II

.

{i feel like i'm drowning}

.

.

Na primeira vez que Scorpius Malfoy realmente interagiu com Rose Wealsey, ele estava se afogando. Ou algo parecido. O garoto era um desastre ambulante. Um azarado nato. Um perigo constante para si mesmo. Então, não ficou exatamente surpreso quando, em algum momento entre o Expresso Hogwarts e a chegada de barco até escola, caiu na água.

Não se lembrava com clareza do que acontecera ou do que o fizera perder o equilíbrio. Ainda assim, tinha recordações vívidas de tudo o que se seguiu. Recordações de estar na água fria e escura. Desamparado, assustado, congelando. De se esforçar para não afundar, de bater os pés e tentar nadar – algo em que nunca fora muito bom. Se lembrava especialmente, no entanto, das mãos pálidas e sardentas que se estenderam freneticamente em sua direção, o puxando para cima. O impedindo de naufragar.

De volta ao barco, se viu muito próximo a grandes olhos castanhos e aflitos. Um nariz sardento e avermelhado. Cabelos ruivos que voavam por todas as direções. A garota da plataforma. A garota da plataforma que o encarava com preocupação e gentileza. A garota da plataforma que havia acabado de salvar sua vida.

— Você está bem? — a menina questionou delicadamente.

Ao seu redor, as outras crianças se dividiam entre a apreensão e as risadas de deboche. A segunda ganhando cada vez mais adeptos, à medida que ficava claro que o menino – quem quer ele fosse – estava bem e iria sobreviver. Scorpius gemeu internamente. Que ótima forma de começar sua vida escolar! Merlin definitivamente o odiava.  

— Ei, garoto! — a ruiva chamou, estalando os dedos em frente ao Malfoy. Como se a delicadeza não fosse algo que ela conseguisse sustentar por muito tempo — Você está bem? — repetiu. Havia uma óbvia inquietação na voz dela.

Ele se forçou a assentir e finalmente percebeu que estava tremendo. Se de frio ou de medo, não conseguiria dizer. No barco ao lado, o Guarda-Caça de Hogwarts que os estava guiando na viagem até o castelo – Hagrid ou algo assim – fazia perguntas ansiosas, tentando se assegurar que estava tudo bem. Scorpius, entretanto, estava entorpecido demais para sequer discernir as palavras que o homem dizia. O que não chegou a ser um problema, já que a garota ruiva logo se encarregou daquela tarefa.

— Uou, você está tremendo. Deve estar congelando depois dessa aventura no lago. — um garoto de cabelos escuros e óculos disse, atraindo a atenção do Malfoy. Era o menino que estava ao lado da ruiva na plataforma 9 ¾. — Tome. — ele disse, tirando o casaco e o entregando ao outro rapaz.

— Oh, obrigado.

— De nada. Eu sou o Albus. E essa é minha prima Rose. — Albus informou, apontando para a heroína de Scorpius.

— Oi. — Rose cumprimentou, sorrindo para ele de uma forma tão calorosa que quase o fez esquecer-se do frio.

— Oi. — o Malfoy disse constrangido, sentindo o rosto esquentar. — Obrigado por salvar minha vida. À proposito, eu sou o Scorpius.

— Eu sei. Meu pai me falou para não ser sua amiga. — ela disse as palavras de uma forma casual, como se não significassem nada.

— Oh!

— Rosie! — Albus a censurou. — Não a leve a mal, ela não pensa antes de falar. Tia Hermione vive dizendo que a Rose nasceu sem “filtro”.

A menina apenas deu de ombros, ignorando deliberadamente o primo, antes de continuar:  

— Mas eu decidi que seria uma ótima ideia ser sua amiga. Bom, pelo menos tentar. — havia um brilho de desafio nos olhos dela. O castanho amendoado se transformando em ouro líquido. O sorriso que se abriu nos lábios de Rose impressionaria um demônio.

Albus apenas balançou a cabeça em negação, mas logo estava rindo. Rose ainda sorria em deleite com a própria rebeldia. E, por mais estranho que tudo aquilo fosse, Scorpius se viu rindo também. No fim das contas, talvez Merlin não o odiasse tanto assim.