Na ponta dos dedos escrita por annaoneannatwo


Capítulo 5
Capítulo 5




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—  Ei, Deku-kun!

Izuku quase pula ao ouvir a voz dela, mas se contém no último segundo sabendo que deixaria a Uraraka preocupada caso se mostrasse muito tenso, que é exatamente como ele se sente desde a insana revelação de que talvez… só talvez… o aspirante a herói esteja muito a fim dela.

Por mais que tenha passado noite passada com isso na cabeça, Izuku não chegou a uma conclusão satisfatória. Primeiro que “a fim” é um conceito que ele não conseguiu definir direito. O que é estar “a fim” de alguém? No que isso implica, exatamente? Páginas e mais páginas de pesquisa que causaram mais dúvida do que clarificação, e Izuku ainda não obteve suas respostas, e por sorte eles andam muito ocupados com seus estágios de terceiro ano e mal se veem de manhã nos dormitórios, porque encará-la nesse momento o faz sentir-se com um saco de areia dentro do estômago.

Mas à tarde, a turma toda tem treino prático, então não vê-la não é uma opção, e assim que a ouve chamando-o com o mesmo entusiasmo de sempre, ele se sente, um: extremamente feliz, dois: em absoluto pânico.

—  U-Uraraka-san. —  ele a cumprimenta como consegue, abaixando os olhos —  D-deu tudo certo ontem com o seu compromisso?

—  Oh… sim! O-obrigada por entender e desculpa desmarcar de última hora! A gente vai remarcar, né?

—  Claro! Vamos ver um dia em que o pessoal também pode e aí vamos todos juntos! —  não é o que ele tinha imaginado, mas Izuku já percebeu que está fadado a ser assim, e tudo bem, ainda será divertido! Talvez ele ainda tenha a sorte de se sentar ao lado dela. Ele… ele tem uma fantasia de que Uraraka cochilaria durante o filme e acabaria apoiando a cabeça em seu ombro, ficando imóvel para não acordá-la e, quando acabasse, Izuku se inclinaria e sussurraria “Acabou, Ochako-chan…” —  S-será muito divertido!

—  Sim! Poderíamos chamar o Hiro-kun também pra vocês poderem se conhecer melhor. né? —  ele sente uma pontada no estômago.

—  S-sim, vamos ver… —  ele força um sorriso, ainda evitando encará-la pois sente que assim que seus olhos encontrarem os dela, vai acabar entregando todos os pensamentos turbulentos que andou tendo sobre sua melhor amiga que confia tanto nele —  B-bom, eu… vou lá me alongar, a gente se vê depois! — Izuku lhe dá as costas, sentindo que pode soltar a respiração que estava prendendo desde o minuto em que a cumprimentou.

—  Deku-kun! —  ela o chama e segura na manga da camisa dele, o que o faz gelar e se esquentar todo ao mesmo tempo, como se o Todoroki estivesse por perto, Izuku a olha por cima do ombro, sentindo que seu coração vai escapar pra fora do peito diante dessa visão.

As sempre rosadas bochechas estão ainda mais coradas, e ela também mantém o olhar baixo, mas apenas por um segundo. Orbes de cor caramelo queimado se voltam pra ele, e o jovem engole a saliva —  Eu… tem uma coisa que eu quero te falar, mas não sei como, e-eu… 

—  S-sim?

—  Eu… andei pensando muito em algumas coisas em relação a nós dois, e… —  caramba! Caramba! Caramba! Isso é um sonho? Só pode ser um sonho! Porque nunca que ele receberia uma confissão assim no meio da aula com todo mundo podendo ouvir! 

Ainda mais uma confissão dela!

—  Aham? —  a voz dele sai uma oitava mais fina.

—  E… eu… percebi que… nós nunca lutamos um contra o outro, Deku-kun. —  hã?

—  Hã?

—  Nós sempre saímos nos mesmos grupos, e eu adoro trabalhar com você, mas… nós nunca fomos adversários, né?

—  É… a-acho que não.

—  A gente talvez se enfrentaria no Festival Esportivo esse ano, mas não aconteceu…

—  Pois é. —  o ataque dos remanescentes da Liga interrompeu o festival, foi uma situação tensa e perigosíssima, mas por algum motivo, achou preferível lidar com aquilo do que com a luta contra o Kirishima que poderia colocá-lo como adversário dela na rodada seguinte. Com todo respeito ao amigo ruivo, mas Izuku já estava pensando no que faria caso a enfrentasse, ele precisaria de uma estratégia inteligente para não cair nos truques que ela sempre tem na manga, algo preciso e rápido, e que não a fizesse forçar seu limite ou que a machucasse…

Ele quase consegue ouvir a voz do Kacchan berrando em sua cabeça pra parar de pensar assim e não tratá-la como se fosse de porcelana, subestimar um adversário é um passo gigante em direção à derrota, ainda mais ela. Mas ainda assim, a ideia de fazê-la sentir dor com um de seus smashes o faria ter pesadelos eternamente.

—  Sim, então, hã… eu tava pensando, você não quer lutar contra mim?

—  Oh… —  ele não contém a surpresa em ouvir uma pergunta tão direta sobre algo que estava lhe tomando a mente —  C-comigo? Você quer lutar comigo?

—  Sim, um combate bem rápido, sem individualidades. O-ou com. Você que sabe.

—  Ah… c-certo. Seria agora? —  ele faz soar como se fosse uma enorme inconveniência e se arrepende imediatamente —  É que… desculpa, não me preparei pra isso hoje e-

—  N-não, tudo bem! Não precisaria ser agora, nem mesmo hoje! Ou… —  ela solta a manga dele — Foi só uma ideia que tive do nada, não se preocupe! Se você realmente não quiser…

—  N-não é que eu não queira, eu- —  o apito da professora Midnight ecoa pelo ginásio, anunciando que a aula começará, Uraraka sorri gentilmente e se afasta com um leve tchauzinho, e Izuku sente que já tomou um soco na cara antes mesmo de o treino começar.

As poucas horas dormidas e a distração causada pelo enorme desastre que foi sua primeira conversa com a Uraraka depois de se dar conta que gosta dela o deixam com reflexos lentos, não fosse o One for All, ele já estaria tombado no chão com os ataques do Tokoyami, seu oponente do dia.

—  Receio não haver um jeito gentil de te dizer isso, Midoriya… —  o colega com cabeça de pássaro começa pesarosamente quando o treino termina.

—  Você tá só o pó, rapaz! —  o Dark Shadow completa.

—  Está tudo bem? 

— Ah… sim! Tudo bem, bem! Só não tive uma boa noite de sono.

— Compreendo, à noite, as raízes da escuridão rastejam sorrateiramente para dentro de nossas mentes e despertam os monstros adormecidos, dormir se torna um embate contra as trevas em nós mesmos.

—  Hã… aham. —  é, deve ser mais ou menos por aí mesmo.

E então ele ouve uma comoção vindo da entrada do ginásio, onde os bebedouros estão, seus olhos percorrem nessa direção, e Izuku avista uma cabeleira alaranjada.

Ah não!

De onde saiu a ideia que eles são parecidos? Os garotos estão doidos! O Yubi e ele não têm nada a ver, ele é… ele tem… uma cara esquisita, um sorriso esquisito, é… é difícil de explicar, mas não tem nada a ver! Nada!

Izuku vai até lá pois precisa encher sua garrafa d’água. Aproximando-se, ele vê o Yubi cercado pela Ashido e pela Hagakure, o Kirishima, o Kaminari e o Sero também estão por perto sorrindo, Uraraka está por ali, mas mantém uma certa distância, ela parece bem corada, tanto quanto antes, mas com certeza é por causa do treino, não deve ser por causa de seu amigo.

—  Tsk.

O som característico que vem de algum lugar próximo faz o garoto de cabelos verdes se virar e encontrar o Kacchan encarando a horda de colegas em volta do Yubi, ele está com a mesma expressão irritada de sempre, mas os braços cruzados e a cabeça levemente inclinada indicam que o loiro explosivo está analisando algo.

—  K-Kacchan?

—  Gente que fica sorrindo assim me dá nos nervos. —  ele resmunga.

—  Oi?

—  Abre o olho, nerd maldito. o queijo cheddar ali de idiota só tem a cara. —  e dá de ombros, indo na direção oposta enquanto grita pro Kaminari voltar pro treino, claro que o Kacchan não ofereceria uma explicação mesmo se Izuku perguntasse, mas ainda assim o observa se afastar com ar questionador.

—  Deku-kun! —  ela vem correndo até ele, sua animação costumeira já está de volta, mesmo que Uraraka parecesse um tanto tristinha na última vez que interagiram. Tudo por culpa dele e por não saber se expressar direito —  Olha! — sua amiga tem um caderno em mãos e o mostra animadamente pra ele — O Hiro-kun me desenhou enquanto eu tava treinando!

—  Oh, olha só que legal! — sim, é bem legal, mesmo estáticos, os rabiscos parecem se mexer com a mesma determinação e graça dela, Izuku conhece cada um dos movimentos expostos aqui e como Uraraka usa sua técnica através deles.

—  Eu queria desenhar a Uravity em ação pra poder pensar no traje que estou fazendo em movimento. —  a voz suave do garoto se aproxima.

—  Yubi-san, você não está em horário de aula também? —  soa como uma inquisição, e de repente ele se sente como o Iida escandalizado diante da ideia de matar aula.

—  Claro! Minha professora é bem legal e me liberou quando eu contei que tô desenvolvendo o projeto final com uma aluna daqui. —  ele sorri — Desculpe se atrapalhei seu treino de alguma forma, Midoriya-san. — Ah, agora ele sabe o nome dele? — Já vou te devolver sua parceira.

—  Nós não… somos parceiros, Hiro-kun. —  ela diz, meio sem jeito.

—  Não? —  o Yubi ergue as sobrancelhas, correndo o olhar dela para ele —  Eu devo ter entendido errado, me desculpem. — e suspira.

—  Tá tudo bem, Hiro-kun? —  ela pergunta, preocupada.

—  Hã? Ah, sim! Só estou um pouco cansado, acho que vou pegar um resfriado.

—  Você devia ter se protegido com sua camiseta, não precisava ter deixado ela comigo! —  ela o olha feio, e Izuku de repente sente uma pontada ligeira de inveja, ele queria levar uma bronca assim dela.

—  Hahaha, não é minha culpa se ela fica melhor em você do que em mim, Ochakolate. —  ele ri, sem graça, deixando-a enrubescida. Esse garoto… não tem vergonha de falar coisas assim? —  Enfim, já vou indo!

—  Hiro-kun, peraí! Se você tá ficando resfriado, deveria passar na enfermaria e pegar umas vitaminas. —  Uraraka sugere.

—  Ah, não precisa! Vou ficar bem.

—  Claro que vai, se tomar as vitaminas. Vem, eu te mostro onde é. —  ela decide, guiando-o em direção à saída, ela parece tão… tranquila e casual falando com ele, claro, são amigos de infância, então deveria ser natural assim mesmo, mas é diferente de como ela agiu quando veio lhe fazer um pedido tão simples de “luta comigo?”, que, em defesa dele, não é nada simples. Izuku sempre gostou de como a Uraraka é direta, quando se conheceram, ela não se acanhou em abordá-lo e sempre tratou sem cerimônia pessoas que a princípio o deixavam nervoso, como o Iida e o Kacchan, normalmente ela é assim com ele também, mas às vezes parece tão incomodada… Izuku queria que ela o tratasse como está tratando o Yubi.

—  E-eu vou com vocês. —  ele decide.

 

***

A Recovery Girl atende o garoto rapidamente e prescreve uma vitamina, dizendo que vai buscá-la e que eles esperem um pouquinho. É bem desconfortável, Izuku sente que está invadindo um momento particular entre amigos de infância, bom, pelo menos é a impressão que o Yubi passa toda vez que olha pra Uraraka, tem algo que ele quer falar, mas não o faz pois ele está aqui. Por mais constrangedor que seja, o aspirante a herói sente que tomou a melhor decisão em não deixá-los sozinhos.

— Anos se passaram, e eu ainda termino numa enfermaria com você, Ochakolate. —  ele diz em um tom agridoce. Ela o olha de um jeito meio triste — Não precisa ficar assim, já faz muito tempo, e… você estava comigo, então não era tão ruim… — ah, era isso que ele queria falar pra ela, realmente era algo meio privado entre eles, agora Izuku realmente se sente um intruso —  Desculpe, acho que tô falando demais… nem sei o que tô falando, na verdade... — o Yubi leva a mão à testa.

—  Você tá com febre? —  Izuku questiona.

—  Será? Eu vou pedir um termômetro pra Recovery Girl! —  Uraraka se retira da enfermaria com rapidez e prontidão, deixando-o sozinho com esse garoto, que retira a mão da testa e abre os olhos, encarando-o.

—  Fique tranquilo, Yubi-san, a Recovery Girl tem um ótimo remédio pra febre! N-não sei se ela passa esse remédio só quando temos um ferimento mais grave ou se serve pra resfriado também, mas eu sei q-

—  Midoriya Izuku, mas te chamam de Deku, certo?

—  Hã? Ah… sim.

—  Acho que nós começamos com o pé esquerdo, não fui muito gentil com você da primeira vez em que nos vimos. Eu… serei honesto, fiquei um pouco intimidado quando te vi com a Ochako.

—  O-oh…! —  ok, por essa ele não esperava, tanto que nem sabe o que responder —  T-tudo bem, Yubi-san.

—  Sim, tudo bem. Agora eu vi que fui bobo e que não tinha nada pra me preocupar.

—  Sim! —  ele concorda. Não, espera —  Como…? Como assim?

—  É que eu achei que você e a Ochako fossem os melhores amigos do mundo, que não se desgrudassem, fiquei com medo de ter sido substituído, quer dizer, nós até somos parecidos de rosto um pouco, não acha? Achei que você fosse o “Hiro 2.0” dela. Mas… não é nada disso, né? Vocês só são colegas. —  Hã… tem muita coisa nessa frase, Izuku sente que parte até faz sentido, mas… uma parte bem pequena. Ele e a Uraraka podem não ser do tipo que não se desgrudam, mas são muito amigos, sim. Como assim?

—  C-colegas? Hã, não exatamente, a gente se dá muito bem!

—  É difícil não se dar bem com a Ochako, né? —  ele sorri de um jeito quase desdenhoso — Mas enfim… eu claramente te julguei mal, e peço desculpas por isso, Midoriya-san! Você é um cara legal, e torço pra que a Ochako e você se tornem bons amigos no futuro!

—  M-mas… nós somos bons amigos.

—  São? Não fiquei com essa impressão, sabe, eu conversei com ela bastante ontem, e ela me contou como as amizades aqui têm um quê de rivalidade, e vocês nunca lutaram um contra o outro, não é?

—  Não, mas… só por uma falta de ocasião, não por… —  Izuku tenta se lembrar de alguma oportunidade que teve de lutar contra a Uraraka, nunca teve nenhuma, bom, talvez uma no segundo ano, mas ele quis enfrentar o Kacchan… mas tirando essa, e ele nunca… criou mais nenhuma outra, só faz dupla com ela quando é pra serem parceiros —  ...isso não quer dizer nada.

—  Talvez pra você. —  ele dá de ombros, e antes que o de cabelo verde possa questionar, a Uraraka e a Recovery Girl voltam.

O termômetro acusa que o Yubi não está com febre, claro que não está. Já Izuku sente todas as funções de seu corpo desreguladas.

 

***

O jantar foi estranho, ele mal se lembra do que comeu, ou sequer se mastigou, foi tudo feito no automático pois seu cérebro ficou lá na enfermaria e no que o Yubi disse. Como assim, ele e a Uraraka não são amigos só porque eles nunca lutaram? Cadê o sentido nisso? Se eles nunca se enfrentaram em um confronto físico direto, é porque nunca houve oportunidade, necessidade e… e… não é que ele não gostaria, é só que Izuku não vê o porquê, ele fica sempre muito feliz quando sai em grupos com ela porque já conhece a Gravidade Zero muito bem e sabe como aproveitar essa e toda a vasta gama de habilidades da Uraraka para conduzir o time à vitória, nunca nem lhe passou pela cabeça tê-la como rival porque conta com ela como sua maior aliada desde… desde… desde sempre, ora!

Mas… o Kacchan e o Todoroki também são aliados, todos heróis treinando e levando seus corpos ao limite para salvar e vencer sempre, e ainda assim… o aspirante a herói não pode negar que existe uma empolgação enorme em vencê-los em combates diretos, superar aqueles a quem se admira é a epítome da satisfação. Ele também admira a Uraraka, então por que não sente essa necessidade de vencê-la? Izuku não quer estar nem acima nem abaixo dela, apenas ao lado.

É, é isso, e o que há de tão ruim nisso? Na verdade, por que seria ruim ele não querer fazer nada que envolva trocar socos e machucar sua melhor amiga? Muito pelo contrário, isso é bom, não é?

Não num curso de heróis, não quando ela está aqui com o mesmo propósito que todo mundo e trabalha tão duro quanto o Kacchan, o Todoroki, o Iida, e ele mesmo, se não mais que todos eles juntos.

—  U-Uraraka-san!

Izuku a intercepta tarde da noite, ele sabe que ela costuma tomar banho mais tarde e a esperou pacientemente  — “pacientemente” sendo Izuku tentando se concentrar em um livro que pegou emprestado do Iida e batendo a perna incessantemente no chão, ele não se lembra de uma só palavra que leu —  talvez fosse melhor ter esperado de manhã quando ambos estariam descansados, dispostos e ela não estaria com os cabelos molhados, exalando um cheiro forte de cereja.

—  D-Deku-kun, você… —  ela confere a hora em seu celular e se volta pra ele com um ar confuso, tudo na expressão dela é torturantemente encantador, e Izuku quer se estapear para conter um grunhido —  … aconteceu alguma coisa?

—  N-não, Uraraka-san, eu só… queria… hã, como o Yubi-san está? —  ele pergunta com genuína curiosidade, pois o garoto parecia muito bem quando eles deixaram a enfermaria. Muito, muito bem.

—  Ah, falei com ele agora pouco, tá tudo bem, ele tá descansando e tomando as vitaminas, não vai ficar com gripe.

—  Que bom!

—  Sim! Então… você só tava preocupado com ele, Deku-kun? Podia ter me mandado mensagem, não precisava me esperar até tão tarde.

—  Ah, não era só isso, eu… tinha uma coisa que eu queria falar com você, Uraraka-san, é sobre nossa conversa de mais cedo, sobre aquilo que você me pediu. —  ela não diz nada, e pra não entrar em pânico, Izuku sente a necessidade de se explicar — Sobre a gente lutar um contra o outro, no caso.

—  Ah sim, isso… —  ela sorri, fazendo-o reprimir outro ganido, por que… ela é… tão adorável?  — Não se preocupa com isso, Deku-kun, como eu te disse, foi só uma ideia que me veio, eu falei meio no impulso, mas não precisa lutar comigo se você não quer, tá bom? —  ela acena levemente e anda em direção ao elevador, por que parece que ela está apertando o passo?

—  M-mas, Uraraka-san-

—  Você é tão ocupado no seu estágio, eu sou com o meu também, e logo começam as provas desse trimestre, a gente deveria aproveitar o tempo que tem pra estudar e relaxar, não ficar caçando jeitos de acabarmos mais exaustos —  ela dispara a falar, ainda andando rumo ao elevador, Uraraka aperta o botão, mas a porta não abre, então ela continua apertando-o com um quê de nervosismo.

—  Uraraka-

—  Foi uma ideia idiota, eu não devia ter dito nada.

Izuku não gosta de vê-la assim, não é a Uraraka com quem ele se acostumou a conviver, não é… a garota que ele gosta. Os dedos dela parecem meio trêmulos contra o botão do elevador e, num gesto impulsivo, ele para bem atrás dela e pousa sua mão sobre a de sua amiga.

Os dedos dele são tortos e cheios de cicatrizes, as unhas estão crescendo agora que ele conseguiu parar de roê-las, mas ainda são bem feias, ainda mais em comparação às dela, curtinhas e ovais. Dedos gorduchinhos e macios, tão delicados, mas apenas porque não dá pra sentir a parte oposta deles, onde estão as bolinhas cor de rosa mais bonitinhas e letais já existentes.

—  Nada do que você diz é idiota, por favor, não pense assim.

—  D-Deku? —  ela está tão perto, o corpo dela, os cabelos molhados, o cheiro de cereja vindo deles, a pele rosada e quentinha de quem acabou de sair do banho, é tudo tão doce e atraente, e ele sente que poderia entrar em frenesi se não estivesse mais preocupado em ter certeza de que ela nunca mais se chame de idiota.

Uraraka não é idiota, ela é inteligente, criativa, tem uma individualidade versátil e uma determinação de ferro, seria uma honra enfrentar e vencer alguém assim. Não importa que não é o que ele quer, é sua obrigação atender esse pedido, pois veio de uma grande heroína, de sua amiga, daquela de quem ele está a fim.

Ok, agora Izuku entendeu exatamente o que isso significa.

—  Fala a data e a hora, e eu estarei lá.


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