Dramione | Seis anos depois escrita por MStilinski


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

olá!
bom, voltei ao site depois de algum tempo trabalhando nessa história e resolvi finalmente postá-la, espero que gostem!



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O vapor vindo da água da banheira subia calmamente pelas paredes brancas de tintura do pequeno banheiro. Era um cômodo estreito e pobre, com o encanamento enferrujado e o ladrilho do chão encardido. A mulher que relaxava na água quente mantinha a cabeça deitada e os olhos fechados, parecia dormir sob o efeito tranquilizante que o banho parecia ter.

Ela abriu os olhos quando a porta do quarto de hotel barato bateu. Virou o rosto lentamente na direção da porta aberta do banheiro, em tempo suficiente para trocar um olhar com o homem que havia acabado de chegar. O olhar não durou mais do que cinco segundos e então o homem seguiu seu caminho pelo quarto, acompanhado pelo olhar dela.

Ele jogou a pasta preta de couro sobre a estante, tirou os sapatos sociais e começou a desfazer o nó da gravata. Jogou o paletó e a gravata sobre uma cadeira e se deitou na cama, desabotoando os botões da camisa. Faltavam apenas três quando ela apareceu na porta, o cabelo preso no alto da cabeça e a toalha cobrindo todo o corpo.

— Você está atrasado. – ela disse, calmamente.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo preto.

— Eu sei. Desculpe. Tive que passar em casa.

— Ah.

Foi tudo o que ela disse. O assunto sobre “a casa” dele era evitado a todo custo. Sua casa ou, mais especificamente, a esposa e o filho que ele mantinha no subúrbio de Londres.

Ela fez seu caminho até a cama e deitou ao lado dele, que logo a puxou para mais perto, juntamente com beijos, que levaram a retirada da toalha dela e de todas as roupas restantes dele.

O sexo foi ardente, mas com momentos de trocas de olhares intensos e carícias afetuosas, demonstrando sentimento. Sentimento— algo complexo para uma amante. Mas ela tinha e já se sentia estúpida o suficiente por isso, porque sabia que era uma relação que nunca sairia do papel... ou da cama.

Ela observava-o vestir o terno mais uma vez. Era uma visão semanal, toda quarta-feira, naquele mesmo horário, no horário de almoço em comum deles, no hotel trouxa mais afastado do centro da cidade, pago no dinheiro, sempre.

Ela suspirou e vestiu a blusa, ajeitando-a para dentro da saia de couro justo.

— Eu conheço esse suspiro, Hermione. – ele disse, se aproximando dela – É o horário que conseguimos nos ver.

— Eu sei. – ela ficou de pé, se afastando – Meu suspiro significa apenas que eu sei que preciso parar com isso. Nós... precisamos.

— Não comece com isso de novo. Sabe que temos futuro.

— Pare com essa história, Joe. Estamos nisso há dois anos e meio e eu não sou burra. Não temos futuro. – ela calçou os saltos. – Eu quero ter uma família, não continuar destruindo uma.

Ela pegou a bolsa e estava a caminho da porta quando ele disse. As malditas palavras.

— Eu amo você, Hermione Granger. E você sabe disso. Eu posso te dar o que você quer. – ele a segurou pelos braços – Nós podemos ter isso.

Ela o encarou alguns segundos. Gostava tanto dele, a ponto de ter se deixado levar ao papel de amante.

— Tudo bem. – ela disse, sabendo que aquilo nunca iria acontecer, mas se rendendo aos caprichos de seu coração.

— Tudo bem. – ele sorriu e lhe deu um selinho. Então foi para a cama e se sentou, calçando as meias – Tenho uma viagem a negócios para Bristol na sexta-feira. Quer me encontrar lá?

Hermione fechou os olhos sabendo que não deveria. Já havia ido até Bristol para ficar com ele em outras viagens e era sempre a mesma coisa: ela chegava até o hotel, pegava um quarto no mesmo andar, esperava até anoitecer, quando Joe voltava de seus afazeres relacionados ao jornal, eles ficavam juntos durante a noite, até ele voltar para o seu quarto e irem embora (em horários separados) para pegar o trem.

— Claro. Eu chego durante a tarde. O hotel de sempre?

— O mesmo. Minha garota. – ele sussurrou em seu ouvido e então saiu do quarto.

Ela suspirou.

Nunca pensou que sua vida tomaria o rumo que tomou. Lembrando dos anos escolares, com seus melhores amigos, mantendo as notas espetaculares e o comportamento na beira do limite do completamente correto. E agora... Tinha um trabalho tedioso e uma vida amorosa desastrosa, marcada por ser a amante de um famoso jornalista do mundo bruxo amado pelos leitores do Profeta Diário.

Pegou sua bolsa e saiu do quarto. Em menos de cinto minutos saiu do hotel barato, foi até um canto mais afastado e aparatou. Desaparatou perto da entrada de visitantes do Ministério, entrou na cabine, digitou a senha e viu a cabine telefônica se mexer em direção ao subterrâneo, onde sua visão foi tomada pelo grande átrio com um movimento intenso, pois era final do horário de almoço de muitos.

Hermione seguiu direto para os elevadores ao final do átrio de madeira escura e polida e foi para o Departamento de Cooperação Internacional em Magia, em que trabalhava no escritório internacional de direito em magia, tentando controlar os erros grotescos das grandes corporações bruxas.

Não possuía um escritório, era apenas um grande salão com vários cubículos com outros advogados bruxos lidando com problemas jurídicos. Hermione sentou na sua mesa, a última da fileira da esquerda, perto da grande janela enfeitiçada que mostrava um dia ensolarado, e suspirou ao olhar para a pilha de papéis sobre a sua mesa. Era uma das melhores – se não a melhor – das advogadas ali, mas era um trabalho geralmente insignificante. Nos últimos dias estava lidando com um caso de corrupção da Companhia Madeira Divina, companhia brasileira, juntamente com a empresa britânica Woodster, ambas responsáveis pela confecção de varinhas em massa. Hermione nunca foi muito a favor da ideia, achava que varinhas eram algo sentimental, como a sua, feita á mão, anos atrás, por Olivaras, e não algo produzido aleatoriamente e com valor apenas na quantidade.

Além disso, os casos de corrupção tinham provas incontestáveis, faltava apenas um veredito final para as portas fecharem. Hermione pegou um dos pergaminhos e começou a analisá-lo, lendo os depoimentos de cada uma das testemunhas, que iam de faxineiros aos grandes diretores.

Ficou pelo que pareceram horas lendo e anotando pontos importantes e questionáveis em uma outra folha, até que ouviu alguém pigarrear acima de si, chamando sua atenção. Levantou os olhos para ver os olhos de Gina a escarando.

Hermione suspirou.

— Boa tarde, Gina. A que devo a honra? – perguntou, sabendo muito bem o que ela estava fazendo ali.

Gina sentou na única cadeira de ferro com acolchoado marrom que ficava de frente para a mesa de Hermione e aproximou o corpo até estar com quase todo o tronco sobre a mesa.

— Bom, é quarta-feira. – a ruiva começou – Especificamente, no dia de hoje é o julgamento de Edward Hepburn nos tribunais e eu vou cobri-lo pelo Profeta Diário. Além disso, você viu Joe Wilson na hora do almoço outra vez.

— Fale baixo! – Hermione disse e Gina revirou os olhos, acertando a postura na cadeira – Você não é jornalista esportiva? Por que está cobrindo o julgamento de um ex-comensal?

— Porque ele jogava no Falmouth Falcons, mas não mude de assunto! Você o viu.

— Você não está perguntando, então acredito que já sabe a resposta.

Gina deu um longo suspiro, perdendo a postura de irritada e a preocupação tomando seu rosto.

— Sabe que tem que parar com isso, não sabe? – ela disse – Você merece coisa melhor, não sei quantas vezes preciso lhe dizer isso. Você é Hermione Granger, por Merlin! Milhões de homens vão se arrastar por você se você se disponibilizar pra isso.

— Gina, por favor... Aqui não. Mas sim, eu vou parar com tudo isso, cada dia a ficha cai mais, mas, por favor, não vamos falar disso aqui. Tudo bem?

Gina assentiu e encarou Hermione mais alguns segundos.

— Podemos tomar um chá no final da tarde, lá em casa. O que acha? Como antes.

— Como antes de James nascer? – Hermione deu uma risada fraca e Gina também. – Tudo bem. Eu passo lá quando sair daqui.

Gina sorriu e então olhou o relógio de pulso.

— Tenho que ir. – ela ficou de pé. – Quero pegar um bom lugar na área da imprensa, já que temos exatamente meio metro quadrado reservado dentro dos tribunais. – ela olhou de esguelha para Hermione.

— Não me olhe desse jeito, não sou responsável por delimitar o local da imprensa. E vocês só tem tão pouco espaço porque geralmente não são as pessoas mais educadas do mundo.

— Não generalize! Eu sou uma profissional. Agora tenho mesmo que ir, até mais tarde, Mione! – e então saiu rodopiando por entre as mesas espalhadas no saguão, o cabelo ruivo balançando devido a pressa.

Hermione observou até a amiga sair do saguão do escritório e então voltou o olhar para seus pergaminhos e aquele caso entediante, mas antes que pudesse se concentrar totalmente ouviu seu nome ser chamado ao longe e procurou pela voz, com o cenho franzido.

Abner Davies, seu chefe, acenou para ela da porta de seu escritório e ela ficou de pé, ajeitou a roupa e saiu andando em sua direção. Assim que chegou na antessala do escritório de Abner ele fechou a porta.

— Algo errado? – Hermione perguntou, porque ela raramente ia até ali.

— Não, não, nada errado, Hermione. – o homem careca e alto sorriu. – A questão é que estamos com um novo caso que merece toda atenção e você é a melhor que temos aqui, todos sabem disso.

— Eu fico lisonjeada e agradeço, Sr. Davies, mas já estou com as mãos cheias no caso das varinhas Woodster. – era verdade; por mais entediante que o caso fosse, ela tinha muitos testemunhos e provas pra analisar, bem trabalhoso para começar com outro caso grande no momento.

— Deixe esse caso pra lá. Vou dá-lo para outra pessoa, tem diversos funcionários com casos minúsculos, mas preciso especificamente de você nesse novo problema.

— Tudo bem, mas por quê?

— Pediram por você.

— Quem?

Davies deu um sorriso amarelo.

— Draco Malfoy.

Hermione piscou e em segundos sua mente foi tomada por lembranças que só aquele nome podia causar.

Lembrou do momento na guerra no qual ela, Harry e Rony foram pegos por sequestradores e levados a Mansão Malfoy, onde ela foi torturada por Bellatrix Lestrange. Lembrava de sentir seu braço queimar e o sangue escorrer e pensar que era aquilo, que havia chegado ao final, até ver Bellatrix voar pela sala ao ser estuporada por Draco Malfoy. Hermione se lembra de não entender quando Draco a pegou no colo e depois quando ele simplesmente libertou Harry, Rony, Luna e Olivaras do calabouço de sua casa.

Draco Malfoy passou três meses com eles. Depois de um pequeno teste – apesar de ele ter salvo a vida deles -, aos poucos a confiança inimaginável entre Malfoy, Potter, Weasley e Granger nasceu. Eles moravam juntos, se mudavam juntos, Draco deu a localização da Horcrux no cofre de Bellatrix para eles e ainda foi quem os ajudou a entrar no cofre, por ser da família da bruxa.

Naquele mesmo dia, eles ajudaram Draco a realizar a única coisa que ele pediu em troca: salvar sua mãe, já que Narcisa havia sido levada dias antes de Draco salvá-los, como uma maneira de manter o adolescente Malfoy na linha, porque aparentemente Narcisa era a única fraqueza de Draco dentro do círculo de Voldemort. Pelo pouco que Draco havia contado, ele havia tentado fugir várias vezes, então era uma pessoa propensa a trair o maior bruxo das trevas (como o fez). Era só um garoto e estava sendo forçado a tomar atitudes e decisões que não queria, mas não tinha nenhuma escolha pelo sobrenome que carregava, então como tentava se livrar constantemente disso, eles levaram sua mãe para mantê-lo em controle.

Então, depois de invadirem o cofre de Bellatrix, eles foram até o esconderijo da mãe de Draco, que nada mais era que a casa de verão dos Malfoy. Escolheram um bom momento, já que, pelo estrago feito em Gringotes, muitos Comensais iriam para lá e talvez Narcisa ficasse menos protegida – e foi isso o que aconteceu. Ainda havia um número significativo de seguidores de Voldemort lá para dar trabalho aos quatro, mas Draco não ficava na defensiva como o Trio, afinal, ele era um Comensal, havia uma Marca Negra queimando em seu braço. Ele lançava Maldições Imperdoáveis como quem fala “bom dia”, sem nem mesmo respirar, então fez uma limpa rapidamente no número de Comensais presente.

Ele conseguiu sua mãe e o Trio teve uma ajuda significava nos meses anteriores. Foi a última vez que ela o viu e já havia seis anos.

Mas essa não era a história toda.

O período da guerra era um momento de fragilidade para todos, especialmente para os jovens de 18 anos que carregavam o peso do nome e da amizade com o Menino Que Sobreviveu nas costas. Hermione conseguia manter Harry e Rony juntos e tentava diminuir a pressão sobre as costas do amigo que carregava uma profecia com seu nome, além de sempre esperarem que ela tivesse todas as respostas na ponta da língua. Era tudo demais pra ela e ficou ainda pior depois da tortura, com os pesadelos. Com tudo isso, de um jeito que nem mesmo ela sabe explicar, ela acabou se envolvendo com Draco Malfoy nos meses em que conviveram.

Ela não sabe como começou, só sabe que os beijos e o calor do corpo dele eram alívio de toda a dor que aquela guerra e destruição causavam. Era bom e, surpreendentemente, leve. Eles nunca falavam muito, só ficavam juntos, deixavam que o peso do que quer que levassem em sua bagagem emocional se dissolvesse em uma atmosfera pacífica e tolerável. Ele não era mais o garoto rico e mimado de Hogwarts, nem mesmo o preconceituoso de sempre e um dia ela o questionou como ele havia mudado tanto.

— Eu vi o que não quero me tornar. – foi tudo o que ele disse, antes de colocar outra coberta sobre ela, já que estavam sentados juntos sobre algumas pedras, em uma das dezenas de florestas que passaram por, observando as estrelas.

Ela aceitou o comentário. Em outro momento, em um dos últimos dias – mas eles não sabiam disso -, ele perguntou, enquanto estavam juntos na cozinha do Largo Grimmauld, comendo uma sopa na madrugada, como eles haviam acontecido, já que sempre se detestaram.

Tudo o que ela respondeu foi que não sabia. Ele sorriu.

— Eu também não. – falou e eles riram.

Era leve. Hermione nunca soube dizer como e porque aquilo aconteceu e porque ela havia gostado tanto. Nunca entendeu por que, ao ver Draco desaparatar com a mãe, com a única despedida sendo um aceno de cabeça, ela sentiu um pequeno aperto no peito.

Eles nunca mais haviam se visto e quando Hermione pensava nisso definia como a “carência da guerra” e ponto final, porque por nenhum outro motivo, além do abalo emocional que só uma guerra sabe causar, ela ficaria semanas e mais semanas com Draco Malfoy, em uma espécie de relacionamento.

Rony e Harry sempre souberam, afinal, só viviam os quatro ali, mas nunca disseram nada. Nos primeiros dias, trocavam poucas palavras com Hermione, parecendo bravos ou preocupados, mas depois de um tempo, a cada dia confiando mais em Draco Malfoy – ele dava provas para isso – tudo voltou ao normal.

Só ao final da guerra, Hermione se lembra que Harry veio até ela, na escadaria da destruída Escola de Hogwarts e sentou ao seu lado.

— Ele apareceu aqui hoje. – falou, depois de pelo menos dois minutos de silêncio.

— Quem? – Hermione perguntou, olhando para um grande corte na panturrilha de Harry – Você devia dar uma olhada nisso.

— Tem pessoas que precisam com mais urgência dos curandeiros do que eu. – ele mexeu na calça para tampar o ferimento, mas ainda era visível – Malfoy. Ele esteve aqui hoje.

Hermione franziu o cenho.

Ao lado de Voldemort? – perguntou, sentindo um arrepio.

— Não. Ele salvou pelo menos umas dez pessoas, incluindo as Gêmeas Patil. Encontrei com ele no corredor quando eu estava indo para a Floresta Proibida. Ele só me cumprimentou e desaparatou. Imaginei que você não soubesse.

— Não sabia.

— Ele não te procurou então.

— Não.

Harry assentiu e abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido por Rony, que agora estava parado na frente deles:

— Estamos felizes ou tristes com isso? Digo, com Malfoy não te procurando.

Hermione encarou os melhores amigos. Tinha motivos demais para estar feliz ao invés de deixar Draco Malfoy abalá-la de alguma forma.

— Estamos indiferentes. – disse – Mas estamos felizes com o final da guerra e com todos que amamos felizes.

Harry sorriu.

— E também estamos felizes porque chega de ensopado – Rony disse e eles riram.

Mas no fundo, o coração dela doeu um pouco mais.

 

E agora ele pedia por ela? Depois de todo esse tempo? Ele não tinha o direito.

— Ele está na minha sala. Por favor. – Davies disse e apontou para a porta de madeira escura no final da antessala.

Hermione olhou para a porta e depois para Davies.

— O que ele quer? – perguntou.

— Ele está com problemas jurídicos e pediu por você.

— Você nunca abriu exceção para ninguém, por que ele?

Davies pigarreou, nervoso.

— Bom, ele é Draco Malfoy. Sua família sempre foi influente e depois de todo o heroísmo dele na guerra ao nosso lado, ficou ainda mais poderoso. Além disso, é dono de metade das empresas de produção de ingredientes de poções do mundo.

— Então ele tem influência e por isso pode escolher? E pensar que arrisquei minha vida por um mundo mais justo.

— Sabemos que existem privilégios e não fui eu quem concedi esse ao Sr. Malfoy. Agora se você, por favor, puder ir falar com ele, eu agradeço. Vou pegar os documentos sobre o caso das varinhas Woodster e dar para outra pessoa. Você só está encarregada do caso do Sr. Malfoy agora. Vá, por favor. – ele apontou para a porta de sua sala e Hermione suspirou.

A passos lentos ela começou a se aproximar da porta. Antes de colocar a mão na maçaneta, ela ajeitou a roupa, acertou a postura sobre o salto, arrumou o cabelo que estava um pouco mais comprido do que de costume, na altura dos seios, com as pontas carameladas onduladas.

Segurou a maçaneta. Respirou fundo. Ignorou o passado que teimava em voltar a sua cabeça e abriu a porta.

A sala de Davies era um quadrado pequeno e cinza claro, com a janela enfeitiçada ao fundo ocupando toda a parede, uma mesa de mogno lustrada com um abajur verde sobre, uma estante com livros e porta retratos com fotografias que se mexiam da família de Davies – a esposa e uma filha -, duas pequenas poltronas beges em frente a mesa.

Uma delas estava ocupada por um loiro de terno preto que se levantou assim que a porta se abriu. Hermione fechou a porta atrás de si e eles se encararam.

Draco continuava com a pele pálida e os olhos cinzas penetrantes e misteriosos. O cabelo loiro continuava penteado para trás, sem nenhum fio fora do lugar, mas agora uma barba ocupava seu rosto, bem rente. O terno estava impecável, como ele sempre havia se vestido – talvez não nos meses que viveu com Hermione, onde eles raramente tinham tempo para lavar suas roupas – e totalmente preto, sob medida.

Ele estava melhor, os anos a mais lhe fizeram bem, fisicamente falando. De repente, Hermione se sentiu desconfortável com isso, porque não sabia se havia envelhecido bem – para ela, continuava a mesma coisa, só o cabelo maior e menos volumoso – e, naquele momento, se sentiu até mesmo mal vestida, com sua saia justa demais até os joelhos e a blusa folgada demais, os saltos que depois deixavam seus pés inchados.

Hermione ajeitou a postura, respirando fundo disfarçadamente.

— Você pediu por mim. – ela disse, a voz firme, mas sentiu o quanto seu coração havia acelerado.

Draco continuou a encarando, em silêncio, até Hermione arquear as sobrancelhas e ele assentir.

— Sim. É. Eu pedi.

— Por quê?

— Eu confio em você.

Ela o observou mais alguns segundos, esperando algum gesto que mostrasse que ele estava mentindo. Nada aconteceu.

— Davies disse que você está com algum problema jurídico. – falou.

— Estou. É algo da empresa. – ele se virou, pegou uma pasta parda e estendeu para Hermione.

Hermione pegou a pasta e começou a ler os documentos.

A companhia de ingredientes de poções de Draco – Poções Malfoy, um nome nada original, na opinião de Hermione – estava sendo processada por plantar sanguinárias (uma planta mágica muito usada no preparo da poção Polissuco) fora da área de suas fazendas, invadindo a propriedade de um fazendeiro bruxo chamado Harold Hooger. Como as sanguinárias são plantas que sugam muitos nutrientes, os vegetais de subsistência da fazenda de Harold não estavam crescendo ou nem mesmo nascendo.

Eram só duas folhas, sendo que a segunda estava pela metade, dizendo que Harold havia simplesmente oferecido sua fazenda por um valor bem acima da média para que Draco pudesse comprá-la e usá-la como bem quisesse.

— Você não quer comprar as terras? – Hermione perguntou, simplesmente, pois sabia que Draco poderia comprar a fazenda, afinal, de acordo com uma das revistas de fofocas do mundo bruxo, há dois anos o patrimônio de Draco era avaliado em pelo menos 40 vezes mais que o valor que Harold estava oferecendo na fazenda.

— Tenho terras suficientes.

— Pode aumentar sua produção.

— Não há mercado suficiente.

— Pensei que você dominasse o mercado de poções.

— Exatamente. Não há mais mercado. Pelo menos não até eu expandir um pouco mais os negócios no território asiático.

— Entendi. Mas não chega nem mesmo a um hectare.

Draco recostou na mesa de Davies e cruzou os braços, uma pose pretensiosa.

— O que você aconselha? – perguntou.

— Comprar e evitar os tribunais. Mas como você não quer, talvez um acordo com esse senhor, pagando uma espécie de aluguel mensal.

Draco assentiu.

— Tudo bem. – falou – Venha até a minha casa hoje a noite e levo Harold Hooger. – dito isso, ele começou o caminho para fora da sala, mas Hermione parou na sua frente, interrompendo-o.

— O que? – foi tudo o que ela perguntou.

— Venha até a minha casa hoje à noite e eu levo Harold. Entendeu?

— Não, não, nada disso. Traga ele no Ministério ou sua Empresa, não na sua casa!

Draco suspirou, parecendo impaciente. Mas, ao invés de gritar ou coisa do tipo, ele se abaixou até o ouvido de Hermione e disse:

— É sério.

Faíscas percorreram todo o corpo dela com a gravidade da voz e a proximidade deles. Contudo, daquele jeito simplesmente soube que havia mais por trás daquilo e uma leve empolgação surgiu.

Ela deu um passo para trás, se afastando dele e Draco franziu o cenho, estranhando, parecendo até mesmo ofendido, mas se recuperou rapidamente, retomando a expressão fria e indescritível.

— Tudo bem. Onde você mora? – ela perguntou e um arrepio percorreu sua espinha ao lembrar da Mansão Malfoy e da sua tortura e a cicatriz ardeu.

— Não onde você está pensando. – ele disse e passou por ela – Te busco as sete.

Então ele saiu da sala e ela se viu sozinha dentro daquele cômodo quadrado cinza. Ainda tentava entender tudo, mas a única coisa que se formou em sua mente foi: ela havia dito onde morava?


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Notas finais do capítulo

espero que gostem :)



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