Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 4
4 - Estou ferrada, amigos e amigas


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Ainda bem que consegui postar quase um mês depois, mas foi. Espero mesmo que gostem, caso queiram comentar ou dizer que estão achando vai me ajudar demais para saber que posso melhorar.

Obrigada a todos e boa leitura.



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Capítulo quatro
Estou ferrada, amigos e amigas

“Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou”
(Meu erro – Paralamas do Sucesso)

 

Que besteira foi essa de ter vomitado? Depois de ter notado o quão idiota fui por ficado mexida em apenas ler a sinopse no livro, tomei isso como o desafio para mim, um daqueles que não ia perder. Ia usar sim como fonte para meu trabalho e ainda revisar mais vezes se precisar.

“Você o quê?” — Ally.

Capaz dela ter ficado mais surpresa que eu.

“Não vai me fazer repetir, não é? Só quis avisar que vou aceitar seu maravilhoso presente!” — Elisa.

Enquanto esperava pela sua resposta ficava pensando como poderia ler “um cara nada perfeito” sem ter que ir no banheiro a cada linha. Enfrentar Daniel? Falar com meu pai? Tentar mesmo assim?

Apesar de imaginar um mundo em que eu ficaria cara a cara com aquele babaca da escola e sim confessasse tudo o que passei, ainda não me sentia preparada para isso. E quanto a conversar com minha família sobre o divórcio? Deixa para lá era a solução para essas perguntas ao folhear o livro sem prestar atenção em qualquer página.

“Não vai dizer mais nada? Fiquei chateada por ter recusado minha surpresa, não se faz isso.” — Ally.

Quem merece um drama desses? Ela tomou o meu iogurte.

“Obrigada.” — Elisa.

Fui grossa? Pode ser, mas ainda achava de mau gosto ter me dado uma coisa que não gosto mais, muito menos romance. Aluguei seu ouvido por quase três anos com o quanto eu detestava esse lance de amor e a relação daquele casal popular da escola. Como depois de estar cansada dessa história ainda resolveu fazer isso comigo?

“Te perdoo que deve estar vendo o podcast!” — Ally.

Fui correndo no site no computador mesmo, sem nem me importar com o som, meu pai já estava acostumado em ouvir as palavras “cortou o corpo em pedaços” e “assassinato” enquanto passava com meu celular por aí. Dessa vez era sobre um caso que foi desvendado mais de quarenta anos depois, isso com a tal da genealogia forense.

Estava tão contente pelas coisas que ouvia do caso que quando tocou o celular eu atendi sem nem ver quem era. Não me leve a mal, talvez o tanto que eu sou estudiosa é a mesma porcentagem do quanto sou desligada.

— Alô. — Comecei, achando que talvez fosse minha amiga querendo me zoar como sempre.

— É a Elisa? — Essa voz me fez tremer dos pés à cabeça.

— Para você não tem ninguém com esse nome aqui. — Respondi ao Daniel e já estava a ponto tocar no botão vermelho, se não o tivesse ouvido.

— Está vendo documentário de crimes? Achei que preferia um romance. — Sério isso?

— Está bem enganado. Tchau. — Depois de trocar poucas frases com um super imbecil desses já tinha vontade de virar uma serial killer e ele seria minha vítima número 1. Antes disso era melhor desligar, não é?

— Foi o amigo dela que matou. — Aumentou mais ainda a minha vontade.

Fiquei prestando atenção no que papeavam enquanto umas imagens passavam na tela, era sobre uma adolescente que tinha falecido em casa e seus pais que a encontraram já sem vida. Ainda não via nenhum sinal de suspeitos, por que diz isso? Só pode ser mentira.

— Não acredito em você. — Finalmente resolvi abrir a boca.

— Quer ver? Depois me conta quem era. — Vai me deixar em paz?

— Vai ficar querendo. — Só conversava com Daniel quando era obrigada por causa da escola, preferia morrer sabendo que tinha descoberto do que dizer que estava certo.

— Então vou assistir contigo, adoraria ver sua cara quando terminar. — Queria não ter virado para olhar a tela, pois assim não veria seu sorrisinho de lado. Era o que mais detestava.

— Certo, só não fique falando no meio, é chato! — Fui sincera.

— Qual o link? Me manda. — Enviei por mensagem sem nem colocar algum comentário embaixo.

Claro que em algumas noites ficava imaginando como seria acompanhar o meu podcast preferido com alguém que também gostasse, mas se soubesse que me enviariam esse ser nunca desejaria algo assim.

“Os policiais foram muito incompetentes!” — Dan02

Surpreendentemente ele não ficou falando, mas sim teclando no chat do vídeo, disse isso na parte em que deixaram os pais continuarem na cena. Só que isso era comum, ainda mais naquela época.

“Essa menina era tão linda e legal, quem matou é um monstro!” — Elisaa

Vi que ele olhava para algum outro lugar com toda atenção e riu de alguma coisa, será que foi do meu comentário ou de algo que a mulher falou. Que se dane o motivo.

“Elisa, ou foi rejeitado e fez o que fez.” — Dan02

— Então é um idiota também. — Após ver que me marcou para comentar isso, sem me ligar acabei soltando essa em voz alta. Quando percebi tapei a minha boca e novamente ouvi sua risada.

“Dan02, odeio esse cara mais ainda” — Elisaa

— Mais do que eu? — Apesar de sussurrar eu entendi.

Essa pergunta me fez ficar bem pensativa, será que tudo o que passei me faria sentir mais raiva dele do que um homem que tirou a vida de uma menina dessa maneira? Aproveitei até para comer o restante da minha janta, que era o mesmo do almoço.

— É diferente. — Não tinha resposta e por isso só consegui isso.

“Eles deveriam ter levado na delegacia.” — Dan02

Comentou sobre uma abordagem a um cara dois anos depois do crime e que o liberaram, sem nem sequer se referir mais a mim ou citar algo sobre o que tinha dito. Depois disso foi relatado que o tempo passou com poucas pistas, apenas algumas que não eram promissoras.

“Eu acho que pode ter sido alguém da família.” — User9090       

Algumas sugestões de quem seria foram soltas no decorrer do episódio, mas nada vinha do Daniel. Ele só ficava escrevendo sobre as partes que aquelas autoridades erraram, o que me deixava irritada, ainda mais por ficar bancando o certinho enquanto o conhecia bem.

“Dan02, se eles são tão ruins e você faria melhor, por que não se inscreve no concurso para ser um?” — Elisaa

Quando eu falei isso e olhei para o celular vi que sua expressão mudou e aquele sorriso enorme murchou. Apenas um comentário meu foi o suficiente para parar com os dele e ficar calado, pelo menos até finalmente contarem que o assassino foi o seu amigo.

— Admito, você estava certo. — Soltei depois de uns minutos de silêncio. Nem sei se foi ver que estar deste jeito tenha mexido comigo, mas algo me fez sim engolir meu orgulho para admitir isso.

— Eu já tinha assistido esse caso. — Confessou com uma cara melhor. Tinha até piscado nessa hora, acreditam? Cadê o cara triste de uns tempos atrás?

— Foi uma obsessão doentia mesmo. — Enquanto falava essa frase aproveitei para desligar a videochamada, que durou quase 2h.

Quando sai daquele aplicativo vi que minha amiga tinha tentado entrar em contato comigo nesse tempo, claro que para ficar querendo atrapalhar. Resolvi que ia deixar isso para amanhã e ir dormir.

— Você não me atendeu para ficar assistindo podcast com o Daniel? — Falando assim até soa bem surpreendente mesmo.

Passamos pelo corredor e eu a puxei para um canto mais sossegado ao gritar tão alto sobre isso, era bem capaz eu ser a próxima a estar na boca dos alunos como amante dele. Seria demais para mim ter que aguentar a cara fechada da Alicia e ela achando que sou mais uma.

— Eu não vi que você me ligou, se não teria arranjado uma desculpa para poder o dispensar. Disse quem matou, acredita?

— E você odeia spoiler, já entendi tudo. — Comentou como se nada.

— E acha certo? — Nessa hora até abri minha garrafinha e tomei um pouco de água, pois a conversa ia ser um pouco longa.

— É um documentário, não um filme que acabou de lançar. — Por que ainda somos amigas com opiniões tão diferentes.

— Mas quero descobrir sozinha, não que fiquem me falando o que vai acontecer, muito menos ele. Acaba com toda a surpresa. — E o looping começaria.

— Você não queria alguém para te acompanhar? Aí está. — Quê? Eu a convidei para estar comigo, mais ninguém.

— Quer que a terceira guerra mundial ocorra? — Percebi que sua cara ficou bem vermelha e levantou os braços, para depois se afastar.

— Vou no bebedouro. — Disse e foi rápido para lá sem nem me esperar.

— Não acho que uma nova guerra vai acontecer por causa de uma discussão entre dois alunos, concorda? — Virei para trás e dei de cara com ninguém menos que o diabo em pessoa. É por isso que me deixou sozinha? — Olá, Elisa.

— Se até um cachorro foi capaz. — Revidei com um sorriso amarelo e fui tentar me esquivar dele e de sua tentativa de puxar papo comigo.

Não era apenas porque eu sentia agonia de estar ao seu lado, mas também pelos olhares que eu recebia das pessoas ao passarem por nós. Eu poderia só não ligar, porém ainda não conseguia.

— Sabia que a mãe dela morreu sem saber quem era o assassino? Ainda foi convidada no casamento dele. — Fala assim como se fossemos grandes amigos?

Mesmo que essa curiosidade tenha me deixado com vontade de perguntar mais e conversar sobre a cara de pau dele, o quanto eu detestava a pessoa na minha frente era maior que isso.

— Sai fora. — Parava nas silabas e tentei ser o mais grossa possível, no entanto pareceu ter o efeito contrário, pois apenas continuou parado ao meu lado.

— Achei que gostasse de true crime. — Vai apelar é?

— Então eu vou. — Corri para que não tentasse me agarrar pelo braço e dizer mais alguma coisa.

— Ei, espera. — Apenas virei o rosto por ter gritado ao ponto de não conseguir o ignorar. — Já achou alguém para seu trabalho?

Bastou essa miseras palavras para me lembrar que ninguém ainda tinha entrado em contato comigo para me ajudar nessa pesquisa, nem mesmo sabendo que poderia ganhar a bolsa. Por isso decidi que ia procurar sozinha por alguns casais que tinham no colégio.

— Gustavo, tudo bem? — Perguntei ao vê-lo perto da sua sala, pois sabia que poderia ser uma boa cobaia.

— Agora vem falar comigo? — Lembrei quando o ignorei ao pedir que o ajudasse em uma prova. Qual é? Ele queria era colar de mim.

— Está precisando de nota não? — Tentei mudar para o meu assunto.

— Sim, por quê? — Estava tão desinteressado que quase desisti, até pegou um chiclete e ficou olhando o celular.

— Por que não me deixa te entrevistar para meu trabalho? Não será muito tempo e ainda pode ganhar bolsa para faculdade. — Fui direta.

— Aquele para saber se um homem babaca pode mudar ou não? Está dizendo que sou assim? — Bingo!

— Não é isso, preciso de casal que tenha relação saudável também. — Mesmo que a sua não seja.

Apesar de querer provar por A+B que a minha amiga está errada, ainda preciso mostrar dois pontos para que entre nos critérios. O problema é ninguém ter me telefonado, tirando um.

— Por mim tudo bem, mas minha namorada não quer ter a intimidade exposta. Você entende, não é? — Finalmente disse o motivo por não ter se candidatado e talvez muitos outros também.

E é claro que o Daniel ia ser o único a aceitar, já que não liga a mínima para que a sua parceira deseja. Só que isso que disse eu nem tinha pensado, por que as pessoas iam me deixar relatar tudo e ainda colocar em projeto público?

— Eu deixo anônimo. — Ele só riu disso.

— Por acaso leu o contrato para ter a bolsa? Vai estar tudo em um site público e ainda o nome da escola, acha que lendo não vão saber que é sobre nós? — Ele tem um ponto.

Que eu faço agora? Quem vai querer me ajudar? Será que tento com alguém da família? Será melhor desistir? Todas essas questões vinham a mente enquanto simplesmente sai dali sem nem me despedir pelo choque. Vagava pelo corredor olhando para o chão e tentando encontrar minha classe.

Ouvia umas risadas de fundo, porém era como se fosse de algum outro lugar. Eu não conseguia entender porque comecei com isso sem pensar em algo tão simples. Os cochichos e pessoas apontando para minha direção foram o que me fizeram acordar e querer perguntar o que houve, contudo foi apenas visualizar a mensagem do grupo do colégio para sacar tudo. Estou ferrada!


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Notas finais do capítulo

O que acharam do sermão da Alison? E da surpresa? Acham que a Elisa vai conseguir encarar o antigo livro preferido dela?

Apenas para dizer que a gif não é minha, sim da atriz Lily Collins. Se tiver algum erro de português podem me falar.

Quero agradecer demais desde já a todos que deram a chance de ler esse capítulo, caso queiram comentar sintam-se a vontade, irei amar saber o que está achando e também opiniões do que querem para as próximas.



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