Anos Esquecidos escrita por GeloAF


Capítulo 3
Capítulo III - O terrorista


Notas iniciais do capítulo

Queria dizer que estou particularmente orgulhoso desse capítulo. Encontrei ele em frangalhos nos meus arquivos, cheio de erros gramaticais, vícios de linguagem e cenas esquisitas. Senti como se entrasse em meu quarto de adolescente e quisesse renová-lo com coisas que fazem sentido para o meu eu de hoje. Fiquei feliz com o resultado. Espero que gostem! Comentem sobre o que têm achado da história, adoraria saber a opinião de vocês. Até o próximo!

PS: prometo postar com mais frequência, o hiato entre o primeiro e o segundo não vai ser o padrão a partir de agora. Se estiverem gostando, deem um review, por favor! Me ajudaria muito



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1

Shikamaru não fazia o tipo bem humorado, mas poderia passar por uma criança entusiasmada ao lado de Asuma. Desde que saíram juntos naquela manhã, o mestre havia discutido com um transeunte desavisado que nele esbarrara, olhou feio para os vendedores que gritavam seus melhores preços e apartou uma briga de rua dando um soco em cada uma das partes. Nocaute instantâneo.

O estresse era tamanho que Shikamaru o chamou para almoçar – com o dinheiro de Asuma, claro – por julgar que poderia ser fome. Sentaram-se lado a lado num restaurante e Shikamaru aproveitou a oportunidade para pedir o maior prato, já que sua mãe não se disporia a pagar um desses a ele tão cedo. No meio da refeição, Asuma levantou-se sem terminar a comida e saiu, levando consigo o maço de cigarros. Shikamaru tentou chamá-lo de volta, obtendo um vago “sem fome” como resposta.

Encontrou uma sombra embaixo de uma árvore onde poderia se acocorar e posicionou-se estrategicamente na face do tronco que tapava a visão da rua. Shikamaru é esperto, em breve virá me encontrar. Acendeu o cigarro e dispersou fumaça.

O que não saía de sua cabeça era, claro, Kurenai. Não entendia o porquê de tanto resguardo, tanta relutância em mostrar ao mundo que estavam juntos. Esta era uma briga crônica que ainda daria muito pano para as mangas. Apoiou as costas na tronco e deixou seu peso descer até a posição sentada.

— Olá – disse uma voz serena e conhecida vinda da outra face da árvore. Asuma intrigou-se por não ouvi-lo chegando. – Como parece estar escondido, vou fingir que estou fugindo do sol para ler meu livro, se não se importar. Não se preocupe, posso te ouvir bem daqui. Podemos conversar?

Asuma não queria conversar, mas não teria escolha. Ignorar Kakashi teria o mesmo efeito de ignorar uma criança que pede por um presente.

— E eu tenho escolha? – disse ele, expelindo mais fumaça.

Kakashi ignorou a pergunta.

— Tsunade nos deu uma missão. Ao seu time e ao meu.

Ótimo, pensou Asuma. Deve ser karma. Esperou Kakashi continuar, mas ele não o fez. Que droga, Kakashi. Ele quer que eu pergunte.

— E que missão é essa? – perguntou, rude e impaciente.

— Oh, já deve ter ouvido sobre o grupo terrorista da Vila da Pedra...

Asuma fumegou, e não devido ao cigarro. Estes fatos recentes estavam virando notícia em todo o continente, era impossível não conhecê-los. Ainda assim, era um absurdo, por certo algo muito perigoso para enviar crianças.

— Onde ela está com a cabeça? – rugiu ele. – É uma missão rank A, no mínimo.

— Rank S.

Muito melhor— respondeu com a voz carregada de desdém. – O que ela espera que façamos? Nossos alunos são genin, se excluir Shikamaru.

— Dou os detalhes na viagem. Estejam no portão até a alvorada de amanhã.

— Espere...

Era tarde demais. Kakashi já não estava mais ali.

Rank S, pensou ele. A velha está ficando louca.

Lembrou-se de sua primeira missão rank S, uma daquelas que se leva cicatrizes – físicas e psicológicas – para a vida toda. Os meninos vão se empolgar, é o que fiz na época... se bem que Shikamaru vai detestar acordar tão cedo.

Tinha de falar com Tsunade. Ainda mais importante: tinha de falar com Kurenai.

— Olá, sensei – disse Shikamaru. – Quando partimos?

Quando ele havia chegado? Como sabia qualquer coisa sobre o assunto? Asuma notou que devia estar bastante desatento naquele dia. Vendo a confusão do mestre, Shikamaru explicou:

— Vi Kakashi aqui e vi sua cara de desagrado. Pensei que só poderia ser uma missão das boas.

— Shikamaru, o que veio fazer aqui? – conseguiu dizer, rasgando a pergunta pela garganta e apontando para o restaurante.

— Sua cara de velório me deixou preocupado. – Ele reprimiu um sorriso sem graça.

— Por que você só fala da minha cara?

— Você devia se olhar no espelho.

Asuma grunhiu. Devia estar com uma aparência horrível.

— Não era para você saber. Não ainda.

— Sobre a missão ou sobre Kurenai?

— Sobre a missão. – Asuma corou.

— Teria de me contar hora ou outra, não?

— Não. – Havia tomado uma decisão. – Porque não vamos. Vou falar com Tsunade agora. Ela está louca se acha que levarei vocês para uma missão deste nível. Você vai para casa, sua mãe vai brigar comigo se demorar demais.

Saiu pisoteando a grama até perder-se de vista. Shikamaru sentou-se debaixo da árvore e ali ficou. Contou nuvens até pegar adormecer. O prato que comeu era grande, diretamente proporcional ao seu sono depois da refeição.

 

2

Hinata não poderia dizer que o primo era uma das pessoas mais agradáveis com quem já convivera, mas isso não a isentava de preocupar-se com ele. Havia pouco tempo desde que ele acordara do desmaio, e ela tentou abordar um assunto importante – e urgente –, mas o garoto a repeliu. Não queria conversar, não queria ajuda, não queria visitas. Não queria ninguém.

Hiashi era o único que entrava no quarto de Neji sem ser expulso, pois o garoto prodígio não ousava desagradá-lo. Tinham com ele uma relação de respeito, mas também de receio. Fazia o que mandasse e buscava seguir suas orientações à risca.

Naquela tarde, Hinata pensou com seus botões e concluiu que teria de falar com ele; poderia ter problemas se não o fizesse. Bateu na porta e, mesmo à ausência de resposta, adentrou.

— Eu estava dormindo – mentiu ele.

— Eu só queria...

Ela não completou a frase. Viu o rosto aborrecido do primo e notou que sua roupa parecia uma mortalha. Ele treinava a maior parte do dia e, apesar de estar melhorando a técnica, seu corpo mostrava sinais de fadiga. Ela considerou resguardar-se do que tinha para falar e dizer a Kakashi que não seria possível, obrigada.

Mas não podia fazer isso, podia?

— O que queria?

— E-Eu...

Hinata notou que o primo tremia. Estaria com frio? Não, não era isso, concluiu ela. Ele está frustrado.

Ambos aquietaram-se por algum tempo, sem olhar um para o outro. Neji olhava para o teto, os olhos esbranquiçados vazios e imóveis, reprimidos de suas expressões naturais. Hinata olhava para todos os cantos, menos para o garoto.

A garota finalmente disse:

— Neji-kun, e-eu tenho algo para dizer – falou com muito esforço. – Kakashi nos convocou para uma missão importante, vamos preencher o espaço deixado por Sasuke-kun e Naru... – não conseguiu terminar o nome, pois dizer lhe doía no peito.

O rosto inexpressivo de Neji converteu-se quando ele crispou os lábios.

— Eu não posso sair em uma missão agora, Hinata. Estou em treinamento.

Hnata teve então uma ideia.

— E-Eu só pensei que poderia ser útil para seu treinamento. É uma missão importante, ouvi dizer que é rank S.

Os olhos de Neji brilharam. Uma missão rank S não era algo que o orgulho lhe permitiria recusar e, além disso, ela estava certa: seria um ótimo treinamento.

— Rank S? – disse ele, se esforçando para não parecer excitado com a ideia. – Por que nos dariam uma missão rank S?

— Kakashi disse que não há problema, que está tudo sob controle.

Ele pediu mais detalhes da missão e ela lhe contou sobre os atentados, mas não soube dizer mais que isso.

O silêncio predominou por mais alguns segundos, quando Neji sentou-se na cama e mostrou-se renovado.

— Vou aceitar a missão – decidiu ele.

Hinata sorriu com os cantos dos lábios e sentiu-se encorajada o bastante para olhar diretamente nos olhos do primo.

 

3

Um ninja movia-se com agilidade no teto das casas, oculto pela névoa sonora agitada da população abaixo. Avançou por mais cinco telhados e estancou. Ele era um ANBU, o mesmo que conversara com Kakashi horas antes.

Pulou beco adentro, um local entre dois estabelecimentos mais vazios, e se escondeu na penumbra. Não muito depois, mais um ANBU surgiu da direção sul da vila e mergulhou no meio das sombras em que o outro havia acabado de entrar.

Os dois permaneceram algum tempo parados, encarando-se, até que o primeiro disse:

— Duas equipes. Os que julgarmos mais úteis para essa missão serão os escolhidos.

— Certo – disse o segundo. Pensou um pouco e continuou: – Quem devemos enviar? Nossos melhores ninjas estão ocupados, e mesmo com os que sobraram não haveria como montar duas equipes.

— Nesse caso, teremos que nos comunicar com eles... – afirmou o primeiro como se tentasse evitar um palavrão.

Um bêbado parou na entrada do beco, visualizou os dois ninjas e apressou-se como se tivesse visto dois tigres esfomeados. Os dois parceiros se esgueiraram mais fundo no vão entre os prédios, tentando mesclar-se aos latões de lixo.

— Acha que Kakashi aprovaria?

— Ele nos deixou a responsabilidade de escolher, não? Então temos sua confiança para escolher quem julgarmos necessário.

— Mesmo assim, não sei se confio neles, não podemos pegar ninjas deles emprestados como se pedíssemos lámen num restaurante.

— Não temos escolha a não ser tentar, e devemos ir agora.

O outro assentiu.

Em um instante tornaram-se rápidos vultos saltantes, voltando para o telhado das casas e correndo na mesma direção.

 

4

O jovem loiro estava absorto em sua arte. Moldava com as mãos enluvadas uma escultura de argila como as muitas que se apinhavam nas prateleiras e se aglomeravam nos cantos do atelier. Os detalhes e reentrâncias da pele e dos pelos faziam as estátuas parecerem vivas, pessoas e animais petrificados para sempre e obrigados a observar a produção de sua arte.

Mas não era isso que queria. Algo não estava certo.

Trabalhava num corpo inteiro masculino truncado, de feições idosas e nariz largo, o rosto sorridente e presunçoso. A cada detalhe que acrescentava, uma ruga de descontentamento era adicionada ao seu rosto, beirando o nojo.

— Velho idiota – grunhiu ele.

Pegou a obra inacabada e a colocou de lado. Faltava algo.

Buscou um grande pote e agarrou um pouco do conteúdo com uma das mãos. Juntou a argila nova com a já trabalhada e acrescentou volume ao corpo. Gastou dois grandes potes dessa forma, até que se tornasse uma massa amorfa e tivesse quase sua própria altura. Mais uma tarde de trabalho focado e conseguiu repetir o feito da versão anterior, fazendo a nova parecer uma forma ampliada e com detalhes mais vívidos.

Qualquer pessoa diria que aquela era a nova obra-prima do jovem – que conseguia se superar a cada semana. Mas algo o incomodava.

— Droga, ainda não está bom – disse com a voz enérgica.

Um homem robusto de meia-idade entrou na sala correndo, arfante e com o rosto pingando de suor. Trazia um pergaminho numa das mãos, que erguia como um arauto que levava uma mensagem.

— Senhor, péssimas notícias – disse entre uma respiração e outra. – Houve mais ataques ontem à noite, desta vez na galeria de arte do leste da vila. São os terroristas! O senhor corre perigo, e se nossa galeria for a próxima? – O homem tinha os olhos de quem se via encurralado por uma avalanche.

— Já lhe disse antes, Karui, não há com que se preocupar – disse o jovem artista sem tirar os olhos da nova escultura. – Agora vá. Minhas esculturas não se vendem sozinhas.

— Mas... senhor! – suplicou Karui.

— Saia daqui! – rugiu o jovem.

O homem não se chocou com o tom do garoto, mas não iria desistir de dissuadi-lo. Apesar de o grupo terrorista não ter apenas galerias como alvo, era certo que aquela poderia ser uma das próximas vítimas, e isto ele não aceitaria.

— Recuso-me, senhor, pelo respeito que tenho a você e, principalmente, pela promessa que fiz ao seu pai. Se necessário, irei arrastá-lo para fora deste estúdio e trancá-lo em minha própria casa.

Mal deixando o outro completar a frase, o jovem arrancou a luva de uma das mãos, revelando uma boca aderida à palma, os lábios se abrindo e revelando dentes humanos e uma língua pontuda e zombeteira. Pegou com a boca da mão um pouco da argila que utilizava, mastigando-a ali mesmo.

— O que está fazendo? – perguntou o homem. Farejou o perigo e arregalou os olhos, virando-se para fugir.

— Não faça isso! – gritou o homem enquanto corria.

A mão do artista expeliu um pequeno pássaro de argila branca, que poderia passar por um brinquedo de criança. Atirou-o na direção do homem, fazendo o pássaro ganhar vida própria e bater asas para impulsionar o voo.

— Katsu – disse ele, estendendo o indicador e o médio.

Nesse momento, uma explosão fez o estúdio estremecer, causando um estrondo de furar os tímpanos. A fumaça se expandia e cobria o corpo ensanguentado e sem vida de Karui como um véu fúnebre.

Uma coisa ele acertou, pensou ele. Esta galeria realmente será a próxima.

Naquela noite, confeccionou o maior boneco de argila que já havia tentado. O resultado não poderia ter lhe dado mais satisfação. Era isso que faltava, afinal...

Ao registrar com o olhar a luz súbita e o fogo que engoliu seu estúdio e vários prédios ao redor naquela noite, chegou à conclusão óbvia que já vinha se formando em seu íntimo nas últimas semanas:

— Isto é arte!

 

5

Dois homens com máscaras inexpressivas da ANBU dobravam-se aos pés de um mais velho, os músculos rígidos e o corpo enfaixado deixando escapar sua verdadeira ameaça ao olhar desavisado. Aquele era Danzou, um ninja que poderia ter para o jantar qualquer cidadão de Konoha se assim desejasse; bastava apenas que ordenasse a um dos seus numerosos subordinados, cegos à lavagem cerebral, invisíveis ao radar dos figurões da vila.

Depois que ouviu a proposta, Danzou respondeu:

— Pode levá-los. Vou lhes emprestar dois de meus melhores na ANBU Núcleo.

Com um aceno, dois vultos se ajoelharam ao seu lado, as cabeças baixas ocultas tanto pela máscara quanto pelo capuz preto do manto. Danzou falou a um deles:

— Shin, você e ele vão juntos nesta missão, irei emprestá-los aos ANBU. Quero que estejam a par das informações e colaborem.

— Certo – disse Shin. O outro limitou-se a acenar.

Os dois ANBU que negociavam saltaram e desapareceram numa fração de segundo. Danzou deu as costas aos dois subordinados e eles permaneceram ajoelhados em respeito ao mestre. Antes que fosse embora, falou:

— Tenho instruções especiais a vocês. Apresentem-se na base da ANBU Núcleo esta noite.

Perdeu-se de vista, mas os dois homens continuaram em reverência.


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Notas finais do capítulo

Me diverti muito escrevendo este capítulo! É interessante ver as pretensões que meu eu de 10 anos atrás tinha para a história. Fiquei feliz de reescrevê-lo. Se estiver gostando, mande uma review, por favor! Me ajudaria muito. Até o próximo!



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