Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 2
2 - Projeto Gentleman


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Resolvi fazer o segundo capítulo dessa fic, nem lembrava que eu tinha começado. Espero muito que gostem e estou tentando pensar como será o decorrer dessa história.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790890/chapter/2

Capítulo dois
       Projeto Gentleman

“O que você precisa
É de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho
Em arte final
Agora não tem jeito
'Cê tá numa cilada
É cada um por si
Você por mim e mais nada”
(Como eu quero - Kid Abelha)

 

Se passaram quase três anos desde aquele fatídico dia em que não era mais a Elisa de quatorze anos inocente, que acreditava em contos de fadas, amor verdadeiro, à primeira vista, seja qual tipo for, tudo porque vi Daniel quase foder a professora de inglês por conta de notas.

Ele e Alicia eram um exemplo para mim.

Nesse tempo todo nem precisei esconder tudo que passou naquela noite, pois ela descobriu as traições, na verdade várias delas, seja com professoras ou colegas de classe que nem se importavam se era comprometido com a amiga delas. Pelos boatos também tinham abusos, pois os colegas riam e falavam disso em sua presença e ele nada fazia.

— Está alimentando a sua obsessão diária vendo o melhor casalzinho do colégio? — Foi como uma facada as palavras da Alison, pois era verdade. Eu odiava esse cara e nem entendia o porquê de ela aguentar tudo isso e ainda continuar com ele, mas mesmo assim vivia stalkeando suas redes sociais com um fake. — Eu sei, você não quer mais ser aquela menina. — Já sentia que rolava os olhos mesmo sem estar a encarando.

Verifiquei por um tempo aquela foto em que Daniel estava de bermuda e barriga de fora, enquanto ela estava de vestido e o abraçava com um sorriso meigo no rosto. Tinha de admitir que eram bonitos, que ficava melhor com a paisagem praiana atrás, mas aquilo não era nem de longe a realidade. Sai daquele aplicativo um pouco depois irritada com essa hipocrisia.

— Não, você tem razão. Vou parar. — Por hoje talvez?

— Por hoje? — Pare de ler minha mente!

— Sim, amanhã terei de ver pessoalmente. — Eu suspirei só de pensar nisso.

Ela foi até a cozinha pegar a pipoca que tinha terminado de estourar e veio se deitar ao meu lado na cama. Dessa vez era a noite das meninas com filme de comedia romântica, isso porque Alison insistia muito, por mim só teria terror e ação, nada de pessoas se declarando como se fosse tudo fácil e lindo.

— Pelo menos é só mais esse ano, não é? No próximo vamos estar na faculdade, longe deles e cheios de veteranos gostosos ao nosso redor. — É só nisso que ela pensa? Sério?

— Ao seu redor. — Olhou na mesma hora para mim, confesso que me senti estando no natal e sendo julgada pelas tias enquanto perguntam “e os namoradinhos”, mesmo que saibam que a resposta é um belíssimo não. — Amém.

— Pelo jeito quer é ir para o convento, se quiser te levo. — Eu sou uma pessoa de luto, não santa.

— Olhe, os dois se encontraram! — Praticamente gritei e taquei pipoca na boca dela para ver se ficava calada e prestava atenção na televisão. Deu certo.

Era daqueles genéricos em que os dois se odeiam, mas por terem que fingir algum namoro acabam se apaixonando. A coisa era tão previsível que era maçante, mas sendo sincera? Eu ainda gosto um pouco desse gênero.

— O que achou? — Perguntei, mesmo nem precisando por vê-la em lágrimas enquanto os créditos subiam. Até meu lencinho estava usando.

— Queria ser ela. — Com aquele pijama e o cabelo todo bagunçado parecia até engraçado, se não fosse trágico.

— Ainda bem que não é. — Comecei a falar, apenas tomando um respiro para continuar. — O cara é um babaca, vivia a xingando, armando para a irritar, mas aí numa noite simplesmente se beijam e a coisa toda muda?

— O amor não se explica, Elisa, apenas se sente. — Lá vem com suas comparações.

— Então ele se torna fofo e romântico só por causa disso? — Meu tom de voz já estava aumentando nessa hora. —  É por culpa desses filmes que acham que podem “melhorar” um cara, mas isso é impossível.

— Se a relação não é saudável o melhor seria terminar não? No caso do filme você viu o mesmo? — Ela tem razão na primeira parte.

— Mas tem que concordar que não muda assim tão rápido.

Nessa hora estava colocando dessa vez uma série na televisão, parecia ser coreana. Parece que ficaremos o dia todo vendo isso, um casal sem sal e com um beijo tão morno que nem pré-adolescente dá.

— Então acha que tem de ficar esperando uma melhora? — Até fiz uma expressão de nojo nesse momento.

Jamais! — Eu até gritei após ouvir uma atrocidade dessas enquanto o nome dos atores rolava na tela. — Só não tem como o cara de um idiota ser a pessoa mais legal do mundo de um dia para o outro, literalmente. Aposto tudo que quando a câmera parou de gravar ele a culpou por nada, o ideal seria ter terminado sozinha.

— Isso é ficção, Lisa, eu prefiro acreditar que a relação continuou assim e que é um exemplo do que é um amor saudável. — Quando percebeu que ia abrir a boca ela completou rapidamente. — Não que tenha de ser assim com todos, é um casal que está satisfeito um com o outro.

— Acredita que alguém pode mudar como ele?

Colocou o braço por mim para acariciar meu cabelo enquanto pegava o refrigerante com a outra, aproveitando para ouvir um pouco da nova história que se formava. Ela sabia que era meu ponto fraco e não reclamaria por demorar a me responder.

— Talvez, pagaria para ver. — Confidenciou entre risinhos ao ver a beleza do mocinho, que era sim bonito, mas não para tanto. — E você?

— Nem preciso de mais provas para saber que não. — Isso me fez reviver os acontecimentos do laboratório como se fossem um pesadelo.

— Se der uma chance quem sabe se surpreenda um dia. — Estava sendo séria?

— Essa Elisa morreu. — Fui direta.

— Nem todos são o Daniel. — De novo com esse papo? — Seria a pessoa mais feliz se quebrasse a cara e se apaixonasse. — É fã ou hater?

— Para ser uma Alicia da vida? Obrigada, mas dispenso. — Está bem, não deveria estar batendo mais ainda em uma pessoa que já sofre o bastante e tem que fingir que o relacionamento é maravilhoso, mas era a verdade e infelizmente existem muitas dela por aí.

— Ela é ela, você seria você.

Essa minha amiga apesar de ser a primeira pessoa que suspira ao ver um cara bonito e gostoso, nem ligasse de trocar beijos por uma noite, é também uma das mais sonhadoras que já conheci, por isso não tentava entrar mais a fundo nessas conversas.

Só se lembre que clichê não é real, já a síndrome do Walt Disney sim.

Pior que ter que tentar arrumar meu cabelo pela manhã e colocar meu uniforme, é saber que terei de ir à escola e ensaiar sorrisos por aí. Mesmo que eu tenha chorado aquele dia e decretado que não ia mais acreditar em amor, ainda vivia sendo monitora e participando de grêmio.

— Só mais um ano. — Repetia na frente do espelho.

— Depois vai dar a louca? Adoraria. — Esqueci que a Alison estava aqui.

— Para o convento, esqueceu? — Ainda deu uma risada disso e foi para a cozinha aproveitar do café antes de mim.

Meu pai estava ali e meu iogurte também, cumprimentei rapidinho e fui correndo pegar açúcar para botar ali. Comi tudo em poucas colheradas e fiquei triste por isso, nem tinha mais por uma certa pessoa ter pegado tudo ontem enquanto se encantava pelo beijo sem graça do casal.

— Alguns hábitos nunca mudam. — Disse ele e sua cúmplice concordou com a cabeça, mesmo que olhasse feio para os dois.

— Tem razão. — Ela bem que entendeu, o silêncio significava muito.

Dessa vez decidimos ir para a parada mais próxima e esperar o ônibus, mesmo que eu não importasse, minha amiga detestava ir por causa dos tarados. Dessa vez infelizmente não daria de ir de carro.

— Seu pai parece bem. — Comentou.

— Já estava na hora, faz um ano desde que se separaram. — É, meus pais se divorciaram, mas depois de tantas brigas já era esperado.

— Falou quem ainda vive a viuvez desde a oitava série. — Aí, essa doeu.

— Meus pais é desde que me conheço por gente, só se aguentavam por mim. — Parece frio o que disse? Sim, mas é a verdade.

— E você está bem com isso? — Se eu fizesse alguma menção que ia chorar era capaz de me abraçar e não me soltar até chegarmos na escola. Por isso tentei ensaiar minha melhor cara de indiferença antes de continuar.

— Não tanto, mas foi melhor assim. Quando não está saudável tem que terminar, não é? — Repeti o que comentou ontem. Talvez tenha falhado em tentar esconder que estava abalada.

— Vou comprar um doce para você da cantina. — E assim me ganhou.

Se eu estava feliz por dar uma mordida naquela maravilha desde que entramos de férias, isso mudou ao ver um certo casalzinho entrando por ali de mãos dadas. Alguns riam, outros olhavam com inveja, já eu queria era dar um soco nele na frente de todos e contar ao diretor eu mesma.

Dane-se que eu seja expulsa. É brincadeira.

— Por que você não dá um tapa nele por mim? — Sussurrei. — Amigos não são para isso?

— Quem fica irritada é você. — Disse. — Eu adoro ver esse show de horrores. — Nada surpreendente, era ela um daqueles que ficavam gargalhando disso.

— Depois diz que tem pena da Alicia.

— E tenho, mas ver esse cara se achando é mais engraçado. — Agora olhando os dois pode até ser, porém era cruel demais toda essa situação para sequer esboçar um sorriso.

Não aguentei ver tudo isso e andei até outro canto com minha comida antes que fique sem fome e queira jogar no lixo. Pelo menos assim eu veria o mural antes de ir para a classe.

“Quer ser um dos 10 com uma bolsa de estágio para a faculdade? Venha participar do concurso e terá essa chance, apenas precisa ser aluno do ensino médio e entregar um trabalho escrito sobre qualquer tema.

Se te interessa venha até a direção pegar o contrato com as regras”

Se eu fui? Com toda a certeza, seria um sonho poder ter chance de entrar para alguma faculdade de graça e ainda já com “emprego”. No papel que recebi dizia que o trabalho tinha de ter dois resultados, um que dava certo e outro não, também a lista das universidades parceiras.

— Alison, você disse que pagaria para ver alguém mudando, não?

— Que foi? — Ela já me conhecia há muito tempo para entender que eu estava aprontando alguma coisa.

— E se eu te provar que é impossível, você me daria quantos? — Quis saber.

— Algo que queira comprar? — Adorei.

— Então está bem, eu topo. — Dei minha mão para fecharmos acordo.

— E você? O que vai me pagar se algum cara melhorar? — Foi sua vez de me encurralar, ri por dentro, pois sabia que ia ganhar essa fácil.

— A mesma coisa. — Respondi a contragosto e ela me deu um sorriso antes de aceitar.

Se eu soubesse que ter criado esse projeto gentleman me traria confusões inimagináveis, mesmo que pudesse ter minha graduação garantida, preferia voltar no tempo e impedir a Elisa do presente nem que seja a tapas. Jamais deveria também era ter colocado no mural um bilhete sobre isso e perguntado quem queria participar.

— Recusado. — Foi a primeira coisa que disse ao ver o mínimo de quem entrava na sala após as aulas com o papel em mãos. Sabe qual foi sua reação? Rir!

— Estou muito feliz em te ver também, Elisa. — Aquele sorriso de lado não me afeta, idiota.

— Já eu não tenho nada para você aqui, Daniel. — Ao invés de obedecer e dar meia volta fez o contrário, se aproximou de mim e se sentou na cadeira a frente. — Vai embora.

— Tem certeza que vai me dispensar? Não estou vendo mais ninguém aqui para saber desse seu trabalho. — Mesmo que seja a pior pessoa do mundo e preferia me jogar da ponte a concordar com ele, sua frase fazia sentido.

Até sai no corredor para ver se tinha alguma alma bondosa que estivesse vindo nessa direção, mas não existia. Tive de voltar a sentar e o encara-lo mais tempo.

— E o que te veio até mim? — Comecei. — Não foi para cobrar o que aconteceu há quase três anos, não é? Se quiser te chamo de Danielzinho. — Sua presença despertava o pior em mim.

— Quero ser sua cobaia. — Ignorou meu apelido e seu orgulho para falar isso, mesmo vendo que seu sorriso tenha murchado com minhas últimas palavras.

— Nem pensar, você é caso perdido. — Fui sincera.

Ele pegou uma caneta e ficou batucando na mesa, possivelmente pensando em algo a dizer, o que era raro. Sei que todos esses anos que fiquei os observando deveriam ter sido apagados da minha memória, porém ainda sabia de bastante coisa sobre esse colega que estava na minha frente.  

— Está nervoso? — Mesmo que negasse com os dedos, tinha certeza que sim, pois infelizmente alguns hábitos não mudam.

— Sei que deve ter uma péssima impressão ao meu respeito, mas preciso dessa bolsa. — Confidenciou. — Você quer provar que não tem como um babaca mudar, não é? — Assenti com a cabeça e assim ele continuou a falar, parecendo mais tranquilo com a minha reação. — Não tem melhor pessoa para provar isso que eu.

Era como se o mundo se abrisse bem na minha frente. É claro que sim, Daniel é infiel, idiota, abusivo, grosseiro, tudo o que tem de ruim em uma pessoa, se tem alguém que vai provar por A+B que estive certa para a minha amiga e ainda ganhar o estágio, é ele.

— Prefiro nunca fazer faculdade. — Isso se não o odiasse mais.

— Não diz não ainda, pelo menos pense um pouco. — Era como se estivesse desesperado ao ponto de implorar para mim.

Tchau. — Se não ia sair daquela sala, eu mesma faria.

Simplesmente fui embora correndo, lágrimas brotaram sem que quisesse, era como se estivesse fugindo de algo que nem sabia. Mas entendia que conviver com uma pessoa assim todos os dias e entrar mais ainda na sua intimidade e da Alicia seria como morrer da forma mais dolorosa possível. Eu e a Elisa mais nova não merecíamos isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Será que vai ter que trabalhar com ele? Tenho ideias sobre.

Gentleman é cavalheiro e hater é alguém que te odeia.

Síndrome do Walt Disney é quando você quer transformar um sapo em príncipe, digamos assim, tentar mudar alguém e não desistir mesmo com os abusos.

Não sei se será muito apreciada, mas espero que tenham gostado do capítulo.

Obrigada desde já!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Qualquer um menos você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.