Cactos & Girassóis escrita por Sali


Capítulo 24
Vinte e três


Notas iniciais do capítulo

Estamos no penúltimo capítulo agora hehehe
E... de volta à escola. Vamos ver o que pega agora, que essas duas já estão tão perto das férias?



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Quinta-feira | 1° de Dezembro

Lena nunca se sentira mais feliz em fazer uma prova de Física como naquela quinta-feira. Não porque a prova era de Física, mas porque, se dependesse da garota, era a última prova dessa disciplina que ela faria dentro dos muros daquele colégio.

E, para ser sincera, a sensação era tão boa que amenizava até mesmo as bizarrices introdutórias de Física Quântica que o professor insistira em passar ao fim do semestre.

Faltava cerca de vinte minutos para o intervalo quando Helena entregou as folhas grampeadas, suspirando de alívio ─ e nada demorou para que Marina a seguisse. O que fez com que, instantes depois, as duas já estivessem no hall, sentadas em uma das mesas de lanche, conversando baixo.

─ Eu vou ser a torcedora mais brega de lá. Pode ter certeza. Pode entrar com cartaz? Porque, se puder… 

Lena riu pelo nariz da empolgação de Marina.

─ Não precisa disso tudo, gatinha… Só te ver lá já vai me animar.

Mari também deu uma risada baixa. Ela nunca revelaria, da mesma forma que sabia que Lena nunca admitiria, mas sentia um prazer secreto em ter quebrado os muros da garota a ponto de fazê-la chegar àquele ponto: declarações espontâneas e apelidos carinhosos ─ que, como elas mesmas haviam definido, tinham a quantidade ideal de breguice e carinho para representá-las.

─ E quebrar a cara das minas lá se alguma delas te machucar? Isso pode?

Tanto Helena quanto Marina explodiram em risadas baixas, e, apesar de arriscado, Mari não resistiu a prender uma das mechas rebeldes do cabelo de Lena atrás de sua orelha, aproveitando o movimento mais íntimo para roubar-lhe um selinho muito discreto.

E, antes que pudesse reagir, Helena sentiu seu rosto esquentar intensamente.

─ ─ ─

Era ao mesmo tempo excitante e quase onírica, para as duas, a ideia de estar a três dias do final do Ensino Médio. 

Passada toda a pressão do ano e o stress do Enem, era como se o resto parecesse simplesmente fácil de lidar. Claro, ainda havia o fantasma do SiSU, as notas, a terrível possibilidade de que tudo aquilo não fosse, no fim das contas, suficiente. No entanto, sentadas no hall do colégio, dividindo um banco longo e trocando carinhos discretos, Helena e Marina sentiam que estava tudo bem.

Ou quase.

─ Então agora tem duas sapatão na escola? Meu Deus, o nível realmente tá abaixando.

A fala de Caio se fez ouvir instantes depois do sinal do intervalo, e praticamente marcou o início do movimento de alunos para o hall. Ao redor dele, Rafael e mais dois garotos da sala ─ Matheus e Lucas ─ riam, formando um tipo torto de plateia.

Marina, logo que os ouviu, se afastou um pouco de Helena, mas apenas o suficiente para conseguir encarar o garoto de frente.

─ Caralho, Caio, supera. Nem a Helena nem eu estamos nem aí pra você. Pra ser sincera, tem várias garotas nessa escola que não estão nem aí. Você não é nem de longe o centro das atenções que você acha que é.

Caio, obviamente, nunca demonstraria que as palavras de Mari o afetaram. No entanto, ela conseguiu perceber que a expressão dele estremeceu um pouco, por brevíssimos segundos. 

─ Diz que é lésbica mas só porque não encontrou homem de verdade… ─ ele soltou, então, com um ar de deboche, arrancando risadas dos outros garotos.

Lena, que até então estava silenciosa, apenas ergueu a sobrancelha. Aquele tipo de xingamento, apesar de irritante, era terrivelmente clichê. E, àquela altura das coisas, ela não conseguia mais enxergar Caio como a figura intimidadora de antes, mas como um fantoche chato, que só sabia repetir frases prontas da internet.

─ Cala a boca, Caio… você fica se achando melhor que todo mundo mas esquece que só começou a malhar porque eu torci seu braço no 1° ano.

Àquela altura, já havia um pequeno grupo ao redor deles, assistindo à discussão ─ e a resposta de Helena caiu como uma surpresa para praticamente todo mundo no ambiente, gerando um eco de expressões e murmúrios de surpresa. A bem da verdade, nem ela mesma esperava as palavras que escaparam de sua boca, mas se sentiu satisfeita por tê-las dito.

Mari, por outro lado, estava atenta em outro detalhe: o fato de que, numa das bordas da rodinha estavam Isabella e Letícia ─ ambas, porém, em silêncio, apenas observando a discussão.

─ Mas você só fez isso porque é uma surtada mesmo… ─ Caio, então, retomou a discussão. ─ Típico dessas meninas histéricas, não aguentam uma gracinha.

Aquilo, sim, conseguiu irritar Helena, mesmo que só um pouco. A garota continuou sentada no mesmo lugar, mas, quase sem perceber, fechou a mão em punho; sua vontade de socar a cara de Caio, na verdade, só não falava mais alto que a voz de Daniel lembrando-lhe de respeito às regras e autocontrole.

─ Credo, Caio. Que bobagem ─ foi, então, Letícia que tomou a palavra, revirando os olhos azul-claros. ─ As meninas tavam na delas, que obsessão… 

A interferência de uma das amigas mais próximas de Isabella foi uma surpresa, inclusive, para Helena ─ que, com o pequeno choque, relaxou até mesmo a tensão que a irritação construía em seus ombros. Obviamente, nem ela nem Marina haviam percebido, com toda a nuvem de stress, mas já havia um certo tempo que a garota já não sentava mais tão perto do antigo grupinho da frente da sala.

─ Ah, Letícia, você também não, né… vai começar com esse mi-mi-mi também?

O ataque de Caio havia sido direto, com o objetivo, sobretudo, de puxar risadas dos garotos e tirar um pouco da moral de Letícia. No entanto, ela não era uma das garotas isoladas da sala ─ era, afinal, parte daquele grupo. E, por isso, o fato de ela defender aquela opinião tornava as forças um pouco mais desequilibradas naquele conflito.

─ Caio, sério… já tá ficando feio você forçando todo mundo a te dar atenção assim. Você já ficou três anos iludindo a Isa… e ela gostava de você.

Isso, pelo menos, não era uma surpresa. Helena sabia do fato de que, apesar de Isabella já ter opiniões terríveis por natureza, era o estímulo de Caio que a fazia tão agressiva ─ até porque ela desejava muito a aprovação do garoto mais bonito da escola.

E, de súbito, foi a própria Isabella que avançou, até ficar do lado de Letícia.

─ Cansei, Caio… agora eu já sei que você não gosta de mim de verdade, só ficava falando aquelas coisas pra eu ficar correndo atrás de você.

Diante dos olhos de Helena e Marina, toda aquela cena tinha, de fato, um ar meio ridículo, como se tivesse sido recortada de um filme adolescente clichê dos anos 90. No entanto, eles eram adolescentes. E não era a primeira vez que Isabella emprestava falas cinematográficas para basear suas ações.

Diante da fala dela, então, Caio pareceu perder seus argumentos e ficou em silêncio por mais tempo ─ e, aos poucos, a rodinha começou a se dissipar. Letícia e Isabella se afastaram, indo lanchar em outro ponto mais distante do hall. E Marina e Helena, igualmente, foram na direção de um dos corredores, de onde Ana assistia a toda a confusão, intrigada e curiosa para saber o que havia acontecido.

─ É tudo um bando de histérica mesmo ─ Caio exclamou, por fim, apenas para os amigos que ainda estavam ao seu redor.

No entanto, àquela altura os boatos da confusão já haviam chegado inclusive a Vivian, a coordenadora, que chegou ao hall com o timing exato para ouvir as últimas palavras do garoto.

─ Caio Ferraz ─ a voz dela, alta e severa, já bem conhecida pelos alunos bagunceiros como sinônimo de problemas, atravessou aquela parte do hall atraindo alguns olhares curiosos. ─ É sério que eu vou ter que assinar uma advertência pra você três dias antes de você formar?

O tom de Vivian era sério, como sempre. Mas isso não impediu que sua pergunta arrancasse algumas risadas dos alunos que assistiam à cena.


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