas não é perfeito como tinha imagino no restaurante. Ela me suja com o molho, me beija logo em seguida. Seus olhos brilham como as estrelas. Eu sei que posso ser um pouco brega, as vezes clichê. Lily me dizia que eu tinha sido mais influenciado pelos filmes e livros, que estava me transformando em um personagem de comédia romântica. Sempre sentia raiva quando ela dizia tais coisas, eu só queria ser Hugo.

            ― Delicioso, mas temos mais uma parada. – Íris volta a me arrastar pelas ruas. Paramos dessa vez em frente a uma porta enferrujada, com um sujeito esquisito na porta.

            Antes de nos aproximarmos ela se vira para mim. Desfaz o nó da gravata, abre a camisa e a tira de dentro das minhas calças, bagunça meus cabelos deixando fios caindo em minha testa. Coloca a gravata nela mesma.

            ― O que está fazendo? – Questiono confuso.

            ― É mais fácil de entrar assim...

            O homem em frente a porta nos encara, reconhece minha namorada.

            ― Íris, quanto tempo... Garota, por onde andou?

            ― Fui conhecer outros mundos. – Ela respondeu rindo e levantando a mão que estava entrelaçada a minha. – Queremos entrar.

            Vejo ele analisando nossas roupas. Também parece me analisar.

            ― Tudo bem, você é sempre bem vinda.

            ― Obrigada! – Ela vibra. Me puxa para dentro.

            Somos engolidos por luzes e musica alta. Quase fico tonto. Ela segura minha mão com força, não quer que eu me perca. Muitas pessoas acenam para ela, algumas se aproximam para conversar, ela sempre me apresenta. Parecem julgar as roupas que usamos, e no contexto do lugar eu também julgaria. Íris parece tão feliz. Depois de bebermos algo, me arrasta para a pista.

            ― Você vinha sempre aqui? – Grito para que minha voz sobressaia a musica.

            ― Eu trabalhava aqui. – Ela diz dançando em volta de mim. – No bar.

            ― Sério? – Nunca tinha me falado sobre isso.

            ― No dia que te vi pela primeira vez, estava voltando do trabalho. Era meu ultimo dia. Tinha resolvido mudar de ares. – Seu corpo parecia estar conectado com a música. – Quando te vi, pensei que o destino estava me mandando um Deus para me ajudar a conquistar novos mundos.

            ― Um Deus? – Começo a rir enquanto seguro sua cintura. – Estou bem longe disso.

            ― Você não faz ideia do impacto que causa. – Ela para de dançar. – Nenhum de vocês, sua família. Vocês mudam a vida das pessoas. Da melhor maneira.

            ― Íris...

            Tento agradecer pelas palavras, mas ela volta a me beijar. Nos beijamos entre os desconhecidos, musica após musica, com nossos corpos grudados seguindo ritmos diferentes, como se fossemos apenas um. Eu, ela e a música.

            No final da noite estamos de pé em frente a sua porta. Ela segura seus sapatos, eu estou com a camisa toda desabotoada. Nossos corpos suados. Sorrimos um para o outro. Eu a beijo em despedida.

            ― Obrigado pelo melhor primeiro encontro. – Falo.

            ― Não agradeça. Provavelmente vou querer outros.

            ― Tudo que planejei deu errado, mesmo assim foi perfeito. Dá próxima vez você me busca em casa.

            ― Senhor Weasley, será um prazer te buscar em casa. – Ela diz rindo. – E talvez te levar para casa e entrar para tomar alguma coisa.

            ― Entrar para tomar algo, só depois do terceiro encontro. – Falo usando o resto de seriedade que me resta.

            ― Três encontros? – Íris sorri. – Combinado.

            Nos beijamos até o dia amanhecer. Em frente a sua porta. Como em um filme que nunca assisti, porque estava ocupado demais vivendo. Lembro de uma conversa com minha mãe. Onde ela falava sobre criar laços, fazer nós, trazer alguém para perto e permitir que essa pessoa fique para sempre. Nos lábios de Íris encontro nós intensos. E me surpreendo porque querer ficar nela para sempre.

.

.

 

Vou recriar o mundo
Pra gente caber junto
Desalinhar o tempo
O espaço por nós dois

 

Ela parece estar tão machucada e seu rosto cansado, respirar é difícil para ela, demonstra ser doloroso pela careta que ela faz ao tomar as poções para fazer seus ossos se reconstruírem. Sei que estou chorando, quando Bill segura meus ombros e avisa que Harry está nos jardins com Dobby em seus braços sem vida.

― Poder irr lá, estou cuidando dela... – Fleur me garante e sabendo que estou mais atrapalhando que ajudando, deixo-as para trás.

No caminho para fora do Chalé, lembro dos últimos acontecimentos na mansão Malfoy.

― Espere. Todos menos a sangue-ruim.

A voz da Belatrix ecoou na mansão e todo solo que estava tentando me manter em equilíbrio se desmoronou. Eu pedi e implorei para me deixarem no lugar dela, não queria e não podia imaginar o que fariam com ela sem que eu ou Harry estivéssemos por perto. Foi em vão, senti Belatrix me bater, me falou que traidores de sangue vinham depois de sangues-ruins, me vi sendo puxado para longe dela, tentei manter o aperto de nossas mãos serem impossíveis de se desfazer, mas ela foi. Foi embora.

Existe algo que chamamos de pavor, e nesse momento eu fiquei com pavor de nunca mais vê-la, de nunca mais senti-la, de que ela morresse e eu estivesse impotente de fazer qualquer coisa. Greyback fungava em meu pescoço e ria de meu total descontrole.

― Acho que ela me dará uma sobrinha da garota quando terminar, não? Eu diria que será suficiente para umas dentadas, não acha, Ruço?

Senti meu estômago revirar e todo o desconforto possível que ainda estava tentando controlar, se esvair no ar. Comecei a tremer de raiva ao imaginar Greyback, debruçar-se sobre ela e a morder, era a pior visão possível para o fim daquela noite. Foi quando eu me vi sendo empurrado com Harry escada abaixo que o grito aterrorizante dela começou. Era tão fino e dolorido que ecoou dentro de mim, rasgando parte de meus órgãos e fazendo meu coração sangrar junto. Eu gritei, não me importando em manter nenhum tipo de disfarce. Gritei porque precisava que ela percebesse que não tinha desistido dela.

― HERMIONE!

Mas a dor, mental minha, não parecia nem perto da dor física que ela sentia. Não prestei atenção na ordem dos fatos, Harry me dizia para ficar quieto, que precisava arranjar um jeito de desamarrar nossas cordas, eu só pensava nela urrando de dor e gritava o tempo todo seu nome. Sei que Luna apareceu, e estava tentando separar Harry de mim, mas Hermione voltou a gritar de dor e eu não conseguia controlar meu corpo, me remexia de dor, gritava seu nome e esperava que ela me ouvisse.

A cada grito de dor que ela dava eu gritava seu nome para que ela soubesse que não estava sozinha. Mesmo longe eu estava presente. Dobby apareceu e a esperança de sair de lá com ela viva surgiu em minha frente. Mais tarde, nada me aterrorizou mais do que segura-la em meus braços e perceber que sua respiração estava fraca e pesarosa. Aparatei para o Chalé das conchas e assim que vi toda a areia em meus pés desabei no chão fraco com ela ainda em meus braços. Lutava para não sucumbir às lágrimas.

― Vai ficar tudo bem.

Sussurrei para ela, que tinha os olhos fechados, estava toda machucada, não por fora, mas sim por dentro. Nunca tinha parado para pensar o que a maldição Cruciatus fazia com alguém que a recebeu muitas vezes seguidas, mas não queria pensar já que os pais de Neville nunca melhoraram e tinha sido justo Belatrix que havia os deixado assim.

― Bill! – grito.

Ele vem me socorrer. Me faz muitas perguntas. Eu não consigo responder nenhuma. Peço ajuda, somente ajuda.

Quando vejo, coloco ela numa cama em um quarto e espero Fleur aparecer.

Ela está toda dolorida, resmunga de dor e parece difícil abrir os olhos, chego perto e encosto minha testa na dela, entrelaço meus dedos dos dedos dela. Sinto as lágrimas cortarem meu rosto.

― Somos formados de nós, não quero desfazer nenhum deles.

― Ron... – ela diz tão baixinho que parece um esforço colossal.

― Não diga nada, não diga nada. – peço colocando os dedos em seus lábios. – você vai ficar bem, todo mal já passou.

― O que acontecerrr com ela? – perguntou a mulher de meu irmão com uma maleta de várias poções na mão. Automaticamente me afasto de Hermione.

Nego com a cabeça incapaz de falar qualquer coisa, de responder qualquer pergunta. Ela lhe dá várias poções, Hermione geme de dor em várias delas, vejo uma lágrima cair de seus olhos da dor dos ossos se reconstruindo dentro de si.

― Ela já sentiu dor demais, precisa ajudá-la!

Pedi desesperado para Fleur, que não fazia o bastante e não parecia ligar para Hermione o bastante. Minha cunhada me encarava séria, com certeza imaginando se Hermione teria sofrido alguma tortura para chegar em sua casa tão debilitada como estava e mesmo assim, mesmo curiosa e desconfiada, fazia o possível e o impossível para melhora-la o mais rápido e da melhor forma que conseguia.

― Ron...

Ela sussurrou de novo e virou se rosto para mim, tinha um sorriso fraco, muito fraco em seu rosto, mas era um sorriso. Só depois desse sorriso pude respirar aliviado. Senti o peso sair de meus ombros e tive vontade de abraçar Fleur, e beijar Hermione.

― Ela precisarr descansarr – Fleur me pediu.

Foi quando Bill me chamou e disse que Harry havia chegado.

Tudo o que veio depois, cenas terríveis e tristes demais para serem assistidas ou simplesmente imaginadas. Dobby estava morto e tudo o que ele fez por nós, a vida de Hermione que ele salvou, são imensuráveis demais e tudo o que fazemos para homenageá-lo é pouco perto da grandiosidade do elfo.

Ela aparece de robe e cambaleando. Automaticamente seguro sua cintura para que ela tenha equilíbrio. Em um momento da cerimônia simples e fúnebre ela encosta seu rosto em meu pescoço e a escuto respirar e chorar, ainda bem difícil por conta das dores, mas já bem recuperada, pensando o quão fraca ela estava até agora pouco.

― Eu vou lutar por ele. – foi o que me disse entre soluços e ali sabia que ela faria tudo para que os elfos não fossem mais esquecidos ou maltratados.

.

.

 

Eu te encontrei dentro de mim
Não posso mais ser só
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

Me lembro do nosso primeiro encontro e do último. Da primeira vez que dormimos juntos, de cada uma das brigas, do primeiro encontro como namorados e neste momento me lembro da primeira ida ao supermercado.

O quanto ele parecia realmente impressionado com os supermercados trouxas, com todas aquelas opções e a maneira como eram dispostos os ingredientes. Ficamos um tempo extraordinário no corredor dos chocolates. Era seu primeiro salário como Auror. Ele estava tão feliz. Poderíamos ir para Hogsmead, comprar todos os doces maravilhosos que vendiam na Dedos de Mel, mas ele queria conhecer mais sobre o mundo onde cresci.

Eu sei o quanto algumas questionam o que estaria eu fazendo com ele. Eu toda cheia de regras, sabedoria, exigências. Ele todo dono de piadas ruins, com ideias de deixa a vida me levar, não se importando em nada com regras. Se elas vissem o que eu via. O bom coração, a lealdade, a proteção.

Minha mãe dizia que quando o amor vem junto com a admiração é quase impossível fugir dele. Porque amor pode existir mesmo quando desprezamos alguém, mas admiração faz com que sempre queiramos ficar perto da pessoa. E como eu sempre o admirei.

Estou parada no mesmo corredor, olhando para todos os tipos de chocolates. Sentindo a falta que ele me faz todo dia. Sentindo o quanto até mesmo um corredor de supermercado pode se tornar vazio, triste, angustiante. Toco em uma das embalagens, eram suas preferidas, quero pegar todas e não deixar que ninguém ouse gostar mais delas, sem você aqui nem mesmo o chocolate deveria continuar existindo.

Estou tendo um colapso. Colocando cada uma delas dentro da cesta. Sinto tanta raiva da embalagem, do chocolate, de todo mundo. Raiva dele. Raiva do Ronald. Por ter me deixado sozinha. Por ter ido embora. Por continuar presente em todos os lugares por onde passo, mesmo não estando mais aqui.

― Você não podia ter feito isso. – Grito enquanto jogo todos os chocolates. – não podia... Não podia.

Me sento no chão em cima das embalagens amassadas e começo a chorar. Sei que as pessoas em volta estão me olhando, pensam que sou maluca. Mas continuo chorando. Elas não sabem como dó perder a alegria. Elas não sabem como dói tê-lo perdido.

Naquele corredor lembro da nossa primeira conversa sobre viver juntos. Sobre uma família, sobre a eternidade.

Vejo a imagem dele se agachando na minha frente. Sei que não é meu Ronald, sei que ele não vai voltar. Mas deixo que a imagem me toque. Seque minhas lágrimas.

― Tudo bem... Mãe... Está tudo bem. – Hugo me ajuda a levantar. – Vamos para casa.

Entre lágrimas deixo que ele me conduza.

― Mas os chocolates? Eram os preferidos do seu pai.

― Vamos pagar por cada um deles. Consegui um inteiro. – Ele me mostra o chocolate. Sorri. – Que tal pegar o seu preferido?

Eu aceito. Ele pega da prateleira. Me ampara. Me conduz.

Volto para alguns anos antes. Eu e Ronald andando abraçados, eu carrego a cestas com as comprar. Seu sorriso iluminando o corredor inteiro.

― Um dia vou trazer nossos filhos aqui, deixá-los escolher o que quiserem.

― Filhos? – Questiono, mas posso imaginá-los.

― Esse será nosso mercado preferido, estaremos sempre voltando.

De volta aos dias atuais nosso filho me ajuda a caminhar até a saída. Uma sacola pequena em seus braços. Uma saudade gigante dentro de mim.

.

.

 

Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

Oito horas, chego em casa, as crianças de férias da escola entediadas assistindo televisão me pedem comida. Hermione ainda não chegou.

Nove horas, tomo um banho enquanto meus filhos comem algo requentado que minha mãe mandou. Hermione ainda não chegou.

Dez horas, tento prestar a atenção em algo na tv, mas nada me prende, fico observando o Hall que ela aparatará. Hermione ainda não chegou.

Onze horas, olho o relógio e mando meus filhos irem para seus quartos em meio a reclamações e resmungos. Hermione ainda não chegou.

Meia-noite, vou a cozinha e faço um café. Meus olhos piscam cansados. Hermione ainda não chegou.

Uma da manhã. Ela aparata no hall. Cabelos desgrenhados mais que o normal, olhos brilhantes, sua testa está com pequenas gotículas de suor, está sem batom. Suspira cansada e não parece me notar sentado no sofá.

― Quem é ele?

Ela coloca a mão no coração pelo susto de minha pergunta.

― Que susto Ron. Quem é quem? – sua pergunta sai displicente, como se eu não tivesse notado sua traição.

― O homem que te deixa fora de casa até essa hora. – respondi com a voz trêmula e ao mesmo tempo firme e convicta.

Ela solta uma risada cansada.

― Me dê um tempo Ronald, estou exausta. – começa a andar em direção ao quarto. Seguro seu braço.

― Eu percebi os sinais, chega tarde do trabalho todos os dias, exausta e com os cabelos mais bagunçados que o normal, sempre um pouco suada, sempre sem batom.

― E?! – ela berrou já sem paciência, me olhava decidida.

― E que você está com alguém, fica até tarde no ministério, você está me traindo!

Então eu recebo, um tapa no rosto, ela reúne a maior força que consegue e me esbofeta em minha bochecha direta. Solto seu braço. Ela tem lágrimas nos olhos.

― Como se atreve a falar isso de mim?

― Como se atreve você! Em plena férias dos nossos filhos chegar esse horário! Quem está querendo enganar?!

― Eu não quero enganar ninguém!!! Estou trabalhando, exageradamente! Eu sei, mas só trabalhando!

Ela está chorando agora e me dando socos no ombro.

― Eu não esperava isso de você!

― Eu que não esperava isso de você!!!

Vociferamos um com o outro. Então ela corre para nosso quarto e vejo que ela se tranca lá dentro.

― O que está fazendo?! – Berro ainda bravo esmurrando a porta.

― Eu não suporto olhar para a sua cara. Eu não suporto olhar pra cara do homem que amo com todo meu coração, desconfiando de mim.

Ela não está gritando agora, chora e gagueja, meu coração dói ao ouvir isso. Ela pode mesmo não estar me traindo?

― Abre a porta? – peço colocando a mão na madeira, sentindo ela do outro lado.

― Não quero te ver!

― Hermione por favor... Você não jantou. – de repente me lembro de cuidar dela, sei que ela está magra demais. Fraca demais.

― Por favor, você! Eu só queria chegar em casa, tomar um banho, deitar aconchegada em seus braços e ouvir você contar seu dia, infinitamente melhor do que o meu, e dormir sorrindo. Nunca esperava ouvir o que ouvi de você.

Estou chorando agora, sinto o arrependimento bater em mim de forma ríspida e intensa. Eu era um completo babaca e tinha machucado gravemente ela.

― Me perdoe? Nossos nós, não quero desatar... – implorei ao pedaço de madeira a minha frente.

― Talvez amanhã, hoje não quero te ver.

Suspiro derrotado e começo a caminhar em direção a sala. Dos quartos meus dois filhos me observavam, eles estavam acostumados a me ouvir brigar com sua mãe, não dessa maneira, não a respeito de traição. Rose me abraça chorando e Hugo nega com a cabeça indignado com o que fiz. Converso com os dois e digo que está tudo bem, que vai ficar tudo bem. Tento me convencer disso.

Deito no sofá da sala esperando a noite passar e a manhã chegar para que eu possa me desculpar de novo e fazer as pazes com ela. Esperando ser perdoado e ser compreensivo, esperando que meu ciúmes cego e doentio vá embora com todas as minhas inseguranças da noite para ao dia.

.

.

 

Vou recriar o mundo
Pra gente caber junto
Desalinhar o tempo

 

Todo meu corpo dói, como se estivesse sido atropelada, sinto meus ossos ainda se recompondo de todo baque que sofreram. Ron cuidando exageradamente de mim. Coloca almofadas no lugar que me sentei no sofá, se certifica se estou confortável, pergunta onde sinto dor, me abraça pelo ombro e aproveito o momento e me aconchego em seus braços. É tão difícil eu ter esse tipo de momento com ele, e pensar que quase morri em pouco tempo na mansão Malfoy me aterroriza, então quero aproveitar. Deito meu rosto e coloco meu nariz estrategicamente em seu pescoço e aspiro seu cheiro. Me lembro do que me disse quando estava fraca: “Somos formados de nós, não quero desfazer nenhum deles”.

― Nossos nós, estão cada vez mais fortes e indestrutíveis. Vai dar tudo certo. Obrigada por cuidar de mim.

Ele me aperta um pouco mais no abraço, milimetricamente para não me ferir mais. Entrelaça nossas mãos e os nós dos dedos ficam brancos do tanto que apertamos e atamos nossos laços. Não quero sair desse abraço. Pretendo ficar assim impreterivelmente e infinitamente. Nossos nós entrelaçados e eternos.

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Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

É madrugada. Ele está deitado no sofá, minhas lágrimas já secaram de tanto chorar, não esperava essa desconfiança dele, não esperava suas palavras tristes e lotadas de mentiras criadas por sua mente ciumenta. Sei que exagero ao trabalhar até tarde, mas jamais imaginei que ele faria isso comigo.

O observo de olhos fechados, seu rosto riscado de lágrimas secas, seus ombros duros e rígidos, ainda de sapato, sem nenhuma coberta ou travesseiro para se sentir confortável, e está frio. Odeio por me preocupar assim com ele, mas me preocupo. Vou até nosso quarto, pego uma coberta, tento o cobrir. É quando ele abre os olhos e me encara. Automaticamente quer começar a falar, o impeço colocando meu dedo nos seus lábios. Ele me puxa num pedido mudo para me sentar com ele. Não me policio mais e me aconchego com ele no sofá. Ele me abraça pelas costas e coloco meu rosto estrategicamente perto de seu pescoço, inspiro seu cheiro. Me sinto em casa, me sinto bem.

― Não quero desatar os nossos nós.

Sussurro, ele entrelaça sua mão na minha e os nós dos nossos dedos ficam brancos pela força que nos apertamos um no outro.

― Me perdoe, nossos nós jamais serão desatados. Eu prometo.

.

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O espaço por nós dois
Eu te encontrei
Dentro de mim
Não posso mais ser só

 

― Ok, você começa.

― Eu? Você sabe que não sou muito bom com essas coisas.

― Você é infinitamente melhor do que eu Ron.

― O que? Você está admitindo que sou melhor do que você?

― Na maioria das coisas não, mas em algumas sim. Como no xadrez, ou em ser um elo, ou em ser um ótimo cozinheiro.

― Pode repetir senhorita? Queria gravar isso para a posteridade.

― Eu? Repetir? Não sei do que está falando.

― Hahahaha eu sabia que faria isso. Você pode ser a pessoa mais bonita, inteligente e perfeita para mim, mas é sempre tão teimosa.

― Eu teimosa?

― Podemos ficar o dia inteiro nisso, vamos começar.

― Tá, acho que me acostumo a brigar com você que esqueço de tudo.

― 3...2...1

― Venci!

― Sorte de principiante.

― Eu diria que tenho muita sorte, não só em jogos, como na vida.

― Acho que eu também tenho.

― Ser apaixonada pelo amigo que brigo desde a primeira vez que vi.

― Isso não seria relativo? Seria azar brigar com uma pessoa e se apaixonar por ela.

― Eu chamo de sorte, já que seremos sempre intensos e verdadeiros um com o outro.

― Eu chamo isso de laços. Nós dados que não podem ser desfeitos.

― Eu amo quando você é infinitamente mais inteligente do que eu e nem nota.

― Ok. Agora preciso gravar isso. Você me dizendo que sou mais inteligente do que você.

― Hahaha. Posso te definir com palavras. Melhor amigo, elo, engraçado, melhor jogador de xadrez, melhor cozinheiro, melhor namorado, laço e nó.

― Só sou um nó, porque tenho você. E espero nunca desatar nosso nó. Não desatar jamais nosso nós.

.

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Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

― Sabe o que mais gosto de você?

― A minha falta de capacidade de gostar de mim mesma?

― Não.

― O quanto sou boa em descobrir os melhores sabores de sorvete?

― Não.

― A minha capacidade de descobrir os melhores livros, trouxas e bruxos?

― Também, mas não.

― Não consigo pensar em nenhuma outra coisa.

― De como me sinto burro perto de você.

― Você não é burro, muito longe disso.

― Eu sei, mas me sinto inteligente quando falo com você. Me sinto inteligente porque penso para falar com você. Penso que existem tantas pessoas por aí sem conteúdo ou com um repertório de vida, tão insignificante que nem me dou ao trabalhar de falar com elas, mas com você é diferente. Você me faz pensar antes de falar, me faz pensar antes de agir,

― Engraçado, esse é justamente o motivo de muitas pessoas se afastarem de mim, a Rose indomável, defensora dos fracos e oprimidos desse castelo.

― Eles só veem a casca, há muito mais além da superfície.

― Gosto de pensar em você como num emaranhado de nós, como as estrelas, criando laços que se transformam em histórias, infinitas e perpétuas, me entende?

― Entendo. Um nó impossível de ser desatado. Quero criar novos nós, laços, e constelações com você.

― Eu aceito.

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Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

― Ok. Achei no dicionário. Nó significa emaranhado de fios, cordas que se entrelaçam emaranhando-se formando um nó.

― Então significa laços?

― Digamos que sim Lily.

― Laço, significa nunca se desfazer.

― Acho que não significa exatamente isso, mas é algo nesse estilo.

― Então posso dizer que Hugo e Lily formam um laço, um nó, inquebrável.

― Acho que pode ser.

― Prometo sermos sempre assim, melhores amigos que formam um nó.

― Prometo também. Hugo e Lily. Somos nós.

 

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.

 

Não quero desatar o nosso nó(s)
Não quero desatar o nosso nó(s)

 

As lembranças me assombram, dia após dia, e eu, como uma viciada em nossos momentos, os assisto todos os dias numa penseira. Assisto nosso primeiro encontro, nossa viagem à Nova Iorque, o nascimento de nossos filhos, nosso primeiro beijo, nosso casamento, momentos que ninguém nos observava e que são únicos, como quando o revelei o nome que queria se tivesse uma filha. Faço isso sempre. Meus filhos aparecem constantemente e me resgatam do passado. Falam que preciso me reerguer, me refazer. Não dou ouvidos a eles. É quando Rose chega e me anuncia num dia ensolarado em meio ao mês chuvoso em que passávamos:

― Estou grávida.

Isso me choca e me apavora, lembro que ela perdeu um bebê já e não quero que ela sofra tudo novamente. Faço companhia a ela em todos os exames e consultas médicas, convenço ela a se mudar para minha casa. Quando seu filho nasce, um pouco antes do previsto e precisa ficar de observação, sinto que o fio que me sustentava nesses meses todos está muito perto de ser quebrado. Me aproximo do bebê, tão frágil e pequeno. Peço a Deus que ele sobreviva e seja nossa salvação. Nosso novo elo, nosso novo laço. Nosso novo nó.

É quando Rose me anuncia seu nome.

― Ronald Billius Weasley II

Então eu sei, após descobrir seu nome que nossos nós estão refeitos, que somos nós mesmo em outra época em outra era. Ele estava de volta.

.

.

 

Acalma o meu coração, doído
Te traz pra mim
E sorri

 

Um ano tinha se passado rápido demais. Parecia que os dias chegavam e iam embora sem que percebêssemos. Os dias são assim quando temos crianças. Então um ano virou dois, que virou três, que virou quatro.

No aniversário de quatro anos de Ronald Billius Weasley II conseguimos juntar uma boa parte da família. Pessoas que moravam longe, pessoas que estavam diferentes, esposas e filhos. Nós estávamos velhos. E perceber isso sempre é algo bastante complicado.

Os presentes no quarto, a luz do sol iluminando. O barulho de felicidade em toda parte, pelos corredores, no quintal e entrando pela janela. As crianças trazendo sujas de doce, de terra, brincando com as flores.

Quando Harry entrou pela porta eu sabia o que viria em seguida. Mesmo que não estivesse preparada para tal.

― É a ultima. – Sua voz está tremula, nós dois sabemos o quanto estava sendo uma vida de altos e baixos. Dias bons e dias não tão bons.

Pego a carta de sua mão, a coloco contra meu peito e respiro fundo antes de abri-la. Harry aperta meu ombro me dando forças e sai do quarto fechando a porta com cuidado.

Sento na cama e estou pronta para dizer o meu até logo. Então abro a carta e começo a ler.

 

Hermione,

Nós precisamos fazer isso. Já chegou o momento.

 

Eu sei que chegou, mas não queria que chegasse. Não sei como será daqui em diante.

 

Tive que escrever todas as suas cartas nos únicos momentos em que não estava por perto. Sempre acabei escrevendo correndo, porque a senhorita sabe-tudo nunca estava longe de mim.

Talvez eu também esteja evitando o inevitável, deixando para depois, empurrando até o último segundo. Dizer adeus é difícil para os dois lados. E por mais que desacreditem é sempre mais difícil para quem diz do que para quem recebe.

 

Infelizmente tenho que discordar disso.

― Não foi você que sentou-se no chão do mercado e chorou enquanto gritava para o nada.

É difícil pensar que não estarei por perto, que vou perder vários momentos importantes, que não poderei segurar sua mão ao dormir, que não verei os filhos ruivos de Rose, porque eles vão ser ruivos e disso tenho certeza. Não poderei ajudar Hugo a nunca desistir daquela jovem trouxa adorável que me faz rir.

Sempre que penso no quanto é difícil. Também lembro que já passamos por momentos ainda mais difíceis. O que me faz sorrir. Nós realmente passamos por todos os momentos possíveis. E também pelos impossíveis.  Nós somos resistentes.

Então, vou usar toda essa resistência para conseguir dizer o que precisamos dizer. Adeus.

Eu sei.

Adeus é tão definitivo. Mas infelizmente em algum momento teria que parar com as cartas, teria que te libertar. Viver esperando por palavras de alguém que já partiu é viver de uma maneira muito triste. E nós fomos na maior parte do tempo felizes.

Hermione, obrigado por ter me escolhido, por ter me permitido entrar em sua vida, mesmo depois daquele começo horrível. Mesmo depois de eu ser um garoto idiota. Obrigado, por sempre me aceitar de volta, mesmo depois de partir. Obrigado, por continuar se apaixonando todos os dias. Sei que você encontraria milhares de amores se procurasse por isso, mas obrigado por ter escolhido viver esse amor comigo.

Está carta além de um adeus também é um agradecimento. De uma vida boa. Obrigado.

Muitas pessoas sentem arrependimentos quando chegam ao estágio em que me encontro. Mas sinceramente, não os tenho. Vivi algo que muitas pessoas buscam durante a vida toda. Vivi um amor eterno.

Nós nos entrelaçando em nós. Fizemos com que cada vivência se tornasse uma ponta da corda, um pedaço da fita e fomos prendendo em volta do nosso amor. Com o tempo percebi que quanto mais nós acrescentamos na trama mais se torna difícil de desmancha-los. Os anos vão os tornando eternos, assim como a quantidade aumenta a possibilidade de no fim os emaranhados se tornem bonitos, obras de arte.

Somos Nós.

Eternos.

Pensando dessa maneira, talvez meu adeus possa se transformar em um até logo.

Mas antes disso, quero te pedi algo. Limpe o rosto. Seque as lágrimas, erga-se. Por fim...

Sorri para mim.

Me deixe ter a certeza de que ainda somos felizes, juntos.

 

Até logo, amor da minha vida.

 

Ronald Weasley.

 

Ps. Meu emocional de colher de chá evoluiu para uma bacia, eu te culpo por isso.

 

O final da carta me faz sorrir. Quando disse isso ele era tão jovem, nós rimos naquele momento.

― Estou sorrindo. – Falo para ele. Mesmo que queria chorar. Mesmo que as lágrimas se misturem com os risos.

Dizer adeus é difícil. Mas dizer até logo é como um acalento me dizendo que em breve voltaremos a nos encontrar.

Sorri pra mim...


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado, foi difícil finalizar essa história pois estamos apegadas a essa dinâmica e a essa família, por isso mesmo queremos divulgar o DEZEMBRO ROMIONE, onde teremos um mês inteiro com esses dois maravilhosos, para mais informações o link: https://twitter.com/dezembromione

Então é isso, obrigada e até a próxima.

PS: Temos um capítulo extra, corram lá.



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