Cactos & Girassóis escrita por Sali


Capítulo 6
Cinco




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Sexta-feira | 13 de Maio

Helena ainda estava se vestindo quando seu celular vibrou. Quando olhou para ele, apenas fechou os jeans e logo alcançou o celular sobre a mesa de estudos, para ler o que Gabi havia lhe enviado.

Tá pronta?

Tô passando daqui a pouco aí

Vou te ligar quando chegar

A jovem riu baixo com a pressa da amiga; respondeu-a com algumas palavras e enfiou o celular no bolso de trás para terminar de se vestir. Depois, colocou o resto do que precisaria ─ as chaves, o dinheiro ─ nos demais bolsos; estava pronta.

─ Pai?

Daniel estava sentado em uma das cadeiras da mesa de jantar, com meia pilha de provas do lado esquerdo e uma caneta vermelha na mão.

─ Ei, Lena. Vai sair?

─ Vou, a Gabi me chamou pra ir no cinema. ─ ela parou atrás dele e pousou as mãos em seus ombros. ─ E aí, muita nota zero?

O homem riu baixo e espreguiçou-se.

─ Até que não, acredita? Essa sala não é ruim em literatura... ─ ele encolheu os ombros, enquanto bebia um pouco da água que havia colocado por perto, e Helena abriu um sorriso afetuoso.

─ Pai, tem comida na geladeira, ok? Por favor, come alguma coisa... E não fica trabalhando até tarde, hein?

Daniel deu uma risada.

─ Pode deixar. Mais alguma coisa, senhorita?

Lena revirou os olhos diante do tom do pai.

─ Como se você não ficasse sem comer e dormir quando decide corrigir todas as provas ─ respondeu prontamente e, logo depois, sentiu, no bolso da calça, o celular vibrar outra vez ─ Enfim, preciso ir. Tchau, pai. Até mais tarde. ─ ela se inclinou para abraçar Daniel.

─ Cuidado, hein? E juízo. Me avisa quando chegar lá.

Helena sorriu e apertou mais uma vez o ombro do pai antes de dar um último tchau. Enquanto fechava a porta do apartamento, já estava com o celular na mão, para ler a última mensagem de Gabi.

─ ─ ─

A ideia do cinema viera de Gabriela ainda naquela tarde, pouco antes do fim do treino de muay thai. Foi tão súbita que fez Helena rir, mas ela não podia dizer não para a amiga, principalmente quando esta estava tão empolgada com a ideia de passearem juntas, já que fazia certo tempo que isso não acontecia.

Lena estava encostada à parede mais próxima da entrada do cinema, enquanto Gabi se concentrava no celular. Segundos depois, ela ergueu os olhos, animada e sorridente, com a nova mensagem: os amigos estavam chegando.

Helena também sorriu, mais levemente, mas nem teve como responder; no instante seguinte, ergueu os olhos e viu os dois amigos caminhando na direção delas: Matheus, um rapaz negro não muito alto, e Clara, uma moça branca, de cabelos castanhos bem curtos e que poderia ser descrita como “acima do peso”, mas preferia a expressão “gorda” ─ porque, afinal de contas, o que era um peso ideal?

─ Lena! ─ Clara exclamou, logo que estava próxima o suficiente para apertar a amiga em um abraço. ─ Caralho, que saudade…

Matheus também as cumprimentou com abraços.

─ Esse negócio de vida adulta fode mesmo com a gente… 

Gabi concordou, com um suspiro, enquanto caminhavam para a entrada do cinema.

─ Dá saudade de quando a gente se via toda semana.

─ Bom… ─ foi Matheus a interromper o diálogo, com um sorriso leve, mas logo denunciou sua empolgação: ─ Pelo menos a gente ainda consegue se encontrar assim às vezes… E ver o melhor filme do ano!

─ Eu vou colocar toda a minha confiança em não estar gastando todo esse dinheiro com cinema à toa, hein? ─ Clara ergueu as sobrancelhas para Matheus.

─ Ah, Clara… você tem que assumir que pelo trailer parece ser ótimo ─ Helena saiu em defesa do amigo, mas já com o tom de voz mais baixo, pois estavam adentrando a sala. ─ Mesmo sendo de super-herói… ─ completou, com um tom bem-humorado de provocação, que atingiu perfeitamente o alvo e fez Matheus lhe lançar um olhar bravo, de brincadeira.

Clara e Matheus, assim como Gabi, haviam conhecido Lena na academia de muay thai. Ao longo de cerca de três anos, os quatro haviam treinado juntos e construído uma amizade divertida, que fizera muito bem para os quatro ─ e, principalmente, para esta última.

Entretanto, havia cerca de um ano que Matheus largara o esporte, sem tempo ao entrar na faculdade de Design, que era seu sonho; Clara, por sua vez, abandonou os treinos seis meses antes, enrolada numa rotina que envolvia aulas pela manhã e estágio à tarde e à noite. No entanto, nada daquilo os afastou, e, mesmo que os encontros fossem raros, a amizade continuava forte.

─ ─ ─

─ Tá, eu admito: foi melhor do que eu esperava.

Os quatro haviam acabado de deixar a sala de cinema após duas horas de um filme que envolvia um super-herói, lutas fantásticas e um pouco de drama. Mesmo Clara, a grande crítica de cinema do grupo, havia se rendido aos cenários bonitos, cenas de ação e à pegada politizada, e elogiou, ao final, coisas como “a fotografia” e “as referências dos figurinos”. Matheus, por sua vez, viciado no universo das HQs, apenas comentava algumas das teorias que havia lido em algum lugar da internet, semanas antes ─ porque, afinal, já havia assistido ao filme na semana de lançamento, depois de encontrá-lo disponível para download na internet.

Assim, distraídos ─ Gabi e Helena ouvindo, Matheus e Clara debatendo ─, os quatro chegaram à praça de alimentação, pausando a conversa apenas para, no Burger King, fazerem seus respectivos pedidos.

─ E a Júlia, Clara? ─ Gabi iniciou outra conversa, logo que encontraram uma mesa vazia ─ Como ela tá?

Clara deixou escapar um pequeno sorriso no canto do lábio, enquanto comia uma batata.

─ Tá bem… tá meio sem tempo, claro, mas a gente tá bem.

─ Vocês duas são um amorzinho juntas… 

Helena concordou, enquanto fazia uma bolinha com um guardanapo.

─ Vocês combinam muito. É bonitinho de ver.

Clara não conseguiu se impedir de corar e acabou abrindo um sorriso. Lena também sorriu, ao observar como a amiga tinha os olhos brilhantes ao falar da namorada. 

─ Eu gosto muito dela, também. Mas e o Jackson, Gabi?

Aquele era o momento em que Gabriela falaria sobre o namorado, que provavelmente estava sendo engolido pelo stress à medida em que chegava ao fim do curso de Cinema de Animação.

Mas foi nesse momento em que Matheus interrompeu a conversa.

─ Gente, não olha direto, mas... ─ ele virou a cabeça com discrição, apenas o suficiente para indicar um local na praça de alimentação ─ Tem um cara tão bonito ali… 

O comentário agitou a mesa, de curiosidade. Clara, que estava ao lado de Matheus, foi a primeira a olhar, já que Gabi e Helena estavam do lado oposto da mesa, de costas para a direção que o amigo apontava.

─ Nossa, e a irmã dele também é muito linda.

Matheus ergueu as sobrancelhas.

─ Irmã? Eu chutaria namorada, olha como eles estão andando.

Clara fez que não com a cabeça.

─ Não mesmo. Eles não estão de mãos dadas, só abraçados… E eles se parecem muito.

─ Vocês estão me deixando curiosa ─ Foi Gabriela a interromper a discussão. ─ Eles estão olhando pra cá agora?

Clara riu.

─ Eles vão dar a volta daqui a pouco… Se vocês olharem um pouco pra esquerda, vai dar pra ver ─ ela meneou a cabeça, enquanto comia uma das últimas batatinhas.

Nesse momento, Gabi puxou um assunto qualquer com Matheus, com o objetivo de disfarçar a análise. Lena ainda estava bebendo o refrigerante quando, na direção em que os quatro olhavam, passou um rapaz alto e magro, bonito, que usava um moletom cinza e um boné roxo e amarelo. E, ao lado dele, rindo de alguma coisa, estava Marina.

Helena franziu a testa, como que tentando confirmar o que vira. No entanto, ela não precisou de muito esforço, porque logo sua colega de sala abriu um sorriso pequeno, e cumprimentou-a com um aceno de cabeça. Lena, por sua vez, só pôde deixar o copo de refrigerante sobre a mesa, para corresponder ao cumprimento com um menear de cabeça e um esboço de sorriso.

Mal os dois passaram, Gabriela já tinha um sorrisinho curioso e empolgado, olhando para a amiga.

─ Era ela, não era? A Marina?

Lena deu uma risada pelo nariz e revirou os olhos enquanto pegava de novo o copo sobre a mesa.

─ Sim, era.

Matheus e Clara, no entanto, apenas olhavam para as duas.

─ Lena, você conhece ele?  Eles? Quem era?

Gabi deu uma risada; Helena, porém, interrompeu-a antes que ela dissesse qualquer coisa.

─ Eu não faço ideia de quem seja ele. Mas eu não contei pra vocês, né? É que entrou uma aluna nova na minha sala esse ano… E era ela, a moça que estava com o cara bonito.

─ E eu tenho uma teoria sobre ela. ─ Gabriela deu um sorriso oblíquo, e a amiga revirou os olhos.

─ Uma teoria péssima, por sinal.

─ Claro que não! ─ Gabi ergueu a voz. ─ É uma teoria maravilhosa que eu tenho 99% de certeza de que é real. Sério, ouçam a história dela e a minha teoria e vejam se não faz todo o sentido do mundo.

Helena só pôde rir antes de começar a contar aos amigos como havia conhecido Marina, quase dois meses antes.


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