Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 11
Areia


Notas iniciais do capítulo

Oi leitoras (es), primeiramente muito obrigada pelos melhores comentários, sempre ficamos imensamente emocionadas com as palavras de vocês, gratidão por compartilharem todos esses sentimentos conosco. Somos gratas pelas melhores leitoras...

Nós temos uma tendência em evidenciar o Granger-Weasley mais novo, algo nele faz com que sempre fiquemos dispostas a escrever e desvendar sua vida, mesmo através de outros olhos. Mas uma família é composta de outros nós e não apena um, então espero que também estejamos dando a atenção necessária a todos.

Boa Leitura!



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Quer parar o tempo
Natural que seja assim

 

Meu irmão sempre foi conhecido como observador, mas também posso dizer que o observo, principalmente sua relação com sua prima preferida, e seu completo oposto. Lily nasceu chamando atenção. Hugo nasceu calmo, sem alardes e já com data marcada para vir ao mundo. Lily não. A bolsa estourou uma semana antes do previsto e ela veio ao mundo num dia extremamente chuvoso, ela já nasceu brilhante. Seu nome dizia tudo: Lua.

Hugo era calmaria. Passava um dia inteiro sentado num sofá, ou assistindo desenhos Trouxas quando pequeno, ou lendo uma revista em quadrinhos, ou jogando videogame portátil. Lily era tempestade. Nunca parava na casa dos avós, corria e se machucava o tempo todo pelos jardins. Quando pequena, infiltrada nos costumes trouxas, fazia ballet, natação, judô, flauta, violão e praticava canto, queria ser artista quando crescesse, queria continuar chamando a atenção.

Hugo gostava de se camuflar. Usava um boné para lhe tampar o rosto pelo castelo, gostava de ficar por baixo das cobertas em seu quarto com a varinha iluminando os gibis que não desgrudava de si. Adorava desenhar heróis e damas em apuros para serem regatadas. Sonhava com uma vida dupla. Lily adorava aparecer. Conseguia ser amiga de todos do castelo, dos mais tímidos aos mais populares, todos a adoravam, as meninas achavam-na linda e pediam dicas para deixarem seus cabelos brilhantes como os dela, os garotos se apaixonavam logo de cara. Ela era assim, apaixonante sem muitos esforços. Brilhava por si própria.

Ele era a garoa, ela o furacão. Mas mesmo assim eram melhores amigos. E mesmo com todas as diferenças se entendiam como ninguém mais. Os observando de longe no castelo em que crescemos, não pude deixar de ouvir um diálogo, escondida atrás de uma árvore.

— Hugo, me ensine seu segredo?

Perguntou a ele numa tarde qualquer nos jardins da escola.

— Segredo? – olhou-a confuso.

— Como consegue brilhar tanto, e ser tão único?

Ele sorriu, e logo em seguida respondeu.

— Meu segredo é ter você.

Ela sorriu largo e deitou sua cabeça no ombro dele. Ela com sua luz se espelhava na dele para se iluminar. Como lua e sol.

 

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Ainda eu não te sei de cor
Tem tanto que eu não aprendi

 

Quando ele apareceu aqui com a garota pela primeira vez, acredito que não fui o único que acho estranho os cabelos coloridos, as roupas rasgadas em lugares engraçados. Quando eu era jovem morria de vergonha das minhas roupas e elas eram impecáveis, minha mãe não deixava nenhum buraquinho aparente, por mais usadas que fossem. Estava sendo difícil entender que eles tinham crescido, que agora tinham outras pessoas para admirar. Quando Rose trouxe o filho da doninha eu quase tive um infarto, mas eu deveria desconfiar de todas as vezes que saiam juntos, de todas as vezes que ela falava sobre o jovem Scorpius. Mas Hugo nunca falava.

Lembro-me de quando percebi que ele estava gostando dela. Daquela que achávamos que seria a garota que ele carregaria até o fim dos dias, da que seria oficialmente apresentada para a família. Porque apesar de não falar como sua irmã fazia, ele demonstrava como ninguém mais dessa família conseguia demonstrar. Eu disse que ele deveria se decidir, que a garota não o esperaria para sempre. Quando ele disse que não era ela quem estava esperando, não soube o que responder. Não soube como explicar que ele não precisaria esperar. Quem nem todo mundo é como eu e sua mãe somos. Existem primeiros amores que não se tornam os últimos.

Então eu acolhi a garota colorida que também tinha nome de flores, fiz o que sempre faço com Rose e ofereci sorvete enquanto percebia cada ruga do rosto de Hermione dizendo que analisava cada centímetro que a garota nos apresentava.

― Hugo voltou a brilhar. – Ela falou em meus ouvidos enquanto eu lavava a louça do jantar.

― E isso é bom, né? – Perguntei sem saber ao certo como ela sempre sabia quando nossos filhos brilhavam, eu sabia quando precisavam de um abraço, de um sorvete, de lápis de cor novo. Mas ela sabia quando estavam brilhando ou apagados.

― Sim. – Sua resposta para por um momento. – Ele sempre foi diferente, tão apaixonado pelo mundo trouxa, tão habilidoso no mundo bruxo.

― Exatamente como meu pai. – Falo pensativo. – Sempre discreto, aos olhos alheios sem ambições, mas completamente envolvido com o que importa. Com os filhos, a esposa, os amigos. Hugo é exatamente assim.

Hermione me olha um pouco emocionada. 

― Demorou para que eu percebesse esses detalhes, mas agora os compreendo tão bem. – Falo terminando a ultima xícara.

― Você também achava que eles...

― Que eles iriam acabar ficando juntos em algum momento. – Eu achava, mas também não achava. Nossa sobrinha era como um furacão, exatamente como minha irmã. Hugo era calmaria exatamente como nosso pai. – Eu torcia para que ficassem. Torcia por Hugo. Para que ele fosse tão feliz quanto nós.

― Mas...

― Mas acho que ele não seria. – Falo a verdade. – Não como está, agora. Com aquela garota trouxa, brincando com os cabelos dela, sorrindo para as piadas dela, ambos sentados no chão olhando fotos velhas. Em uma noite de fim de semana na casa dos pais sem pressa nenhuma de sair.

― Ronald, porque não foi tão compreensivo quando Rose trouxe o jovem Malfoy. – Hermione questiona me abraçando e deitando em meus ombros.

― Seis letras. Malfoy.

Nós dois acabamos rindo. Quando volto para sala vejo meu filho desenhando sua namorada enquanto ela faz caretas. Nós sentamos em um dos sofás e penso que existem tantos tipos de amores diferentes. E algumas pessoas precisam do sol muito mais do que da lua.

 

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Quer parar o tempo?
Pra eu ver daqui

 

Estou cansada, Harry confiando ainda cegamente naquele príncipe. Sinto que algo muito errado esta naquele livro. Mas ele não me escuta. Acha que tenho ciúmes dele ser melhor que eu em poções por causa do tal príncipe mestiço. Rony está tentando fazer seus trabalhos atrasados devido ao tempo que ficou na ala hospitalar por ter sido envenenado.

Aparentemente a pena revisadora que seus irmãos inventaram tem algo errado. Até mesmo seu nome está escrito de forma errônea. Não aguento. Pego seu pergaminho e começo a revisar toda sua escrita com minha varinha. É quando ele solta. Como se não fosse nada. Como se não fizesse meu coração quase saltar do peito. Como se não fizesse minhas bochechas corarem. Como se não fizesse minhas mãos suarem. Como se não provocasse todas as reações que só ele poderia provocar em mim.

― Eu te amo Hermione.

Pronto. Todos os sentimentos que venho enterrando dentro de mim nos últimos meses surgem na superfície mostrando a mim que não havia como fugir do amor que sentia por ele. Tento controlar minha voz e parecer displicente quando respondo.

― Não deixe Lilá ouvir você dizendo isso. 

Porque ele ainda tinha namorada. E ela precisava saber o que estava acontecendo com o relacionamento deles afinal. Harry pergunta o que quero saber. Porque simplesmente ele não termina com ela. Mas é claro que ele não sabe como fazer isso e prefere só deixar as coisas esfriarem e ir se distanciando dela. Sinto ele me observar enquanto corrijo as inúmeras palavras escritas erradas em seu pergaminho. Tento imaginar o que ele está pensando quando diz que gostaria que as coisas com ele e Lilá simplesmente acabassem. Será que assim que Lilá não estivesse mais com ele, Rony pensaria em mim? Não como uma amiga que corrige e lhe ajuda a fazer sua lição. Mas como uma companheira, uma namorada. Que não precisaria fingir que o eu te amo jogado ao vento fosse só um agradecimento pela ajuda. Mas um sentimento genuíno.

 

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Teu mundo vir assanhar meu rio
Eu posso até te olhar sem ir

 

― Eu te amo Hermione.

As palavras simplesmente escapam da minha boca. Não consegui controlar. Ao mesmo tempo sei que são as mais verdadeiras que consegui proferir em muito tempo. Ela parece confusa, seu rosto é uma incógnita pra mim. Mesmo assim ela comenta.

― Não deixe Lilá ouvir você dizer isso.

― Talvez eu deixe. Assim ela termina comigo. – sei que sou egoísta. Mas não há nada nesse mundo que me faça mais feliz agora que Hermione. Nem mesmo beijos fajutos dados escondidos ou nada escondidos. Só ela me faz pensar em como é fácil amar. Amar o modo que ela faz um feitiço ao corrigir minha redação. Amar como diz meu nome e sorri ao lado chorando. Amar sua obsessão por estudos e elfos domésticos. Amar todos seus micros defeitos. Sei que estou viajando pensando num futuro com ela. Em beijos certos e nada fajutos. E sei que ela parece perceber. Porque repara em meu olhar perdido ainda reparando em tudo o que faz. Não sei quanto tempo mais irei sufocar esse sentimento dentro de mim. Mas sei que nunca disse algo tão verdadeiro antes.  

 

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Tudo no seu tempo
Tão veloz por dentro

 

É tão estranho como eu me sinto atraída particularmente por algumas manias dele, como decorei a maioria das expressões. Como insisto em dizer para todas as pessoas que questionam nossa aproximação como somos amigos, somente amigos.

E talvez seja exatamente por culpa dessas pessoas e dessas perguntas que fico hipnotizada criando teorias em minha cabeça cada vez que ele está longe e quase fico sem ar quando ele está perto. Sim. Nós realmente somos apenas amigos, mas algo em mim remexe todas as vezes que ele beija meu rosto, todas as vezes que ele deixa nossos outros poucos amigos irem na frente, todas as vezes que ficamos parados em algum corredor a conversar.

Talvez nós poderíamos deixar de ser só amigos para algo maior. Só que todas as vezes que olho o espelho vejo a verdade estampada em minha frente gritando para que eu pare de sonhar tão alto. Porque nunca passaremos de amigos. Nunca.

― Rose, parece que hoje não está fácil. – ele diz sentando-se ao meu lado.

Eu realmente estou pior que o normal, tive uma briga por cartas com minha adorável mãe, consequentemente o nervoso e todo o resto fez com que minhas cólicas viessem com mais força que o habitual, mas não tive tempo de pedir uma poção que ajudasse. Me impressiono por ele ter percebido tão rápido.

― Estou tão mal assim? – questiono, tendo a certeza que sim. Não tive vontade de pentear o cabelo então o embolei em um coque no topo da cabeça. E certamente faço caretas.

― Um pouco. – Ele diz me analisando. – Está tudo bem?

― Cólica.

Minha única palavra é suficiente para ele entender que talvez ficar conversando não ajude a melhorar. Mas permanece sentado do meu lado todo o tempo.

E eu sei que nunca seremos mais que amigos. Só queria que esse sentimento que está vivendo dentro de mim também soubesse.

 

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Em mim passa devagar
A me acertar

 

Durante as férias consigo perceber algo mudando. Quase todas as vezes que vai arrumar a louça se encosta na pia e fica alguns minutos apenas olhando para além de todos nós, da louça e provavelmente da casa.

Peguei ela olhando para o espelho, fazendo caretas, sorrindo, por fim bufando descontente. Algo que era raro já que sempre fugia dos espelhos da casa, ou de tudo que refletisse sua imagem.

Ela passou a comer mais saudável, evitando os doces que a maioria de nossa família tanto amava, comendo frutas no café da manhã e um tanto de saladas e legumes durante os almoços e jantares.

Eu sabia que algo tinha mudado. Naquele ano alguma coisa tinha feito ela adquirir novos hábitos. Fico analisando ela de longe para evitar novas brigas. Prometi que essas férias deles seriam melhores, que eu evitaria conflitos por besteiras.

― Rose está apaixonada. – Falo para meu marido enquanto ele toma chá.

O vejo engasgando e quase cuspindo o líquido em mim. Seus olhos tão azuis e arregalados pelo susto continuam lindos. Gosto tanto de seus olhos.

― Ela é uma criança! – Ele enfatiza mesmo sem gritar. Vejo o ciumento Ronald Weasley dar as caras.

― Na idade dela eu...

― Não! – Dessa vez ele grita. – Não quero saber nada sobre você com a idade dela.

Eu começo a rir.

― Ron, por favor.

― O que? – Ele resmunga. – Sei muito bem sobre aquele baile horrível.

Eu toco seu braço.

― Querido, eu não ia falar sobre o baile. Eu ia falar que na idade dela já estava apaixonada. – escuto os resmungos. – Por você.

Um sorriso de lado brinca em seu rosto.

― Eu era um idiota.

― Sim. Era mesmo. - Lembro-me do quanto sofri após o baile, mas como foi bom conversar com ele e ter a certeza de que eu realmente estava apaixonada. – Mas a questão é que nossa filha está apaixonada.

― Hermione, ela ainda é uma criança.

― Ela é uma adolescente, com hormônios e sentimentos. Não percebeu todas as mudanças? – Sussurro porque não quero que ela me escute.

― Quais mudanças?

― Sinceramente. – Digo cansada. – Se não quer acreditar o problema é seu. Mas não venha ter uma crise quando ela apresentar o rapaz para você.

Ele me abraça e beija meus cabelos. Eu sei que ele terá. Sei que vai tingir as orelhas de vermelho e ficar inchado como um balão. Mas mesmo com todos esses defeitos não posso evitar me apaixonar por ele, exatamente como há tantos anos.

 

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Feito areia êa-ah
Feito areia êa-ah
Em mim

 

Estamos na sorveteria. Reconheço a troca de sabores com chocolate para sabores com frutas. Reconheço que talvez minha esposa esteja certa. Por mais que isso me faça sentir ciúmes, já que deixarei de ser o herói preferido para me tornar apenas o pai. Eu aceito que ela talvez esteja crescendo.

― Rose... – não sei como iniciar essa conversa. Hermione seria perfeita para isso. Se elas não brigassem tanto.

Ela me obrigou a trazer nossa filha para a sorveteria e perguntar o que estava acontecendo. Deixou claro que eu lidaria com aquilo e depois contaria os detalhes a ela.

Minha filha me encara curiosa. Enquanto eu sinto que vou estragar tudo.

― O que? – Ela questiona quando não continuo a frase.

― Você está apaixonada?- Solto de uma vez e vejo seu rosto ficando vermelho exatamente como acontece comigo.

Nesse momento sei que é verdade. Sei que minha filhinha está oficialmente crescendo. Sei que ela vai enfrentar tanta coisa pela frente. Por um momento gostaria de voltar no tempo quando ela ainda tinha quatro anos, guarda-la em um pote e protege-la do mundo.

― O QUE?- seus olhos quase pulam do rosto. – Quem disse isso? Como sabe? O que?

― Apenas desconfiei. – Digo sorrindo. – Vocês estão crescendo. Você e seu irmão.

― Pai... – ela resmunga constrangida.

― Se estiver apaixonada pode confiar em nós.  Em mim, na sua mãe, até no seu irmão. Na verdade de todos acho que seu irmão é o mais confiável. – acabo rindo. – Sua mãe contaria para tia Gina e eu para seus tios Harry e George. Hugo levaria o segredo para o tumulo.

Faço com que ela ria.

― Eu sei. – Sua voz é cansada e triste. Uma voz que não deveria sair de uma adolescente apaixonada. – E mesmo que eu esteja nós nunca seriamos um casal.

Quero garantir que seriam sim, mas ao mesmo tempo fico aliviado por ela achar que não. 

― Por que diz isso?

― Olhe para mim. Nenhum garoto vai gostar de mim o suficiente para querer namorar comigo. Não importa o quanto eu tente mudar, eu sou assim. E garotos não se apaixonam por pessoas como eu.

Tudo que vejo é uma garota linda. Com cabelos laranja, com sardas e olhos como o céu. Vejo uma garota inteligente. Minha filha é perfeita em todos os sentidos porque é feita de amor.

― Rose, todos os garotos do mundo se apaixonariam por você. – falo porque é a verdade. – mesmo que eu deteste essa possibilidade.

― Pai, isso não é verdade.

― Você é uma garota incrível. E qualquer garoto que deixe de ver isso é porque não é o garoto certo, porque está completamente louco ou cego. Acredite em mim. Eu demorei para perceber o quanto sua mãe era maravilhosa, mas ela era. Sorte a minha ela ter me esperado. Sorte desse garoto você gostar dele dessa maneira.

― Você continua sendo o melhor pai do mundo.

Ficamos tomando nosso sorvete, enquanto vemos as pessoas passando. E sei que esse garoto seja quem for é realmente sortudo. Porque as mulheres Granger-Weasley são incríveis.

 

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Feito areia êa-ah
Feito areia êa-ah
Em mim

 

 

Quero congelar este momento, bem aqui e agora, sem pensar no amanhã. Eu, ela deitados na grama de frente ao nosso pequeno lago na Toca. O sol se pondo. Minhas mãos grudadas na dela. Meu braço a abraçando pelas costas. Ela sorrindo enquanto termina outra história em mais um de seus vários livros. Estou hipnotizado pela imagem que vejo. A cor laranja banhando seu rosto concentrado nas palavras. Seus lábios apertados, sua testa franzida, seu suspiro final terminando a história. Seu olhar para mim perdido sem entender o porquê a encarava bobamente.

― O que foi? – me pergunta curiosa.

― Me diga o final. – peço ainda reparando em seus cabelos, todos embaraçados, seus dentes lindos e alinhados formando um sorriso de lado, suas bochechas levemente coradas naturalmente.

― Do livro? – me pergunta sem esperar uma resposta. – Algo sobre aprendizado e crescimento pessoal, além de expectativas e ansiedades sobre o futuro.

― Ah então você estava lendo minha biografia. – suspiro ela ri pelo nariz e me dá um beijo na bochecha. O mesmo formigamento que senti anos atrás volta. Ela sempre tem um poder sobre tudo o que faz em mim.

― Parecia mais com o Viktor Krum na verdade.

O que? Ela estava lendo um livro sobre o Krum? Não controlo meus instintos e pego o livro vendo a capa. Viro e leio o título: “Leis fundamentais da magia”. Lei? Ela estava lendo um livro de leis?

― É um livro, grande, impõe respeito, parece maravilhoso pela capa dura, as letras brilhantes da capa, seu cuidado com as folhas conforme lê. Sua monstruosidade da importância que é. Mas... É tão entediante e tão desagradável. Serve para conhecimentos. Apenas.

Ela me explica o livro ou o Krum? Parece estar falando dos dois. Ela percebe minha confusão e me beija levemente nos lábios.

― Sua biografia seria algo parecido como insegurança. Um livro insignificante a primeira vista, com a capa tão frágil, letras nada chamativas. Seu conteúdo tão incrível tão certo, se encaixaria perfeitamente na melhor parte de minha estante. Na melhor parte da minha vida. Aquele livro que você não dá nada pela capa e pelas poucas críticas positivas a ele, posteriormente descobre que é seu livro. O livro mais complicado de se ler, que ao mesmo tempo te faz rir, chorar e refletir sobre um passado, um presente e um futuro que quer ainda viver. Um livro parecido com o pequeno príncipe.

― Pequeno príncipe? – não entendi metade do que ela disse, mas posso supor que foi um elogio.

― Talvez um dia você o conheça. E entenda porque quero um nome específico para nossa filha, se assim tivermos uma.

― Filha? – sorrio acariciando seus cabelos da testa. Sorrio porque quero sim um futuro com ela e filhos. Uma filha tão linda e inteligente como ela. Nossa filha.

― Rose... – ela suspira o nome que escolheu como se fosse uma informação qualquer. 

― Rose é perfeito. – confirmo imaginando uma garotinha toda laranja e cor de rosa. Tão delicada como uma pétala de flor, sabendo se defender com seus espinhos. – Sou seu livro favorito então?

Ela ri diante do meu enfim entendimento de todas as palavras dela sobre Krum, livros sobre leis, pequeno príncipe e Rose. Quero congelar esse momento. Bem aqui e agora. E viver aqui para sempre.

 

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Tenho fragmentos
De uma vida com você
E tantos intervalos só
De longe, mas querendo crer

 

Botons. Malfoy fez botons. Weasley é nosso rei. Quero lançar um feitiço estuporante naquele idiota. Mas me controlo. Gina está comigo. Parece perceber meu nervosismo em não deixar que Rony note os dizeres.

― Precisamos desviar sua atenção dos botons.

Me pede quando nos aproximamos de Harry e ele. Está tão verde de nervosismo. Parece que vai vomitar. Peço para Harry discretamente não deixar que ele veja a maldade de Draco. Me aproximo dele e com uma força que não sei de onde tiro, lhe beijo no rosto lhe desejando sorte.

Ele parece atônito com meu ato e deposita sua mão em sua bochecha. Saio de perto deles e me encaminho pra arquibancada desejando que ele não se machuque na partida. Não por fora. Por dentro.

 

.

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Tudo no seu tempo (tudo no seu tempo)
Tão veloz por dentro (tão veloz por dentro)
Em mim passa devagar
A me acertar

 

Falta pouco para que eles se formem. E eu estou há alguns anos observando sempre que possível. São os poucos momentos em que tiro meus olhos dela, que paro de pensar sobre mim. É quando observo eles que consigo de certa forma respirar outros ares.

Vejo o quanto minha irmã tenta disfarçar a todo instante o que está nítido que ela sente. Talvez quem não a conhecesse desde sempre ficasse na dúvida, apenas desconfiasse, mas eu sei reconhecer cada um de seus atos, mesmo que de relance.

Quando ela coloca os cabelos volumosos atrás da orelha, quando ela esfrega as mãos nas roupas, quando ela espera ansiosamente pelo beijo na bochecha. É como assistir um filme daqueles enjoativos e antigos em que os protagonistas nunca se beijam. É o tipo de filme que Rose assiste com nossas primas.

Eu sei o que minha irmã sente e sei reconhecer os sinais. Gosto de observar o garoto ao seu lado, ele também tem mania de balançar sem sair do lugar e parece usar todas as forças para beijar a bochecha de Rose. E o jeito como olha para ela é o que me faz ter certeza que tem os mesmos sentimentos mesmo que nenhum fale sobre.

Vejo um casal de amigos que tem tanto para ser mais que isso e ainda assim não deixar de ser. Quando percebo isso me permito desviar o olhar deles, voltar para minha personagem preferida.

Eu sei, mesmo tão cedo. Mesmo tão jovem. Sei que o jeito que o garoto olha para Rose é exatamente do mesmo jeito que eu olho para Lily e pior do que isso eu sei que o jeito que minha irmã olha para ele jamais será da maneira que nossa prima olha para mim.

Estou preso em continuar feliz com qualquer que seja o sorriso que me oferece, vivendo com pessoas em volta que me mostram o verdadeiro significado de gostar genuinamente da outra pessoa.

É como quando vamos a praia e tocamos na areia. Não importa se vamos para mar, se lavamos as mãos, ainda sentimos aqueles grãos por nossa pele infinitamente até que apenas nos acostumamos com a sensação. Ela é minha areia e eu não sei quando que deixarei de sentir em minha pele.

 

.

.

 

Corta essa distância
Se agarra nesse vento e vem
Me abraçar
Dá pra juntar tudo
Espera o tempo certo e vem
Não deixa passar
E assim (e assim)
Enquanto der, enquanto quer
E assim

 

Pode passar o tempo que for, Lily sempre faz meu coração saltar fora de controle. Eu tremi terrivelmente quando recebi sua carta me pedindo para buscá-la num aeroporto. Seria natural se Lily não fosse uma bruxa famosa, uma modelo internacional que estampava todas as capas de revistas bruxas, seria natural se não tivéssemos nos despedido de uma história longa de um amor de infância jamais concretizado. Seria mentira se eu dissesse que não tinha ficado ansioso. Minhas mãos suando. Meu coração palpitando em cada pessoa que cruzava a porta. Minha garganta seca. Meu corpo que não parava de se mexer. Então ela aparece. Exuberante em um sobretudo preto com um cachecol vermelho. Touca na mesma cor do cachecol, usa um óculos de sol e ela sorri assim que me reconhece. Não aguenta mais e deixa sua mala e corre até mim. Me abraça. Tão apertado que nem parece que ficamos longos cinco anos sem se ver, longos cinco anos que nos despedimos com uma carta.

― Quero congelar esse momento. – ela diz em meu ouvido e a aperto mais ainda em meus braços.

Congelar este momento, bem aqui e agora. Lily ainda passa por mim. Feito areia numa praia num dia de ventos. Me corta o rosto devagar, me marca de diversas maneiras, as vezes machuca quando toca em meus olhos, as vezes me faz sufocar me fazendo faltar o ar. Ela ainda está gravada em mim, não sólida como uma rocha. Está gravada feito areia. Fácil de ser construída, fácil de ser destruída. Feito areia em mim.

 

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.

 

Feito areia êa-ah
Feito areia êa-ah
Em mim

 

As luzes se apagam, mas consigo ver cada um dos rostos iluminados pela chama da vela. Escuto as palmas batendo junto com o ritmo desajeitado de quem canta sobre a vida, presentes, dando graças a mais um ano de vida.

O primeiro. Estou feliz em comemorar um ano. Um ano que me sinto tão feliz e tão cansada ao mesmo tempo. Um ano que consegui concretizar meu sonho. Sinto os braços dele em volta de mim, me permito sorrir assim que seus lábios pousam em minha face. Os beijos na bochecha sempre foram parte de nós.

― Eles estão felizes. – Ele sussurra em meus ouvidos.

― Estamos. Todos nós. – O abraço pela cintura.

Observo meus pais cortando pedaços de bolo e colocando em pratos. Vejo ele roubando um beijo de Hermione com gosto de chantilly. Ela sorri e limpa o resto dos lábios dele. Mesmo depois de tantos anos, ainda parecem namorados ou recém casados. Mas o que mais me faz sorrir é meu irmão.

Hugo ri enquanto segura meu filho em seus braços. Meu filho que tem os cabelos tão loiros quanto o pai, mas que mesmo tão pequeno já apresenta uma sarda aqui ou ali. Vai ser nossa mistura. Cabelos loiros. Sardas pela pele, olhos azuis como o mar. Meu irmão gargalha enquanto minha bolinha faminta tenta a todo instante agarrar os cabelos coloridos da namorada dele.

Meu filho parece hipnotizado pelas cores vibrantes e toda vez que Íris deixa seus cabelos próximos o suficiente ele os segura como se os fios coloridos fossem salvar a vida dele. Hugo beija a garota com os olhos brilhando. Com o corpo todo brilhando. Tenho a certeza que não importa qual seja a tempestade que ele escolha enfrentar, sua calmaria sempre fará com que as nuvens sem transformem em céu azul, risos, e maresia.

 


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Notas finais do capítulo

Um aviso geral:
Nós tínhamos planejado dez capítulos, como podem perceber mudamos os planos e ainda temos algumas palavras que precisam ser escritas e ditas, espero que não se importem com esse aumento.

Espero que estejam gostando e até o próximo capítulo!



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