Na ponta dos dedos escrita por annaoneannatwo


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792049/chapter/7

O soco não desferido, o beijo dado, e tudo que não foi dito. Izuku conseguiu a proeza de cometer três grandes erros seguidos em questão de minutos. Ele deveria ter finalizado aquela luta com um soco, ia doer, mas ela aguentaria. Ele não deveria ter beijado-na, foi bom, incrível… e errado. Mas o pior mesmo foi o que ele disse, ou melhor, não disse.

O rapaz deveria ter dito que não, não queria lutar com ela inicialmente, aceitou porque queria deixá-la contente, mas conforme o duelo se desenrolou, ele foi tomado por uma gana de vencê-la, de mostrar que é páreo pra ela em combate físico com ou sem individualidade, qualquer uma delas, ver naquele par de olhos castanhos magníficos o reconhecimento dela, a admiração… que ela o visse como ele a vê, porque a verdade é que Izuku… realmente ama a Uraraka, ama tanto que sente suas entranhas se contorcerem sempre que pensa naquele fatídico dia há três semanas quando ele foi do céu —  os lábios dela — ao inferno — a expressão de resoluta decepção de sua amiga em poucos minutos.

Izuku é trazido de volta com um chute do Kacchan em seu joelho, e se dá conta de que o All Might o olha com uma expressão consternada, ah não! Ele se distraiu de novo, tem sido assim nos últimos dias, o garoto sempre teve uma mente acelerada e inquieta, mas desde o infortunado beijo, ela parece sempre voltar a isso e não largar até que o desconforto se torne físico. Nas aulas ele até se concentra se não ficar imaginando que ela está lançando olhares furtivos na direção dele… aargh! Por que a Uraraka se senta lá atrás e ele na frente? Seria mais fácil se fosse o contrário, Izuku poderia olhá-la, checar se ela parece bem sem ter que encará-la —  pois isso tem sido meio difícil também. Mas fora das aulas, ele sempre se distrai pensando em todos os cenários diferentes que poderiam ter acontecido naquele dia, e se ela tivesse vencido? E se não tivesse beijo? E se ele tivesse se explicado direito? E se…? E se…?

—  Midoriya-shounen, você está bem?

—  S-sim, All Might, perdão! Você dizia? —  a situação é tão crítica que suas reuniões mensais com o All Might e o Kacchan para discutir seu progresso na liberação das individualidades, algo que Izuku sempre gosta e anseia por fazer, não consegue mantê-lo focado o bastante.

—  Estou preocupado com você, jovem. Aconteceu alguma coisa?

—  N-não! Tá tudo bem, eu… eu…

—  Mentiroso da porra. —   o Kacchan resmunga — Até as árvores da U.A. sabem que você tá igual cachorro abandonado por causa da Cara de Lua.

—  Quem é Cara de Lua? —  o All Might pergunta, confuso.

—  O nome dela é Uraraka, Kacchan, e você sabe.

—  Oh… a Uraraka-shoujo? Ela é uma jovem formidável! Tem um controle da técnica impressionante e é muito engenhosa.

—  É, e brigou com o idiota aí, por isso ele tá com essa cara de cu.

—  K-Kacchan!

—  Brigou ou não? —  o loiro o olha incisivamente.

—  S-sim, mas… —  ele murmura — Como você sabe disso?

—  Como eu não ia saber? Ficam os dois bobões de risadinha pra lá e pra cá, aí do nada nem se olham na cara, a Uraraka tá até almoçando na minha mesa com a Rosinha e os idiotas alguns dias, todo mundo percebeu, porra.

—  Oh… mas brigaram? O que aconteceu? —  Izuku se contorce todo em nervosismo, nunca na vida dele que poderia imaginar que estaria falando sobre ter brigado com a garota que gosta para seu maior ídolo, isso é tão surreal! —  Acho melhor você falar, é claramente algo que está te incomodando muito, se se abrir sobre isso, talvez se sinta melhor e consiga se concentrar. — o eterno Símbolo da Paz sugere com um sorriso paternal.

—  É, desembucha, caralho! —  o Kacchan concorda, aparentemente —   Quero só ver a cagada que você fez e espero que ela tenha quebrado sua cara.

—  Bom, foi mais ou menos isso… —  o loiro o olha curiosamente, e, num misto de saber que o All Might tem razão e ter legítima vontade de desabafar sobre isso, Izuku conta tudo, ele não falou nada para o Iida e para o Todoroki pois achou que isso geraria um mal-estar ainda maior, o Iida e a Uraraka são muito próximos, e o Todoroki… bom, ele não formaria uma opinião muito contundente sobre o assunto, mas o encheria de perguntas surpreendentemente pontuais que o deixariam desconfortável. “Se você gosta da Uraraka, por que não disse isso a ela?”

—  Ah, Deku, vai tomar no seu cu! —  o Kacchan esbraveja depois de um breve silêncio que se estabeleceu quando Izuku terminou de falar —  Você meteu a boca na menina e fica com essa cara de vítima por aí? A Cara de Lua é até boazinha de só parar de olhar na sua cara, ela tinha é que te descer a porrada pra você virar gente!

—  Midoriya-shounen… —  o All Might inclina a cabeça, ele parece não saber o que dizer —  Eu nunca ouvi nada parecido com isso, mas… foi bastante desrespeitoso o que você fez com sua adversária. Ela tem o direito de ficar magoada.

—  Sim, ela tem. —  ele concorda — Eu… eu fiquei tão aturdido com tudo que não consegui me explicar direito.

—  Tsk, explicar o quê? Você nem queria lutar com ela, pelo que eu tô entendendo. —  ele resmunga — Por que aceitou, então, idiota?

—  Porque… porque ela queria muito, e eu… eu não queria que ela pensasse que eu não sou amigo dela de verdade só porque não a trato como trato o Todoroki-kun, o Iida-kun, ou… ou você, Kacchan, somos todos colegas e amigos, mas… também somos rivais e queremos nos superar.

—  Eu já te superei há muito tempo, e não sou seu amigo, vai se foder!

—  Bakugou-shounen, você parece muito investido nessa história, tudo bem se estiver preocupado e…

—  Preocupado? Tsk! Eu só não aguento mais a ladainha que essa merda deu, a Rosinha não para de falar nisso, o Kirishima fica puto pra ela parar de se meter, eles brigam, o Fita Crepe e o Pikachu são idiotas, e a Cara de Lua fica lá com aquela cara de sonsa como se não tivesse querendo mandar tudo à merda, me irrita essa porra toda e me irrita como suas cagadas atrapalham minha vida de um jeito ou de outro, então vai se foder! Quem disse que toda amizade aqui é baseada em rivalidade?

—  B-bom, eu concordo com isso, na verdade, nunca tinha pensado nessa parte da rivalidade antes, só pensei nisso quando… quando… —   Izuku tenta puxar na memória qual foi o momento em que isso entrou em pauta e se tornou um assunto importante para ele, foi… foi no começo daquela semana, na enfermaria… quando o Yubi achou que ele e a Uraraka não eram amigos porque não tinham uma rivalidade latente… é, tudo que aconteceu a partir dali foi derivado desse momento em particular —  ...eu nunca tinha pensado nisso até o Yubi-san apontar que eu e a Uraraka-san não parecemos amigos próximos porque ela deve ter contado para ele que nós nunca lutamos!

—  Tsk, eu não te falei pra abrir o olho com o queijo cheddar? —  o Kacchan indaga.

—  Queijo cheddar… eu não estou mais entendendo, quem é Yubi-san? —  o All Might parece fisicamente exausto.

—  É um moleque metido a espertinho que tá doido pra dar uns pegas na Uraraka.

—  Kacchan! —  Izuku se vira com ele, irritado —  Não fale assim dela!

—  Ah, e você tem moral pra me dizer como falar dela depois do que fez? —  ele cruza os braços e dá um sorriso debochado — E eu nem tô falando dela, tô falando do queijo cheddar, o moleque tá sempre secando a Uraraka, e ele pode ser a sua fuça, ou você que é a fuça dele, sei lá, mas aquele lá não é tapado como você, ele tá de olho nela e vai fazer o que tiver que fazer pra botar o rival pra escanteio.

—  R-rival? E-eu?

—  Não, otário, o Endeavor! —  ele retruca com sarcasmo — Ele devia saber bem o que tava fazendo e sabia que era isso mesmo que ia rolar, bom, talvez ele não contasse com o beijo, nessa você cavou sua própria cova, nerd maldito.

—  V-você acha isso mesmo?  — Izuku pergunta. Finalmente! Finalmente alguém que também percebeu que os movimentos daquele garoto parecem calculados, até ensaiados. Ele sabia que tinha algo de errado, só achou que estava sendo tendencioso pois estava… com ciúmes, é, agora o rapaz de cabelos esverdeados sabe exatamente o que estava sentindo: ciúmes das interações casuais entre eles, do jeito que ele olha e fala com a Uraraka e, principalmente, como ela parecia tranquila com ele. Era ciúmes, mas não era só isso, ele tinha razão de se incomodar com o Yubi.

—  Tsk, ninguém que age bonzinho e risonho daquele jeito é confiável. —  o Kacchan recosta no sofá como se tivesse sido o vencedor em um debate.

—  Sim… —  Izuku concorda quietamente.

—  Bom, hã… vocês parecem ter chegado a uma conclusão sem a minha interferência. —  o All Might sorri afavelmente, e então fica mais sério — Midoriya-shounen, você magoou seriamente uma pessoa… especial para você, eu sugeriria que você resolva isso o mais rápido possível não só porque está afetando seu desempenho escolar, mas também porque sei o quão doloroso é deixar questões não resolvidas com pessoas importantes para nós, não desperdice a oportunidade que você tem. —  oh… o Sir Nighteye… a ideia de deixar a situação com a Uraraka chegar a um nível tão sério é assustadora. Não… isso é impensável!

—  S-sim! Vou falar com ela! 

—  Tsk, você é burro ou o quê? —  o Kacchan interfere.

—  Hã?

—  Você não percebe que nada do que você falar pra Uraraka vai adiantar agora? Ela tá sempre pra baixo e pra cima com o queijo cheddar e ele vai dar um jeito de encher a cabeça dela de minhoca. Tem que cortar o mal pela raiz, Deku.

—  Cortar… você quer dizer… falar com o Yubi-san!

—  “Falar”, é… pode crer. —  ele estrala os dedos e posiciona as mãos como se fosse soltar explosões.

—  Hã… jovens, lembrem-se que vocês não podem usar de violência nas dependências da escola. O-ou fora delas. E Midoriya-shounen, não sei se é uma boa ideia você tratar com esse rapaz antes, sua prioridade deveria ser a Uraraka-shoujo.

—  Ela anda me evitando, All Might. —  ele diz, levantando-se — O Kacchan tem razão, o problema começou com o Yubi-san, e se ele fez tudo isso de caso pensado mesmo, então ele anda manipulando a situação como bem entende, e eu posso tolerar que faça isso comigo, mas não com a Uraraka-san. —  não, com ela é inaceitável, deixá-la vulnerável de propósito para se oferecer como uma opção melhor quando for conveniente é… é absurdo, tão horrível quanto roubar um beijo dela quando deveria estar valorizando-a como a formidável adversária que ela é.

Izuku sai da sala do All Might sentindo a individualidade lhe formigar por inteiro, nem ouvindo o suspiro aperreado de seu ídolo e mentor.

 

***

—  Você… não é dessa sala. —  uma moça de cabelos ruivos e curtos o olha de cima a baixo —  Nem desse curso, é?

—  A-ah, não… não, senhora - senhorita, hã… madame! Eu, hã… sou do curso de heróis. —  ela o mede novamente, como quem não tem certeza se acredita, e isso deixa Izuku ainda mais frustrado, ele pediu para a Hatsume informá-lo os horários das aulas dos estudantes de intercâmbio, esperou do lado de fora até que acabasse a aula da tarde sentindo seu sangue ferver, e ensaiando mentalmente o que diria para o Yubi, algo assertivo, que deixasse bem claro que ele não pode agir assim com a Uraraka, talvez até apelar para o que quer que ele sinta por ela, Izuku já tinha imaginado tudo, mas foi ver a porta da sala de aula sendo aberta e dar de cara com a professora que ele se sentiu nervoso, o olhar semi curioso e meio entediado dela o fez corar e não controlar a vontade de murmurar o motivo pelo qual está aqui —  E-Eu queria falar com um dos seus estudantes… o Yubi-san…?

—  Você não sabe se é esse o nome dele ou não sabe se quer falar com ele?

—  N-não, eu… eu quero falar com-

—  Hirotaka-kun, apresse-se! Tem alguém te esperando. —  ela se vira e grita pra dentro da sala.

—  Sim, sensei! —  ele escuta a voz sempre amistosa do rapaz se aproximando, e Izuku se prepara fechando sua expressão em algo mais sério —  Ah, Midoriya-san! E aí? — mas se sente meio desarmado quando o Yubi abre um enorme sorriso — Obrigado, Asano-sensei!

—  Vê lá, hein, garoto? —  ela dá um suspiro enfastiado e bate seu caderno levemente na cabeça do Yubi antes de se retirar, o Yubi sorri enquanto ajeita os cabelos e o olha, sorrindo.

—  Como vai, Midoriya-san? Fico contente de te ver. —  ele parece se lembrar de algo e puxa seu caderno da bolsa, Izuku o observa com cautela quando ele abre um de seus cadernos e o inclina em sua direção —  Olha, é a versão final do traje que fiz para a Uravity! — sua curiosidade fala mais alto, e Izuku arrisca uma olhada, sentindo o ar faltar-lhe. Ela ficaria incrível com essa roupa, parece algo que uma personagem de videogame usaria, parece imponente, empolgante e… muito, muito atraente. Ao olhar de soslaio para o Yubi, ele parece muito orgulhoso, e esse olhar é bastante genuíno.

Ele realmente gosta da Uraraka, essa parte, pelo menos, é legitimamente sincera. Por um lado, isso é bom, pois Izuku pode seguir com o plano de apelar para isso e mostrar-lhe que o que está fazendo faz mais mal que bem para ela, por outro lado… se os sentimentos românticos são sinceros, os de amizade também devem ser, e se a Uraraka realmente tem carinho por ele, Izuku precisa ser bem cuidadoso no que vai falar para não deixá-la ainda mais magoada.

Isso é muito mais difícil que qualquer vilão que ele já enfrentou, caramba.

—  Está incrível, Yubi-san, a Uraraka-san vai adorar.  — ele suspira, admitindo relutantemente.

—  Espero que sim, começarei a costurar essa semana, não fale pra ela que eu te mostrei o traje finalizado, ok? É uma surpresa. —  ele fecha o caderno — Ah é, vocês não estão mais se falando, esqueci! — Filho da…

—  Yubi-san… —  Izuku fecha o punho —  … eu gostaria de falar com você lá fora, se não se importa.

—  Ah, claro. —  ele o acompanha tranquilamente, e o rapaz de cabelos verdes não se lembra de já ter ficado tão bravo na vida, ainda mais pela forma como ele mantém o sorriso relaxado, Yubi deve saber porque o Izuku está aqui, como pode manter-se tão tranquilo? 

Eles chegam até o jardim, e mesmo sabendo que não pode lutar com ele, não poderia nem se fosse alguém do curso de heróis, quanto mais um estudante de moda, Izuku fica de frente para ele e se posiciona como quando vai para uma batalha.

—  Yubi-san, eu gostaria de falar com você sobre a Uraraka-san e algumas coisas que aconteceram recentemente. Você já deve saber o que houve, não vou perder o seu tempo ou o meu relembrando essa história.

—  Claro, agradeço.

—  É, pois é… eu não consigo deixar de pensar que a situação só se tornou tão crítica por conta da sua influência. Estava tudo bem entre mim e a Uraraka-san antes de você chegar, e em questão de dias, ela passou a ter um problema com nossa amizade, o que desencadeou na luta e… em todo o resto.

—  “Todo o resto”. —  ele ri debochadamente —  Por que você não fala em voz alta o que fez? Você a beijou, Midoriya, e olha… devo dizer, é que seu timing foi péssimo, mas fiquei admirado, não achei que você tivesse essa coragem, eu te parabenizaria se não estivesse com nojo do que você fez com ela. —  e então fica muito sério, quase enfurecido.

—  Não aja como se não tivesse causado tudo isso.

—  Ah, você me dá muito crédito, obrigado, e olha que eu ainda dei o azar de ficar resfriado, hein? Bom, ou a sorte, depende de como você vê. Mas não… eu não fiz quase nada, só dei um empurrãozinho para o que era inevitável. Fiquei com uma impressão estranha na primeira vez em que vi vocês interagindo, a Ochakolate muda com você, então foquei em você, aquele Iida-san é um cara legal, ele a trata com respeito, o… Todoroki-san, é isso? Bom, ele não me preocupa, não parece nem habitar essa dimensão, mas você… eu percebi na hora como é diferente com você, e sabe, não seria um problema tão grande ela gostar de você se você fosse alguém que a merece, eu poderia viver com isso, mas você é patético, Midoriya. Não tem nada que eu odeie mais que gente indecisa e que não valoriza o que tem de bom, você consegue ser as duas coisas. Tsk… e a ironia de sermos parecidos fisicamente, só não é engraçado porque me deixa puto, eu não sou nem um pouco como você. —  Yubi também mantém uma posição armada e imponente, seu punho esquerdo está fechado.

—  Não somos parecidos mesmo, eu nunca manipularia a Uraraka-san do jeito que você fez, fazê-la acreditar que eu não a respeito, deixá-la vulnerável e frágil para você vir e se oferecer como um salvador do coração dela ou algo assim… você ainda se diz amigo dela?

—  Nossa, você realmente é péssimo, não? Eu não provoquei nada que já não fosse o que a Ochakolate sentia, só dei o empurrãozinho que ela precisava para confirmar que você é um merda que não a valoriza, e eu não sou “salvador” de nada, só estou aqui por ela porque, ao contrário de você, não tenho dúvidas sobre meus sentimentos, e agora que te tirei do caminho, vou fazer o que posso para que eles a alcancem. —  Izuku vacila, não porque o Yubi não dá sinal de que vai recuar ou porque essa conversa não está indo como ele imaginou, mas porque… porque o garoto mais alto não está completamente errado.

Uraraka não é uma boneca influenciável, ela sempre foi intuitiva e esperta, se esse garoto é horrível mesmo, ela não o trataria com tanto carinho. Se a amiga realmente sente que Izuku não a valoriza como uma adversária, é porque ele próprio passou essa impressão, mesmo que não seja verdade e ele não tenha nada menos que o mais sinceros e puros respeito e gratidão pelas habilidades, pela individualidade, pela postura… pela simples existência dela e por tê-lo adotado como amigo desde basicamente a primeira vez que o viu, Izuku vem falhando em deixar isso explícito, pois é óbvio o quanto ele a ama, mas… é óbvio só para ele. E para o Aoyama e o Kirishima, aparentemente.

—  Eu gosto muito dela, não quero que ela sofra.

— Isso é ótimo, não tenho dúvida que seja verdade, mas Midoriya, você deve perceber como ela muda quando está perto de você, ela fica… tímida, parece duvidar do que diz, você a deixa nervosa… não concorda comigo que não deveria ser assim? A Ochako merece ser a melhor versão de si mesma, e do jeito que está, ela não vai conseguir porque está apegada a você e sua validação.  — ele parece exausto em explicar isso como se Izuku fosse idiota, talvez seja — Agora, se você acha que eu não tenho nem um pouquinho de razão, bem… faça como achar melhor, mas se magoar a Ochako, é comigo que você vai se ver. — não querendo subestimá-lo, mas o Yubi não parece ser do tipo que resolveria nenhuma desavença em uma briga física, ele parece muito inteligente, é obviamente articulado, mas não aparenta ter um grande condicionamento físico, bater de frente com alguém que tem um treino rigoroso diário como Izuku soa quase suicida… e só prova o quanto ele é sério sobre suas convicções e sentimentos pela Uraraka.

Num nível que faz o aspirante a herói questionar-se sobre seus próprios sentimentos e convicções. É, se isso fosse mesmo uma luta, Izuku teria sido escorraçado, e o motivo da derrota seria ele mesmo e a sensação de que não consegue transmitir à Uraraka o quanto a adora, pelo menos não como ela merece. E ele não a merece, isso com certeza.

Então tá, o Yubi pode ter “um pouquinho de razão”, ele ainda acha que os métodos do rapaz são desprezíveis e não crê que seja bom para a Uraraka ficar perto dele, mas… que direito Izuku tem de definir o que é ou não é bom pra ela? Ele não pode afirmar mais nada.

Mas ainda assim… o rapaz precisa deixá-la saber que a respeita muito. Por isso que depois de dispensar-se do embate verbal que teve com o Yubi, Izuku pensou muito no que fazer durante o jantar, o qual ele comeu apenas para não pular a refeição, pois seu apetite era zero. E mais uma vez, igual na fatídica noite que desencadeou isso tudo, ele espera até mais tarde, só que agora, o rapaz de cabelos verdes pega o elevador e sobe até o 4º andar da ala feminina, seu coração está disparado, e ele só torce para não ser pego. O Iida com certeza percebeu que há algo de estranho agora que a Uraraka vem evitando-o, mas mesmo se Izuku explicasse, ele não escaparia de uma punição, pois o amigo de óculos é extremamente correto.

—  Uraraka-san? —  ele bate na porta dela tarde da noite, dá para ver pelo vão inferior que há pelo menos uma luz acesa no quarto, e ela tem o hábito de dormir tarde  — Sou eu… o Deku.

Silêncio, ou… talvez um leve farfalhar vindo lá de dentro, não dá pra ter certeza, e ele não vai colar o ouvido na porta como um maníaco para se certificar. Ela não quer vê-lo, e ele vai respeitar, mas Izuku já passou tempo demais não dizendo o necessário, então chegou a hora de mudar isso, torcendo para que ela esteja ouvindo.

—  Eu só… queria me desculpar de novo pelo que aconteceu naquele dia, já tem um tempinho, né? Três semanas, e passou voando! E quanto mais eu penso nisso, mais eu percebo o quanto fui egoísta e desrespeitoso com você, sobre o beijo, eu não tenho muito mais o que explicar, não foi certo, e eu sinto muito mesmo. Sobre a luta, eu… preciso confessar que realmente não queria lutar com você antes, nunca me imaginei num cenário lutando contra você, Uraraka-san, é estranho e eu também não sei explicar, aceitei aquela luta porque… era o que você queria, e me doeu muito ver você se chamando de idiota, muito mesmo, eu teria dito qualquer coisa pra não te ouvir falar daquele jeito de novo. Eu não queria lutar, mas conforme foi acontecendo, comecei a curtir bastante, você… você é absurda de incrível, Uraraka-san! Sua técnica com a gravidade é perfeita, seus movimentos são muito inteligentes e você é forte, forte demais! Eu só… queria ter valorizado isso antes, desculpa por isso. E… eu só queria te dizer pra tomar cuidado com o que você ouve, sei que você é inteligente o suficiente para pensar no que é melhor pra si mesma e pra nossa amizade, mas se proteja, ok? Nem tudo é o que parece. Enfim… eu só quero que você seja feliz, Uraraka-san, vou entender se você acha que não tem mais espaço pra mim depois do que eu fiz, então… muito obrigado por tudo, sua amizade é uma das coisas mais preciosas que eu consegui aqui na U.A., bom, eu… nem estaria aqui se não fosse por você, né? Se cuida, eu vou estar sempre torcendo por você! —  É um feito muito grande sua voz craquelar por conta do choro apenas na última frase, Izuku funga suavemente e se retira, enxugando os olhos na manga da camiseta.

Se ele tivesse olhado para trás um pouco antes de de dar as costas e andar em direção ao elevador, teria visto a porta se abrir um pouco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Semana que vem sai o último capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Na ponta dos dedos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.