Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 5
5 - O trunfo do canalha


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? :3

Dois meses e 3 dias depois finalmente consegui postar novamente. Nem sei se alguém está lendo essa fic, mas quero poder finalizar para vocês e espero que estejam gostando.

Desejo uma belíssima leitura.



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Capítulo cinco
       O trunfo do canalha

“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”
(Carlos Drummond de Andrade)

 

Ouvia umas risadas de fundo, porém era como se fosse de algum outro lugar. Eu não conseguia entender porque comecei com isso sem pensar em algo tão simples. Os cochichos e pessoas apontando para minha direção foram o que me fizeram acordar e querer perguntar o que houve, contudo foi apenas visualizar a mensagem do grupo do colégio para sacar tudo.

“Aí, eu odeio homens, eles são tão nojentos, preciso mostrar para todo mundo isso e ainda poder ficar espiando casais fazendo sexo sem ser julgada! Que bela ideia eu tive. Quer saber a verdade? Ninguém vai querer se candidatar para o projeto de uma virgem, pervertida e sapatão feito você, Elisa.” — Gabriel do 3002.

Essa era a legenda de uma foto que tinha aquele bilhete que botei no mural para ver se alguém ia querer me ajudar no trabalho. Só não lembrei que tinham vários igual ele na minha escola e que não iam tornar isso fácil. Com meu número ali exposto todos já sabiam quem era, me fazendo querer voltar no tempo para ter colocado a opção “não aparecer foto para quem não é contato”.

— Vocês não têm mais o que fazer não? — Ao contrário de mim que o pessoal amava tirar uma com a cara eles respeitavam e tinham certo medo da Alison, tanto que logo pararam de me olhar e foram para um canto qualquer. É nessas horas que eu fico feliz de ter feito amizade com a menina que tinha era arrancado a cabeça da minha boneca preferida, mas que depois concertou.

Quando ela se aproximou e me abraçou apertado, deixando que encostasse a minha cabeça em seu ombro, foi que todo o peso daquelas palavras veio à tona e a vontade de chorar chegou. Mas juro que não fiz isso, pelo menos até entrarmos no banheiro que por sorte estava praticamente vazio.

— Nem aquele metido a gostosão do Gustavo aceitou fazer o trabalho, acredita? Eu ainda tinha esperança que ele fosse querer se exibir. — Minha voz entregava o quão mexida e irritada estava. Sentada no vaso sanitário enquanto assoava o nariz com o papel higiênico apenas pensava no que fazer. — Só ficou dizendo que ia ser vergonhoso ter seu nome exposto e blá, blá, blá.

— Você sabe que o culpado não é ele, sim a sua namorada. Se tem alguém que jamais ia querer aparecer é a Cecília. — Minha amiga tem um ponto.

— Que eu faço? Se continuar assim terei perdido a aposta por não ter nem quem entrevistar. Eu sou um fracasso mesmo! — Mal terminei de dizer minha frase e já tive a minha porta aberta na maior violência e uma Alison me olhando com a cara mais feia possível. Ainda para não me deixar escapar nos trancou ali dentro.

— Você sabe que tem alguém. — Sério que me fez lembrar do Daniel?

— Dá para sair daqui? Rapidinho vão ter boatos de que estamos tendo um caso. — Preferi mudar de assunto e a reação foi como se tivesse falado em grego. — Esqueceu que agora eu sou conhecida pelo apelido de sapatão? — Foi ali que eu notei que nem sequer tinha visto aquela mensagem ainda.

Nunca a vi tão concentrada quanto agora ao ler cada palavra, até viu a foto e ficou dando zoom. Aquilo não era nada bom, pois se não tirasse o meu celular da sua mão era bem capaz de ter jogado no chão e o quebrado sem dó e nem piedade.

— É por isso que estava chorando? — Pensei que ela talvez fosse fazer alguma piada ou os xingar, quem sabe até se afastar para não ficarmos mal faladas, mas quando confirmei com a cabeça continuou o sermão. — Esse Gabriel vai ver, o diretor vai saber o que ele faz nas quintas-feiras depois da aula e é agora.

Limpei o resquício de lágrimas do meu rosto e fui para a pia me lavar, para ver que não tinha mais ninguém ali naquele lugar. Quando peguei o papel e respirei um pouco que pude a responder sem falhar a voz.

— Isso aí ele já sabe que eu contei, mas só levou uma suspensão de 2 dias. — Era meu papel como monitora. — Deve ser por isso que me odeia tanto. — As consequências por ser uma baita x9.

— Falou que ele vende drogas? — Parecia até surpresa.

— Não era por ficar beijando umas garotas no prédio mais afastado? — A olhei pelo espelho enquanto retocava o pó e colocava brilho labial.

— Também, Elisa, mas isso acontece nas terças-feiras! — Quando o sinal bateu nós saímos dali, só que a conversa não poderia terminar aí por mim.

— Eu tenho certeza que não é nesse dia. — Revidei ao parar na sua classe.

— Que se dane se ocorre na sexta, quarta ou até sábado! O que importa é você saber disso e podermos espalhar para todo mundo. — As pessoas passavam pela gente e ficavam encarando, porém isso não a fez abaixar o tom de voz.

— Continuamos a nos falar por mensagem. — Apesar de não ter querido dar o braço a torcer, se não fosse embora agora era capaz de eu levar suspensão. — Tenha uma boa aula. — Dei meia volta já sabendo que ia estar amaldiçoando até a minha quinta geração de tantos xingamentos que ela deve ter direcionado a mim, o que me fez rir.

O caminho do corredor até a minha carteira foi bem cansativo pelos olhares que recebia, porém tentei fingir que não ligava, mesmo que fosse em vão pela minha cara denunciar que tinha chorado. Para que fui começar esse projeto?

— Vocês sabem onde fica o Egito? — Essa pergunta feita pela professora de história foi o que me fez acordar e tentar prestar atenção em outra coisa. Quem sabe encher minha mente com Nero e múmias me faria sentir um pouco melhor.

— Eu acho que na Ásia. Vai falar sobre sheik árabe? Eles que são sortudos por poder ter várias esposas. — Essa piada foi tão sem graça para mim que estava era parecendo ser uma senhora de 70 anos e não uma adolescente também.

— Se quer bancar o engraçadinho pelo menos fale algo que seja certo, Arthur. Primeiro que o Egito fica é no continente Africano. — As vaias foram ouvidas de outros alunos, até por parte dos amigos dele. — Mas se você quer ter tantas mulheres como eles eu não critico, porém precisa sustentar todas sabia? Se for dar casa para uma a outra também ganha, assim como joias e outros presentes.

— Prefiro ficar aqui então, uma só já está bom. — E eu esquecendo que esse idiota tinha namorada. Será que ele aceitaria participar do meu trabalho?

“Olá, já viu esse caso aqui do “serial killer de Soft Palm” nos Estados Unidos? Ele foi preso faz pouco tempo depois de vinte anos de investigação.” — Danmonio.

— Que eu fiz para merecer uma coisa dessas? — Sussurrei enquanto tentava ler algo que estava no quadro, como rio Nilo, habitantes e outras características daquele país, mas o brilho do celular me fez o pegar de volta.

“Sim. Agora me deixa em paz!” — Elisa.

— Qual imagem vocês têm da Cleópatra? Provavelmente devem ter pensado na imagem de Elizabeth Taylor, mas se eu te contar que ela era bem diferente? — E foi assim que ela nos introduziu para nos acordar de que o que achávamos era mentira ao mostrar uma moeda com o rosto de perfil dela.

— Não sei como começaram até guerra por sua causa e os imperadores lá de Roma se apaixonavam se nem era bonita. — Nem sei o que dizer, o que ela tem de inteligente é o mesmo de estupidez.

— Os padrões de beleza eram bem diferentes naquela época, nem tem como comparar com hoje. — Ela respondeu com tanta calma que até assusta.

“É incrível que sempre são os caras que ninguém desconfiaria.” — Danmonio.

Sabe o que eu fiz para que não me enchesse mais o saco? Apertei no belíssimo botão de bloquear, para ver o tamanho do meu ódio por ele que chegou ao ponto de ignorar uma conversa sobre crimes reais.

— É preciso usar a fórmula do seno nessa. — Eu me teletransportei que a aula agora era de matemática e não de história? Que pesadelo, ainda mais com essa mal amada.

Olhei para baixo e tinha uma folha na minha mesa cheia de números e letras, aqueles problemas para resolver. É prova surpresa? Não, se fosse ela não teria dado essa resposta de bandeja.

“O que você fez? O Daniel está aqui me mandando várias mensagens.” — Alison.

Esse idiota mor resolveu jogar sujo assim e falar com minha amiga? Mas se acha que por causa disso irei ceder e desbloquear está muito enganado.

“Só finge que não leu.” — Elisa.

— Na próxima aula vamos corrigir, então quero tudo pronto até lá. — Até dei um gritinho interno de felicidade ao saber que o recreio tinha chegado. Se eu não suporto essa matéria essa professora tem uma boa parcela de culpa, nunca vou esquecer aquela cena no laboratório.

“Para de fugir e vai conversar com ele, por favor!” — Alison.

Só fala isso porque está a incomodando e a Alicia e ela já quase saíram no tapa por causa desse garoto. Fica falando para eu encarar, mas se for o contrário e tentar concertar o mal entendido não quer? Deve ser a tal da hipocrisia.

— Te achei. — Essa voz era inconfundível e tentei até escapar antes que chegue mais perto, porém o dono dela me puxou foi para um lugar escuro e apertado. Qual é a deles para hoje ficarem me encurralando assim?

Quando acendeu a luz tive a certeza que era o Daniel e fiquei o encarando para tentar entender o que passou na cabeça dele para fazer isso com uma garota, ainda bem no meio da escola e com várias pessoas passando pelo corredor.

— Que te deu? — Minha voz entregava o quanto detestei sua atitude enquanto tentava o afastar, mas mal saiu do lugar.

— Como faço para falar contigo se me bloqueou, Elisa? Eu tentei conversar com educação mais cedo e você fugiu! Que acha que deveria fazer numa situação dessas? — Seu corpo também se mexia enquanto me respondia, seu toque no cabelo me fez entender na hora que não estava tão confiante assim.    

 — Você que se diz tão entendido de crimes sua solução foi me empurrar para o depósito na vista de todos? É só eu gritar que você será expulso. — Comecei depois de rir por alguns segundos.

— Então por que não fez até agora? — Ele foi chegando tão perto que até senti falta de ar, não sei se é pela claustrofobia ou “Danielfobia”.

Coloquei a mão na frente para manter uma certa distância e eu tentei procurar algum lugar para sentar, mas tudo que havia naquela sala eram apenas uns esfregões, vassouras e produtos de limpeza. Eles eram os culpados por deixar o espaço mais pequeno ao ponto de quase não nos caber ali.

— Pois não quero mais que você fique importunando a minha amiga com algo que é só problema nosso. O que tanto quer? — Perguntei em um momento de muita raiva e nervosismo, minha respiração era descompassada e tinha notado que a dele também não estava tão diferente. Éramos duas bombas relógios prestes a explodir.

— Está se fingindo de sonsa? Sabe muito bem. — Agradeci por estar olhando para o lado.

— E eu já disse que não. — Tentei deixar claro.

— Que preciso fazer para me aceitar? Que eu me ajoelhe? — Quase fui tentada a concordar só de imaginar ele nessa posição.

Precisei me escorar na parede por sentir as minhas pernas bambas, se não era capaz de desmaiar bem ali. É culpa sua, Alison, por estar agora nessa situação.

— Por acaso não viu que eu sou a nova sapatona da escola e odeio homens? Deveria desistir dessa ideia de trabalhar comigo, vai estragar a sua imagem de bom menino. — Essa última parte foi completa ironia, pois a impressão que tinha dele era a pior possível.

Agora foi a vez dele de gargalhar e quando levantei minha cabeça fui pega de surpresa com seu corpo quase encostado no meu. Preferia não ter o encarado, pois assim não me depararia com aquele olhar semicerrado que usava com a Alicia e até uma outra vez comigo quando o flagrei com a professora. Isso fazia vir à tona lembranças tão ruins que paralisei igual a estúpida eu de 14 anos.

— Você sabe que não sou santo, Elisa. — Não acredito que está usando a carta de sussurrar no ouvido. É um maldito canalha! — Bem como eu tenho a certeza que estão muito enganados, você não detesta o sexo masculino, muito menos é lésbica. — A sua respiração batia quente em meu pescoço para novamente me observar para saber se cai no seu papinho. O que ele encontrou será que foi uma pessoa fria como gelo ou a que está nervosa e tremendo?

Talvez tenha sido seu jeito ou sua tentativa de me ganhar com essa cantada barata, mas conseguia raciocinar melhor para dar alguma resposta que prestasse.

— Tentando me seduzir para conseguir o que quer, Daniel? Isso é baixo até para você. — Talvez essas palavras tenham sido um choque para ele ao ponto de não fazer nada quando dei leves tapinhas no seu ombro e sai dali, nem sequer me parou quando cheguei a porta. — Sabe que em uma coisa tem razão? Eu não odeio os homens, é apenas você que abomino mesmo. — Consegui finalmente pisar o pé no corredor e pegar uma goiaba para tentar comer antes que as aulas voltassem.

É claro que tinham pessoas por perto disfarçando que estavam fazendo outra coisa, mas sendo fofoqueiras deveriam estar tentando ouvir atrás da porta. Hoje não era meu dia, seria muito melhor se tivesse inventado uma doença e faltado a escola.

— Vão procurar o que fazer. — Sem piada dessa vez? Pelo jeito o que comentei ali no depósito o deixou tão mudado que até ficou sério.

Pelo menos fez o favor de não falar comigo e nem me olhar. Foi nessa hora que lembrei do que aconteceu e resolvi o desbloquear para não acontecer mais isso, se eu viver essa experiência novamente acho que eu imploraria para o diretor me expulsar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse capítulo? Da conversa da Elisa com o Daniel? Da mensagem?

Apenas para dizer que a gif não é minha, sim da atriz Chloë Moretz. Se tiver algum erro de português podem me falar.

Quero agradecer demais desde já a todos que deram a chance de ler esse capítulo, caso queiram comentar sintam-se a vontade, irei amar saber o que está achando e também opiniões do que querem para as próximas.



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