XVIII

.

{taste like onions}

.

.

— O que? — Scorpius perguntou, quando encontrou a própria voz. O rosto se tornara escarlate e uma expressão de confusão tomava toda sua face.

Não era exatamente uma resposta negativa, apenas perplexidade. Aquele estava sendo um dia bastante esquisito, afinal. Rose, de qualquer forma, aproveitou a brecha e continuou de forma calma e objetiva:

— Apenas pense sobre isso: eu nunca beijei, você nunca beijou. Eu sinto uma curiosidade bem grande para saber como é e não quero ficar esperando algum garoto aleatório decidir que vale a pena me beijar, para finalmente ter minha curiosidade saciada. Também não quero abordar algum garoto aleatório com a oferta de um beijo – o que a Alice me garantiu que normalmente funciona, porque garotos são idiotas e só querem enfiar a língua na boca de outra pessoa –, sem ter certeza de que sei o que estou fazendo. Imagina ganhar a reputação de que beijo mal? Seria o fim do mundo! Mas você também não sabe beijar e nós somos amigos, confiamos um no outro e podemos manter isso em segredo. Se for um desastre, ninguém precisa ficar sabendo e a gente pode rir disso depois. Você não precisa aceitar, está tudo bem se não quiser. Mas a minha leitura de tarô de hoje, disse que era um bom dia para experimentar coisas novas e fazer propostas ousadas. E o sol entrou em libra.

Scorpius não fazia ideia do que libra tinha a ver com toda aquela história. E talvez estivesse um tanto perdido nos argumentos de Rose, embora imaginasse que eles fizessem sentido. No fim das contas, a amiga ainda era a pessoa mais inteligente que ele conhecia. O garoto, no entanto, estava ocupado demais olhando para os lábios da menina. Os lábios carnudos e rosados, nos quais ele nunca havia reparado de verdade, mas que se tornaram impossíveis de ignorar no instante em que a proposta de um beijo foi levantada. Os lábios que pareciam implorar para serem beijados. O rapaz sentiu uma vontade louca de se aproximar, de tocá-los. De tocá-la. Sentiu o estômago se revirar e um calor tomar seu corpo inteiro. Ele queria beijar Rose Weasley, percebeu. E não apenas para poder ter a experiência de um beijo. E não apenas por um experimento cientifico.

— Tudo bem. — aceitou finalmente. Ainda um tanto zonzo com toda aquela interação. Com toda aquela revelação.

— Sério? — a garota perguntou empolgada, saltitando em seus coturnos cor de rosa.

Scorpius apenas assentiu. Rose se aproximou determinada.  

— Hum... — o menino deu um passo para trás, hesitando — Você quer fazer isso aqui? — questionou, indicando o corredor vazio.

A ruiva olhou ao seu redor.

— Você está certo. É melhor procurar uma sala de aula vazia. Ou um armário de vassouras.

— Você quer dar o seu primeiro beijo em um armário de vassouras?

Ela deu de ombros.

— É só um experimento cientifico, o cenário não é relevante.

Rose Weasley não se importava muito com onde daria seu primeiro beijo. Não se importava com flores ou poesia ou locais bonitos. Não estava sonhando com algo romântico ou especial. Queria apenas beijar alguém e logo. Descobrir como era aquilo. Perder o maldito BV.

— O ambiente não influencia no resultado de um experimento cientifico?

Scorpius Malfoy não se importava com experimentos científicos. Apenas não queria dar seu primeiro beijo em uma sala de aula ou, pior ainda, em um armário de vassouras. Queria algo... especial. Algo de que se lembraria. Algo digno de um dos livros de romances bregas de sua mãe – que ele lia vorazmente, embora fingisse que não.

— Você tem um ponto, Malfoy. — ela foi obrigada a conceder. — Então, onde você quer fazer isso?

O garoto pensou por um minuto, seu rosto se iluminando com uma ideia.

— Me encontre na porta do seu salão comunal, depois do jantar. E, bom, depois de escovar os dentes.

A garota o olhou ofendida.

— É claro que eu vou escovar os dentes! Eu sempre escovo os dentes!

— Não estou falando que não escova, é só que é um detalhe importante. A gente nunca sabe quando os elfos vão caprichar nas cebolas. Você não quer que seu primeiro beijo tenha gosto de cebolas, quer?

Rose queria ficar irritada, mas não conseguiu reprimir a gargalhada. Scorpius era absurdo!  E, se fosse sincera, talvez nem se importasse com o gosto de cebolas, se conseguisse aprender alguma coisa com a experiência. Por Merlin, era só queria beijar na boca. Era tão difícil entender isso?

— Você não existe, Scorp! Pode deixar, te encontro na porta do meu salão comunal. Depois de escovar os dentes.