Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 34
Eternidade


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, meus amores. Nos encontramos amanhã com o epílogo e algumas palavrinhas que tenho a dizer a vocês sobre a história e nossa jornada.
Tenho vocês guardados no meu coração ♥.
Este capítulo dedico a Rasquel, que fez uma recomendação linda e me deixou muito feliz. Obrigada!



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Capítulo 33

por N.C Earnshaw

 

PAUL TIROU A MÃO do bolso logo que percebeu a figura estonteante vindo em sua direção, visto que não queria chamar atenção para o objeto nele. Ele passou as mãos nas calças para limpar o suor acumulado pelo nervosismo, e se colocou em uma posição ereta no fim das escadas, aguardando ansiosamente a mulher maravilhosa que descia os degraus. 

O lobo nem sequer se moveu quando o pai de Bella, Charlie, passou ao seu lado e esbarrou nele. Não deu atenção para as desculpas do homem ou para a pergunta sussurrada sob sua respiração. O chefe teria que esperar para saber que “droga davam aqueles garotos em La Push para ficarem daquele tamanho”. Ele não desejava perder um segundo do seu imprinting naquela noite. 

O sorriso que ela lançou, tirou seu ar. As covinhas apareceram e, como em todas as vezes que ela sorria, Paul teve que se segurar para não pegá-la em seus braços e levá-la para o lugar vazio mais próximo. Queria rasgar sua roupa e fazê-la sua pela eternidade. E faria esta noite, mas tinha que ter apenas mais um pouco de paciência. 

Ele sorriu de volta, sentindo a caixinha em seu bolso aumentar o peso, almejando tirá-la do seu bolso e fazer o que queria há semanas. O quileute se controlou, buscando distração na roupa estonteante que Wendy estava vestindo. O vestido lilás, apenas um tom mais claro do que ele havia visto em Rosalie e Alice, era fechado em cima e agarrava suas curvas de uma maneira que o quileute ficou louco para tomar o lugar. Uma das pernas esbeltas aparecia quando ela andava através de uma abertura no tecido que chegava até o quadril, e Paul sentiu uma onda de ciúmes tomar conta do seu corpo quando viu pelo canto do olho um garçom desavisado a encarando com desejo. Ele grunhiu para o senhor de meia-idade, que o lobo sabia ser casado, e experimentou uma súbita vontade de ir até lá ter uma conversinha sobre “como ele não devia fitar daquela maneira nojenta uma garota com a metade da sua idade”. Ou que aparentava ter metade da sua idade. O quileute às vezes esquecia que sua namorada tinha mais de 80 anos. Ela era uma idosa muito gostosa. 

— Por que está fazendo careta? — A voz risonha de Wendy o alertou sobre a presença dela ao seu lado, e os pelos do seu corpo se ergueram por causa do arrepio de satisfação que tomou conta de si. O seu amiguinho quis dizer um oi, mas Paul o conteve. Não dava para ficar excitado com aquela roupa. Ao menos não em público. 

Ele se virou para vê-la e a puxou para si no mesmo instante. Sempre que estava perto dela, sentia uma vontade incontrolável de tocá-la. 

— Amor, você está uma delícia — elogiou o lobo, afastando o cabelo de Wendy para o lado. Ele ergueu a mão dela com a sua, e beijou cada nó dos seus dedos com a devida atenção, sem quebrar o contato dos seus olhos. O dourado quente da íris demonstrava que ela se encontrava bem alimentada, devido à caçada recente, o que o fez se lembrar que havia passado a noite sem ela. Sozinho e abandonado. — Mas parece que não fui o único que percebi.

Wendy riu, desacreditada, e seguiu o olhar dele para um senhor solitário que estava somente trabalhando. Ela bufou com escárnio, lembrando que, mesmo antes de descer as escadas, tinha ouvido comentários de várias mulheres que passavam pelo hall de entrada. A população feminina estava encantada com a beleza exótica de Paul, e Wendy não poderia dizer que elas estavam constrangidas em demonstrar sua atração pelo lobo. 

— Por favor! — desdenhou a Cullen. — Veja só quem está falando. 

Paul franziu o cenho, fingindo não compreender, e vasculhou com os olhos se outra pessoa havia se aproximado deles. A ação expressiva do Lahote e a óbvia zombaria, fizeram a vampira apertar os lábios com força. Estava claro que ele havia percebido a atenção especial. A Cullen tinha esquecido o quão galinha era Paul Lahote antes do imprinting. Até mesmo ela, que não se importava com os dramas adolescentes, sabia de duas ou três garotas que ele havia desfrutado da companhia. Para sua própria surpresa, Wendy percebeu que estava com ciúmes. 

— Ah! Não faz essa carinha, neném. — O lobo apertou suas bochechas, formando um bico gigante que a fez fuzilá-lo com o olhar. Ela tentou se afastar dele sem chamar atenção dos outros convidados que chegavam, evitando realizar o que realmente queria. O que ela desejava mesmo era agarrar as abas do terno dele e lançá-lo com uma força esmagadora em cima… Uma língua molhada impediu sua linha de pensamento. Os lábios de Paul atacaram os seus com firmeza, e ela não teve outra escolha, a não ser retribuir o beijo com tudo que tinha. 

Wendy sentiu seus músculos se desmancharem nos braços dele. O momento em que o beijava, era o que a fazia se sentir mais viva. O calor do corpo dele aquecia o seu. Sua mente, antes tão cheia de pensamentos, passava a ter apenas um foco. Ele. 

Era inexplicável para a vampira, o quanto o toque de Paul a desestabilizava. Cada contato que eles tinham somente a fazia desejar mais. Queria tudo daquele homem. Ansiava tanto pelo seu amor quanto… Não. Não existia nada em todo o planeta que Wendy desejasse mais que seu lobo. 

Um pedido de licença os alertou da presença de outros. Eles não se separaram no mesmo instante, visto que demonstrações públicas de afeto não os deixava envergonhados. Além disso, havia o detalhe de Wendy saber muito bem quem era o indivíduo inconveniente que os estava atrapalhando. Pois, apesar de estar concentrada na tarefa de beijar o seu namorado, possuía ouvidos convenientemente aguçados, e sabia que Jéssica Stanley se encontrava parada ao lado deles, observando-os com expectativa. 

A Cullen deu um último selinho em Paul e se virou para fitar a outra garota, sem tirar os braços do quileute ao redor de si. Algo muito parecido com ciúmes brilhou nos olhos da sua antiga colega de espanhol, e Wendy se perguntou se eles já haviam tido algo ou era somente mais uma reação comum da jovem. Não era novidade que ela morria de inveja da sua família. 

— Posso ajudar? — A reação apática da vampira em relação a Stanley arrancou uma risada baixinha do Lahote. Era hilário saber que existia alguém que Wendy não suportava, sendo seu imprinting a pessoa mais gentil que ele havia conhecido. No entanto, até mesmo a bondade dela tinha limite, e Paul tinha descoberto que era Jéssica Stanley. 

O lobo percebeu que Jéssica se intimidou com a pergunta direta. E levou mais tempo que o normal para encontrar sua língua. 

— Não — negou a humana com uma risada sem graça. — Na verdade, vim cumprimentar o Paul. Somos bons amigos. 

— Somos? — inquiriu o quileute, desacreditado. Lembrava de ter falado com aquela garota umas três ou quatro vezes e somente por educação... Esquisito. 

Wendy observou a interação com uma carranca, mas não interrompeu. Havia recebido educação o suficiente para não se intrometer em conversas alheias, dado que Jéssica tinha deixado transparente que não estava falando com ela. 

— Somos, claro que somos — afirmou com animação. Os peitos dela estavam pulando no decote apertado, e ela fez questão de cruzar os braços para tentar atrair o olhar de Paul. Sem êxito. O lobo nem sequer estava prestando atenção nela, pois, estava compenetrado em assistir às reações da sua namorada durante o embate. — Passamos o verão de dois anos atrás juntos. Você, Lauren e eu. 

Paul sacou na hora as intenções dela. 

— Não foi um dos meus melhores. — Ele não fez questão de ocultar o desprezo em sua voz. O lobo tinha esquecido o quanto a Stanley podia ser uma víbora.

— Como assim? — indagou Jéssica com falso espanto, ignorando intencionalmente Wendy. — Lauren uns dias atrás até comentou comigo que estava com saudades do tempo em que vocês estavam jun… Oh! Você não contou pra ela? 

A Stanley lançou um olhar piedoso na direção da Cullen, e Wendy teve que se segurar para não quebrar aquele pescocinho magrelo. A garota tinha armado tudo para que ela ficasse sabendo de um dos casos de Paul.  

— Não era importante — cortou o Lahote, apertando seu agarre na cintura da vampira. — Nenhuma das garotas antes da Wendy importa pra mim. 

Jéssica gargalhou sem embaraço, como se tivesse ouvido a melhor piada da sua vida, deu um tapinha no ombro de Paul e sorriu abertamente. 

— Vou dizer a Lauren que você mandou um oi. — E saiu. 

— Mas que porra foi isso? — O quileute não conseguiu parar de encarar o lugar que a amiga de Bella estava há poucos segundos, e percebeu pelo canto de olho que Wendy tinha a mesma expressão que a dele. — Essa garota é bizarra. 

— Eu achava que era exagero do meu irmão — comentou a vampira com os olhos arregalados. — Mas agora entendo porque o Edward a odeia… Estar na cabeça dessa garota deve ser um inferno. 

Paul assentiu várias vezes, agradecendo internamente por terem se livrado dela. O verão que ele havia passado com as duas tinha sido o pior da sua vida. Apesar de ter sido apenas dois finais de semana na praia de La Push e com muito mais gente além deles, foi insuportável ter que se desviar das investidas das duas garotas. Mais tarde, ele descobriu que foi alvo de uma aposta, ao qual Lauren tinha vencido, uma vez que ficou com ela em uma das festas da fogueira. Após esse dia, ela o atazanou para ficarem novamente, fazendo o Lahote criar a maior regra da sua antiga vida de pegador. Nada de ficar com a mesma garota mais de uma vez. 

— Vem, amor — chamou Wendy carinhosamente, afastando-se para segurar a mão dele. As idiotices de Jéssica não a afetaram em nada a não ser por uma leve irritação. Tinha compreendido que a intenção da garota era deixá-la com ciúmes e insegura. Possuía certeza que a humana, inclusive, esperava uma discussão entre o casal. Que ela sonhasse! — O casamento começa em alguns minutos. 

Paul suspirou com um ar entediado e firmou sua mão na dela, arrancando uma risadinha da vampira. Ele não estava nem um pouco animado para assistir uma eternidade de blá blá blá, e Wendy tinha consciência disso. Odiava casamentos e toda a baboseira que o juiz de paz tagarelava enquanto os noivos trocavam olhares apaixonados. Se fosse pelo lobo, o único casamento que compareceria era o dele mesmo. No entanto, o quileute se viu na obrigação de acompanhar sua mulher, dado que mesmo com sua figura ao lado dela, ela ainda recebia olhares furtivos. Era revoltante. 

Eles passaram por vários convidados, cumprimentando-os com um leve aceno de cabeça, sem tempo para papear quando estavam tão em cima da hora. O noivo já estava no altar, e Alice fez questão de salientar esse detalhe quando os avisou. 

A decoração do ambiente tirou um olhar admirado do lobo pela décima vez seguida. Sendo um dos infelizes que teve que aguentar a ira de Alice durante a arrumação, encontrava-se bastante familiarizado com tudo. 

Ele sorriu com orgulho para as flores que formavam um arco enorme ao redor do noivo. Emmett e o quileute haviam trabalhado muito para alcançar o nível de expectativa da vidente. Com muito esforço, conseguiram. E bradavam com orgulho que era a parte mais bonita de toda a decoração. Eles ignoravam o fato de quase terem saído no soco por causa disso. 

— Alice realmente se superou dessa vez — elogiou Wendy, guiando-o entre os outros convidados que procuravam seus lugares. 

O casal se dirigiu para os assentos com seus nomes, e Paul estranhou o fato de ter sido colocado na primeira fileira. Não era segredo para ninguém que ele não suportava os noivos. 

— Acha que ela vai aceitar planejar o nosso? — O Lahote arregalou os olhos assim que as palavras saíram dos seus lábios, e se xingou mentalmente. Era muito estúpido por ter feito aquele comentário. 

Wendy o fitou embasbacada, e o lobo torceu para não ter estragado seu pedido de casamento com sua boca grande. Tinha certeza que se o fizesse, Alice o mataria. 

— Você primeiro teria que me pedir em namoro — caçoou a Cullen com um sorriso largo.

Paul sentiu seu sangue gelar. De fato, não lembrava de tê-la pedido em namoro com todas as palavras. Ele, com certeza, disse que a amava e que queria estar ao seu lado para sempre, mas não recordava de ter perguntado um “quer namorar comigo?”.

Droga! 

Vários impropérios contra si mesmo passaram por sua mente. Idiota. Imbecil. Era um trasgo da pior espécie! Como pediria para ela se casar com ele se não tinha tido nem a decência em lembrar de pedi-la em namoro? Ele tinha arruinado tudo. 

Sua careta de infelicidade foi motivo de risadinhas entre Emmett e Jasper, e ele passou os dois minutos seguintes fuzilando os idiotas em pensamento. O lobo somente foi tirado do estupor quando percebeu Wendy puxando a manga do seu terno, já sentada em seu lugar, e a marcha nupcial iniciando. 

Ele se sentou ao lado do seu imprinting se sentindo infeliz, usando toda sua inteligência para buscar a solução de como resolveria o problema. Não queria adiar o pedido para outro dia. Seus nervos não aguentariam uma prorrogação. Desejava ter Wendy para si o mais rápido possível. 

— Ela está linda! — A voz suave ao seu lado o alertou da entrada da noiva. Wendy estava com o corpo inclinado para o lado encarando o momento em que Bella, de braços dados com seu pai, caminhava em direção ao seu amado. A vampira tinha uma expressão emocionada no rosto, as mãos estavam cruzadas em frente ao peito e os olhos tinham um brilho diferente.

— Quer namorar comigo? — Paul não tinha planejado fazer a pergunta. Mas assim que as palavras saíram da sua boca, uma onda de euforia tomou conta dele. Se ela dissesse sim, poderia realizar seu pedido de casamento não muito depois.

O quileute se parabenizou pela ideia ao mesmo tempo em que esperava Wendy processar o que ele tinha falado. Não sentiu insegurança sobre a resposta da garota. Sabia que os sentimentos dele por ela eram completamente recíprocos, então aguardou com paciência. 

Wendy abriu a boca, em choque. Paul estava mais estranho que o normal naquela noite e ela desejou poder arrastá-lo para algum lugar e perguntar se ele havia usado algum tipo de droga. 

Ela sussurrou um pedido de desculpas para a mãe de Bella, que os fitava com uma careta de dar medo na fileira ao lado, e se afundou na cadeira. 

— Eu estava brincando! — sussurrou a Cullen para o lobo, exasperada. 

Ele deu de ombros, ignorando o fato de estar sendo assistido e de uma cerimônia estar acontecendo a dois metros de distância, e insistiu.

— Quer ou não?  

A Cullen sentiu vontade de puni-lo por fazer uma cena. O “não” estava na ponta da sua língua, mas ao ver a postura ansiosa e os olhos castanho-escuro brilhando em expectativa, ela não conseguiu. Não poderia decepcioná-lo daquela maneira. 

— Claro que quero, Paul — admitiu a vampira próxima ao seu ouvido. 

Ele sorriu satisfeito, arrancando um sorrisinho de canto da Cullen, e levou a mão dela aos seus lábios para um beijo. 

A partir daí, o lobo não se atreveu a falar novamente. Sua mente tentava relembrar as palavras que tinha ensaiado para o momento em que pediria a mão de Wendy em casamento, enquanto a gravata em seu pescoço parecia estar mais apertada e seu estômago dava voltas e mais voltas.

Ele observou com certa inveja o instante em que Edward e Bella se beijaram, consolidando o amor entre os dois, e uma súbita vontade de agarrar Wendy e jogá-la sobre seus ombros como os antigos ciganos, tomou conta de si. Seria muito mais fácil tirá-la dali para se casar, que esperar meses para isso. 

Palmas interromperam seus pensamentos e uma Wendy animada se virou para ele, puxando-o pela lapela para beijá-lo. O quileute foi pego desprevenido pelo assalto, entretanto, ao sentir o gosto doce dos seus lábios, retribuiu com prontidão. Ele se inclinou na direção de sua cadeira para conseguir se movimentar melhor sem cair e pousou sua mão em uma das pernas dela. O corpo dele estremeceu ao perceber que era a perna descoberta. A pele fria de Wendy em contato com a sua, dava choques gostosos em ambos, deixando-os num frenesi e embriagados com a sensação.

— Todos os convidados já estão no salão de festas. — O casal se separou ao ouvir a voz do patriarca dos Cullen. Os dois se ergueram num pulo, arrumando as roupas e os cabelos, e fitaram Carlisle com expressões inocentes. 

— Estamos indo, pai — garantiu Wendy, buscando mascarar o constrangimento de ter sido pega em flagrante pelo homem que ela considerava ser sua figura paterna. 

Ele assentiu, solene, e balançou a cabeça em negação, juntamente com uma risada rouca. Paul virou a cabeça meio de lado, observando o quanto seus ossos faciais eram harmônicos, e pensou se alguma mulher em algum momento da vida daquele cara conseguiu lhe negar algo. 

— Kate está ansiosa para falar com você, querida — informou o médico. 

Wendy deu dois pulinhos animados e puxou Paul pelo braço, arrastando-o para o salão e deixando um Carlisle risonho para trás. 

Ela parou na entrada ao avistar Kate e acenou com animação para todos os Denali. A família sorriu na direção da caçula dos Cullen e a garota começou a andar em direção a mesa deles rebocando o Lahote, sem perceber que Irina os encarava com rancor. 

Paul cerrou os dentes ao reparar na postura ameaçadora de uma das loiras e rosnou baixinho, atraindo a atenção dos seres sobrenaturais do local. 

— O que foi, amor? — inquiriu Wendy inocentemente. — Está tudo bem. Eles também são vegetarianos. 

O quileute não desviou sua atenção da outra vampira, ignorando o que seu imprinting havia falado, e trocando olhares raivosos com a loira. 

Wendy se virou com uma careta confusa, e percebeu o jeito esquisito que Irina estava se portando. Elas eram boas amigas, apesar de a Cullen ser mais próxima a Kate. Não entendia o porquê…

— Oh! — O entendimento fez a vampira agir por instinto, colocando seu corpo entre Paul e Irina para protegê-lo. Os lobos haviam matado Laurent alguns meses antes e a Denali não acreditava que eles apenas estavam defendendo Bella. 

— O que foi? — inquiriu o Lahote com os punhos fechados. — Por que essa sanguessuga está nos olhando desse jeito?

Wendy franziu os lábios. 

— Ela é a companheira de Laurent. — A confusão no rosto do lobo a fez se explicar. — O vampiro de dreads. 

Ele resmungou em reconhecimento e trouxe Wendy para mais junto de si. 

— Acha que ela vai atacar? — A pergunta de Paul não foi muito mais que um sussurro. Um humano não conseguiria ouvir o que ele tinha dito, mas Wendy sim. 

— Não — negou a Cullen, arrumando a gravata dele. — Ela é família, não vai nos atacar. 

O lobo duvidava muito disso. Eles, de fato, haviam matado o companheiro dela. Protegendo uma humana? Sim. Mas Paul tinha certeza que ela não ligava para os motivos. 

— Não com tantos humanos — garantiu Emmett, surgindo ao lado deles. — Ela não seria tão idiota. 

A caçula o repreendeu com um beliscão, não queria chamar atenção dos convidados iniciando uma de suas brigas com o grandalhão. 

— O Jazz resolve — afirmou Wendy ao ver seu irmão conversando com os Denali. — Vamos nos sentar, já começaram a servir comida. 

No caminho até a mesa, Paul se lembrou que não era o único lobo presente na festa. Preocupado, ele procurou Seth pelo lugar para se certificar de sua segurança, e relaxou ao avistá-lo rindo sentado ao lado da mãe, Billy e Charlie, com a boca cheia de comida e um prato gigantesco à sua frente. Para seu alívio, o garoto estava bem até demais. 

— Sinto muito pela reação da Irina, querido — desculpou-se Esme logo que ele sentou à mesa. — Não esperávamos que ela se portasse dessa forma. 

— Não foi nada. — Ele mentiu. Contudo, ficou feliz que a mãe adotiva da sua namorada não percebeu sua mentira. Suas mãos ainda tremiam pela vontade de estraçalhar a vampira loira e ele estava usando cada partezinha do seu autocontrole para não se transformar e acabar com a festa. 

Esme sorriu aliviada e serviu o prato dele antes que ele pudesse pensar em comida. Adorava cuidar dos seus filhos e tinha começado a ver o Lahote como um deles. Ela enxergava o quanto ele fazia bem para sua garota e o quão feliz ela estava. Apesar de o início do relacionamento deles ter sido difícil, conseguiram superar os preconceitos de serem de espécies inimigas e triunfaram sobre os obstáculos. A vampira achava a história de amor de Wendy e Paul uma das mais lindas que ela já tinha tido o prazer de assistir. 

— Edward não é o meu irmão favorito. — O início do discurso de Wendy arrancou risadas de todos os convidados, derretidos com o carisma que ela exalava. Ela tinha uma expressão faceira, e Paul teve certeza que ela e Emmett apostaram para ver qual dos dois conseguia constranger mais seu irmão. — Ele é rabugento, reclama de tudo e parece ter alergia à diversão.

Ela fez um movimento displicente com a mão ao ouvir um grunhido do noivo e quase derramou o champagne borbulhante da taça que segurava. 

— Todos nós pensamos que ele ia morrer sozinho. Achávamos que não existia no mundo alguém tão entediante, taciturno e obsessivo quanto ele. — Wendy pausou por alguns segundos para deixar a revelação mais dramática. — Eu estava errada. Pelo acaso do destino, Bella Swan, tão… sem graça quanto ele, resolveu se mudar para Forks. No início, eu não entendi muito bem o que o meu irmão tinha visto nela. Dois pés esquerdos, uma beleza bem mediana e um talento enorme para se meter em problemas.

— Obrigada! — brincou a Swan. Edward, seu atual marido, abraçou sua esposa de lado gargalhando. 

— Mas a Bella ganhou meu coração, assim como de todos os outros membros da nossa família — continuou a vampira. — Ela é a nossa maior fonte de diversão… — Emmett cortou a fala dela com um “é verdade”. — E uma irmã. 

Ela levantou a taça para o alto e sorriu. 

— E fico muito, mas muito feliz por tê-la oficialmente na família. Bem-vinda, Bella, para uma eternidade de muitas aventuras. 

Paul esperou na fila para cumprimentar os noivos com impaciência. A caixinha em seu bolso batendo contra sua perna quando ele andava, fazia-o lembrar que estava a minutos de pedir seu amor em casamento. Cada segundo que passava somente fazia aumentar a ansiedade. Por vezes, ele abriu a boca para perguntar de uma vez, mas se conteve. Wendy merecia um pedido decente, diferente do pedido de namoro que ele havia feito algumas horas atrás. 

— Por que mesmo estamos na porcaria dessa fila? — inquiriu o lobo, brincando com as pedrinhas pratas que preenchiam o decote fechado do vestido de Wendy, enquanto aguardava sua vez de “parabenizar” os recém-casados. Como se ele tivesse algo bom para dizer para aqueles dois…

A vampira deu dois tapinhas camaradas na bochecha dele e revirou os olhos, cedendo aos seus resmungos. 

— Você venceu, Lahote. — Paul sentiu o sentimento de vitória borbulhar em seu corpo. — Por que não vai falar com Seth enquanto eu espero para falar com meu irmão e a Bella? 

O quileute percebeu que não era uma sugestão, mas uma ordem. E obedeceu prontamente, pois ela apenas o livrou dos três minutos que se tornariam os mais falsos de toda sua existência. Ter que fingir simpatia por Bella e o topetudo, ainda que numa data tão especial, dava-o ânsia de vômito. 

Com um sorriso satisfeito, o quileute foi em direção a mesa de bufê, onde Seth empanturrava com comida. O lobo acenou para uma Sue corada ao lado do chefe Swan, e franziu o cenho ao desconfiar que entre aqueles dois rolava algo bem mais que amizade. 

Ele pensou em dar meia volta quando os seus olhos se encontraram com o de Billy. Após o ataque de Jacob ao seu imprinting, seu pai havia ido até Paul se desculpar pelas atitudes do seu filho. A princípio, o Lahote estava resoluto. No momento em que ele soubesse que Jacob tinha pisado os pés nas proximidades de La Push, ele iria acabar com a raça dele. Mas Wendy, ao ver a tristeza brilhando nos olhos daquele pai, que tinha consciência dos erros do filho, fez Paul prometer que não tentaria matá-lo. 

Foi a primeira briga séria que o casal teve. E a última, se o lobo pudesse escolher. 

No final, após um dois dias sem se falarem, a Cullen cedeu e decidiu permitir que Paul desse ao menos uma coça no idiota. Não foi o bastante para satisfazê-lo por completo. Entretanto, os dias longe acabaram com ele, então resolveu não reclamar e enfrentar novamente seu imprinting teimoso. 

— Se continuar assim, garoto, vai acabar vomitando — avisou o Lahote ao ver as bochechas protuberantes do caçula Clearwater. 

Seth engoliu o que tinha na boca com certa dificuldade, ganhando um olhar repreensivo de sua progenitora, e sorriu abertamente para o seu irmão de bando. 

— Estou em fase de crescimento. Preciso comer muito. — A animação do Clearwater fez Paul sorrir de canto. Ele era um dos poucos membros, senão o único, que não o irritava tanto. Fosse pelo fato de ele ser o mais novo do bando ou por ser uma bola repleta de energia que ganhava o coração de qualquer um, o Lahote não se lembrava de querer socar a cara do moleque em alguma ocasião. — A Wendy não está com você? 

A animação do outro lobo em falar do seu imprinting gerou certa irritação no quileute. E ele mudou de ideia sobre nunca ter desejado socar a sua cara. 

— Está conversando com os noivos. — As palavras soaram como palavrões ditos pelos lábios de Paul, e os dois se viraram na direção do casal recém-casado para confirmar se Wendy estava mesmo ali. 

— Não achou legal da parte deles ter nos convidado? — tagarelou Seth enfiando uma trufa na boca e se balançando no ritmo da música. — Quer dizer, eu imaginava que eles iam nos desconvidar depois do que o Jacob fez com a Wendy. Foi realmente um choque pra mim quando vi pelos pensamentos dos outros caras que ele tinha feito uma idiotice dessas. A Wen é uma garota legal e não merecia ser tratada daquele jeito. Espero que o Jake se desculpe…

— Ah! Ele vai… — afirmou Paul num sussurro.

— Achei que depois disso eles iam revogar o convite — continuou o Clearwater sem se importar que o outro tinha falado. — Mas acho que eles são muito educados para isso e…

O lobo se arrependeu de ter ido até lá. Talvez aguentar três minutos de falsidade não fosse tão ruim assim. 

Ele se despediu de Seth com um tapinha no ombro e não deu qualquer explicação para sua saída repentina. Paul procurou Wendy com os olhos e a encontrou conversando com Rosalie perto de um arranjo de flores gigantesco. Assim que a loira avistou que ele se aproximava, despediu-se de sua irmã com cara de nojo e se afastou. 

— Qual o problema dela? — indagou o lobo, passando as mãos ao redor da cintura de Wendy e a abraçando. 

— Tenho quase certeza que é você — zombou a garota. 

Ele mordeu a bochecha dela com uma força comedida, arrancando uma risada alta da vampira e atraindo um olhar repreensivo de uma senhora aleatória.
O casal ficou em um silêncio confortável a partir daí. Com a cabeça encostada no ombro do lobo, Wendy assistiu Bella e Edward dançarem pela primeira vez após casados.

A Swan não tinha muita coordenação, tropeçava algumas vezes nos próprios pés e era segurada pelo seu noivo antes que olhos humanos pudesse enxergar o deslize. A vampira achou linda a maneira apaixonada que eles se fitavam, a conexão que eles tinham a fez suspirar de felicidade. Edward finalmente tinha conseguido seu final feliz. 

A música seguinte era mais calma que a anterior e Wendy pensou em pedir para Paul dançar com ela, no entanto, ele foi mais rápido. 

— Quer dançar? — A Cullen sorriu encantada para o seu par e prontamente aceitou. Ela estranhou a voz trêmula do lobo. Paul era sempre tão cheio de confiança que aquele segundo de insegurança acarretou uma certa ansiedade para a vampira. 

O quileute a levou até a pista de dança sentindo seu coração golpear seu peito. A ansiedade consumia cada parte do seu ser, e ele teve que controlar suas mãos trêmulas ao tocar a cintura do seu imprinting. 

A alguns metros do casal, o Lahote viu Alice fazer um sinal positivo e os Cullen assisti-los de canto de olho. Quando Paul pediu a mão de Wendy a Carlisle, os familiares do seu imprinting, com exceção de Rosalie, ficaram radiantes. Esme, inclusive, achou o ato do lobo muito galante. Os jovens do século XXI não levavam os relacionamentos tão a sério e pareciam ter alergia a qualquer tipo de comprometimento. 

Eles se balançaram nos primeiros segundos, visto que Paul estava perturbado com a ideia de tropeçar no vento como Bella Swan. Seria mais constrangedor ainda pelo seu tamanho comparado ao da humana. 

Ele respirou fundo e focou seus pensamentos na mulher em seus braços para se acalmar. O quileute a rodou por todo salão, surpreendendo a vampira com o quão bem ele dançava, e ganhou um sorriso doce da mesma. 

O quileute sentiu suas pernas falharem ao fitar as covinhas profundas. 

Ele a observou por minutos enquanto dançavam, trazendo-a para mais perto do seu corpo e memorizando cada traço do seu rosto. As bochechas rechonchudas, os cachos grossos e rebeldes, as covinhas adoráveis e os olhos… 

Paul não lembrava quem era o cara que havia dito que “os olhos são as janelas da alma”. Era um pintor? Ou aquilo estava na bíblia? Ele não tinha certeza, e muito menos se importava. Mas quem quer que fosse que tivesse dito, tinha razão. Os olhos de Wendy eram espetaculares, eram sinceros e apaixonantes, e não escondiam seus sentimentos. 

Ele os fitou mais uma vez. E o que viu brilhando neles tirou seu ar. 

Era amor. Amor puro, uma paixão devastadora e carinho. Tudo isso direcionado a uma mesma pessoa. Ele. 

— A minha vida toda rejeitei a ideia de amar alguém. — O lobo parou de dançar e segurou a mão de Wendy na sua. A vampira abriu a boca para expressar sua confusão, mas foi interrompida antes que pudesse formar as palavras. — A ideia de me entregar completamente a outra pessoa me assustava, de ficar vulnerável e falar sobre sentimentos. 

— Paul — sussurrou a vampira. — O que você…

Os casais ao redor continuavam a dançar, inconscientes de que o Lahote estava abrindo seu coração a um ou dois metros de distância.

— Quando tive o imprinting por você, achei que minha vida estava acabada. Te tratei como um babaca e… — continuou Paul, agarrando-se a seu último traço de coragem. Sua mente masoquista, antes tão certa da resposta positiva, repassava imagens de Wendy rejeitando seus sentimentos e dizendo não ao seu pedido. Aquilo o dilacerou. — Agora vejo que eu só tinha medo de nunca ser amado na vida. Tive medo de você não me amar de volta. 

— Paul, você não precisa me dizer essas coisas. — A Cullen negou veemente, apertando a manga do terno dele. A imagem do seu companheiro tão frágil fez seu coração apertar, e ela somente desejava abraçá-lo para sempre. — Eu sei…

O Lahote se afastou dela, tirando do bolso a caixinha preta com cuidado.

Estava na hora. 

Os olhos eficazes da Cullen fitaram o objeto aveludado, seu cérebro demorando mais do que o normal para acreditar no que estava vendo. Ela levou as mãos à boca, emocionada, e pensou em fazer milhares de perguntas, mas não conseguiu. 

Paul se ajoelhou lentamente, chamando a atenção dos outros convidados, que exclamaram em surpresa. Entretanto, o casal ignorou a plateia que haviam atraído, compenetrados demais um no outro para focar em outra coisa. 

O lobo abriu a caixinha para mostrar um anel prata e delicado, com uma única pedra singela, que Wendy sabia ser do primeiro anel de noivado que Carlisle havia dado a Esme. 

A Cullen se virou rapidamente para onde sabia que sua família estava, e sorriu para os seus pais, sussurrando um “vocês são os melhores pais do mundo” ao qual foi recebido com soluços emocionados de sua mãe. 

Ela se voltou para Paul, ainda meio desacreditada com o que estava acontecendo, e puxou o ar com força; um tique que ela tinha quando era humana e havia passado para essa vida. 

— Eu te amo — afirmou o Lahote sem titubear, tentando mascarar sua voz embargada. — Eu te amo mais do que imaginei ser possível amar alguém. 

Ela assentiu e agarrou a saia do vestido num aperto forte, ansiosa pelas palavras que viriam em seguida. Ambos sabiam do amor que sentiam e o quão era recíproco. Já haviam dito “eu te amo” milhares de vezes e não se envergonhavam de demonstrar todas as horas do dia.

Wendy se surpreendeu com o quanto aquelas palavras mexeram com ela. 

— Você é minha luz, meu imprinting e o meu amor. E me faria o homem mais feliz do mundo se me aceitasse como seu pela eternidade. 

Ele limpou a garganta e encarou o fundo dos olhos dela. 

— Wendy Cristina Cullen, quer casar comigo? 

O gritinho estridente que Wendy soltou não foi planejado. Nem o salto que ela deu para cima de Paul, derrubando-o no chão com ela sobre ele, ou o beijo digno de novela que tascou no lobo sem qualquer constrangimento. 

— Então? — indagou o quileute quando se separaram, apoiando a mão na curva do quadril da Cullen e erguendo metade dos seus corpos. 

— Sim! — Ela agarrou o pescoço dele, distribuindo beijos molhados por todo seu rosto, enquanto era aplaudida pelos convidados. — Por favor, sim!

Ninguém poderia dizer que Wendy não agia como uma protagonista.


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