Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 1
1 - Amor de conto de fadas não existe


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Estou com uma nova história, dessa vez um pouco mais no clichê. Espero muito que gostem, pois estou com ela na cabeça faz muito tempo.



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 “Pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogá-las pela minha janela.”

(Tati Bernardi)

 

Quando uma professora chega carrancuda na sala, não cumprimenta e faz o favor de entregar uma prova surpresa de uma matéria que jamais os alunos tinham aprendido, os apelidos para ela eram muitos, entre essas a mais comum era mal amada. Boatos de que não são bem fodidas pelos seus maridos, que esqueceram de tomar remédio enchia os corredores da escola, nem ao chegar nos ouvidos do alvo era o suficiente para para-los.

Porém, se fosse para esquecer aquelas lembranças de meus quatorze anos, jamais rogaria praga ao receber nota baixa na prova ou aceitaria ser a inspetora na oitava série. Aquele meu conceito de verdade absoluta a respeito do colégio e tudo o que ia em livros foi dissipado ao escutar gemidos vindos do laboratório de biologia.

— Pega o béquer. — Foi um pedido tão rápido e desesperado que jurei ter acontecido algum acidente com bomba, fogo, e a possibilidade de ter notícia de morte no jornal no outro dia eram o bastante para correr ao local tão conhecido.

Se antes meus passos eram delicados, dignos de dar inveja a qualquer bailarina pelo andar praticamente sem som, agora não faziam questão de esconder a presença.

— Só tira a roupa. — A Elisa de antigamente ainda poderia crer que era para apagar um começo de incêndio. Totalmente tola.

A urgência me fez chegar na porta, entreaberta, nem notando que não tinha aparecido um enorme clarão que me indicasse o que pensava ou gritos por socorro. Apenas meus olhos poderiam ser vistos por quem estava dentro, tal mulher que só enxerguei após forçar a vista, tendo como culpada a miopia, tapando minha boca com a mão ao notar quem era. Com certeza essa era a professora de inglês, essa voz irritante e silhueta batiam totalmente.

— Então enfia o tubo de ensaio em mim! — Esse fetiche era nojento demais para compreender, ainda mais ao vê-la apontando para trás.

O homem da relação, magro e alto, não poderia ainda ser identificado. E jamais descobriria apenas observando sua bunda quase quadrada, cabelo castanho ou pele branca, já que tais características se encontravam em adolescentes que esbarrava a cada esquina que passava. Sua pinta nas costas era grande, porém nunca tinha visto, nem quando fui salvar a minha melhor amiga do vestiário masculino de ser expulsa da escola.

Parecia ou não uma investigadora profissional agindo assim?

— Não acha que tem algo muito melhor na sua frente para brincar? — Posso dizer que depois de ver a poucos centímetros de mim, caídos, não poderia concordar com ele.

Sim, estava morta de medo de continuar assistindo aquela barbárie digna dos episódios de uma série com putaria e morte, que naquela época mal sabia que existia comparada a eu atual. Concordaria até que meu coração batia a mil com cada movimento deles, porém meu corpo insistia em não sair do lugar para aproveitar até o final. Talvez fosse pela voz daquele garoto ser familiar demais para ignorar.

— Calma, assim vou te assustar. — E acha que pedindo para ficar penetrando aquelas coisas cheias de vidro é algo leve?

O momento que finalmente pude ver cada parte de si quando veio ao mundo, seus braços, peitorais, e até o seu membro duro, não foi como imaginei que seria. Em minha mente apenas veria do homem que casaria, algo puro e apaixonado, jamais vindo de uma transa casual entre professora e aluno.

Seu rosto, que fitei por milésimos de segundo, estava franzido de raiva. Foi como um filme em câmera lenta sua virada e a mão de encontro aos frascos, derrubando um por um ao chão. Talvez esse fosse o melhor instante para interromper, porém meu cérebro deu pane após os fortes barulhos pelos objetos encontrarem o chão.

— Pareço estar sem pressa? — Colocou-a em cima do balcão com brutalidade.

Cenas de um casal feliz e bonito, andando pelos corredores do colégio, um gesto fofo de emprestar o casaco a parceira, dividindo uma sombrinha em dias de chuva, declarações, risadas e sorrisos, transitaram pela minha mente. Esse talvez fosse um dos únicos namoros que me davam esperança de que o amor existia, só que agora tudo caia por terra, junto com a inocência. 

— Só virgem. — Doeu.

Pobre Alicia, estando presa a um farsante.

— Cala a boca! — Sua ira não se comparava a minha.

Alison tinha dito que Schütz não era flor que se olhe de longe, ou cheirasse ao ter sorte e pertinência, mas sim que poderia até levar para a casa, colocar no vaso, usar e que existiam muitas como ele por aí. Porém eu rebatia suas acusações de que era idiota, cafajeste, delinquente, comparando-o com sua companheira a tudo o que lia em livros juvenis.

— Não posso dizer para meter seu Danielzinho em mim? — Ainda existia um pouco daquela pureza para não entender o porquê seu pênis ficou mole naquele instante.

Eu me sentia igual por tudo o que o destino jogou na minha cara, aquele começo de transa tinha terminado para ele ao brochar. “Pode ter uma rosa por uns dias, mas logo ela murcha e tem de pôr no lixo, não é? Assim é com garotos como ele, depois de um tempo se cansa e nunca mais o terá”, essa frase de minha melhor amiga nunca se encaixou tanto quanto agora.

— Eu mereço nota dez depois dessa. — Comentou, fazendo o favor de colocar a cueca, porém cada palavra dele me fez odiar mais ainda. Prostituindo-se para passar de ano, é isso mesmo?

— Onde vai? — Declarou.

— Com alguém que realmente saiba transar. — Seu sorriso era irônico, conhecia-o bem ao olhar-me no espelho. — Adeus. — Chegou a levantar a mão em despedida ao pegar a blusa, porém não contava que a calça se encontrasse tão perto de mim.

— Tira o pé. — Obedeci. Sua voz agora era mais nítida, irreconhecível. — O que veio fazer aqui? Se voluntariar para foder comigo? — Existia apenas um culpado para nem ter fugido, o choque.

Aquele sorriso poderia derrubar cem garotas, a piscada fascinar mais cinquenta, só que esse feitiço nunca funcionaria em uma Elisa irritada e desiludida. Ela estava pronta para rasgar todos os livros de romance água com açúcar que visse pela frente, já que não o tinha a sua frente, o alvo seria o causador de sua ira.

— Com certeza.

Não venha xingar-me todos os nomes, chamar-me de burra por cair na sua ladainha ou ser inocente demais. Apesar da minha idade eu entendia muito bem o duplo sentido nessa frase, todavia acho que ele não, dada a sua reação.

— Minha calça. — Sussurrou quando estava preparada para guia-lo.

— Para que ter mais trabalho?

— Não sabia que era assim, Mayer. As quietas são mesmo as mais safadas. — Realmente mal me conhecia para cair nesse jogo.

— Então feche os olhos, Daniel. — E ele o fez, como um cachorrinho.

— Pelo menos você não me chamou no diminutivo. Aliás, nunca fale inho quando se referir ao pênis de um homem. — Nesse momento um mundo se abriu em minha mente, entendendo completamente o motivo de sua raiva para com a professora.

— Acho fofo. — Respondi, escutando uma risada dele.

— Por isso, tem de ser grande, potente, menos o que disse. — Hoje sei o quanto o sexo masculino é frágil em relação ao seu brinquedinho, mas naquele tempo era inadmissível que fofo fosse ofensivo.

Apenas eu vi como a secretaria se portou ao notar que ele estava apenas de cueca, parecia nervosa. Aproximei-me dela, deixando-o na porta, para que assim não notasse que conversava com mais alguém. Quando confirmou que o diretor estava, meu lado negro interior sorriu.

— Pode abrir.

O jeito como arregalou os olhos e se sentou, colocando a almofada em seu colo, foi impagável. Porém isso durou pouco, até demais, quando uma pessoa entrou correndo na sala. Era a professora, no entanto fui pior ainda por esquecer dela.

Na realidade é bem melhor, pois assim posso denunciar os dois de uma vez. Ele que ia se ferrar. Porém seu semblante não era em nada de um perdedor, fazendo-me ansiar mais ainda pisar nesse ego e tom de superioridade.

— Vejo que tem alguma noção, Senhor Schütz. Se não tivesse se tapado, com toda a certeza teria o suspendido sem explicação. — Virou-se para mim após dar seu sermão. — O que aconteceu, monitora? — Era a minha grande chance.

— Elisa e eu estávamos quase transando e a professora nos flagrou, então ela nos obrigou a vir aqui, o resto o Senhor sabe. — Ele deve ter apenas confundido os nomes, trocado o meu e o dela. Resolvi esperar para ver, talvez ainda tivesse alguma esperança de que não fosse tão maldoso. — Não é verdade? — Corrijo, era o mor dos babacas.

Mesmo que eu queira mata-los nesse momento, notei no começo que ela parecia nervosa e sem saber o que fazer, ao contrário dele que nos prejudicou para defende-la e ainda parecia ter outras cartas nas mangas. Será que eles viviam um amor proibido e não era apenas uma relação para tirar nota alta?

— Espero que os punam com o maior rigor possível! — Sua carranca foi dirigida a mim e ele, como se ainda estivesse irritada. Não sei o porquê me surpreendia ainda achando que iria pelo menos poupar seu “amante”, que talvez existia um sentimento por trás, mas quando nem pensou duas vezes em ferrá-lo mais ainda tinha a certeza de que queimaria uns livros quando chegasse em casa.

Aliás, parece aqui que estou ferrada, não? Se ainda tinha cabeça para pensar em romance em uma hora dessas, era porque eu também guardei meus truques. Com certeza eu iria usá-los, mesmo que para isso eu pareça uma vilã fraca de novela.

— Na verdade você tentou me estuprar, sorte minha ela ter chegado. — Apontei, quase chorando, mas de raiva. Se era guerra e jogo sujo que queria, isso ia ter. — Muito obrigada, professora. — O sarcasmo usado nesse momento com certeza era motivo de orgulho para a eu de hoje, ao ponto de ser uma das lembranças que mais gostava, porém era obrigada a parar no minuto seguinte.

— Pelo jeito a mais inteligente da classe não sabe nem o básico. — Ainda riu bem na minha cara! — Se eu tentei fazer sexo a força com vossa santidade, por que só eu estou todo machucado e quase pelado? Deveria pelo menos ter rasgado parte da blusa antes de mentir. — fez todo um teatro naquela sala, apesar de ainda parecer tão patético apenas de cueca e almofada por cima.

— Tem razão, não tem como me comparar com um gênio do crime feito você. — Quando o diretor parecia mais interessado em seu celular aproveitei para levantar da cadeira e me dirigir a Margarete, sussurrando em seu ouvido. — Acabei de perceber que está com o cabelo um pouco revirado e batom borrado, a roupa também parece amassada. Será que devo contar a todos da sala sobre isso?

Vê-la tremer diante do meu interrogatório valia a pena por todas as vezes que brigou no meio de uma explicação por nada e me deu um seis na prova, apenas porque não aceitava minhas palavras mais formais ou dizia que não cabia naquela frase.

— Preciso fazer algo urgente, voltarei logo com uma calça e blusa. — Parecia que era algo sério para nos largar sozinhos no meio do caos. Talvez quando retorne alguém estará morto.

— Podemos fazer um acordo? — Daniel parecia preocupado, porém eu não ia me deixar levar. — Se a minha namorada souber ela não vai aguentar. — Quer dizer, no fim eu ainda cedi ao pensar muito, pela Alicia. Se ela descobrisse o que o seu príncipe encantado a traiu com a professora ou comigo, isso realmente a destruiria.

Se no fim acabamos recebendo apenas uma advertência, foi porque a professora em troca garantiu que não iriamos ter uma punição grande. Só que ela mentiu, já que no outro dia tinha outro monitor em meu lugar, pois não poderiam deixar alguém com a ficha suja cuidando dos alunos.

— Amiga, por que está fazendo isso? — E lá estava eu em nossa noite de meninas dois dias após o ocorrido, com um vestido e chapéu preto, como uma viúva, olhando para o barril cheio de livros dentro. — Quem morreu?

— Porque aquele idiota é a flor mais murcha de todas. — Acabei rindo fraco enquanto tacava um pouco de álcool. — Estou fazendo um velório para a antiga Elisa.

— Vale a pena mesmo queimar seus livros favoritos por conta do Daniel? — Começou ao desvendar o que falava, até porque ela repetia isso praticamente direto quando comentava do casal. Se tem uma coisa que Alison gostava era de signos e comparações. — Até o “amor para sempre”, “de amigos a amantes” e “nerd e popular”? Se não quer mais dê para mim!

— Se eu não botar fogo neles, irei por é no pênis dele! — Já estava alterada por não ter encontrado o isqueiro.

— Fala pau, jeba, quem sabe até pinto, só não diga como se estivesse dando aula de anatomia. É tão sem graça. — Pelo jeito não tinha notado a seriedade do meu ritual.

— Só se for pauzinho, bem como aquela professora disse para ele. — Estava tão irritada que até sua risada me agoniava, tampando meus ouvidos até que parasse.

— Do que está falando?

Quem sabe havia notado o porquê do meu sofrimento e desgraça, deixaria que pegasse a caixa de fósforos e deixasse em cinzas todas as obras clichês que me fizeram acreditar naquele falso amor. Escutei seus passos atrás de mim, tanto que ao me virar estávamos muito próximas, só esperando pela minha resposta.

— Eu peguei a Margarete quase transando com o pintinho no meio dos béqueres e tubos de ensaios. — Joguei a bomba! — Agora ficou melhor?

— Sim, mas nunca diga isso na hora do sexo para um homem. — Comentou como se fosse o melhor ensinamento de todos.

 — Pelo menos isso eu já sabia.

Ficou um pouco triste pelo que respondi, porém logo se recompôs.

— E o que aconteceu depois? — Esqueci que ela amava detalhes e não ia se contentar com pouco.

Se antes ela queria os meus livros, depois do que eu contei até me ajudou ao acender o palito. Chorei de verdade ao vê-los morrendo, assim como eu, enquanto fingia com um lenço. Meus pais ao chegarem até nos acompanharam na cerimônia, mas apenas para brigarem depois.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do primeiro capítulo? Do flagra? Da parte na diretoria? Do luto com os livros?

Não sei se será muito apreciada, mas espero que tenham gostado do primeiro capítulo.

Obrigada desde já!



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