Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 13
Refúgio


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras (es), tudo bem? Nós claramente nos empolgamos nesse capítulo. Foi extremamente gostoso colocar outros personagens narrando e ainda assim ter o foco todo nessa família que amamos tanto.
Espero que gostem, só posso desejar uma boa leitura.

PS: Gratidão por cada comentário, são tão lindos e emocionantes. Dão vida a essa história que tanto amamos escrever.



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Quando é difícil respirar
Quando é difícil descansar
Da insanidade, do perigo de crer
Do perigo de viver, eu me refugio

 

Nunca o vi usar tinta. Ele sempre usa técnica de carvão. Sempre desenha com lápis grafite. Sempre mexe com suas fotografias. Mas surpreendentemente, naquele dia, ele usava tinta. E eram as mais variadas cores. Jogadas numa tela de forma harmoniosa e ao mesmo tempo bagunçada. Eram pinceladas bruscas misturadas com pinceladas leves. Eram traços redondos, eram riscos desgovernados, eram traços medidos, eram riscos incertos. A tela inundada de cores. Ele sorriu quando percebeu que estava o observando. Quis saber o nome da tela.

― Cacos-íris.

Meu olho se encheu de lágrimas quando ouvi o que ele falou. Era tão eu. Era a primeira vez que ele usava tinta, era a primeira vez que ele usava uma nova técnica em sua arte. E era para mim. Corri e o abracei. Ele enfiou o nariz em meus cabelos bagunçados e coloridos. Suas mãos acariciavam minhas costas. Eu sabia, que naquele gesto ele permitia que eu entrasse em sua vida por completa. Eu sabia, que naquele gesto, ele deixava grandes dores de seu passado realmente no passado. Ele havia se libertado por mim e com minha ajuda.

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Dentro do teu olhar
No abraço quente
Que eu só posso encontrar

Não percebi quando nos tornamos um trio. Talvez quando fomos juntos enfrentar o Fofo. Talvez ainda na cabine de trem quando ela entrou e implicou com ele dizendo que estava com uma sujeira no nariz tão imperceptível que só ela repararia. Não percebi quando nos tornamos um trio. Talvez quando íamos juntos conversar com Hagrid, ou quando ela se preocupou e nos alertou sobre duelos a noite não serem uma boa ideia. Ou quando ele se machucou no xadrez gigante e ela se preocupou pela primeira vez com amizade e não com estudos ou respeitar as regras. Não lembro quando nos tornamos um trio.

Também não me lembro quando eles resolveram que virar uma dupla era o certo. Mas lembro dos detalhes que me entregavam. A implicância dela com o modo como ele fazia um feitiço de levitar. Quando ele enfrentou aranhas quando ela ficou petrificada. Quando lançou um feitiço errado no Malfoy quando ela foi ofendida com sangue-ruim. Ela o abraçando quando ele disse uma frase simples de que daria tudo certo no julgamento do Bicuço e que estávamos ao seu lado. Num baile de inverno com um boneco de jogador destruído. Num beijo na bochecha antes de um jogo de quadribol no qual ela nunca havia dado em mim naqueles anos todos que eu jogava. No eu te amo jogado ao vento como se não fosse nada antes de terminar com Lilá. Nas mãos constantemente entrelaçadas na caça as horcruxes, no choro agudo dela todas as noites quando ele partiu. Na confissão do medalhão que ele tinha ciúmes de mim. No fim, quando disse que ela era somente minha amiga. No beijo... primeiro beijo que presenciei e tive que separar com muito custo, já que a guerra continuava e não tínhamos tempo a perder. Eles tornaram-se uma dupla, sem minha necessidade por perto aos poucos.

Mesmo se assumindo uma dupla depois que todo pesadelo passou, percebi que ainda precisava do trio. Então construímos casas muito próximas, em um bairro trouxa porque “era bom as crianças terem experiências dos dois mundos” – dizia ela. Tive lágrimas em meus olhos quando se casaram, mais lágrimas quando aceitaram ser padrinhos de meu primeiro filho, mais lágrimas quando virei padrinho de Rose. Estavam lá quando me tornei chefe dos aurores, eu estava lá quando ele assinou sua demissão do departamento, estavam lá quando Gina foi nomeada redatora oficial da parte de esportes do profeta diário, estava lá quando Hermione foi eleita Ministra da magia. Pelo menos uma vez por semana nos reunimos para um jantar, contando as novidades da semana, apaziguando a angustia de todos os filhos estarem em Hogwarts. Éramos um trio, que nos detalhes decidiu virar dupla, que no fim formávamos um quarteto.

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teu olhar que me acalma sempre
E me salva de mim

 

Ela chama atenção. De alguma forma ela consegue fazer com que meus olhos a sigam mesmo sem muito esforço, ainda na plataforma de embarque, ainda que olhar meninas não fosse meu passatempo preferido naquela época, mesmo assim ela chamou minha atenção. Culpo aqueles cabelos. Os cabelos tão laranjas quanto o sol no final da tarde, mas que as vezes ficava vermelho como bala de goma, dependendo da sombra que projetava sobre eles. Culpo aquele rosto. Que mesmo de longe parecia estranhamente salpicado de pontinhos. Como o céu. O céu que minha mãe tanto gostava de olhar, que decorava nomes das estrelas, constelações. Culpo seu corpo. Ocupando espaços que outros corpos não ocupavam. Uma menina que não era nem de longe igual as outras meninas com quem eu convivia.

Quando ela teve a crise de ansiedade na aula de voo, eu estava a olhando, estava atento o bastante para perceber. Para reconhecer os sinais. Seus olhos azuis transmitiam tanto desespero ao me encarar, ela parecia tão frágil quanto meu pai, como se mesmo com a mesma idade que eu conhecesse muito mais da vida, como se já tivesse se quebrado de alguma maneira.

E se antes disso meus olhos tinham resolvido acompanha-la, a partir daquele momento eu tive a certeza de que eles jamais deixariam de buscar por ela. Acredito que foi naquele momento que nos tornamos amigos de alguma maneira.

Quando ela foi levada para enfermaria, o garoto de cabelos escuros e olhar perdido correu até mim. Eu sabia quem era, todos comentavam o quanto Albus era parecido com o pai, de um jeito que os outros Potter não eram.

― Rose está bem? – Questionou sem se importar com os olhares dos outros.

― Ela vai ficar. – Falo porque sei exatamente que depois da crise as coisas voltam a melhorar. Com tempo, cuidado e pessoas que entendam tudo melhora. Ele entendia.

― Obrigado. Por ajudar minha prima.

Rose chama atenção, mesmo quando tenta passar despercebida.

― Não foi nada. Sou Scorpius. – me apresento formalmente como meu pai me ensinou. Estico a mão. Espero seu movimento.

― Eu sei. Sou Albus. – Ele aperta minha mão. Estreitamos um laço. – Depois da aula podemos ver Rose juntos.

E eu fico grato. Ver a garota dos cabelos armados e faces estrelares era o que eu queria. Mesmos aos 11 anos, sem saber ao certo o que era aquela necessidade de olha-la eu queria continuar olhando para ela. Saber se estava bem. Se conseguia se recuperar como meu pai. Se era uma metamorfose como ele. Dias bons. Dias ruins.

E mais do que tudo queria ter a certeza que ajudei do jeito certo.

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Quando a certeza duvidar
Quando a luz não clarear

Ela estava lá quando eu parti. Cheia de erros e imperfeições, cheia de lacunas a se completar, cheia de cacos que precisavam de conserto. E ele amava cura-la. Gostava da dor, gostava de procurar um jeito de transformar a dor em sorrisos e em passado. Ele sempre fez isso comigo. Não sabia que sentiria essa falta quando ele partisse da minha vida. Não sabia que seria sufocante, me desse falta de ar, como se não conseguisse respirar sem ele. Eu parti. Fui para longe. Não queria estar aqui para assistir. Me permiti amar outros, todos passageiros e cheios de defeitos, ninguém era como ele, nenhum me entendia, me completava, me curava, me alimentava de esperanças e sonhos. Eu tinha sucesso, dinheiro e tudo o que queria em minhas mãos, mas não tinha o amor. Um amor que só sentia quando estava perto dele. Foi por isso que pedi para ele me buscar no aeroporto, por isso pedi para tomarmos um café, eu precisava dele, precisava voltar a respirar. Mas ele estava diferente. Mais seguro de si, não parecia confortável com minha presença, não parecia precisar de mim como eu precisava dele. Era ela a responsável por sua mudança. Seu arco-íris com o pote de ouro. Ele havia percebido que o arco-íris era melhor que a lua inteira e cheio de buracos. Eu ia chorar. Corri para o banheiro. Me deixei chorar. Precisava esconder minhas lágrimas, precisava não me sufocar na frente dele. Tentei disfarçar minhas lágrimas, ele me olhava parecendo saber de meu disfarce. Implorei sua atenção, implorei seu amor. Ele me alertou que sempre esteve ali.

― É tarde demais. – eu disse me dando conta que ele não voltaria a ser inteiro meu.

― Já faz muito tempo... – me afirmou que havia se libertado de mim fazia vários anos.

Me levantei e comecei a andar para longe dele, queria que ele me seguisse, queria que ele pegasse minha mão e me puxasse, me abraçasse, queria que ele corresse atrás de mim, como sempre fez. Mas ele não fez nada disso. Continuei a andar muito rápido, para longe dele, longe de um passado, longe da minha fonte de ar e meu conforto eterno. Longe do único amor verdadeiro que tive em toda minha vida.

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Na hostilidade, na cegueira de crer
Na ausência de viver, eu me refugio

 

Coluna de fofocas Profeta diário.

PRIMEIRA MINISTRA E SUA VIDA NÃO TÃO PERFEITA ASSIM

Por Rita Skeeter.

Todos admiramos nossa primeira ministra da magia. Sempre almejando coisas, sempre as conseguindo. Uma vida melhor para os elfos, salários e benefícios de um trabalhador comum, consegue sempre mudar algumas leis retrógradas e sempre ajuda pessoas que precisam, principalmente os nascidos trouxas igual ela. Mas observando um dia na vida de trabalho dela, percebi que seu mundo particular não é tão próspero e correto como sua profissão.

Sua filha a odeia. Deixou isso bem claro quando a visitou em sua sala enquanto eu, coincidentemente passava ao lado, a chamou de preconceituosa e gritou em alto e bom som que não a deixava viver. Que não queria o trabalho que a mãe havia arranjado para ela. Que queria se libertar, como um elfo.

É de se surpreender que uma mulher tão defensora dos fracos e oprimidos, oprima justamente sua filha. O que de errado acontece nos bastidores de sua vida? Me lembro bem dela ainda na escola, chegamos a ter um diálogo bem opressor, ela me ameaçou e me colocou dentro de um vidro, não tentou dialogar e nem me ouvir. Posso entender melhor o lado da filha pensando nesse passado.

Mais uma vez no mundo se prova que as pessoas não são perfeitas, mesmo aquelas que tentam sempre fazer a diferença na vida dos outros, aquelas que nunca se atrasam para o trabalho e estão sempre pré dispostas a ouvir os fracos e oprimidos. Nossa primeira ministra e sua vida dupla tem muito a nos contar. Talvez um dia ela me permita escrever sua biografia.

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Dentro do teu olhar
No abraço quente
Que eu só posso encontrar
No teu olhar que me acalma sempre
E me salva de mim

 

Era o baile de inverno, estavam todos ansiosos, cada garota nova que descia as escadas parecia um grande evento a parte. Nós íamos em grupo. Albus não queria ir, Rose odiava vestido, eu preferia qualquer outra coisa, mas era uma tradição. Eu já estava pronto encostado o mais longe possível da escada, o mais longe possível das pessoas dos outros anos. Ser invisível era uma dádiva e infelizmente eu não a possuía, então tentava conquistá-la.

Quando ela desceu achei que estava linda. Com um vestido preto cheio de pontinhos brilhantes, com os cabelos amarrados e soltos ao mesmo tempo, nem sábia que isso era possível. Mas os olhos estavam vermelhos. Eu soube naquele momento que ela provavelmente havia chorado muito, o que explicava o motivo de quase nenhuma maquiagem, bem diferente das outras garotas.

Era meu momento de sair das sombras, me aproximar e esperarmos por Albus juntos. Dizendo coisas desagradáveis sobre o baile, inventando conversas de pessoas que estão longe e não podemos ouvir. Estava pronto para elogiar o vestido dela, ignorar as lágrimas.

― Priminha, o que é isso? Pegou um vestido emprestado da vovó? – Seu primo tinha tendências a comediante. Usando o termo “era só uma piada ou apenas uma brincadeira" para se livrar das consequências, para humilhar as pessoas com sorrisos.

Rose ficou lá parada. Controlando as lágrimas.

― Tenho certeza que ela usou algo parecido em 1980. – Ele ria. E as pessoas que estavam com ele também. - E esse ninho de ratos em sua cabeça? É para homenagear os bichinhos por não terem devorado o vestido?

Rose engolia. Ficou apenas parada escutando. Ela não era de escutar, normalmente saia andando, empurrava o idiota. Era como se quisesse ouvir aquelas palavras.

― Já sabemos como uma baleia ficaria usando vesti...

Certamente ele terminaria a palavra de meu punho não tivesse acertado seu nariz. Eu aguento tanta coisa. Aguento o peso de ser um Malfoy. Aguento os insultos. Aguento as piadas com meu pai. Aguento os feitiços que tingem meus cabelos. Aguento os apelidos. Mas não aguento ver aquela garota quase desmoronando enquanto eles riem.

Sinto a dor em meus nódulos. Sinto o cheiro de sangue. Talvez toda a raiva acumulada por todos os anos tenham sido canalizada no soco. Eu sei que quebrei seu nariz. Sei que estou encrencado.

― O que aconteceu? – Albus chegou.

― Desculpa, mas nada de Baile. – Falo me aproximando de Rose. – E você vem comigo.

Nos afastamos deles, andamos para um lugar vazio onde suas vozes não nos alcance. Sentamos no corredor, encostamos na parede. Ignoramos as roupas chiques e desconfortáveis.

― Scorpius, não deveria ter feito aquilo. – Ela finalmente conseguiu falar. – Você odeia arrumar confusão.

Eu odeio mesmo. Por isso sigo em enfrente, ignoro todos os babacas que podem existir em uma escola de bruxaria. E são muitos.

― Isso vai ser uma grande encrenca. – Seus olhos estão marejados. – E ele estava dizendo a verdade. Estou parecendo uma velha horrorosa.

― Na verdade ia te dizer que está linda. – Sinto um calor em meu rosto. – Seu cabelo principalmente.

Mas minhas palavras parecem piorar a situação porque as primeiras lágrimas caem.

Ela as limpa. Mas talvez o que ela precise seja derrubar todas as lágrimas para depois melhorar.

― Rose, pode chorar. – Minhas palavras parecem mágicas porque no segundo seguinte ela encosta em mim e começa a chorar compulsivamente.

Chorar é melhor do que a falta de ar. Chorar é melhor do que achar que está morrendo. Chorar é como uma limpeza interna, mandando embora toda a escuridão. Prefiro quando meu pai chora no lugar de se trancar no escuro. Prefiro quando ele chora no lugar de ouvir seus gritos de agonia. Lágrimas doem, mas tudo que limpa causa algo na superfície.

Enquanto seguro sua mão, escuto seu choro e sinto o seu cabelo em meu rosto penso no livro que ela me deu.

Um dia Rose estava lendo um livro diferente, tinha uns desenhos. Fiquei curioso e pedi emprestado. Era um livro trouxa. Ela disse que um clássico trouxa. Pessoas viajavam até a França atrás de exemplares.

Quando li o pequeno príncipe, pela primeira vez não entendi. Mas alguma coisa me fascinou. Pedi o livro emprestado mais cinco vezes até que depois de uma das férias ela apareceu com um presente. Um exemplar de bolso. Disse que agora era só meu e eu poderia carregar para onde quisesse. Eu reli. Ainda não compreendo tudo. Como alguém foi tão criativo. Mas nós somos parecidos. Eu e o garoto, o príncipe. Somos loiros. Estamos ligados as estrelas, temos uma rosa.

Em uma passagem o garoto coloca uma redoma de vidro na rosa para que ela não fosse atingida. Vendo o choro e a dor de Rose quase desejo protegê-la com uma redoma de vidro para que nada de mal chegue a tocá-la.

Ficamos em silêncio o resto da noite. No corredor escuro. Eu pensando em rosas, príncipes e estrelas. Rose chorando. Que bela dupla.

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E se a tempestade não avisar
E se eu me perder nas curvas

 

Tinha visto os pais deles crescerem. Tinha observado cada pequena confusão, cada mudança, passado pelas dores que eles sentiam ao longo dos anos. Agora fazia o mesmo com seus filhos, muito mais calmos, mas os tempos são outros. Infelizmente nem sempre existem mudanças. E naquela manhã depois de conversar com James Potter, chegou o momento de questionar Scorpius Malfoy.  Um Potter e um Malfoy arrumando confusão.  As memórias me atingiram em cheio. Olho para Dumbledore e ele sorri. Quero virá-lo para a parede, mas sei que não farei isso, na maior parte do tempo ele é util.

Parece que vejo o pai sentado em minha frente. Cabeça erguida, costas retas, um ar de arrogância e prepotência. Me forço a lembrar que são pessoas diferentes.

― Senhor Malfoy, qual é a sua versão do caso? – Cruzo as mãos embaixo do meu queixo e aguardo a explicação.

― Desculpe Diretora. – Uma desculpa me mostra certamente que não estou lidando com o pai. – Tem certeza que quer minha versão?

Respiro fundo. Não é o pai, mas ainda assim consegue ser um pouco irritante. Exatamente como tinha sido com o anterior. Eu só queria tomar chá e ter uma manhã tranquila.

― Claro. Pode falar senhor Malfoy.

― A senhora já andou por esses corredores? Escondida? Sem que ninguém soubesse? – Nego com a cabeça e ele continua. – Sorte sua. Porque andar todos os dias por esses corredores é uma experiência horrível. Mas eu não me importo. Eu aceito o que o sobrenome Malfoy carrega, eu aceito o que meu estilo pode sofrer, eu aceito que algumas pessoas se entretém através de brincadeiras. Evito conflitos. Quero notas boas e me formar com honras.

Compreendo tudo que ele me diz. Jovens podem ser cruéis. E muitas vezes ignoramos isso.

― Então por que agrediu fisicamente o senhor Potter?

― Diretora Mcgonagall, eu aguento o que fazem ou dizem para mim. Mas não o que disseram para ela. Rose teve uma crise de ansiedade na primeira aula de voo. Ela não precisa disso, ouvir o que eu escuto. Me desculpe. Eu aceito a punição.

Fico analisando aquele jovem. Muito novo para se preocupar dessa maneira. Para entender sobre ansiedade. Para se arriscar pela amiga.

― O senhor vai arrumar os livros na biblioteca na sexta após as aulas. Está dispensado.

― Obrigado.

Ele não questiona. Obedece. Mas fico pensando que talvez devesse olhar os corredores mais de perto. Verificar o que está acontecendo. Faz tempo que não me transformo.

― Sempre eles... Sempre Potter, Weasley, Malfoy...

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Só existe um lugar seguro
Só há um lugar pra onde voltar
E é dentro do teu olhar

 

― Gina me ajuda... – meu irmão me olhava apreensivo, estava precisando de ajuda e ele nunca me pedia ajuda. – Queria dar um perfume para a Hermione, de natal. – ele falava gaguejando e focou que o presente ela de natal de uma maneira não muito segura.

― Você quer que eu ajude a encontrar o melhor cheiro? – perguntei erguendo minhas sobrancelhas, ele corou nas orelhas.

― É... Um que não seja muito forte, nem tão enjoativo, um que... Um que... – ele gaguejava demais. Estava ansioso demais.

― Um que seja perfeito. – completei sorrindo e não aguentei e o abracei. – Finalmente está fazendo algo certo.

― O que? Só estou te pedindo ajuda pra comprar um perfume. – ele se esquivou de meu abraço. Agora não só sua orelha, mas todo seu rosto estava vermelho.

E eu me fingi de desentendida, ele não ia assumir que gostava dela, talvez nem ele mesmo ainda sabia que gostava dela. O ajudei a encontrar o perfume perfeito, não era muito forte, nem muito enjoativo, e era perfeito para ela. Ele gastou muito de sua mesada ao pagar ao vendedor, sei que foram várias meses de economias para esse momento. Estava curiosa para ver a reação dela ao abrir o presente na manhã de natal. Por sorte, naquele ano ela resolveu passar o natal com a gente, meu pai tinha quase morrido por uma cobra.

― Tive que inventar uma desculpa convincente aos meus pais para não precisar ir patinar com eles. Não diga ao Ronald. Disse a ele que ocorreu um imprevisto, por isso vim passar o natal aqui.

Eu pigarreio diante da confissão dela. Estava gravado na testa deles que eles se amavam, mas eram tão relutantes em assumir um para o outro esse amor. Na manhã de natal, no quarto que dividimos vi ela abrir seus presentes. Um a um, lia os bilhetes e sorria diante dos presentes, eu sabia qual era o pacote do meu irmão. Era uma sacola preta elegante, de uma loja. Ela parecia ignorar a sacola. Passou por todos os outros presentes antes de chegar naquele.

Quando pegou a sacolinha, suspirou cansada e disse:

― Deve ser do Viktor...

― Do Viktor? – questionei intrigada de como ela tinha chegado a essa conclusão.

― Ele que tem mania de me dar presentes caros em sacolas caras. – ela suspirou cansada novamente, abriu o pacote totalmente desinteressada.

― É um perfume? – questionei como se não soubesse o conteúdo.

― É... – ela abriu a tampa e espirrou um pouco do líquido em seu pulso e o sentiu... Estava com os olhos fechados e parecia querer entender todas as nuances do perfume.

― Gostou? Eu ajudei a escolher. – não aguentei, tive que confessar, ela abriu os olhos e me olhou intrigada. Antes de perguntar qualquer coisa, lhe disse a verdade. – Ronald quis te dar.

― Rony? – disse tão baixa que quase não consegui entender sua fala. Ela abriu a sacola e tirou de lá um bilhete. Eu não sabia seu conteúdo, mas deve ter sido algo fofo e ao mesmo tempo a cara de meu irmão. Pois seus olhos ganharam um brilho diferente e suas bochechas ficaram completamente vermelhas.

― Quando vão assumir que estão loucamente apaixonados um pelo outro? – a provoque e ela pareceu ficar mais vermelha que antes.

― Não estou apaixonada pelo seu irmão... – ela tentou desviar do assunto.

― É claro que não... Assim como Voldemort não quer matar Harry. – uma analogia terrível, mas verdadeira. Ela pegou seu travesseiro e me lançou. Começamos a dar risadas. Tudo que garotas de nossa idade se permitiam fazer.

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No abraço quente que é o teu olhar
No teu olhar que me acalma sempre
E me salva de mim

 

Está concentrado, uma ruga enorme em sua testa, chega a escorrer suor em seu rosto, suas mãos sujas de carvão, tentando desenhar alguma coisa que não consigo identificar. Passo ao seu lado. Ele não parece notar minha presença, sento três mesas atrás dele e espero. Ele é ruivo, alto, magro, vejo sardas em sua nuca, vejo ombros largos e duros, ombros que não mostram paz, mas sim uma constante luta. Quero conhecê-lo. Assim que vejo ele levantar pergunto o preço do desenho. Ele tenta me explicar que não está a venda. Insisto. Ele tenta me entregar o desenho de graça. Peço seu telefone, ele escreve.

― Sou Íris. – me apresento com meu primeiro nome. Ele não parece sorrir com minha apresentação.

― Sou Hugo. – apesar de me dizer seu primeiro nome, prevejo que não será tão fácil de se abrir para mim. Mas sinto dentro de mim que quero conhecê-lo melhor.

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Dentro do teu olhar
No abraço quente
Que eu só posso encontrar
No teu olhar que me acalma sempre
E me salva de mim

 

Ela jogou o livro com toda força na mesa. Conseguia sentir a raiva em seus olhos, na careta em sua boca, na força que usou. Ela ignora minha reação e apenas parte para longe.

Me desculpo com a garota que estava ajudando, me despeço. Garanto que poderemos estudar outro dia. Ela tinha implorado para que ajudasse, eu não era o melhor aluno, mas não sou bom em dizer não quando vejo pessoas implorando.

Deixei a garota com o livro que tinha sido arremessado contra a mesa, com os cadernos e penas. E sai andando pelas prateleiras até achar a certa.

Ninguém visitava aquela parte da biblioteca, era empoeirada, escura, tinha cheiro de antigo. Qualquer pessoa com rinite alérgica sofreria muito só de passar por ali. Por sorte nenhum de nós precisávamos nos preocupar.

Seus olhos estavam vermelhos. Ultimamente ela vivia chorando pelos cantos. Tendo rompantes de raiva, parecia a ponto de explodir e de gritar. Mas no final eram apenas lágrimas e mais lágrimas.

Não sei o que fiz de errado. Porque ultimamente parece que sempre erro, sempre faço algo sem perceber e acabo sendo o culpado por suas lágrimas. Fico sentado ao seu lado. Novamente no escuro. Novamente sentindo sua cabeça em meus ombros. Novamente escutando seu choro.

― Desculpa. – Falo mesmo sem saber pelo que me desculpo.

― Não me pede desculpa. – ela me soca no braço. – Não é culpa sua. É minha. Eu deveria me desculpar.

Vejo seus cílios ruivos com gotinhas de lágrimas na ponta, vejo seus olhos azuis mais brilhantes do que o normal por causa das mesmas lágrimas. Suas bochechas vermelhas. Seus lábios tão vermelhos quanto. Toco seu rosto e seus olhos se fecham. Ela suspira.

― Me desculpa. – Sua voz e falhada.

Então eu a abraço. Puxo ela para junto de mim. Aperto seu corpo contra o meu. E deixo minha cabeça descansar em cima da dela. Abraço com toda força. Sei que ela vai chorar mais um pouco, mas a segurando em meus braços sinto que estou a protegendo de alguma forma.

― Tudo bem. Rose, tudo bem. – Falo em seus ouvidos.

Porque afinal apesar das lagrimas e de não fazer a menor ideia do que possa ter acontecido, estamos juntos. E quando estamos assim é sinal de que está tudo bem.

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Quando a certeza duvidar
Quando a luz não clarear
Na hostilidade, na cegueira de crer
Na ausência de viver, eu me refugio

 

Ele me ensinou a gostar do mundo dos trouxas, e eu aprendi a apreciar a tecnologia deles, um smartphone que dava para ver o que acontecia no mundo em tempo real e minha profissão exigia isso. Mas ainda não estava acostumada a ter uma conversa com ele como amigos. Antigamente parecia difícil viver um dia sem ele, hoje não me lembro mais como era meus dias com ele. Desta forma, estranhei quando meu celular tocou e seu nome apareceu.

― Alô. – atendi no primeiro toque, não queria que ele se arrependesse de me ligar.

Escutei soluços de choros do outro lado da linha. Meu coração se apertou. Algo havia acontecido.

― Hugo, onde você está?

Meu tio tinha acabado de morrer. Aparatei para o Sant Mungus na hora que ele disse onde estava. Parecia acabado quando vi seus olhos vermelhos, seus ombros baixos. Rose tinha desmaiado, não estava bem, minha tia Hermione estava muda num canto olhando o nada, na certa pensando em como avisar a família, já que ninguém sabia do que tinha ocorrido. Scorpius estava do lado da mulher cuidando dela. Havia sobrado para Íris tomar as providências de ir atrás das coisas do velório. Eu não queria chegar perto deles, desta forma, esperei que Hugo me alcançasse.

― Vem comigo? – apenas concordei com a cabeça. Teria tempo para cumprimentar a todos mais tarde.

Começamos a sair do prédio e vi meu pai entrar correndo, na certa ficou sabendo do ocorrido. Não deixei de virar o rosto para ver ele abraçar minha tia Hermione e ambos começarem a chorar tão forte, aos soluços, uma dor tão aguda e lancinante. Minha mãe, a parente de sangue de meu tio, deixou que ambos chorassem abraçados, apenas escorou-se em uma parede, de  seu rosto descia lágrimas silenciosas. O retrato da tristeza passando diante de meus olhos. Parei de olhar a cena ao longe quando Hugo me puxou pela mão. Precisava cuidar dele primeiro.

Ele pegou seu carro e começou a dirigir. Eu não consegui falar nada, observava-o de lado, tentando entender o que se passava dentro de si. Ainda não havíamos conversado sobre. Não sabia se era permitido falar sobre.

― Você lembra daqui? – ele me perguntou quando estacionou o carro.

Olhei para frente e vi onde estávamos. Era um estacionamento velho, grande e abandonado. Quando Hugo aprendeu a dirigir ele me levou para nossa primeira aventura de carro, assistir um filme num cinema drive-in. Eu amei aquele dia, curtimos músicas no rádio, ele dirigiu por mais de uma hora, passamos num fast food, compramos batata e hambúrguer e viemos assistir nosso primeiro e único filme nesse cinema.

― Viemos assistir “Efeito borboleta” – ele disse. – Lembro de você ficar tão envolvida com a história do filme.

― Aquele filme me fez procurar a música daquela banda trouxa que me apaixonei... Oasis...

― Oasis. – ele disse ao mesmo tempo que eu. – Mas eu lembro que o refletor travou no final do filme e nunca descobrimos se ele conseguiu...

― Se ele conseguiu ficar feliz no final. – completei sorrindo lembrando-me da minha perfeita adolescência ao seu lado.

Hugo não sorriu. Percebi uma lágrima escorrer de seus olhos. Levantei minha mão e passei em sua bochecha tentando lhe mostrar algum conforto.

― Sinto que hoje é como aquele dia. O filme da minha vida de repente interrompido e eu sem saber o final de tudo. Sinto que estou na parte do clímax, não sei se tudo dará certo no final, não sei se tudo se perderá.

Acariciei seu rosto e pensei em algo que pudesse fazer por ele, que somente eu pudesse fazer.

― Eu nunca assisti o final daquele filme.

― Nem eu... – negou com a cabeça ainda não me encarando. Sorri porque sabia como o distrair.

― Podemos assistir agora. O que acha?

Ele me olhou ponderando meu convite inusitado diante de tudo o que estava acontecendo em sua vida. Sorriu sinceramente, pegou seu celular e começou a procurar o filme pela internet. Talvez eu conseguisse retribuir todo o cuidado que ele teve comigo durante minha infância e adolescência inteira num dia tão difícil como esse.

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Dentro do teu olhar
No abraço quente
Que eu só posso encontrar

 

Natal. Casa cheia e família reunida, quanto tempo que não conseguíamos reunir a família toda? Mas agora estávamos todos ali, menos ela. Com meus olhos cansados agora enfeitados com óculos redondos, meus cabelos não mais ruivos, há muito tempo brancos. Ver todos reunidos ao mesmo tempo que me traz paz também faz com que meu peito se aperte.

Meus filhos já são adultos há tempos. Os filhos deles também. Mas ainda me lembro de quando pequenos correndo por essa casa, enchendo o quintal de risos e alegria, algumas meninas penduradas na saia dela, buscando por doces e receitas. Os garotos voando com vassouras velhas, jogando quadribol como se suas vidas dependessem disso. Não todos. Hugo era diferente, ficava atrás de mim. Me ajudava a consertar coisas, até aquelas que achava que não teriam conserto.

Tão diferente dos outros, um encantamento especiais pelas coisas trouxas, por consertar, por observar atentamente. Sua noiva se destaca entre nós, seus cabelos coloridos, seu sorriso aberto e gargalhada alta. Seu jeito de não julgar. Uma trouxa. Mesmo nos meus mais alucinantes sonhos jamais imaginária que um deles escolheria alguém trouxa para amar. Amar suas coisas era fácil, torcia para que amá-los também.

Vejo ele caminhando até mim, uma caneca em suas mãos soltando vapor. Seu sorriso de lado tímido e desafiador. O mesmo garotinho que ligava o rádio e ficava escutando música comigo nas tardes durante as férias, muito antes disso nos dias quentes de verão em que seus pais tinham compromissos.

Hugo me entrega a caneca. Senta-se perto de mim. Meu companheiro de aventuras na garagem. Tão excêntrico quanto eu. Tão parecido comigo, com Rony. Uma mistura perfeita de temperamentos e inteligências. Sua noiva tão logo parece perceber o quanto é difícil. Essa festa sem ela. Sem minha Molly. Mesmo com a casa cheia, a sensação de vazio preenchendo todo o meu ser.

― Senhor Weasley, quer biscoitos? – Ela oferece esticando uma caixa bonita.

Pego dois, os molho no liquido quente, ela senta-se ao lado de meu neto, o beija suavemente nos lábios. Sorri para mim.

― Me conte sobre Hugo. – Pede com as mãos unidas.

Meu neto fica vermelho, mas sorri.

― Para contar sobre ele teria que começar contando sobre Rony e para contar sobre Rony teria que começar por Molly. – Falo saudosista.

― Seria perfeito. – Ela sorri e segura minhas mãos. - Conte-me sobre a senhora Weasley e como se apaixonaram.

O entusiasmo dela era contagiante.

― Como criaram uma família tão maravilhosa?

Então seguro suas mãos de volta. Me permito sorrir. E começo a história do início.

― Molly chamava atenção, mesmo que tentasse não chamar...

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Eu me refugio
Dentro do teu olhar
No abraço quente
Que eu só posso encontrar
No teu olhar que me acalma sempre
E me salva de mim

 

Ela precisava ser protegida, era minha princesa, minha filha, gostava de ler como a Bela da fera, mas não era vaidosa como todas as personagens de histórias de fadas. Tinha pesadelos com monstros e lobos, e eu, como seu pai, dizia que estava ali e tudo ficaria bem. Aos seus onze anos descobri que minha princesa indefesa, era bruxa.

Ele era tão medroso, culpa de seus irmãos que sempre lhe pregavam uma peça. Talvez eu como mãe devesse ser mais incisiva quanto a isso. Só não esperava que aos onze anos ele ia se transformar em um melhor amigo salvador do menino que sobreviveu. Um melhor amigo que resgatou Harry do mundo das sombras em que vivia.

Ela, minha bruxa, suspirava em todas as férias quando recebia uma carta dele, tinha as bochechas rosadas, dizia coisas lindas sobre um castelo, e queria passar parte de suas férias numa casa torta. Minha bruxa, minha filha, estava voando para longe de mim.

Ele parecia agoniado longe deles nas férias. Mal pisava o pé em casa e já pedia para chamá-los para passar uns dias conosco. Eu, como uma mãe, sempre querendo seu bem e sua felicidade, cedia.

Ela cresceu e se mostrou diferente, decidida, ainda muito estudiosa, dizia que a amizade era mais importante que estudos. Naquele ano, aquele ruivo veio pedir pessoalmente com seu pai para que ela passasse uma temporada de férias novamente em sua casa. Enquanto conversava com o pai dele, minha bruxa tinha as bochechas rosadas para o garoto de cabelo laranja, tinha sorrisos lançados a torto e a direito, tinha risadas tão gostosas de se ouvir. Minha bruxa, minha filha, estava encantada.

Ele parecia querer cuidar de todos a sua volta, esqueceu sua dor pós-guerra, começou a focar na dor de todos ao seu redor, inclusive a minha... A minha dor de mãe. Ao seu lado ela sempre estava. O abraçava depois de um dia exaustivo, lhe beijava a face cansada com um bom dia, lhe preparava um chá calmante, lhe contava alguma coisa boba que lhe fazia rir. Ele estava segurando a Toca inteira. Ela estava o sustentando em meio ao caos.

Ela apertava suas mãos nervosa, tinha as bochechas rosadas e disse-nos que estava namorando. Ele apareceu para um jantar, tão nervoso e ansioso. Gaguejando em cada resposta de minhas perguntas, ela lhe ajudando a responder, notei que ele comia demais, mas a ajudou com a louça no final do dia. Vi quando ela o beijou levemente os lábios na cozinha. Percebi que minha bruxa, minha filha, tinha feito uma escolha.

Ele estava velho e cansado, dois filhos grandes, ainda casado com ela, minha memória tão frágil, não me lembrava de tantos detalhes. Mas de um eu não esquecia, ele, meu filho, sempre apaixonado por ela e cuidando de sua família tão bem. Desejei lembrar mais vezes, desejei ficar bem por mais tempo e apreciar meu menino menor ser tão grande e importante para os seus.

Ela estava acabada, mas tentava parecer bem. Cumprimentava a todos que chamavam perto de si, agradecia as condolências, eu observava minha filha, minha menina, mesmo não mais menina, se transformar em uma mulher forte, mais forte do que ela supôs ser um dia. Diante do caixão sendo submerso, ela me abraçou e me disse em meu ouvido que se sentia perdida. Minha bruxa, minha filha, estava dilacerada. E eu como seu pai, desejei que ela voltasse a ser minha menina de onze anos, para que eu pudesse a pegar no colo e dizer que tudo ia ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Beijos e até o próximo.



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