Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 15
Um Dia Bom. Um Dia Besta.


Notas iniciais do capítulo

Ola Leitoras (es) lindas (os) dessa história que gostamos tanto de compartilhar com vocês! Queremos agradecer por continuarem conosco mesmo que tenhamos mudado o ritmo de postagens. Temos semanas mais fáceis e semanas mais difíceis o que influência em nossa escrita.
Mas para tentar relaxar e tirar sorrisos dos rostos de vocês estamos postando esse capítulo que o título já diz muito sobre ele.
Espero que gostem e desejamos uma boa leitura.



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Vem ver, amor
O dia que se levantou pra gente

Seus olhos estavam completamente vidrados. Eles andavam de mãos dadas como se tivessem minha idade e não conseguissem se separar por um segundo. Nem mesmo eu com meu humor questionável conseguia ficar alheia a todas aquelas luzes e pessoas. Mas ele parecia ter encontrado um lugar mágico, como se nós não conhecêssemos a magia.

Já tinha escutado sobre como aquele era um lugar para artistas, que os artistas se encontravam. De fato ele era nossa artista. Hugo carregava pelo menos três tipos de máquinas fotográficas que eu não fazia ideia do para que serviam e porque ele precisava de todas. Mas ele precisava.

― Não posso desenhar. Levaria tempo demais. – Ele suspirou entristecido. - Não vou conseguir guardar tudo em minha mente, minha memória é boa mas os detalhes se perdem. Com as fotos posso lembrar, posso escolher ângulos.

Então aproveitou minha careta e clicou algumas vezes apenas para me irritar.

― A câmera te ama maninha.

Eu empurrei ele para longe, não gostava tanto de fotos assim, mas Hugo vivia dizendo o quanto a câmera me amava, então acabava tendo muitas fotos espontâneas que ele tirava sem que eu nem percebesse.

Meus pais relembravam uma viagem de antes de nós.  Paravam para sorrir e ficar abraçados apreciando o nada. Era um dia tão iluminado. Um dia bom.

Comemos comidas de rua, entramos em lojas que tinham todos os tipos de roupas, demos moedas a artistas de rua, escutamos músicas diferentes. Ali, naquela cidade e em um país diferente parecia que nada poderia nos tocar, que éramos sempre a família feliz.

Entre todos os meus pensamentos confusos. Entre todos os sentimentos se misturando dentro de mim e com a saudade sendo controlada. Eu conseguia finalmente aproveitar o momento.

Tínhamos visitado a escola de bruxaria, o ministério, todos os eventos importantes que a Ministra não poderia escapar. Mas agora olhando para minha mãe ela não parecia nem mãe e nem ministra, parecia apenas uma mulher apaixonada aproveitando o amor de sua vida.

Puxei meu irmão para o lado, ele entendeu o recado e tirou várias fotos deles. De Ronald e Hermione. De longe a melhor viagem de férias.

Nova York tinha todos os tipos de pessoas. Mulheres gordas, magras, negras, laranjas o que era um pouco esquisito. Eu não me sentia incomodada. As lojas tinham todos os tamanhos de roupas, era um mundo diferente.

― Quero morar aqui. – Escutei meu irmão falando. – Isso aqui vibra vida.

Vibrava mesmo. Vida. Arte. Luz.

― Quem sabe um dia. – o abracei – Combina com você.

Ele não entendeu. Hugo era discreto e observador. Não se envolvia. Mas quem olhava de fora sabia que ele vibrava tanto quanto aquela cidade.

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Não se assuste
Se eu exagerar e imaginar uma imensidão de planos

 

Ela pega um pedaço de pano e amarra em seus cabelos os prendendo para cima, pega um velho avental, que ganhamos de casamento, amarra na cintura. Olha para mim sorrindo, seus olhos brilham e parece que volta a ter dezesseis anos. A luz do sol que irradia da janela banha seu rosto fazendo-a brilhar.

― Vou fazer lamber os dedos de tão deliciosa que minha comida ficará.

Ela me deu uma piscadela e pegou uma faca começando a descascar uma cebola.

Ela havia feito uma aposta consigo mesma dizendo que sabia cozinhar. Não o tipo de cozinhar fácil no modo bruxo, mas cozinhar de verdade a moda trouxa.

Hermione era ótima em várias coisas, fazia leituras muito rápido, decorava coisas muito difíceis, ganhava dinheiro fácil com sua profissão, parecia ter um sexto sentido em relação aos filhos. Mas era péssima em preparar comida. A moda bruxa, quero dizer. Na maioria das vezes deixava que eu me virasse sozinho e me auxiliava quando estava preparando alguma refeição. Ela preferia que eu cozinhasse e eu gostava. Mas naquela manhã havíamos discutido, e joguei na cara dela que ela não sabia fazer sequer um almoço sem magia. Foi a deixa para ela se desafiar e provar a mim que era boa em qualquer tipo de coisa.

Reparei em seu rosto compenetrado lendo uma receita, olhos apertados, palavras inaudíveis sendo lidas, dedos passando por toda extensão do livro de receita. Vi ela segurar a faca e começar a picar a cebola em cubos pequenos. Em poucos segundos estava chorando por causa da planta e seu líquido ardido. Ela se esforçou e conseguiu fazer um molho vermelho, e montou uma lasanha numa travessa. Acendeu o forno e colocou nosso almoço.

Virou para mim depois de duas horas lutando contra facas e fogo e apontou o dedo em meu rosto.

― Quem é que não sabe cozinhar sem magia?

Estava linda, seu avental uma mistura de molho de tomate e temperos, seu cabelo se desprendendo de seu laço no alto, sua boca suja nos cantos de provar até segundos atrás se o tempero estava bom. Sorri não resistindo a mulher de mais de quarenta anos a minha frente, que parecia ter voltado a ser adolescente.

― Não provou nada para mim ainda, não experimentei. E devo dizer que sou formado por uma vida inteira de comidas de Molly Weasley. Tenho paladar exigente.

Ela se aproximou de mim e me beijou. Com desejo e paixão, como se ainda seus hormônios de adolescente estivessem vivos e trabalhando loucamente. E eu não resisti a ela, não conseguia me controlar quando estava perto dela. Era tão bom pensar que só eu conhecia esse seu lado. Ninguém imaginaria que por trás da Hermione certinha que só pensava em cumprir metas no trabalho, existisse essa Hermione, que me beijava como uma adolescente, que fazia meu corpo pulsar como corpo de um adolescente.

― Não... – ela se afastou de mim quando fiz menção de transformar os beijos em carícias mais íntimas. – Não posso deixar queimar minha lasanha.

Eu ri porque rir com ela era fácil. Arrumou o timer do relógio do forno. Fez discursos para eu prestar a atenção, pois ela precisava de um banho. “Cozinhar é uma ciência exaustiva” me disse antes de sair da cozinha.

Eu fiquei prestando atenção em todas as cores da cozinha bagunçada que ela havia deixado, panelas jogadas na pia, respingos de molho de tomate, um queijo deixado de lado. Resolvi limpar para ela, a moda trouxa. Resolvi abrir um vinho, e beber ouvindo música. O dia estava perfeito para um domingo. Só faltava as crianças que estavam em Hogwarts.

Não percebi quando o timer tocou. Estava cantarolando a música muito alto e depois de três taças de vinho não estava tão mais focado. Desta forma, não ouvi o timer, quando dei por mim uma fumaça preta subia do forno e chegava ao teto. Como moramos numa casa trouxa, num bairro trouxa, o sensor de incêndio foi acionado, um alarme ensurdecedor soou e um jato de água foi jogado na cozinha toda. Corro para desligar o forno e tirar a lasanha carbonizada de lá de dentro a tempo da Hermione aparecer na cozinha e me olhar preocupada.

Tenho certeza que vou receber gritos de como sou um completo inútil, ao não conseguir prestar atenção num simples forno. Mas ela não fica brava, começa a dar risada. Na certa, me viu todo ensopado e desesperado e achou isso engraçado. Ela não se importa com o alarme ensurdecedor e nem com a lasanha. Não se importa com a água caindo ainda do teto. Damos tanta risada que não ouvimos um caminhão de bombeiro chegando.

No fim, não consegui provar a lasanha dela, mas até hoje ela me garante que estava deliciosa, eu como um exemplar marido culpado digo que ela tem razão. E a melhor lasanha que já comi na minha vida nunca foi de fato provada por mim.

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Melhor deixar rolar, eu sei
Melhor não planejar, gostei
De ter o nosso dia

 

Natal em família. Se existe um dia melhor que esse eu ainda desconheço. Me aconcheguei na poltrona e fiquei assistindo a todo o caos. Sentindo o cheirinho de comida, escutando os barulhos, ignorando alguns familiares. E meu passatempo preferido, escutar conversas que ninguém mais escuta.

Minha irmã estava estranhamente radiante. O último ano dela trouxe algo de novo, pois apesar de todas as inseguranças ela tinha um sorriso constante e um jeito de olhar para os outros, o jeito de ainda não ter gritado com nossa mãe, como cantarolava músicas que somente nós dois conhecíamos. Como brincava com nossas primas. E estava usando verde, preto e prata. Uma combinação bem inusitada em comemorações natalinas ou qualquer outra.

Ela tinha preparada algo para nossa avó, sei disso porque pediu para que levasse minha câmera, que tirasse fotos, que ficasse preparado para encontrar o ângulo perfeito, não dela, mas de toda a família. Lily sentou-se no braço da poltrona e brincava com meus cabelos enquanto ria de alguma piada que eu tinha acabado de contar.

O movimento atrás de nós chamou minha atenção. O corredor apesar de pouco iluminado ainda dava para ver as pessoas, dava para ouvir a conversa se ficasse atento. Minha prima também percebeu, ficamos ambos muito interessados no que estava acontecendo.

― James é meu irmão babaca. – Lily suspirou cansada.

Me levantei para interromper, não iria deixar que as brincadeiras inocentes dele afetassem minha irmã justamente hoje. Em pleno natal, enquanto ela parecia a própria estrela no topo da árvore.

― Espera... – minha prima me segurou. – Ela consegue. Ela precisa. Veja como ela está. Confiante.

― Lily... Ela é tão frágil. – Disse, mas voltei a sentar. Apurei meus ouvidos.

― Ela é forte. Estuporou ele uma vez. – ela ria do irmão e me fazia sentir mais confiança.

Ficamos quietos escutando a conversa, eu ignorando minha vontade de interromper, de tirá-lo de perto de Rose. Percebendo que Lily estava certa.

Minha irmã estava mais forte do que nunca.

― Fiquei sabendo que você e a doninha certinha estão saindo. – Nosso primo falava impedindo minha irmã de sair.

― Está falando do Scorpius? – Ela perguntou mesmo sabendo a resposta.

― Imagina quando meu padrinho descobrir. – Ele começou a rir.

― Continua fofocando sobre os outros exatamente como em 2017. Já se passaram muitos anos e você não amadureceu nada. – Rose retrucou.

― Você continua a mesma garotinha. – Ele resmungou. – Tão esquisita e gor...

― Gorda. Eu sei que sou gorda. James, eu sou gorda e esquisita. – Minha irmã parecia tão poderosa. – Eu estou saindo com Scorpius, ele não se importa nenhum um pouco com essas características.

― Um Malfoy. Isso foi a pior traição...

― Um Malfoy, que é inteligente e muito bonito. Educado. – Mesmo sem poder ver os olhos de minha irmã tenho certeza que sorriam.

― Você não entende nada. – James não conseguia brincar quando a própria pessoa já colocava os supostos defeitos na mesa.

― Entendo. Sou gorda. Sou esquisita. Sou feia. Uma baleia de vestido. Horrorosa. Que namora um Malfoy. Meu Merlim, eu namoro um Malfoy. – Escuto sua risada. Sua felicidade. - Eu entendo tudo e pela primeira vez estou feliz com isso.

Vejo quando ela passa por mim e Lily. Beija meu rosto e vai para a cozinha enquanto cantarola junto com nossa avó.

James senta-se emburrado no sofá. Certamente frustrado por não ter ninguém para implicar, fazer piadas.

― Se não soubesse seu gosto para garotas, diria que estava fazendo uma cena de ciúmes querido irmão. – Lily começou a gargalhar.

Enquanto eu sorria, meu pensamento gritava o quanto aquele dia estava sendo surpreendente bom. E toda a alegria de Rose contagiava a casa inteira.

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Um dia bom, um dia besta
Desses em que a gente deixa tudo pra depois
Um dia bom, um dia besta
Protagonizado por nós dois

 

Eu sempre achei que o maior amor que poderia sentir eu já sentia por ele. Seus olhos brilhantes me olhando, seu sorriso encantador que entregava a mim, era diferente dos outros sorrisos, seu jeito de falar comigo, me provocando, me irritando, me elogiando, me alegrando, me completando. Era um amor que sempre vi em meus pais, e desejava ter para mim. Quando o beijei, sem pensar, sem imaginar as consequências, e ele retribuiu, tão mais apaixonado e com vontade, me senti a pessoa mais feliz do mundo, mesmo no meio da guerra, mesmo sem saber onde íamos pisar. Aquele momento de felicidade em meio ao caos era tudo o que precisava para ser feliz. E então vieram os dias seguintes, regados de tristezas, lutos, recomeços, novos beijos, novos carinhos, novas cumplicidades, e novas maneiras de brigar. Fomos construindo nosso relacionamento aos poucos e ele foi crescendo cada vez mais.

Nunca achei que pudesse o amar mais. Mas então eu descobri que estava grávida e contei pra ele no meio de um briga corriqueira, não me lembro o motivo, sei que gritávamos um com o outro, palavras duras, as paredes pareciam tremer. Eu tinha planejado lhe contar, lhe fazer uma surpresa, talvez lhe entregar uma caixa de presente e ele abrir ter um sapatinho, comprar um porta retrato novo com três divisões, uma foto minha outra dele e outra escrito “daqui nove meses”, ou quem sabe um biscoito da sorte personalizado com a frase “você vai ser papai”. Eu tinha ideias. Muitas ideias. Todas com certeza o fariam chorar de emoção. Eu imaginava que seria assim, mas ele sempre estraga meus planos. Foi no meio de uma frase gritada que anunciei.

― Estou grávida!!!

Ele parou, esbugalhou seus olhos, começou me analisar olhou minha barriga, se ajoelhou e me abraçou pela cintura. Começou a beija-la e dizer “obrigado”. Eu suspirei e tentei controlar lágrimas que já estavam caindo de meu rosto completamente emocionada com sua atitude.

Nunca achei que pudesse o amar mais, não até perceber o pai maravilhoso que ele era no primeiro dia que disse que estava grávida.

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Feche os olhos, amor
Espere a vida mostrar o que sente
A gente pode fazer mais de um milhão de coisas

 

Eu gostava de ficar olhando para ela, na cozinha com suas panelas, os cabelos lentamente perdendo as cores. As rugas tomando conta de seus olhos, seu sorriso acolhedor. Sem julgamentos. Uma mulher doce, maternal e ao mesmo tempo tão forte. Conseguia se impor, controlar, não deixar nada sair de sua percepção apurada.

Como deve ter sido difícil controlar sete filhos e se despedir de cada um deles, um dia ter a casa cheia e no dia seguinte completamente vazia. E no outro novamente amarrotada de gente. Filhos, amigos dos filhos, esposas e marido, netos, amigos dos netos. Tantas pessoas passando por ali, olhando suas coisas, comendo sua comida, ganhando seus abraços.

Toda vez que tentavam me diminuir por me parecer com ela era um misto de raiva. Raiva por eles acharem que ela era pouco. Raiva porque para chegar ao que ela é eu precisaria ser muito melhor do que sou.

Ali, com o avental amarrado, com as colheres dançando em sua volta, sua música tocando e enchendo todo o ambiente. Seus cabelos soltando de uma amarração frouxa, os lábios se movimentando conversando com os objetos, talvez sozinha. Tudo que eu sentia era orgulho dela. E de ser o mínimo que fosse parecida com ela.

― Vovó... – eu a chamo e faço com que se assuste. Mas seu sorriso logo volta a aparecer.

― Querida, está muito tempo por ai? – Ela me abraça. Tem cheiro de abóbora, canela e cravo.

― Não muito, tenho uma surpresa. – Seguro sua mão e tento a tirar da cozinha.

― E minhas panelas? – Ela questiona. – Temos muitas bocas hoje.

 ― Eu cuido disso. – Começo a rir. – Na verdade meu pai cuida disso.

― Minhas panelas não são muito amigáveis com Ronald. – ela começa a rir.

― Ele prometeu que vai se comportar.

Consigo convencê-la. Subimos a escada e em seu quarto encontramos uma sacola bonita.

Comprei um vestido para ela, um presente especial. Mesmo com os filhos e netos casados, formados, com bons trabalhos, Molly Weasley ainda gostava da simplicidade, seus vestidos continuavam no mesmo estilo. O vestido escolhido era vermelho queimado, terminava no final da panturrilha, combinava com a sapatilha que estava na caixa ao lado.

Vi seus olhos marejados, a emoção controlada. Fiquei orgulhosa e feliz. Por ela, por todos nós que tínhamos a sorte de tê-la em nossas vidas.

― Hoje a senhora será a convidada de honra. – Sorri animada.

― Querida, é muito bonito. – Ela colocou o vestido de frente ao corpo. Girou como uma menina. – Mas não tenho certeza, convidada de honra?

― Por favor. – implorei como uma boa neta. – Por mim. – Usei a chantagem que sabia que funcionava.

Ela sorriu. Aceitou.

Deixei que tomasse banho, fiz toda a família arrumar a mesa, terminar a comida, ficar a postos para recebê-la. Estava parecendo minha mãe no modo mandona. Mas não me importava, ela estava no quarto ajudando vovó com os cabelos. Hermione era boa com penteados.

Quando finalmente elas desceram todos estavam prontos. Vovó estava linda. Com seu vestido vermelho, com os cabelos sedosos, com os olhos brilhantes, tomando todos os sorrisos para ela.

Seus filhos a receberam no fim da escada. Vovô Weasley colocou sua música para tocar. Dançaram na sala. Hugo tirou algumas fotos. Ficamos admirando aquele casal que tinha tanta história em suas vidas. Que poderiam dançar sem de fato tocar o chão, como se estivessem nas nuvens.

― Estou orgulhoso de você. – Papai me abraçou e beijou minha testa.

― Estamos querida. – Mamãe sorria e enxugava as lágrimas.

Confesso que eu também estava. Dias bons são feitos de detalhes. Reparar nos detalhes fazem a diferença. Dar chance a eles fazem de qualquer dia, um excelente momento. Lembranças eternas e sorrisos etéreos.

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Um dia bom, um dia besta
Desses em que a gente deixa tudo pra depois

 

Estamos no salão comunal. Sentados perto da lareira. Vejo em seus rostos a felicidade, é um dos poucos momentos em que estamos relaxados. Em que estamos rindo por motivos bobos.

Harry tinha nos contado que Cho chorou depois do beijo. Que não entendia o que estava acontecendo. Eu rolei meus olhos pensando como os garotos eram todos uns completos idiotas, principalmente os garotos que andavam comigo.

Quando ele riu e perguntou se nosso melhor amigo beijava tão mal assim tive que corrigi-lo. Não existe essa de beijar mal ou bem, mas têm muito a ver com os sentimentos. Ela tinha acabado de perder alguém especial, estávamos vivendo uma loucura. Todos com medo. Aquela mulher horrorosa fazendo com que vivêssemos uma ditadura. E ainda tinha toda a pressão de Harry ser famoso, chamar atenção. Isso é complicado.

Nossa conversa era uma conversa comum. Conversa de adolescentes, o tipo de conversa que eu tinha com colegas trouxas, o tipo de conversa que precisávamos naquele momento. Rimos. Rimos juntos.

Não importava que o mundo estava desmoronando. Naquele momento éramos apenas nós três. Melhores amigos. Conversando sobre namoros. Sem brigas ou gritos. Eu olhava para ele. Rony tinha um sorriso contagiante, foi culpa dele. Ele começou com o sorriso e a risada. Ele começou e nós acompanhamos. Ele sempre foi nosso elo, aquele que fazia com que fôssemos um trio.

Queria beijar aquele sorriso. Não era o momento. Estávamos bem. Éramos amigos. Aquele era um bom dia, um bom momento. Para levar nas lembranças.

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Um dia bom, um dia besta
Protagonizado por nós dois

 

Um dia começava bom quando ela resolvia cozinhar, amarrava os cabelos coloridos no alto, colocava um avental, virava-se para mim sorrindo, me lançava uma piscadela e dizia que ia me surpreender. Ela sempre me surpreendia, sua comida era deliciosa, suas mãos delicadas fazendo tudo sem magia, cozinhar era uma ciência fácil para ela. Naquela manhã em especial ela me mostrou algo novo. Um pão chamado pão de queijo, que ela havia visto a receita num canal no YouTube e quis testar, aprovei na hora. Melhor pão para se comer com café. Mas eu não sabia que essa receita especial vinha com uma novidade.

― Vou visitar minha mãe hoje. Você poderia ir comigo.

Me disse como se não fosse nada. Nunca tinha conhecido sua mãe, e estávamos juntos há mais de um ano. Sabia pouca coisa a respeito dela, sua história triste de vida e que agora morava com os pais no interior.

Fomos de carro, ela dirigia alegre e cantarolava minhas músicas no nosso carro. Eu amava vê-la feliz dessa maneira, era algo diferente e reconfortante. Estava com receio do encontro com sua mãe.

― Vai contar a ela que sou bruxo?

― Ela já sabe...

Respondeu como se não fosse nada, tamborilava os dedos no volante e sorria. Fiquei mais ansioso.

Chegamos a casa num subúrbio na cidade que sua mãe morava agora, seus avós eram como os meus, cabelos brancos, calorosos, sorridentes. E eu amava conversar com idosos, e com eles, não foi diferente. Conversamos sobre passado, presente e um futuro imaginado, me perguntaram como era meu mundo e narrei algumas coisas, expliquei que não podia fazer magia na frente deles diante da lei que tínhamos no mundo da magia. Já havia me metido em encrencas quando fiz isso com Íris. Eles acreditaram em tudo o que disse.

A mãe dela parecia com ela. Cabelos negros (imaginava a cor dos cabelos de Íris assim), sobrancelhas desenhadas, mas cheias, olhos escuros e grandes, um rosto cheio de micro machucados visíveis, fiquei imaginando se ela teria mais cicatrizes em diversas outras partes do corpo, ou se só tivesse na alma. Ela sorria quando me olhava de perto, acariciava meus cabelos, passava os dedos por meu rosto, querendo entender se eu era real, talvez? Se era real o fato da filha ter encontrado um homem real, não um estuprador ou agressor. Ela quase não falava. Dizia poucas palavras e bem baixas. Conversava na maioria das vezes com a filha.

O dia passou bem tranquilo e agradável e quando demos conta já estava escurecendo e ela me pediu para dirigir a volta. Estava pensativa, olhando a paisagem, foi quando percebi com o canto dos olhos uma lágrima descendo de seu rosto e um sorriso aparecendo nos lábios.

Eu queria perguntar como ela estava e o motivo de seu choro com sorriso, mas não gostava de forçar e sei que ela falaria se assim achasse necessário. E foi o que ela fez, minutos depois.

― Minha mãe me contou que ele morreu.

Ela não precisava me dizer mais nada. Entendi seu choro de alívio naquele desabafo e seu suspiro que se seguiu assim que ela me abraçou e me beijou no rosto só confirmou que as coisas estavam indo muito bem, que aquele dia estava perfeito. Que no fim, tudo acabava bem.

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E eu só quero uma vida de fazer nada com você
De dar a mão e de deitar e se olhar
E se perder

 

Estamos sentados na grama. Eu tentando segurar o sorriso e falhando miseravelmente. Porque estava realmente muito feliz. Não me importava com mais nada naquele momento. O sol estava começando a se despedir deixando aquela pintura no céu que mistura azul, rosa, laranja, roxo. Tantas cores por breves minutos. Não dura muito. O tempo suficiente para aqueles que estão prestando atenção.

Eu tinha beijado ele. Não conseguia mais evitar. Era tudo ou nada. E quando ele me beijou de volta foi tudo. Tudo que fiquei pensando durante as férias, depois daquele toque nos lábios. Não conseguiria esperar mais tempo.

― O que está pensando? – seus dedos brincavam em minha mão, desenhando minhas linhas todas.

― Que sou maluca. – confesso.

― Por que? – Ele me encara com intensidade.

― Por ter te beijado. Na frente de Albus, de Hagrid, no meio da sua história. – sinto meu rosto esquentar, minhas orelhas queimarem.

― Foi romântico. – Ele diz tocando meu rosto. – foi intenso.

― Foi uma loucura. – Digo ainda mais envergonhada.

― Pensei nisso durante as férias inteiras. Depois daquela despedida. – Ele fala coçando a cabeça.

― Pensou?

― O tempo inteiro. Certamente sou aquele que pensa e você é aquela que age.

Meu sorriso escapa novamente. Pela vigésima vez. Scorpius sorri de volta.

― Somos uma bela dupla.

E me beija de novo.

No começo eu estava contando. Mas nessa altura do dia eu já tinha perdido as contas de quantos beijos. O importante era o que cada um deles fazia comigo. Me enchiam de energia. De certezas. De felicidade. E não queria fazer mais nada. Apenas ficar o beijando pelo resto da vida.

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Um dia bom, um dia besta
Desses em que a gente deixa tudo pra depois
Um dia bom, um dia besta

 

Eu estava cansado. Tinha um trabalho que não me deixava feliz, Harry sim, gostava do que fazia, coordenava os aurores, perfeitamente, mas eu não via prazer naquilo. O pior, estava ficando doente. Várias feridas pelo corpo, meu cabelo caindo, não conseguia mais ser o antigo Rony, Hermione vivia me dizendo isso, não estava mais descontraído só reclamava e me enfiava na comida. Eu comia demais. De fato, meus filhos estavam de férias da escola, e eu não aproveitava a presença deles. Brigava mais que o normal, exigia deles mais que o normal.

Depois de um turno duplo, em que ser sócio da loja de meu irmão de dia e parte da tarde e noite com plantão como auror, chego em casa às dez e me deparo com Rose, de treze anos e um Hugo de doze, na sala jogando xadrez. Logo me dou conta de um fato.

― A mãe de vocês não chegou?

Se existia uma pessoa que trabalhava muito mais tempo além que eu, era a Hermione.

― Apareceu na lareira às oito dizendo que ia atrasar pro jantar. – Rose respondeu entediada.

Hermione sempre foi obcecada por trabalho, mas esses exageros frequentes de atrasos estavam me deixando com um ciúmes cego. Inclusive briguei com ela na semana anterior, achando que ela estava me traindo. Isso me rendeu uma noite no sofá. Inspiro e expiro tentando me acalmar e não pensar besteira. Preciso fazer meu dia melhorar e as férias dos meus filhos não serem tão entediantes quanto o jogo de xadrez que duelavam.

― Tive uma ideia. Podemos fazer pizza.

Rose sorri aprovando a ideia. Hugo já pega seu celular e pesquisava uma receita. Começamos a preparar a massa, e numa súbita vontade de fazê-los rir e me distrair começamos uma guerra de farinha. Logo a cozinha está toda branca e nós também. Picamos os ingredientes e as onze nossa pizza estava no forno.

Fico reparando no riso de Rose, contando algo da noite, no sorriso tímido do Hugo aproveitando o momento mesmo não sendo tão transparente quanto a irmã. Agradeço pela família perfeita que tenho. Lembro de Hermione, que ainda não chegou. A pizza fica pronta, e logo espanto meus pensamentos errados. Quando estamos terminando de comer ela chega.

A cozinha ainda está toda bagunçada, louça até se perder de vista, farinha por todos os lados, molho de tomate por todo fogão. Queijo derretido caído na bancada em que comíamos. Esperei a explosão. Hugo e Rose pareciam esperar também. Tinham até os olhos fechados. Ela apontou o dedo para mim, mão na cintura. Estou preparado para a bronca.

― Deixaram um pedaço para mim?

Começamos a rir. Ela comeu e elogiou nossa pizza. Já era quase meia-noite. Conversamos sobre o dia das crianças, agora pré-adolescentes. Deixamos a cozinha bagunçada para trás. Esqueci meus pensamentos errados sobre ela. Quando fomos dormir. Ela me deu um beijo suave nos lábios e me agradeceu por ser um pai mais que presente e pediu desculpas pela milésima vez naquela semana por seu atraso.

― Eu te amo.

No final, meu dia se tornou ótimo é inesquecível depois das oito da noite.

 

Protagonizado por nós dois


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Notas finais do capítulo

Contem o que é um dia bom para vocês, aquele dia que deixamos tudo para depois. Gostamos de ler suas histórias e elas nos inspiram.
Até o Próximo!



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