Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 12
Nanuk


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoal ! Voltei ♥



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Flashback

 

North Cascades, Estado de Washington, E.U.A, 1970.

Um pequeno rapazinho de 3 anos escondia-se a ele e a irmã de apenas alguns meses, num armário de madeira. A bebé não parava de chorar.

Nanuk, estava aterrorizado. Lá fora, um membro da Vila tinha perdido completamente o controlo sobe ele mesmo.

Eles têm apenas duas regras: Não matar em noites de lua cheia nem entrar em contato com o luar em noites como essas.

 

"Aquele que entrar em contato com o luar, sentirá uma enorme vontade de matar. Aquele que ceder a esse desejo, causará a morte e voltará com um beijo"

 

Nanuk ouve a porta de casa ser aberta lentamente. O chiar barulhento arrepia a pobre criança da cabeça aos pés.

Uma pata canídea dá o primeiro passo. A pegada de sangue tinge o chão de madeira, que ganha rapidamente outra tonalidade.

A luz de um relâmpago ilumina tudo por um segundo. Um lobo está parado, entre a porta e a rua, mas com as duas patas dianteiras dentro de casa.

Ele pinga sangue, mas um sangue que não é dele. Um pequeno sorriso ofegante aparece no canto da boca dele, assim que ouve o choro de um bebé vindo dos quartos.

É uma caminhada lenta e paciente que o leva até aos mesmos. Ele não tem pressa. Os olhos vermelhos incandescentes e as frequentes contorcidas seguidas de ganidos, tornam-no aterrador. Algo saído de um filme de terror. Mas não é bem assim.

Há um jovem de 16 anos a lutar para vir ao de cima. A tentar ganhar novamente o controlo. A tentar tornar-se novamente humano, forçando assim o seu corpo a obedecer-lhe. Infelizmente, a linha entre a sanidade e a loucura é muito fina e curta demais.

O armário está entreaberto. Não é preciso muito para o abrir e revelar lá de dentro as duas crianças apavoradas de medo e inundadas em lágrimas.

Outro relâmpago dá alguma claridade. Nanuk berra quando vê os dentes arreganhados e afiados que escorrem sangue, em vez de baba.

Luckyan, o lobo, prepara-se para terminar com os dois irmãos, mas Nanuk mostra a bebé, com esperança que o lobo os poupe da morte.

Nour, a bebé, abre os olhos verdes e olha para Luckyan, que rapidamente começa a ficar sem força nas pernas. Ele cheira-a desconfiado, mas surpreendentemente mais calmo.

As contorções ficam mais fortes e dolorosas assim que Nour toca com o narizinho dela no dele. Luckyan afasta-se dos irmãos e gane no chão. Este pequeno gesto foi o suficiente para o rapaz vir ao de cima.

Com um grito, o jovem de 16 anos liberta-se e cai redondo no chão. O lobo esfumou-se. Nanuk sai do armário, ainda receoso e olha atentamente para ver se ele se mexe.

Passinho a passinho, ele aproxima-se de Luckyan e cutuca. O rapaz abre os olhos, mas mal parece saber o que aconteceu.

—Lu? -balbucia Nanuk, para o jovem que ainda hoje de manhã estivera a brincar com ele.

—Hey Nanu... - sussurra ele de forma carinhosa, mas fraca_ eu estou bem, só preciso de descansar

Horas depois, Luckyan levanta-se. Um saco com comida é preparado rapidamente. Já não podem ficar ali.

Com Nanuk de mão dada a ele e Nour num dos braços, os três vão embora. De forma brincalhona, Luckyan pediu para que Nanuk fechasse os olhos, pois iam fazer um jogo: Nanuk fechava os olhos e deixava Luckyan conduzi-los.

Na verdade, esta brincadeira era só uma forma para que Nanuk não visse os corpos ensanguentados no chão, incluindo os dos seus próprios pais. Luckyan tinha morto toda a gente.

Também ele queria fechar os olhos e não ver o que tinha feito quanto não estava em si, mas agora, a sobrevivência destas duas crianças dependia dele

 

Nour arrastava as patas, sem vontade alguma de caminhar. Os soldados tinham começado a perder a paciência e puxavam-lhe as correntes, para que ela se movesse mais depressa. Com um açaime de ferro envolto do focinho, ela não tinha escolha, senão continuar.

O carro blindado para de repente. Nour não vê nada, a não ser as traseiras do veículo de guerra e desvia-se para ver o que os fez parar.

Um grupo de sobreviventes da Vila imploravam por um pouco de comida. Estavam sujos, magros e pareciam que estavam a trabalhar á horas. Um deles, era mais idoso e era o que falava pelo grupo.

Gabriel manda uma bolacha para o chão e o idoso apressa-se para a pegar, quando de repente é empurrado com um pé. Gabriel pisa a bolacha, esmigalhando assim a chance de o grupo meter nem que fosse uma migalha no estômago.

Nour não aguenta a cena e corre em direção a eles, mas um dos soldados trava-lhe a corrente. Ela sufoca por uns segundos, com a coleira de ferro que lhe puseram á volta do pescoço como um cão.

—Volta para o teu lugar! – diz um soldado. Nour hesita em recuar.

Os olhos tristes dela carregam um sentimento de inutilidade, ao olhar para o idoso que é retirado do meio da estrada pelos companheiros. Ela não consegue fazer nada e esse sentimento está a gerar uma revolta enorme dentro dela.

O carro blindado começa a andar novamente. Nour dá um último olhar para o idoso, antes de desviar o olhar. Começa a ser demais.

A Vila é apenas a uns metros á frente, mas já não parece uma simples Vila, mas sim uma fortaleza. Um grande edifício marca presença. Parece um pequeno castelo e as casas foram reconstruídas á volta como uma Cidadela.

Arame farpado cobre por inteiro os muros que foram construídos á volta. Está feito para ninguém entrar, muito menos para sair. Os campos de cultivo ainda estão lá. Parecem um pouco inférteis, mais nota-se que têm sido usados com alguma frequência.

Cidadãos da Vila abrigam-se nas ruas. Pessoas que ela conhecera desde que nascera agora estão irreconhecíveis. Magras, sujas, feridas e com um aspeto de quem tem sido escravo á meses.

Nour baixa a cabeça, de certo modo envergonhada, assim que os vê. Ela também fora capturada e sabe-se lá o que lhe irão fazer. Esperava fazer alguma coisa por eles. Libertá-los seria perfeito. Mas tudo está longe de ser perfeito agora.

A loba preta é levada para a praça da fogueira central. Isso manteve-se intacto. O carro de guerra para novamente e os soldados apressem-se a sair deles.

Nour olha para todo o lado, nervosa e em alerta. A atenção dela fixa na porta da fortaleza de onde ela tem a certeza de que vai sair alguém, pois todos olham para lá.

Do outro lado da parede, Nour consegue ouvir umas botas pesadas a caminharem em direção á porta. Como ela esperava, a mesma abre e o Raphael sai, ajeitando a farda no colarinho.

Faz-se um silêncio mortal.

Raphael avança até Nour quando a vê, com um sorriso nos lábios.

—Pai, eu acho que está bom – diz Gabriel para Raphael, referindo-se á distância entre Nour e o velho.

Pai? Isso explica muita coisa.

Nour dá um passo. Armas são apontadas a ela imediatamente.

—Deixem-na vir – ordena Raphael_ ela não me irá magoar.

A loba preta caminha até onde as correntes a deixam ir. Ela não consegue abrir a boca, mas o rosnar que ela imite faz uma espécie de eco abafado pelo açaime. Raphael não fica intimidado de todo.

—Não me admira que tenhas sobrevivido – ele começa_ mas vá-la, não sejas tímida. Porque não falamos de igual para igual?

Nour olha para ele cerrada de ódio. Um vento forte de primavera faz levantar a poeira. Ela aproveita. Os soldados cobrem os olhos e, quando voltam a olhar, Nour é humana.

—Maravilhosa...

 

P.O.V. Nanuk

 

—Nanuk! Nanuk!!

 

Oiço Ignis gritar aflita no corredor. Levanto a cabeça do livro e olho para a mulher de cabelos vermelhos que arromba o meu quarto de repente. Ela está pálida.

—O que foi? – pergunto ao ver a cara de desespero dela_ Ignis fala, pelos caninos de Fenrir!

— A tua irmã… -ela sussurra_ ela está lá em baixo com eles, apanharam-na Nanuk!

Saio disparado do meu quarto. Oh não, a minha irmã não…!

 

P.O.V Off

 

Os soldados retiram-lhe o açaime, a mando de Raphael. Nour está de joelhos no chão e de mãos acorrentadas á frente.

Ela olha em volta. Alguns dos lobos da vila começam a aparecer para ver o que se está a passar. Ela procura por Seth, Voughan ou até mesmo os seus pais e irmã mais nova, mas não os vê em lado nenhum.

Uma lágrima caí em memória deles. Ela sabe que vai morrer sem se despedir e isso despedaça-lhe o coração.

Raphael ergue uma arma e aponta-lhe. Nour levanta lentamente o olhar vermelho.

—Últimas palavras? – pergunta ele num tom insano.

—Eu espero que Fenrir te coma o coração no outro mundo.

Raphael cerra os dentes e prepara-se para disparar, quando Nanuk fura a multidão. Ele salta e, no ar, fumo envolve-o, transformando-o no lobo branco e preto para proteger a irmã.

De dentes arreganhados e olhos azuis fluorescente, o Husky não está para brincadeiras.

—Sai da frente Nanuk – avisa Raphael.

—" Nós tínhamos um acordo!" —ele rosna. Nour está atrás dele_ "ela não!"

—Oh – Raphael faz uma falsa cara de espanto_ É ela a tua irmã desaparecida? Desculpa Nanuk, eu não queria estragar a reunião familiar – brinca o velho.

O Husky olha lentamente para trás, completamente sem chão. Uma expressão triste e culpada surge no seu rosto lupino assim que cruza o olhar com a irmã.

—Do que ele está a falar, Nanuk...? – pergunta ela num sussurro.

—Ups – diz Raphael com um sorriso_ parece que já falei demais. Gabriel, leva-a.

Gabriel e alguns soldados preparam-se para pegar nela. Nour olha desesperadamente para Nanuk.

—Nanuk é verdade?! – grita ela enquanto é levada. O lobo branco e preto não diz nada.

Ela é vai para dentro da fortaleza á força. Nanuk nunca esquecerá o olhar de desgosto, mágoa e revolta no olhar dela.

De orelhas e cauda para baixo, O Husky prepara-se para ir também para dentro, quando algo no canto do olho chama-lhe á atenção. O pequeno jovem Seth fuzila-o com o olhar, escondido no meio das ruínas. Depois de um olhar de desdenho, ele desaparece.

O Husky só desejava que lhe dessem um tiro. Só para não sofrer mais. Só para não ver mais ninguém olhar para ele com um sentimento de raiva e desilusão, por conta daquilo que ele fizera.

Umas mãos suaves pousam no denso pelo dele, e começam a acaricia-lo. É Ignis, mas com as orelhas ainda baixas, Nanuk vai para dentro, com vergonha dele mesmo.

A ruiva suspira, completamente apaixonada pelo vilão. Um vilão que tem coração, apenas no sítio errado.

 

P.O.V. Nour

 

Como uma prisioneira, sou arrastada á força pela fortaleza. Um enorme tapete cobre os corredores feitos com paredes de pedra e janelas de vidro. Daqui vê-se toda a montanha.

Gabriel abre uma porta e os soldados levam-me lá para dentro. É um quarto enorme. Na cama, caberiam 4 pessoas e ainda sobraria espaço. Lobos a uivar á lua estão representados num vitral gigantesco que serve de janela.

—Fui eu que escolhi o tema – gaba—se Gabriel quando repara na minha atenção ao vitral_ achei que fosses gostar.

Cerro os dentes com toda a força que tenho. Por Fenrir, como eu adorava torcer-lhe o pescoço, só para o pavão deixar de se vangloriar.

—Voltem a colocar-lhe o açaime – uma voz ordena. Olho para o lado e percebo que Raphael acabou de entrar no quarto_ com ele posto, ela é inofensiva.

—Ah sim? Porque não te aproximas mais um pouco e deixas as minhas garras decidirem isso? – ameaço.

Um pontapé nas minhas pernas faz-me cair de joelhos no chão. Num movimento lento, mas bruto, Gabriel segura o meu queixo e obriga-me a encara-lo.

—O Nanuk salvou-te desta vez, mas não te vai salvar sempre – diz o velho com bastante calma. Ele retira uma faca do bolso e dança com ela no meu rosto_ eu não vou parar, até ter o teu pelo preto imundo como tapete para os meus pés.

Os meus olhos parecem fogo a arder. Se o meu olhar fosse uma arma, este homem estaria totalmente furado. Em resposta, cuspo-lhe para a bochecha.

Com movimentos bruscos, o açaime é colocado novamente á volta da minha boca. Eu tento debater-me, mas estou de mãos e pés atados.

— Acorrentem—na ao pé da janela – diz o velho enquanto roça o braço na cara_ de maneira a que ela não chegue á cama – ele olha para mim e eu fuzilo—o com o olhar_ espero que o chão frio te faça reconsiderar um melhor comportamento.

 

(...)

 

 

Aslam estava com dificuldades para respirar á horas. Luckyan conduzia como um doido pelas estradas, com o pé pressionado no acelerador. Estavam quase a chegar a Seatle.

Enrolado num cobertor e nos braços de Saaya, o lobo branco lutava contra ele mesmo para sobreviver. Água tinha entrado para os pulmões dele e o estado de hipotermia não parecia melhorar.

Uma hora depois, Luckyan está a bater desesperadamente á porta da loja de Miroslav. O antigo médico da 2º guerra mundial vem abrir rapidamente.

—Vieste cedo demais, ainda não tenho o inventário pronto – diz Miro retirando os óculos de ver ao perto.

—O Aslam precisa de ti – devolve o alfa, aflito_ ele afogou-se. Ele tem água nos pulmões e não consegue retira-la por ele próprio.

—Luckyan eu nunca mais fiz cirurgias… eu não…

Luckyan dá um murro na parede. Miroslav assusta-se.

—Ele está a morrer! -grita.

Miro suspira, antes de concordar.

Saaya traz Aslam para dentro. Nas traseiras da loja de antiguidades, Miroslav esconde um outro mundo. Bear retira tudo de cima de uma mesa e Saaya pousa-o em cima da mesma. Aslam mal se mexe.

—O que aconteceu? – pergunta o sérvio.

—Raphael e os homens dele voltaram a atacar… - sussurra Saaya. Miro fica chateado.

—Ele não desiste... -diz depois de um suspiro_ onde está a outra rapariga? Notei que não veio com vocês.

Luckyan cerra os dentes e o punho.

—Gabriel levou-a – responde o alfa furioso_ eles apanharam-na assim que ela saiu da água com o Aslam.

—Ela salvou-o? – pergunta Miroslav surpreendido. Bear e Luckyan assentem. Saaya apenas baixa o olhar e faz uma caricia no rosto de Aslam, inanimado.

O médico aproxima-se de Aslam com uma garrafa de oxigénio e máscara. Uma anestesia é dada a ele, para que não sinta os cortes do bisturi.

—O que vai fazer? -pergunta Saaya com medo.

— Um pequeno furo nos pulmões dele. A água precisa de sair certo? - responde sarcástico.

Saaya vira o rosto. Ela recusa-se a olhar.

 

(...)

 

 

Com uma capa com capuz, Nanuk percorre a Vila, escondido nas sombras. Apenas os grilos dão vida á noite fresca de primavera.

Ele para ao pé das ruínas. Está um silêncio mortal que faria arrepiar até os mais audazes. É aqui que moram os poucos lobos que restam na Vila, incluindo Seth.

Algo na escuridão mexe-se e Nanuk apressa-se a acompanhar. Esse mesmo algo está a fugir.

O Husky vai ter a uma casa abandonada, se é que ainda se pode chamar aquele edifício de casa. Está tão escuro que não dá nem para ver a palma da mão á frente da cara.

A atenção de Nanuk vai diretamente para o corredor, onde uns olhos amarelos e luminosos o encaram com um ar pouco amigável. Um rosnar impõe-se como ameaçada. Nanuk pousa o saco de comida e levanta as mãos em sinal de paz.

—Seth, eu sei que és tu – começa por dizer_ eu trouxe um saco com comida. É para vocês todos.

Seth avança, de dentes arreganhados e sem vontade de conversar.

"Tu traíste—nos..." – afirma Seth. Nanuk caminha para trás, em direção á saída.

— Seth desculpa, mas se me deres uma oportunidade... - implora Nanuk.

"Não há oportunidades para ti, Nanuk!"

Nanuk tropeça e cai dos degraus. O saco de linho abre-se, espalhando assim a comida toda pelo chão. Ele coça a cabeça e olha para o lado quando ouve passos e rosnos.

Vários lobos começam a sair das sombras e rodeiam Nanuk. Andam ás voltas em círculos e com uma sede vingança cravadas nos olhares. O Husky está sem saída.

—Esperem... deixem-me explicar… - pede Nanuk de joelhos no chão_ eu estou do vosso lado.

Ninguém o ouve, e Nanuk é atacado assim, por uma dúzia de lobos. O Husky bem que tenta disferir uma dentada e defender-se, mas eles são demasiados. Tudo aconteceu demasiado rápido.

No fim, Seth fica a encarar Nanuk. De orelhas rasgadas e coberto de sangue, ele pouco se mexe.

"Porque não me matam já? "– pergunta Nanuk com um sussurro.

"Nós não queremos ser como tu"


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Ate ao próximo capitulo ♥



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