Spencer Sutherland escreveu sobre nós escrita por Biazitha


Capítulo 3
Eu ainda estou apaixonado, mas tem muita coisa acontecendo




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But I’m afraid that you’d hate me if you knew that I’ve become sensitive

It’s true

But even if you do,

None of this has been about you

O mercado estava lotado e eu só queria ir embora o mais rápido possível. Estava com os fones de ouvido, mergulhado na música e em meu próprio mundo, enquanto carregava aquele carrinho com a mais extensa lista de compras que minha mãe já havia feito. Sal grosso, pimenta preta, arroz, maçã, cenoura...

Fechei os olhos um instante, apoiado em uma das prateleiras, exausto só de pensar que eu teria que lavar todos os legumes e frutas, organizar os enlatados no armário e terminar o trabalho de geografia assim que chegasse em casa.

Inuzuka! — Os fones foram arrancados de mim com um forte puxão e quase tive uma síncope tamanho o susto que levei. — Estou te chamando há horas.

A Yamanaka encarou-me com fingida irritação, cruzando os braços e bufando. Imitei sua postura, tentando disfarçar o meu coração ainda assustado. Percebi que a loira não estava sozinha; um bando de garotas do colégio estavam espalhadas pelo corredor, conversando alto e segurando vários pacotes nos braços.

Procurei por cabelos longos e escuros, contudo Hinata não parecia estar ali. Acenei com um sorriso medíocre para duas colegas ali perto para disfarçar a decepção na minha cara. 

— O que eu perdi? Qual é a da reunião das Superpoderosas? — Resolvi perguntar, relaxando a postura. As minhas costas coçavam como o inferno, podia sentir a pele descascando conforme eu me mexia. 

— Vamos fazer uma noite do pijama na casa da Sakura.

— Mas estamos no meio da semana.

— E daí? Tem que ter dia certo para se divertir? — Sua voz soava desacreditada e tive que rir. Ela não estava errada. 

— O que vocês vieram comprar?

— Ah, muitos doces e uns refrigerantes. Vai ser demais! 

— Sabe, eu até poderia comparecer e animar a festa, mas hoje o dia ‘tá bem cheio. — Apontei para as compras e dei de ombros. 

 — Que peninha de você. Força, guerreiro. — Provocou enquanto saía rápido de perto de mim, logo grudando em outra menina e sumindo para outro corredor. Fiquei rindo sozinho por um tempo, até enfiar os fones de volta e continuar a minha tarefa para chegar cedo em casa. 

Não demorou muito para eu ser interrompido de novo; em dose dupla. O celular tocava e outra figura conhecida se aproximava.

Temari vinha até mim com os braços cheios e um sorriso gigante, mas atendi a ligação da minha irmã primeiro. Resmunguei para indicar que estava ouvindo e fui atropelado por palavras desesperadas: 

— Roubaram o Akamaru! Estava levando-o para a clínica, mas parei em casa antes e deixei o vidro do carro aberto demais, ele... — Ela fungou. — E-Eu só tive tempo de ver um cara forte o chamando e grudando na coleira dele, depois os dois saíram correndo. Eu nunca vi aquele homem na vida, não sei por que o Akamaru foi com ele. 

Eu devo ter ficado pálido porque a loira jogou tudo o que carregava no carrinho, em seguida segurou o meu ombro esquerdo. A sua felicidade diminuiu ao ponto de me encarar com a boca em linha reta. 

— Kiba, ‘tá tudo bem?

Olhei melhor para ela e neguei, a mão que segurava o aparelho começou a tremer. 

— Eu vou procurar de carro. — Hana avisou e eu continuei calado. — Vai à pé pelas ruas, talvez ele sinta o seu cheiro e lute para voltar. O homem não deve estar longe, toma cuidado, por favor. Já liguei para a polícia. 

Desliguei o telefone de qualquer jeito, me desesperando ainda mais. Eu queria gritar! 

— O que aconteceu? — Minha amiga tentou mais uma vez, virando-me para que eu a olhasse de frente. Senti os meus lábios formarem um pequeno bico involuntário, construindo um choro. 

— Akamaru... foi raptado.

— Como assim?

— Eu preciso encontrar ele. Eu preciso!

Larguei tudo para trás e saí esbarrando nas pessoas, sem fazer questão de pedir desculpa. Chamaram pelo meu nome, mas eu continuei correndo. Olhei pelo estacionamento, pensando em qual caminho seguir. O foco era apenas no meu cachorro grande e branco, nada mais importava.

Corri para a esquerda, fazendo o trajeto que me levaria para casa. Eram poucas quadras de distância, talvez ele ainda estivesse por perto e pudesse me encontrar, como minha irmã disse. Eu não pouparia esforços para enfrentar aquele homem — quem quer que fosse o infeliz — e recuperar o meu melhor amigo peludo. O filho da puta que teve a coragem de o roubar ia pagar caro por isso, muito caro! 

Eu só conseguia pensar no pior. Akamaru esteve comigo em todos os momentos da minha vida; bons, médios e ruins. Era ele quem me consolava e me deixava feliz. Nada podia acontecer com ele.

Ganhei-o dos meus pais, logo que nasci, e desde então nos tornamos parceiros. Quando o meu pai começou a trabalhar em outra cidade e comecei a encontrá-lo cada vez menos em casa, foi Akamaru quem esteve ao meu lado e conseguiu me animar para que eu levantasse todas as manhãs.

Atravessei a rua correndo, tropeçando nos meus próprios pés. O movimento de carros, bicicletas e pedestres era grande naquele horário; estava rodando há 15 minutos que pareciam se arrastar em horas e eu me afundava cada vez mais em pensamentos perturbadores. Não havia encontrado minha irmã, um carro de polícia ou qualquer cachorro. 

O celular tocou e eu o atendi aflito, sem olhar quem ligava. A minha vista ainda estava embaçada, de qualquer forma. 

— Kiba, achamos o Akamaru. — Ino comunicou e parei no lugar. Eu nem havia imaginado que ela poderia estar o procurando também, junto com as outras meninas depois que me viram fugir do mercado. Elas nem sabiam o que estava acontecendo, podiam estar correndo perigo também. E se o homem estivesse por perto e tentasse algo?

Respirei fundo, tentando normalizar o meu estado.

— Onde vocês estão?

— Na praça perto da sua casa.

Voltei a correr, dessa vez mais ansioso e preocupado. Os meus pés ardiam com a força que eu fazia para chegar mais rápido, só que eu não me importava. Temari, Ino e Hinata estavam sentadas no banquinho da dita praça. Akamaru — alheio ao meu desespero e ao fato de que eu quase havia tido um infarto — estava deitado aos pés delas. Parecia bem, sem coleira alguma no pescoço. 

Olhei para o lado e vi dois policiais parados na rua, com um um sujeito forte algemado ao lado deles. Senti o sangue ferver e as mãos tremeram um pouco mais, contudo eu só queria focar no que era importante. O cuzão teria o que merecia depois; não queria nem pensar qual era a finalidade dele ao tentar raptar o meu cachorro, mas impune ele não ficaria. 

Comecei a chamar por Akamaru pulando e arquejando ao mesmo tempo. Feliz em me ver, o desgraçadinho veio ao meu encontro com o rabo elétrico e a língua de fora. Com certeza devia estar achando tudo divertido, como um passeio de domingo no parque.

Ajoelhei-me para abraçá-lo enquanto esgoelava vários “muito obrigado, eu amo vocês” para as três meninas. Encarei-as finalmente com um misto de emoções dentro de mim e comecei a chorar. Eu não era capaz de formar qualquer outra frase coerente, entretanto elas pareciam entender toda a minha gratidão. 

— Somos suas amigas, estamos com você em qualquer situação. — Temari assegurou, abaixando-se para me envolver em seus braços. Logo Hinata e Ino fizeram o mesmo; ficamos os quatro agarrados ali no chão. 

— Não faz mais isso, cara. — Murmurei enterrado no pescoço peludo do canino, agarrando-o com toda a força que eu tinha. Vi os dedos finos de Hinata passearem dos meus braços até o meu cabelo e solucei alto, deixando o choro de alívio sair sem vergonha alguma até a última gota. Ela afagou o meu pescoço e couro cabeludo com delicadeza, como fazia quando éramos namorados.

Era um momento muito forte que com certeza ficaria gravado em mim para sempre. 

Eu só queria continuar aproveitando o amor das minhas amigas, o carinho especial da Hyuuga e os pelos macios do Akamaru.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: https://youtu.be/iVLWKrNSwdQ



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