—Pessoal, por favor. - Disse a treinadora da turma. - Preciso que tenham um pouco de foco.- Ela respirou fundo. - Essa é a última semana de aula de vocês antes de serem realocados com os desconectados e precisamos revisar toda a matéria. Vamos lá: História. Miguel, como tudo começou?

 –Antes da evolução da sociedade, as pessoas viviam em harmonia e culto à natureza, mas com o tempo, a maioria das pessoas foi se desvencilhando delas. - Respondeu ele. - Nossos ancestrais, em contrapartida, mantiveram e exploraram ao máximo essa conexão com a natureza. Com o passar dos anos, o clã primário foi capaz de se conectar com ela a ponto de manipular os elementos da natureza.

 –Henry, o que aconteceu a partir daí? - Perguntou a professora. Ele bufou, mas prosseguiu.

 –Os Deuses ficaram tão orgulhosos e impressionados que forneceram a eles o dom de controlar os quatro elementos da natureza.

 –Faltam informações. -Respondeu ela. - Alguém sabe? - Celeste levantou a mão. A professora apontou para ela.

 –O clã era composto por dezesseis pessoas, oito homens e oito mulheres. Ainda que os Deuses desejassem fornecer dons, eles achavam injusto perigoso que uma pessoa sozinha dominasse todos. Por isso, forneceu um poder para cada dois homens e duas mulheres, para que eles se unissem e continuassem a fornecer o dom a seus filhos. O que explica o motivo de treinarmos em pares.

 –Muito bom. - Retrucou a treinadora.- Isabelle, porque não me explica as duas lendas que surgiram a partir daí?

 –Como forma de demonstrar que tudo se é criado a partir do amor, os Deuses prometeram que dentro desta nova raça, existiriam pares reais. Representações do amor na terra, casais que estariam destinados a ficarem juntos e que não sobreviveriam sem o outro. Em contrapartida, quando juntos, seus poderes aumentariam mais de vinte vezes.

 –Lucca, qual é a segunda lenda?

 –ELEMENTARES. -Gritou ele com empolgação. Todos riram. - Para provar que a humanidade poderia ser merecedora de um voto de confiança, uma pessoa nascida durante a posição correta dos astros, seria dotada dos quatro elementos. Essa pessoa seria a portadora da fagulha divina a cada cem anos para a terra e teria como objetivo protegê-la.

 –Muito bom, muito bom. - Ela olhou para a lista de chamada por um segundo. - Fernanda, sabe me dizer qual é a única forma de um conectado ter mais de um poder, além de ser um elemental?

 –Ele ou ela ser cúspides. Se um conectado nascer no exato minuto em que a regência dos signos está mudando, ele ou ela podem ter mais de um poder, mas nunca os quatro e raramente será o não palpável.

 –Pode me explicar o que quis dizer com essa informação? -Retrucou ela quase imediatamente.

 –Dentro dos quatro elementos, temos três palpáveis: água, terra e fogo, em que as manifestações são mais visíveis e perceptíveis. E temos o elemento não palpável: ar. Atualmente, todos os conectados que se tem relatos são ligados a elementos palpáveis. Os conectados do não palpável foram extintos durante a última Guerra Mundial, pois grande parte foi escravizada e estudada ou utilizada como arma. - A professora sorriu.

 –Acho que estão prontos para a prova teórica do comité avaliador ao final desta semana, mas continuem revisando a matéria. Até o final da semana, teremos uma revisão das matérias regulares de ensino médio, que é o que irão estudar quando forem alocados com os desconectados na semana que vem. -Ela respirou fundo. -Vejo vocês amanhã cedo no treino prático. Estão liberados para o jantar por enquanto.

 Todos levantaram e saíram da sala com seus cadernos em mãos.

 ***

 Depois do jantar, Isabelle, Rafael, Henry, Sophie, Miguel e Mirela estavam conversando na sala de descontração antes do toque de recolher.

Belle e Rafael regiam o elemento fogo e treinavam como um par. Ambos tinham temperamento explosivo e intenso, o que era característico dos conectados deste elemento.

 Henry e Sophie regiam o elemento terra e treinavam como um par. Ambos eram extremamente amorosos e simpáticos, o que era característico dos conectados deste elemento.

 Miguel e Mirela regiam o elemento água e treinavam como um par. Miguel fazia de tudo para manter suas emoções equilibradas e sob controle, mesmo que precisasse chorar para isso. Já Mirela… Você entenderá ao decorrer dos fatos.

 Os primeiros cinco haviam crescido e treinado juntos a vida toda, e acolheram Mirela da melhor forma quando ela chegou ao instituto, quase dois anos antes:

 –Ainda preciso começar a empacotar as minhas coisas. - Começou Sophie.

 –Eu terminei de fazer isso tem mais de uma semana. - Retrucou Rafael. - Não vejo a hora de sair desse lugar. Não aguento mais essas paredes.

 –Não é como se você fosse viajar o mundo, bonitão. - Respondeu Belle. - Ficaremos os próximos dois anos em um colégio interno, para então podermos seguir nossos rumos. Além disso, - Ele o encarou. - Não sei que graça vocês veem no mundo lá fora. Não podemos nem usar os nossos poderes.

 –A Mirela sabe bem como pode ser perigoso ter poderes no mundo lá fora. - Disse Miguel, olhando para a garota deitada em seu colo. - Não é, Mi? - Ela não respondeu. -Mi?

 –Oi? - Ela olhou para todos, que a encaravam.- Isso, é mesmo.- Concordou sem saber do que se tratava a conversa.

—Você está bem, meu anjo? - Miguel retrucou mais baixo, para que ninguém pudesse ouvir. - Você parece estar bem longe daqui. E hoje no treino você não parecia muito bem.

—Estou cansada, só isso. - Respondeu ela sorrindo fraco.- Não ando dormindo muito bem.- Ele assentiu e eles voltaram a prestar atenção no que o restante dos amigos conversavam.