O Enforcado escrita por themuggleriddle


Capítulo 5
sob o céu estrelado


Notas iniciais do capítulo

um agradecimento à bruba que deixou reviews que me lembraram que eu precisava terminar de postar essa história e me deram vontade de fazer isso :))))



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Havia certos lugares de Hogwarts que eram perfeitos para se esconder, fosse depois de fazer alguma travessura ou por querer evitar qualquer tipo de contato por alguns minutos. A Sala Vai e Vem era um desses lugares, a floresta era outro. Mas, para Helena, apenas entrar na floresta ainda não lhe garantia se sentir segura.

Quando pequena, falou para seu pai sobre aquela pequena clareira no meio da Floresta Negra, um lugar onde tudo parecia ter saído de uma das canções que ele cantava sobre fadas e criaturas mágicas. Durante o dia era bonito, mas era de noite que tudo ficava incrível: as flores pareciam ter brilho próprio, suas pegadas deixavam um leve rastro luminoso no barro e a água brilhava como que com milhares de estrelinhas quando era perturbada.

Ela chamava aquele lugar de ‘ninho de fadas’, apesar de só ter visto fadas ali um vez, durante um Samhain. Também fora a única vez na qual não teve coragem de adentrar a clareira, pois se lembrava de seus pais lhe dizendo que nunca alguém deveria entrar em um círculo de fadas enquanto estas estivessem dançando... Mas ficou as observando, boquiaberta, enquanto resistia ao chamado de uma ou outra. Fora pouco tempo depois da morte de seu pai e, apesar de achar tudo muito belo, não conseguiu conter as lágrimas quando uma das fadas brincalhonas lhe entregou um lírio.

Mas agora, com dezesseis anos, Helena Ravenclaw recorria ao ninho sempre que precisava de um momento apenas seu: nada de Rowena a observando de longe, Helga perguntando se estava tudo bem, Godric a chamando para treinar, Siegfried querendo conversar ou qualquer outro aluno a irritando. Era só ela, as flores e o som do vento e dos animais da floresta.

Naquela noite, havia ido até a floresta para escapar de um possível encontro com alguns membros do Conselho que estavam visitando o colégio. Nunca gostara muito deles, lembrava-se de como olhavam torto para o seu pai, mas começara a ficar ainda mais desgostosa desde que aqueles homens decidiram que seria interessante casar um de seus filhos ou sobrinhos com ela. Agora os evitava a todo o custo, escondendo-se na Sala Vai e Vem, ocupando-se com tarefas ou correndo para a floresta, onde ficava olhando o céu estrelado por entre as copas das árvores ou brincando com as plantas brilhantes.

Respirando fundo e sentindo o perfume doce das flores, Helena inclinou-se mais na direção do pequeno lago ao lado do qual estava sentada, esticando uma mão para encostar na água com a ponta dos dedos e vendo pequenos pontos brilhantes e azulados surgirem ali. Ela amava aquilo... Estrelas sempre pareciam distantes demais, sempre brilhando friamente lá longe, mas ali, naquela pequena clareira, elas ficavam na ponta de seus dedos, prontas para se deixarem serem tocadas.

Sua brincadeira com a água foi apenas interrompida com um farfalhar alto das folhas dos arbustos que cercavam o local. A garota endireitou o corpo, levando a mão à varinha presa no cinto para caso algo aparecesse ali, mas tudo o que pulou para fora das folhas foi um pássaro baixinho, gordo e cinzento, que a olhou com curiosidade por um momento, antes de abrir o bico, soltar um barulho agudo e explodir em penas e fumaça, fazendo Ravenclaw se sobressaltar.

“O que...?” a garota murmurou, olhando em volta, apenas para dar outro pulo quando ouviu outra explosão abafada logo ao seu lado, acompanhada por fumaça e penas. Dali do meio, surgiu o pássaro. “Como fez isso?!”

O animal a encarou, inclinando a cabeça para o lado, e fez outro barulho, antes de começar a andar em volta dela. A bruxa o observou por um momento, para depois enfiar a mão na bolsa que trazia consigo, puxando um caderno – que estava quase se despedaçando, graças ao fato de ela ser terrível com a tarefa de encadernar seus pergaminhos – e um pedaço de carvão para tentar desenhar o bicho.

“O que é você, hein?” ela perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto via a ave dar alguns pulinhos até chegar na beira do lago e se abaixar para bebericar a água, assustando-se ao vê-la brilhar e fazendo a garota rir.

O animal voltou a olhá-la, parecendo intrigado com a risada, e explodiu em penas de novo, reaparecendo do outro lado do lago.

“Volte aqui!” pediu Helena, rindo. O pássaro deu alguns pulinhos e explodiu de novo, agora indo para o lado dela de novo. “Como você faz isso?”

O bicho deu mais alguns pulinhos, antes de ficar estático e olhar em volta com os olhinhos arregalados, como se tivesse ouvido algo. Ele a olhou mais uma vez, soltando um piado baixo e explodiu, mas agora não reapareceu em lugar algum, deixando uma Helena confusa para trás. Foi só quando ouviu o barulho de cascos em algum lugar fora da clareira que a bruxa entendeu a razão do animal ter sumido.

Amaldiçoando baixinho, Helena guardou as suas coisas e se encostou em um dos maiores troncos que havia por ali, tentando se esconder um pouco da luminosidade causada pelas plantas enquanto esperava o barulho dos cascos desaparecer. Quando isso aconteceu, esgueirou-se para fora do ninho, olhando em volta com cuidado para não esbarrar em nada e não fazer barulho.

Mas isso não foi suficiente. Logo sentiu alguém a segurando pelo colarinho do vestido e a erguendo do chão como se ela não passasse de uma boneca de pano.

“Pensei que tivéssemos dito para eles não entrarem na floresta!” disse uma voz forte e grossa falou perto de si.

Com o coração batendo forte demais e querendo pular de sua boca, Helena conseguiu se debater um pouco para olhar em volta. Ao redor de si, havia três centauros, considerando aquele que a segurava pela parte de trás do vestido. Os dois que estavam mais visíveis eram altos – apesar de que talvez ainda fossem menores que Warlock – e fortes, com parte de suas feições sendo iluminadas pela luz da lua. Eles carregavam aljavas cheias de flechas nas costas, arcos em mãos e colares com pedras e pedaços de couro presos em diversas partes do corpo. Também não pareciam nem um pouco felizes naquele momento.

“O que está fazendo aqui, humana?” perguntou um dos centauros, o que tinha a pelagem mais escura, além de ter uma mancha esbranquiçada na testa.

“Estava só olhando a floresta,” disse Helena, tentando manter a voz estável, o que melhorou um pouco quando o centauro a colocou no chão outra vez, mas não afastou a mão forte de seus ombros. “Não vim fazer mal à nada. Juro!”

“Todos os bruxos dizem isso,” disse o outro centauro à sua frente, este com a pelagem mais clara e o rosto mais sério.

“Não acho que ela consiga machucar algo, Angus,” disse a criatura que a segurava no lugar, virando-a um pouco para olhá-la. De onde estava, Helena tinha a impressão de que o centauro parecia ainda maior e mais assustador do que realmente era. “É só um filhote.”

“Ela não parece tanto com um filhote,” disse o tal Angus, aproximando-se batendo os cascos no chão com mais força que o necessário. “Parece crescida o suficiente, Aeon. ”

“Ainda está mais para filhote do que adulto,” disse Aeon, o centauro que a segurava. “Não vamos começar uma rinha com os bruxos do castelo por causa de um filhote.”

“Ele tem razão, Angus,” disse a criatura que havia ficado quieta até agora, o centauro de pêlos escuros. “Eles nunca machucaram os nossos filhotes.”

“Porque não os deixamos a vista, Theron.”

“Ela de certo apenas se perdeu e acabou aqui,” disse Aeon. “Posso acompanhá-la até os limites da floresta para garantir que não se perca de novo.”

“Mande-a para bem longe,” resmungou Angus, antes de dar meia volta e sair cavalgando. Theron acenou com a cabeça para o outro animal, antes de se afastar também.

“Devia tomar cuidado com passeios pela floresta,” o centauro falou, soltando o ombro da garota e apenas encostando nas costas dela de leve para indicar que ela devia começar a andar. “Há coisas perigosas por aqui.”

“Como o que?” ela perguntou, lentificando o passo para ficar ao lado do centauro.

“Nós?” ele falou, rindo baixo.

“Passei anos vindo nessa floresta e sempre consegui passar despercebida por vocês,” a bruxa murmurou.

“Oh?” Aeon arqueou uma sobrancelha, parando de andar e levando uma mão até o queixo da garota, fazendo-a erguer o rosto. “Você é a menininha dos tronquilhos, não?”

“Menininha dos tronquilhos...?”

“A menina que vivia por aqui e sempre saía com um tronquilho nos cabelos,” ele falou, antes de rir alto. “Theron e eu volte meia a víamos pulando por aí. Sempre dizíamos que um dia sua mãe iria aparecer aqui e a arrastar para longe da floresta, irada por causa do que você fazia com seus vestidos.”

“Meus vestidos são a última preocupação de minha mãe,” disse Helena, pressionando os lábios um contra o outro e olhando para a barra do vestido suja de terra, como sempre.

“Que mãe não se preocupa com o vestido da filha? Ouvi dizer que, para os humanos, as roupas são essenciais para atrair um companheiro,” disse o centauro.

“Se eu tiver uma filha, não vou ficar exigindo que ela use vestidos impecáveis o tempo todo. Se um homem a quiser, vai ter que olhar além das roupas.” A bruxa encolheu os ombros. “E minha mãe não tem tempo para ficar prestando atenção nos meus vestidos. Ela já tem um castelo inteiro para tomar conta.”

“E que mãe é essa que toma conta de todo um castelo sozinha?”

“Não sozinha, mas ela cuida de boa parte,” disse Helena. “Rowena Ravenclaw.”

Aeon parou de andar por um momento, quando já estavam quase na borda da floresta, e a encarou por alguns segundos, antes de erguer os olhos para o céu, visível por entre a copa das árvores. Ele parecia quase analisar algo lá em cima, a julgar pela maneira como franzia o cenho e murmurava algo para si mesmo.

“Está tudo bem?” a garota perguntou.

“É claro,” disse o centauro, sorrindo fraco enquanto a olhava.

“É verdade que vocês conseguem ver o futuro nas estrelas?”

“Sim, nós aprendemos a lê-las em relação ao que aconteceu, o que está acontecendo e o que ainda acontecerá,” disse Aeon. “As estrelas contam mais histórias do que as pessoas imaginam, mas são poucos aqueles que param para ouvi-las.”

“Meu pai adorava as estrelas,” ela murmurou.  “Minha mãe também.”

“Eles sabem lê-las?”

“Minha mãe entende muito de Astronomia, mas detesta Adivinhação,” Helena explicou. “Meu pai não conseguia fazer magia, mas entendia um pouco de Astronomia... Em relação à Adivinhação, ele conhecia mais as runas.”

“E você?”

“Não sou tão boa em Astronomia, mas estou estudando algumas formas de ler o futuro,” a bruxa falou. “Mas não havia considerado as estrelas para isso.”

“Acho que, antes de tentar pedir para elas lhe mostrarem o futuro, talvez deva apenas ouvir as histórias delas,” disse Aeon. “Elas gostam de ser ouvidas... Devem ficar muito sozinhas lá em cima.”

“Tem razão,” murmurou Helena, mordendo o lábio inferior.

Não demorou muito para alcançarem as margens da floresta. Dali, podiam ver o castelo com suas janelinhas iluminadas, além do lago negro refletindo a lua cheia e os gramados claros graças à luz desta.

“É aqui que lhe deixo, criança.” O centauro fez uma reverência rápida, antes de endireitar-se e a observar. “Se me permite lhe dar um conselho...?”

“É claro.”

“Existe a possibilidade para você ser conhecida por anos a fio,” ele falou, sério, olhando o céu rapidamente. “Mas pense com cuidado sobre se é isso mesmo que quer para si.”

E, dizendo isso, o centauro acenou com a cabeça, deu meia volta e voltou a sumir por entre as árvores, o barulho de seus cascos no barro sumindo lentamente até sobrar apenas o silêncio.

***

“Quando tentei ensinar o seu pai, ele quase saiu com um braço quebrado,” disse Godric, rindo enquanto polia a própria estada. Helena sempre admirara o carinho que ele tinha com aquela arma; mesmo cansado e sujo depois de um duelo, Gryffindor se sentava e limpava sua espada com o maior cuidado possível antes de guardá-la. “Mas ele conseguiu me derrubar... Já lhe disse isso?”

“Já, mas é sempre divertido imaginar a cena,” disse a garota, sorrindo enquanto limpava a terra da espada que usara para treinar, uma muito mais leve e simples que a do bruxo.

“Ele aprendeu bem a lutar com adagas e com arco depois. Thomas tinha um físico bom para espadas, mas era meio desastrado. A sorte dele era ser rápido, o que era engraçado para alguém daquela altura,” explicou Gryffindor. “O maldito podia ter quase dois metros de altura e conseguia se esquivar facilmente de golpes. Mas, quando chegou aqui, não conseguia nem segurar uma espada direito sem derrubá-la em cima do próprio pé.”

“Não seja maldoso, Godric.”

“Só estou falando a verdade. Ele concordaria comigo,” o bruxo riu, antes de olhá-la e sorrir fraco. “Ele ficaria orgulhoso de vê-la lutando. Diria que herdou a habilidade de Rowena, mas, convenhamos, você também é ótima em se esquivar como ele era.”

Helena mordeu o lábio inferior para conter um sorriso. Gostava de ser comparada ao pai. Era um tanto raro alguém a comparar com Rowena, afinal, era difícil chegar ao nível da mãe nos quesitos beleza e inteligência, mas ficava feliz quando se lembravam de Thomas Ravenclaw e diziam que ela se parecia com ele.

“E a espada dele?” perguntou Helena, lembrando-se da espada que seu pai cuidava com tanto carinho quanto Godric cuidava da sua, mas que nunca o vira usar.

“Você sabe o que ele achava dela.” O homem deu uma piscadela rápida. “Foi um presente de Rowena. Ele disse que eles viram homens usando aquelas espadas quando viajaram para o Leste... Homens que as usavam em batalhas, mas também ‘dançavam’ com elas. De vez em quando ele tentava isso, sempre acabava quase arrancando um braço fora.”

“Lembro disso,” a garota murmurou.

“Aquela espada era mais simbólica do que uma arma propriamente dita. Tudo entre ele e Rowena era muito simbólico,” disse Gryffindor, sorrindo fraco, antes de erguer a cabeça e apontar para a porta da sala das armas. “Tem alguém lhe esperando.”

Quando se virou, viu um rapaz parado no batente da porta. Sigfried nunca fora o rapaz mais belo de Hogwarts, mas sempre fora uma das poucas pessoas que sorria de forma genuína perto dela, do jeito que estava fazendo ali enquanto a esperava guardar as espadas e correr até ele.

“O que deu em você ontem? Sumiu depois do jantar. Helga estava lhe procurando,” o rapaz falou baixo, antes de fazer uma reverência para Gryffindor.

“Queria dar uma volta,” disse Helena, empurrando-o para longe da sala das armas.

“Deixe-me adivinhar: a floresta?”

“Sou tão previsível assim?”

“Acho que as barras dos seus vestidos já me disseram que você gosta daquela floresta,” disse Sigfried, rindo. “Aceita uma volta no lago antes das suas aulas a tarde?”

“Aceito qualquer coisa antes de voltar para aquela sala de aula.”

Não era como se não gostasse de estudar. Na verdade, adorava estudar... Mas detestava ter que entrar em uma sala de aula, sentar-se no meio de seus colegas e ter aula, principalmente quando tinham que fazer duplas ou grupos para treinarem feitiços. Seria mais fácil se Sigfried estivesse em sua classe, mas ele já havia se formado fazia quase dois anos e agora ficava em Hogwarts para ajudar alguns professores, até conseguir algum trabalho fora do colégio.

A caminhada até o lago parecera rápida demais graças à conversa. O rapaz lhe contava sobre algumas das viagens que fazia para ir atrás de materiais e ingredientes que os professores pediam enquanto ela lhe contava sobre as coisas que aconteciam no castelo: Godric continuava sem esposa alguma, apesar dos boatos de um filho bastardo ter surgido na última semana; o filho de Helga continuava adorável como sempre; sua mãe continuava sendo... bom, sua mãe, etc.

“Ouvi dizer que alguns membros do Conselho estavam aqui ontem,” disse Sigfried, sentando-se na beira do lago e esperando que a garota fizesse o mesmo.

“Sim, mas não me dei o trabalho de ficar para ouvir qualquer possível proposta de  casamento ou algo parecido.” Helena riu.

“Existem muitos bruxos que seriam bons para você lá, Helena.”

“Bruxos que iriam me fazer dominar feitiços domésticos para fazer as ceias deles, você quer dizer,” ela soltou um muxoxo. “Eu... Não estou com muita vontade de me casar. Não agora, pelo menos. Talvez um dia, quem sabe.”

“O que faria você considerar um casamento?” o bruxo perguntou enquanto se ocupava em cavocar os cascalhos com os dedos.

“Encontrar alguém que... Foi como o meu pai era com a minha mãe? Não sei.” Ela encolheu os ombros, antes de suspirar. “Mas tem muita coisa pela frente ainda. Já estou vendo garotas da minha classe noivando e ficando extremamente felizes com isso. É tão estranho.”

“Você sabe que o normal é isso...”

“Minha mãe não se casou com dezesseis anos.”

“Mas até ela se casou.”

“Mas não com dezesseis anos e não com alguém que o Conselho enviou,” disse Helena, bufando fraco.

O rapaz encolheu os ombros e voltou a olhar o lago, antes de suspirar. Sigfried sempre fora calado e era difícil vê-lo conversando com outras pessoas se não os professores. Lembrava-se de que ele sofrera bastante com a saída de Salazar, já que este lhe dera bastante apoio quando chegara em Hogwarts. E, pouco depois de Slytherin deixar o castelo, seu pai morrera e Sigfried também parecia ter uma grande consideração por Thomas Ravenclaw.

“Há quanto tempo nos conhecemos?”

“Dezesseis anos?” a garota respondeu. “Você já estava aqui quando eu nasci.”

“Essas coisas passam rápido demais,” ele murmurou. “Lembro de você quando parecia mais um arbusto de cachos, com tronquilho e tudo!” O rapaz riu. “Não que tenha mudado muito... Só ficou mais alta.”

“Muito engraçado.” A bruxa fez uma careta, mas riu mesmo assim. “E você? Lembro quando tentou deixar os cabelos longos como os de Godric, mas ficou parecendo um cavalo-charco.”

“Achei que tinha gostado!” Ele fingiu uma expressão de desgosto.

“Eu vivia dizendo para você cortar de uma vez por todas, mas até hoje você quer ele meio longo,” a garota disse, erguendo uma mão e brincando com os cabelos castanhos do outro, que iam até quase a metade do pescoço deste.

“A senhorita fala e fala, mas no fundo gosta da minha pessoa assim, Lady Ravenclaw,” disse Sigfried, sorrindo de lado.

“Claro que gosto.” A garota revirou os olhos, rindo, antes de parar ao ver o bruxo se inclinar na sua direção, esticando o braço para alcançar algo que estava do outro lado dela.

Quando Sigfried voltou à posição original, tinha uma pequena flor com pétalas vermelhas presa entre os dedos. Ele sorriu, antes de levar à flor até os cabelos da bruxa, prendendo-a nos fios.

“Ora, está muito bela assim, Lady Helena,” ele falou.

“Muito obrigado, Lord Sigfried.” Ela riu, fazendo uma reverência com a cabeça.

“Arrisco dizer que está mais bela que sua mãe.”

Helena arqueou uma sobrancelha, pronta para rir, antes de perceber que o outro parecia estar falando sério. Sentiu o coração pular uma batida quando os dedos de Sigfried encontraram o seu rosto e, antes que pudesse raciocinar qualquer coisa, sentiu os lábios dele sobre os seus muito de leve.

Não fora nada romântico. Não parecia nada com as canções e histórias que seus pais contavam. Seria algo muito ordinário, não fosse pelo estranho desconforto que sentia ao pensar que aquele que a beijava era Sigfried Belmis, o rapaz que era seu amigo desde sempre. Se era para Helena sentir algo incrível com um beijo, bom... Alguma coisa devia estar muito errada com ela, porque tudo o que sentiu foi um toque leve e uma leve agonia depois que o susto passou.

“Sei que quer esperar para se casar,” ele falou, quando afastou-se. “Mas... Quero deixar claro que desde já tem alguém que a espera, milady.”

“Sigfried...”

“Porque eu... Realmente gosto de você, Helena. Sempre gostei e, para mim, não será problema esperara te que esteja pronta-“

“Sigfried,” ela chamou de novo, mantendo a voz firme do jeito que já vira sua mãe fazer. “Você é meu amigo... Sempre foi. Sabe que sempre tive muito carinho por você, mas... Não quero lhe dar alguma esperança de algo que sei que é muito, muito difícil de vir a acontecer.”

“Você ainda é nova, Helena.”

“Sim, mas eu sei que o que sinto por você é amizade e... Eu realmente o amo muito, mas como amigo,” ela explicou, sentindo o rosto corar. Aquilo era mais difícil do que imaginara. “Sem contar que existem muitas outras mulheres por aí que adorariam tê-lo como marido.”

“Você sabe que isso não é verdade,” ele resmungou. “Você sabe que eu sou nascido trouxa, que não tenho nada... Tudo o que é meu hoje só foi conquistado com a ajuda de seus pais e de Lord Slytherin. Nenhuma família vai querer suas filhas casadas com alguém assim.”

“Sempre vai ter alguém que irá contra isso. Afinal, minha mãe se casou com um aborto sem posse alguma, não é?” A garota sorriu sem graça.

“E eles eram amigos antes, Helena,” disse Sigfried, sorrindo. “Entende o que eu digo? Dê tempo a isso... Nós já nos conhecemos, já gostamos um do outro. Um casamento seria algo-“

“Sigfried, não,” ela falou, mais firme agora. Apesar de gostar de ser comparada ao seu pai, a situação ficava um pouco mais complicada quando alguém comparava outras pessoas à Rowena e Thomas Ravenclaw como um casal. Para Helena, desde sempre, eles pareceram um par sem comparação. Parecia quase blasfêmia usá-los em comparação com outras pessoas. “Meus pais são meus pais, eles não são nós dois. Eu gosto muito de você e o considero como meu melhor amigo... Sempre foi assim e espero que continue sendo, pois ficaria muito triste de perdê-lo. Mas não posso lhe prometer nada fora dessa afeição. Sugiro que conheça outras moças... Elas irão gostar de você, tenho certeza disso.”

O bruxo ficou em silêncio por um momento, trancando o maxilar e com o rosto ficando vermelho. Aquilo a assustava um pouco... Sigfried, apesar de calado, tinha um temperamento meio difícil. Era fácil vê-lo perder a paciência com colegas que faziam graça com ele ou com o Poltergeist do castelo. Seu pai dizia que, quando o rapaz era pequeno, fora um tanto difícil controlar a magia acidental dele por conta desse temperamento.

Ao fundo, conseguia ouvir o som leve de pedrinhas batendo umas contra as outras, como se alguém estivesse sacudindo um saquinho cheio de runas.

“Entendo,” ele murmurou, depois de respirar fundo e endireitar-se. “Bom... Me desculpe incomodá-la com isso, Lady Ravenclaw.”

“Sigfried,” ela chamou ao vê-lo se levantar. “Não disse que quero que você suma-“

“Eu realmente preciso ir,” ele falou, fazendo uma reverência rápida, antes de voltar a andar na direção do castelo.

O som das pedras foi desaparecendo aos poucos. Helena sempre se perguntou a razão da magia de Sigfried ser o mesmo das runas quando sacudidas, logo antes de mostrarem o futuro.


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