Na ponta dos dedos escrita por annaoneannatwo


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ochako não sabe porque está tão nervosa, ela já esteve no Departamento de Suporte incontáveis vezes, antes ela não gostava de vir até aqui por… ciúmes da Hatsume, a heroína odeia admitir isso a si mesma, ela odeia mais ainda o quão ridículo isso era, a amiga inventora via o Deku como uma cobaia, nunca como um… namorado em potencial ou qualquer coisa semelhante a isso, às vezes é difícil de acreditar que a Hatsume vê o Iida, que é seu namorado de fato, como um, então a ideia que ela tinha da garota em relação ao Deku passou bem longe de ser o que realmente é.

E mesmo se fosse… pra quê o ciúmes? Ochako não tem esse direito, ela decidiu superar esses sentimentos, optou por ver o Deku apenas como amigo e inspiração (já que é o que ele é mesmo), o resto eram hormônios e bobagens.

Mesmo assim… doeu tanto recusar o convite para o cinema! Ainda bem que foi por mensagem, caso fosse pessoalmente, ela não teria coragem, o Deku sorriria gentilmente e diria “não tem problema, fica pra próxima!” e faria o coração dela se afundar em remorso, não que já não esteja agora…

A uma hora dessas, eles estariam saindo da U.A. para pegar o trem, o dia está bonito e ensolarado, se eles saíssem um pouquinho mais cedo, poderiam ir andando bem devagar até a estação e curtindo a brisa de verão, eles conversariam sobre os deveres de casa que já fizeram, e o que ainda falta, ele perguntaria como anda o estágio dela e vice versa e… o resto do caminho seria silencioso e desconfortável, Ochako ficaria nervosa querendo pôr um fim nisso pra não deixar as coisas estranhas e diria algo que geraria o efeito contrário, ele ficaria envergonhado, ela ficaria envergonhada por tê-lo envergonhado, e ambos passariam a fazer breves comentários sobre os amigos e o que eles fariam se tivessem vindo junto.

Ela pensa nisso tudo para se convencer de que foi melhor assim, só eles dois seria muito estranho e quem olhasse de fora poderia pensar que se tratava de um encontro… a ideia a faz corar, ela num encontro com o Deku, ha! Ela toda contente em um encontro com o garoto por quem jurou que já não sente mais nada desse tipo, haha!

Melhor mesmo não ter dado certo, eles podem ir quando o resto do pessoal puder ir também, fora que o compromisso para o qual ela deu prioridade é importante, vale nota para seu amigo e pode ser algo muito bom para ela mesma. Ochako aprendeu a gostar de seu uniforme, é prático e ela já se tornou especialista em entrar e sair dele em questão de segundos, mas… às vezes, a heroína se sente um pouco exposta, principalmente na parte de trás, ela já notou civis olhando-a e até saiu em uma reportagem: uma promissora estudante da U.A. brilhou em um resgate de crianças em um prédio desmoronado, mas a foto que vinha com a matéria não mostrava nada sobre o feito, apenas ela em um ângulo que fazia seu bumbum ser o verdadeiro destaque, não é esse tipo de foto que ela quer que seus pais vejam… 

Então, quem sabe? Se o Hiro conseguir fazer algo bem bacana, ela pode até propor a mudança para o pessoal que cuida das atualizações de seu traje, seria bom pra ela, seria bom pro Hiro, imagina, um estudante em seu primeiro ano já recebendo crédito por um uniforme oficial de um estudante da U.A.? Mesmo que ela ainda não seja profissional, já é uma grande realização para pôr no currículo!

Então, por mais chateada que esteja em ter dispensado o Deku com tanta casualidade, ela fica feliz em poder ajudar o amigo de infância, e se isso inclui ganhar um upgrade no traje, Ochako também não irá reclamar.

Mesmo assim, ela ainda está um pouco nervosa, o Hiro estava empolgado e mandou vários esboços, um mais lindo que o outro, mas disse que eram apenas ideias e que queria se reunir com ela para fazerem um brainstorm, talvez até já tirar as medidas delas e tudo desse certo.

E deu, ela escolheu alguns tons de uma paleta de cores que ele mostrou, explicou o que gosta e não gosta no traje original e ouviu algumas sugestões dele, como por exemplo, tirar as linhas verticais cor de rosa da parte da frente, ou pelo menos mudá-las um pouco para que não direcionassem a visão tanto para a… virilha dela. Foi incrível como ele falou isso de maneira tão calma, porque Ochako sentiu o rosto pegar fogo ao ouvir isso, mas manteve a postura profissional já que ele sustentou a dele, e… conforme eles foram conversando, ela foi relaxando, o Hiro era tímido e chorão quando criança, mas quando brincavam na vizinhança, ele sempre a fazia rir e se divertir, isso com certeza não mudou.

Mas agora ela está tensa de novo, parada de frente para um espelho enquanto o observa pelo reflexo, ele colocou um par de óculos de aros grossos e cor azul marinho, medindo-lhe a cintura com uma fita métrica e anotando em seu caderno. Que vergonha! As medidas de seu corpo sendo expostas assim para um garoto, tudo bem que é o Hiro, mas ainda assim… é um rapaz um pouquinho mais velho, e pelo menos em aparência, ele não lembra nem um pouco o garotinho baixinho com quem brincava.

—  Tá tudo bem? —  Hiro pergunta, ainda olhando para a fita quando a desce para a altura de seus quadris, ele está de joelhos diante dela, e então a olha, e Ochako sente o rosto afoguear-se, eles não estão sozinhos, há mais alguns estudantes de moda conversando e trabalhando no ateliê montado pela U.A, e ainda assim, tem algo de muito íntimo no olhar dele que a faz sentir-se sozinha com seu amigo nesse imenso espaço

—  S-sim, só… pensando que tive que mandar minhas medidas por escrito para receber meu uniforme, nunca… fui medida assim pessoalmente.

—  Ah sim, a demanda dessas empresas deve ser maior, então eles não devem ter tempo de mandar um profissional só pra isso, mas como eu tô fazendo um trabalho artesanal, posso te dar atenção especial. —  ele sorri gentilmente, aparentemente nem notando o rubor nas bochechas dela —  Vou tentar fazer um pouco mais largo, ou então em um tecido que estica bastante, o da regata daquele seu colega Bakugou me parece o ideal.

—  Você curtiu mesmo o uniforme do Bakugou-kun, né? —  ela sorri, tentando não pensar muito na intimidade da situação em que se encontra, com o Hiro envolvendo uma de suas coxas com a fita métrica.

—  Hahaha, sim. Achei inusitado porque não parecia uma roupa de herói, mas aí explicaram sobre a individualidade dele e realmente combinou. Foi surpreendente, e bom… —  ele se levanta e para na frente dela antes de segurá-la pelos ombros para que se vire, Ochako consegue sentir as palavras em sua bochecha —  Vamos dizer que eu sempre gostei de tudo que contraria as aparências.

—  E-entendi… 

—  Eu… te vi na TV, sabe? —  ele se afasta, indo pegar seu caderno —  Foi há uns dois meses, vi que vocês foram atacados durante o Festival Esportivo.

—  Sim. —  ela confirma, lembrando-se do atentado que ocorreu durante o Festival quando já estavam nas quartas de final, ela se lembra que estava nervosa pois havia vencido o Tokoyami e esperava o resultado do embate entre o Kirishima e o Deku para conhecer seu adversário. O evento foi interrompido por remanescentes da Liga dos Vilões e, mesmo depois de tudo resolvido, sem muitos alunos ou civis feridos, e o mais importante: nenhuma morte, o torneio não foi retomado, adiado por tempo indeterminado. A possibilidade de enfrentar o Deku permanece suspensa até hoje —  Foi horrível.

—  Mas você lidou com tudo como uma profissional, não foi? Vi sua entrevista, passou no jornal da noite lá na Espanha.

—  J-jura? —  Ochako sabia que o evento havia repercutido internacionalmente, mas… a entrevista dela? A jovem só se lembra de estar exausta depois de ter impedido parte do mezanino de desabar e evacuado diversos civis, nem sabe o que respondeu direito, não deve ter sido a entrevista mais loquaz e pertinente.

—  Uhum, quase engasguei com o jantar quando minha mãe gritou “É A OCHAKOLATE!”, aí te vi na TV, você… tava igualzinha ao que eu lembrava, mas ainda assim tão diferente… —  Ela quer que ele elabore mais, mas sabe que não precisa, pois entende: o Hiro também parece idêntico e ao mesmo tempo, outra pessoa —  Eu e ela ficamos felizes em te ver, mesmo que naquelas circunstâncias.

—  V-você… você mora com sua mãe, Hiro-kun?

—  Uhum, num apartamento em Barcelona.

—  Que legal! Deve ser legal morar com os pais, e você já tá na faculdade! Sempre imaginei que os universitários prefeririam morar sozinhos, serem independentes e tal…

—  Ah, sim, pretendo achar um cantinho pra mim mais pra frente, por enquanto não dá, mas eu… gosto de morar com minha mãe. —  o tom dele é afetuoso, isso a lembra do Deku, por algum motivo...

—  Bom, ela é bem legal, pelo que eu me lembre.

—  Ela é, só é meio dramática! Você precisava ver o escândalo que ela fez quando eu comecei a usar brinco!

—  Imagino o que ela achou do alargador, então. —  Ochako ri e aponta para a orelha direita dele com o lóbulo esticado e adornado por um círculo marrom escuro.

—  Ah, isso…  É, ela achou que eu tava numa fase rebelde e tal, tudo bem que, assim, errada ela não tava. —  os dois riem.

—  Não consigo te imaginar numa fase rebelde!

—  Ah, porque a gente não se viu quando eu tinha uns 13, 14 anos. Você ainda deve lembrar de mim como o molequinho que te levava flores e chorava quando achava uma joaninha no meio delas.

—  Ah… —  Ochako ri fracamente —  ...eu nunca te vi só assim, e você sabe, Hiro-kun, você era meu amigo.

—  Eu sei, sempre vou te dever por isso. —  ele para de rir e a olha intensamente, como se estivesse buscando algo muito além dos olhos dela —  Ainda tô devendo, por sinal. Então… tá com fome?

—  Oh, sim, um pouco.

—  Ok, já terminamos por aqui mesmo, quer procurar algum lugar pra comer? Na verdade, você que vai ter que me guiar, eu tô bem enferrujado em conhecer comida japonesa.

—  Claro! Tem um lugar que eu sempre vou com meus amigos, fica a uns 15 minutos daqui, a pé.

—  Legal! Ah… —  ele desvia o olhar, aparentemente sem jeito —  ...se for um lugar mais em conta, eu agradeceria, tô meio apertado.

—  Sei como é, não se preocupa. Lá é bem baratinho.

—  Aargh, que vergonha falar assim, não é o melhor jeito de se convidar pra um encontro, né?

Ochako fica sem resposta. “Encontro”? Isso é um…? Não, ele… ele deve ter trocado a palavra, Hiro pediu desculpas várias vezes durante sua reunião por não lembrar mais de muitas palavras em japonês e por trocar algumas, deve ser o caso agora.

É, com certeza, isso não é um encontro.

 

***

Eles se sentam lado a lado nas banquetinhas do restaurante, Ochako olha pra trás, lembrando-se que costuma sentar à mesa naquele canto quando vem aqui com a Tsuyu e os meninos, seria legal se estivesse todo mundo aqui pra ela incluir o Hiro e  apresentá-los melhor já que a Mina meio que roubou toda a atenção ontem. Ela tem a sensação de que o Hiro e o Deku se estranharam um pouquinho, então seria bom tentar aproximá-los para eles verem o quanto têm em comum.

—  Hum… Ochakolate, será que você pode me ajudar? Eu não lembro de quase nada.

—  Oh, claro! —  ela aceita prontamente e se aproxima do cardápio que ele estende em sua direção —  Você gosta de comida apimentada, Hiro-kun?

—  Muito! Mas é o que eu como sempre, queria algo mais leve.

—  Ok… hã… —  ela corre os olhos pelo cardápio, notando que ele faz o mesmo na página ao lado, e então Ochako se dá conta do quão próximos os dois estão, as mechas mais compridas de seu cabelo o tocam no ombro, e o ar que entra em suas narinas é o que sai da boca dele, Ochako se afasta, envergonhada  —  Hã… o udon é gostoso.

—  Certo, e você? Vai querer o quê? Nem pensar em comer mochi antes do prato principal! —  ele aponta o dedo pra ela em falsa bronca.

—  Como é? —  a jovem ri, lembrando-se que realmente tinha o hábito de se empanturrar de mochi antes da hora do almoço quando era pequena —  Eu não faço mais isso, ok?

— Ah sim, com mochi tradicional não, mas de morango sim, aposto! —  ela enche as bochechas de ar ao ser exposta assim tão fácil, Hiro a olha e ri ainda mais —  Nossa, você ainda faz isso quando fica irritada? É tão fofa quanto eu lembrava! —  isso a desarma, e Ochako sente suas bochechas esquentarem.

Ele…?

Não, não pode ser. É o Hiro, seu amiguinho de infância, o garoto já teve que ir pegar papel higiênico pra ela uma vez, ele não tá… não é possível que o Hiro… esteja…

Flertando?

A Mina sempre a provoca sobre ser inocente demais e não perceber, mas Ochako consegue captar os sinais de vez em quando, ela vê o Kaminari interagindo com o Shinsou às vezes e percebe que há tons de flerte no tom e postura do loiro, o mesmo vale para a Tooru e o Ojirou, ou mesmo o Tokoyami com a Tsu, a amiga sapo sim é completamente densa! Já ela consegue perceber, mas talvez não pra si mesma, por isso a confusão se ele está ou não.

Mas é bem provável que não.

Hiro faz os pedidos e os dois voltam a conversar sobre amenidades, as diferenças de se morar no Ocidente, as dificuldades que ele tem com japonês e até o clima, o tipo de diálogo tranquilo que Ochako gostaria de manter com o Deku se não ficasse tão nervosa diante dele e de sua dolorosa gentileza, tem tanto que ela quer falar com ele, aprender e descobrir já que o considera um grande amigo, mas, por algum motivo, ela sempre trava! Em três anos, Ochako sente que mudou muito, só que em se tratando dele, ela ainda é a mesma do primeiro ano que recebeu a epifania de descobrir que gosta dele como um tapa na cara.

Gostava, Ochako, GOSTAVA.

A caminhada de volta para a U.A. é tranquila, eles continuam conversando e relembrando histórias de sua infância, até que uma gota d’água vinda do céu pinga em seu nariz, ambos olham para cima e veem nuvens cinzentas se aglomerando, até que os pingos começam a aumentar, ela dá um gritinho e puxa o Hiro pela mão para apressá-lo e guiá-lo até um lugar seguro: o ponto de ônibus próximo ao colégio.

A cena é assustadoramente nostálgica, Ochako quase consegue ver a ambos como crianças correndo da chuva e indo se esconder debaixo do toldo de uma lojinha de doces na vizinhança, o Hiro comprou balas para ela em agradecimento por tê-lo “salvado” dos pingos d’água.

E depois… ela o acompanhou até em casa e viu ele apanhar do pai por ter gastado dinheiro com bobagens. Ochako tinha medo do pai dele.

—  É uma chuva de verão, deve parar logo. —  ela explica.

—  Aham. —   Hiro olha pra baixo e vê as mãos deles ainda conectadas, só então a jovem se dá conta de como os dedos dele estão esticados para contornar a mão dela inteira, exatamente como fazia quando era criança e estava com medo. A visão enche seu coração de nostalgia novamente, mas agora do tipo triste, as memórias de dias chuvosos não devem ser boas para o amigo —  A-ah, desculpa, Ochakolate. —  ele a solta imediatamente, envergonhado.

—  Não, tudo bem! —  ela o tranquiliza, mesmo não estando muito tranquila ela mesma, a manipuladora de gravidade olha para o céu, tão bonito e ensolarado quando eles saíram, e agora escuro, com barulhos surdos de trovão irrompendo. Se tivesse saído com o Deku, eles teriam sido pegos na chuva… a ideia de pegar na mão dele e arrastá-lo para um lugar onde não se molhariam faz as borboletas no seu estômago darem piruetas, ainda bem… ainda bem que não deu certo de eles saírem.

—  Ochako, tá tudo bem?

—  Hã? A-ah, sim… 

—  Não vai dizer que você ainda tem medo de trovão… —  ele sorri matreiramente —  ...porque eu tenho. —  e fica muito sério, e os dois riem nervosamente —  Sabe que eu ainda lembro daquela musiquinha que você cantava pra espantar os trovões? Não lembro da letra, só da melodia. —  o Hiro começa a cantarolar suavemente, Ochako já tinha percebido porque a Mina fez questão de apontar: a voz dele é muito bonita, já era quando eles eram crianças, agora é simplesmente mesmerizante —  Consegui te acalmar?

—  Oh… sim, obrigada. Foi minha mãe que me ensinou essa música… —  ela dá um sorriso triste —  Deu saudades dos meus pais.

—  Eles tão em Mie?

—  Uhum. Eles vêm me ver uma vez por ano.

—  Entendo… deve ser difícil, você sempre foi grudada nos seus pais, né?

—  Sim… —  ela observa a chuva —  M-mas tudo bem, eu falo com eles no telefone todo dia, e… e bom, você viu meus amigos, né? É como se a gente fosse uma grande família! A Mina-chan é tipo uma… prima doidinha, a Tsu é minha irmã de coração, o Iida é tipo um avô, o Todoroki-kun é… não sei, talvez o gato. E o Deku… —  ela ri nervosamente —  ...ele é… o… hã… ainda não defini quem da família ele seria.

—  Quem é Deku mesmo? —  ela pisca, surpresa, já é a terceira vez que ele pergunta, será mesmo que não consegue lembrar? —  É o de cabelo verde que se intrometeu na nossa conversa sobre o seu traje?

—  Sim, ele… —  Ochako não acha que ele se intrometeu, só ofereceu seu ponto de vista, mesmo ela confessando pro amigo que tem vergonha do uniforme às vezes… —  ...ele fica empolgado em falar sobre essas coisas, o Deku-kun é… é o maior otaku sobre heróis e tudo mais! Acho que… acho que mesmo a gente sendo só colega, ele já é o maior fã de todo mundo ali.

—  Que bom que ele te valoriza, então.

—  Sim! Ele… me ajuda e me inspira muito, a todos nós naquele grupinho ali. Sabe o Todoroki-kun? Aquele do cabelo de duas cores? Ele era muito diferente no começo do curso, quer dizer, não que ainda não seja meio distante e calado, mas… depois que lutou com o Deku no primeiro ano, ele começou a se abrir, sabe? Acho legal essa capacidade de mudar os rivais… ou as pessoas em geral… 

—  Que você também tem, por sinal. —  ele oferece com um sorriso —  Agora tô imaginando quem mudou quem entre você e esse seu amigo depois de vocês terem tido essa luta que muda vidas.

—  Hã? Ah não, eu e o Deku-kun nunca lutamos um contra o outro, a rivalidade dele é com o Bakugou-kun e com o Todoroki-kun, a gente é… parceiro, nós nos damos suporte.

—  Entendi… então ele não te vê como rival…

—  É, acho que não.

Com certeza não, Ochako e Deku sempre tiveram uma parceria amistosa. Em projetos em grupo, ele sempre sabe como usar a individualidade dela da melhor maneira possível, seja pra suporte, seja pra ataque ou defesa. Só houve uma atividade em que eles saíram em grupos adversários que se enfrentavam diretamente, mas ele focou sua atenção em derrotar o Bakugou e nem veio atrás dela. Havia a possibilidade de eles se enfrentarem no Festival Esportivo, mas não aconteceu, talvez nunca aconteça. Ela chegou a comentar com ele, e a ideia pareceu deixar-lhe nervoso.

Ela sabe que o Deku não a subestima, jamais faria isso, mas gostaria de ser reconhecida por ele do mesmo jeito que o Todoroki e o Iida são. Afinal, sim, eles são amigos, mas existe aquela rivalidade entre os três, a satisfação em triunfarem um sobre o outro, e seria legal ser incluída nisso um pouco, ser vista como alguém a ser temida, superada, ela já tem o respeito dele como amiga, gostaria de tê-lo também como adversária em potencial.

—  Bom, a chuva deu uma trégua, Ochakolate, vamos?

—  Sim. —  ela confirma, ainda pensando nisso, e em como nunca tinha notado que nunca enfrentou o Deku em nada mesmo —  Ainda bem que os alojamentos dos estudantes de intercâmbio são bem perto da entrada, né?

—  São, sim. Mas vou te levar pro seu prédio primeiro.

—  Ah, não precisa! 

—  Sei que não, mas eu gostaria muito. —  o Hiro admite, as bochechas dele parecem levemente rosadas, deixando-a sem ter como negar qualquer coisa.

A caminhada é rápida por medo da chuva começar novamente, e de fato mais alguns pingos caem, o Hiro é rápido em tirar sua camisa azul-clara que dá um ar despojado e complementa o visual com sua regata preta, ou complementava, pois ele a joga por sobre a cabeça dela para protegê-la da chuva enquanto correm até o prédio dos dormitórios.

—  O-obrigada… —  Ochako diz timidamente quando eles chegam e já estão protegidos na entrada do Heights Alliance, estendendo a camisa de volta pra ele.

—  Pode ficar. Cuida direitinho dela, viu? É minha favorita. —  o Hiro dá um meio sorriso, provavelmente ignorando o cenho franzido dela. Se é a camisa favorita dele, então por que tá dando pra ela? —  Me diverti muito hoje, Ochako.

—  A-ah, eu… eu também! Obrigada por tudo, Hiro-kun. —  ela agradece animadamente, tentando não reparar nos ombros desnudos e sardentos dele, molhados por algumas gotículas, ele não é musculoso como os meninos da sua sala, seu porte é mais esbelto e altivo, apesar dos ombros largos —  A gente se vê, então?

—  Sim, vou te deixando atualizada do meu progresso. Obrigado por me deixar fazer isso por você, eu não poderia estar mais contente.

—  J-jura?

—  Uhum… —  talvez ele tenha se inclinado porque seria difícil ouvi-lo com o barulho da chuva abafando a conversa deles, mas o fato é que o amigo está muito próximo, tanto que ela se pega observando as sardas nas bochechas dele bem de pertinho, o sorriso dele é suave e gentil…

Até que um trovão retumba e o relâmpago ilumina todo o perímetro, os dois dão um gritinho de susto, e se afastam, rindo de nervoso. Ele se despede todo sem-graça, talvez esperando que ela zombe dele por ainda ter medo de trovão, e normalmente Ochako o faria, mas seu cérebro está meio desnorteado com o susto, com a proximidade dele de antes e… com tudo que aconteceu nessa tarde hoje.

Principalmente com a realização de que seu grande amigo e inspiração não a encara como uma rival.

Mas talvez isso seja algo que dê pra mudar.


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