Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 51
Quem é vivo sempre aparece




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Naquela manhã, em que eu estava voltando para a agência depois de tudo ter sido mais do que esclarecido na semana anterior, parecia que o dia estava sorrindo para mim, com o sol brilhando, os pássaros cantando e as pessoas mais felizes do que o normal. Exceto que as últimas frases poderiam ser totalmente riscadas, já que estava tão nublado e cinzento que parecia que choveria a qualquer momento. Fora o mau humor mais do que normal do parisiense.

Eu e Kentin entramos na agência e, na mesma hora, as modelos paradas na recepção viraram o rosto para a porta e, vendo que éramos nós, colocaram um sorriso falso no rosto.

— É a primeira vez que eu vejo isso acontecer — Kentin comentou baixinho para mim e nos aproximamos da virada do corredor, onde ele iria para a última prova de roupa para o desfile da Gavieira, que aconteceria no sábado da próxima semana.

— Deve ser a primeira vez que eu vejo elas sorrirem sem ser pra uma câmera — retruquei e o russo riu, abafando o som com a mão. — Bando de interesseiras, isso sim. — Cruzei os braços incomodada e olhei para o grupinho de canto de olho, percebendo que elas pareciam atentas a qualquer movimento meu, mesmo que conversassem entre si.

— Tem certeza que não quer que eu fique aqui com você? — meu amigo questionou e contive minha vontade de fazer um “own” com a fofura.

— Claro que não. — Afaguei seu ombro. — Vai lá pra prova das roupas, é melhor você não se atrasar. A gente se encontra depois.

Com um último sorriso, ele seguiu reto, para a sala onde alguns poucos modelos já se dirigiam. Entre ter que aturar aquelas modelos falsas, que com certeza iam aproveitar a oportunidade para puxar papo comigo, preferi ir direto para o estúdio onde aconteceria o casting. Antes cedo do que tarde, mesmo que eu tivesse que esperar uns bons minutos até começar.

Peguei meu número com Chani e me sentei em um lugar qualquer, já que a sala estava praticamente vazia àquela hora. Tirei meu celular do bolso e abri a câmera, para checar minha maquiagem e principalmente se não havia batom nos meus dentes. Imagina tentar participar de uma campanha para uma marca de maquiagens e sequer saber se maquiar direito? Seria uma vergonha para mim, para minha... Percebi pela câmera que Rosalya estava se aproximando.

Sim, a mesma Rosalya que eu não via desde aquele dia na campanha da GreenBeauty. Não nos esbarramos pela agência, não fizemos outro trabalho juntas e não tínhamos amizade, então por que eu ia encontrar ela por aí?

— Mari, há quanto tempo! — ela disse, em um sorriso que eu fiquei em dúvida se era forçado ou não.

Dei um sorriso amarelo e ela passou por cima das minhas pernas, já que eu estava na cadeira na ponta do corredor, e se sentou ao meu lado.

— Desde aquele shooting da GreenBeauty, né? — Puxei de assunto, só para não tentar deixar aquele climão.

— Pois é. E parece que você aprontou bastante desde lá... — Me deu um olhar enviesado e eu quase me engasguei com minha própria saliva.

— Olha, desculpa pela confusão que eu meti o seu cunhado, de verdade. Eu e a minha amiga, mais eu na verdade, tínhamos curiosidade pra saber o que ele e o Castiel tinham e a gente acabou se...

Ela me interrompeu e balançou os cabelos — dignos de uma garota propaganda de xampu— para os lados, indicando para deixar pra lá.

— Já passou e você expôs tudo naquela thread... — comentou e deu um sorriso malicioso. — Pelo lado bom, você conseguiu fazer com que a Ambre fosse demitida, porque que mulher insuportável... — soltou, como se tivesse visto a professora de modelos muitas vezes pela agência. Mas vai que Rosalya já foi aluna dela? Vai saber. — Mas eu quis muito te esganar pelo que aconteceu com o Lys-fofo. Ele era a última pessoa que merecia uma coisa dessas. O coitado detesta se expor...

Ela começou a falar desembestadamente e vi que a modelo era uma das minhas, que fala mais do que a boca.

— Eu sei, eu sinto muito por isso, de verdade. — Tentei amenizar, olhando para as minhas mãos, envergonhada.

— Por que você não perguntou pra mim de uma vez? Eu teria respondido e nada disso teria acontecido. — Arregalei os olhos para ela no exato momento. Como perguntar, se toda hora acontecia alguma coisa pra interromper?? — Mas o Lys-fofo tá sendo muito requisitado por aí, então não foi de todo ruim.

Há uns instantes atrás, ela mesma não estava falando de como o cunhado não gostava de se expor? Vai entender...

— Ele trabalha muito pra agência, mas dá pra ganhar uma grana boa com as blogueiras que estavam pedindo para ele fazer o cabelo delas para o casamento, sabe? Eu tentei convencer ele, fora que ainda ia ganhar reconhecimento com os famosos e...

E Rosalya continuou falando sem parar, desde o casamento de uma blogueira aleatória, o próprio casamento com Leigh — o estilista que nunca ouvi falar — que ainda não tinha acontecido, a festa que Fulana deu e postou no Instagram, a decoração da casa da Youtuber X... Respirei fundo, desejando que aquele casting começasse logo. Pela velocidade que o povo estava chegando, tive que ouvir o falatório de Rosalya por pelo menos uma boa meia hora, que pareceu bem mais. E olha que ela parecia que iria me dar o maior sermão quando se sentou ao meu lado...

Quando estava prestes a fingir que estava recebendo uma ligação, para sair dali por alguns minutos, Chani reapareceu junto de uma mulher com um terninho risca giz e um salto finíssimo, que poderia quebrar a cada passo que ela dava. Provavelmente era a representante da marca que tentaríamos a vaga. Isso não acontecia desde o casting da GreenBeauty, onde o representante da marca também estava lá.

Para minha sorte, tinha apenas um modelo na minha frente eu fui a segunda a ser chamada. O lado bom de acordar cedo daquela vez foi que me despedi de Rosalya, mesmo com a promessa de que entraríamos em contato mais vezes. Bem, sempre havia aquela pessoa que deixávamos no vácuo infinito, não é mesmo?

Fui até o centro da sala e estava pronta para seguir as instruções de Nina, quando a representante da marca cochichou algo no ouvido de Chani e a produtora executiva pediu para que eu me aproximasse das duas.

— Você não é aquela menina que ficou famosa nas redes sociais na última semana? — a representante questionou. — Mara...

— Marimar, senhora — corrigi meu nome e dei um sorriso sem graça.

— Ah! Claro, claro. Esses nomes estrangeiros são tão complicados. — Ela balançou a cabeça e então começou a me rodear, pegando uma mecha do meu cabelo para analisar e olhando minha cara de perto. — Foi você mesma quem fez? — referiu-se à minha maquiagem. 

— Foi sim! Eu não tive muito tempo hoje de manhã, senão ia me atrasar para o casting, aí fiz algo bem simples mesmo... — Parei de falar assim que a mulher me interrompeu com uma mão erguida. Mordi a língua, com medo de ter falado demais e estragado tudo.

— Eu quero ela na campanha. — A mulher apontou para mim com uma unha pintada e tive que segurar meu queixo de ir ao chão. Era a primeira vez que o próprio cliente dizia na minha cara que me queria na campanha dele.

Chani pegou seu tablet e digitou alguma coisa.

— Bem, já que é assim... — a produtora executiva começou, ainda digitando algo. — Está dispensada, Mari. E esteja aqui na próxima segunda às 14h, de rosto limpo.

Segurei um grito por dentro e apertei a mão da representante da marca, a agradecendo de todos os jeitos que conhecia em francês. Antes que a mulher se arrependesse de ter me contratado, dei tchau para Chani, Nina e fui saindo, acenando para Rosalya e agradecendo por não ter que aturar mais falatório sobre blogueira na minha cabeça.

Mordi o lábio para conter a vontade de dar um berro no meio do corredor e fui até a recepção, me sentando um dos sofás. Já que eu apenas poderia comemorar quando estivesse fora dali, mandei uma mensagem para Kentin, berrando com todos os AAAA’s possíveis e dizendo para ele que iria esperá-lo para irmos embora juntos. E esperei.

Esperei, vendo algumas pessoas e demais modelos entrando para um dia de trabalho. Vi Júlia chegar para trabalhar e infelizmente não pudemos conversar mais do que trinta segundos, para ela não se atrasar justo na sua primeira semana de retorno. O surto ficaria para mais tarde. Estava mais uma vez aguardando infinitamente, quando vi uma cabeleira pálida aparecer pela porta de entrada, junto de um par de olhos coloridos conhecidos, a camisa formal com um colete por cima e a bolsa de materiais a tiracolo. Se alguém deduziu Lysandre Revier só por essa descrição, estava mais do que certo.

Era a primeira vez que nos encontramos desde o esclarecimento de tudo e também a primeira vez que nos víamos em algumas semanas, já que eu não tive mais nenhum trabalho depois daquele com a Shantal Jeans, onde quase briguei com Li e outra modelo aleatória. 

Peguei meu celular do bolso e comecei a mexer na tela, como se o ícone dos meus aplicativos fosse a coisa mais interessante do mundo, e torcendo para que o cabeleireiro tivesse algum problema de visão e não percebesse que eu estava ali.

Como ele aparentemente enxergava muito bem, simplesmente se sentou no lugar vago ao meu lado, deixando claro que tinha mais tempo para conversar do que Júlia e que sim, ele queria falar comigo. Segurei a respiração, tentando não hiperventilar ali mesmo.

— Bom dia, Marimar — ele começou cumprimentando como de praxe, talvez não sabendo exatamente como começar um diálogo depois de tudo que aconteceu. Pois é, nem eu.

— Bom dia... — devolvi e virei o rosto para ele, vendo que seus olhos me analisavam atentamente. Queria ser gelo e derreter daquela cadeira.

— Eu... Precisava conversar com você. — Quase engasguei com a minha própria saliva após essa fala. Será que eu iria encontrar todo mundo que não vi nas últimas semanas justamente no mesmo dia?

— Olha, eu acabei não dizendo nada da última vez que a gente se viu, e você também não parecia a fim de conversar comigo, mas eu sinto muito pelo que aconteceu, Lysandre, de verdade. Eu não devia ter feito o que fiz, arrastado a Júlia comigo, e ainda escondido isso de vocês. Naquele dia no apê do amigo de vocês, você tava crente que eu tinha perguntado direto...

Olhei para seus olhos arregalados e tive a impressão que, se Lysandre não fosse tão educado como um lorde do jeito que era, teria me mandado calar a boca ali mesmo.

— Confesso que o que mais me incomodava em tudo isso, além de toda a exposição que eu e Castiel acabamos tendo, foi ter confiado em você e na sinceridade que havia tirado sua dúvida com um de nós. — Senti como se tivesse levado um tapa de luvas de pelica bem no meio da cara. 

— Eu sinto muito, de verdade — interrompi, tentando me desculpar. — Eu era curiosa demais e super fangirl do Castiel, então... — Balancei a mão no ar, sequer sabendo como continuar. — Você sabe como são essas garotas doidas pelo artista, né? — Vi-o assentir com a cabeça, talvez sabendo muito bem, pela quantidade de pessoas que deviam tietar o amigo dele. — Mas depois dessa confusão toda eu acabei aprendendo a minha lição. Eu quase arruinei a vida da minha amiga na França, era o sonho da vida dela!

— Creio que isso tenha sido mais do que suficiente para vermos onde a curiosidade excessiva pode nos levar. — Em outras palavras, era aquele ditado da curiosidade matou o gato, só que adaptado para a vida real.

Instantes de silêncio, onde nenhum de nós dois parecia saber o que dizer. Não era constrangedor, mas eu ainda me sentia um pouco constrangida de ter que encará-lo depois de todos os acontecidos.

— Eu sei que você deve estar odiando toda essa exposição e um monte de gente no seu pé, mas vai passar — voltei com um assunto, tentando tranquilizá-lo quanto a isso. Levando em conta o quanto Rosalya parecia estar infernizando o pobre coitado para aceitar a fama repentina, dava dó.

— Tenho conhecimento disso. Apenas resta esperar que não demore muito. — Finalizou com um sorriso e ajeitou a bolsa com seus materiais, se pondo de pé. — Nos vemos novamente no seu próximo trabalho.

— Então não vai demorar muito, porque eu vou fazer um casting na próxima segunda — anunciei, a felicidade gritando no rosto.

Lysandre me ofereceu um sorriso simpático como parabéns e quase soltei um suspiro de alívio por não precisar enfrentar mais aquele olhar de quem queria me fuzilar ali mesmo. 

Trocamos despedidas educadas e o cabelereiro deu as costas para ir trabalhar, quando de repente girou nos calcanhares e voltou-se novamente para mim.

— Quase me esqueço de passar o recado, mas Castiel desejava falar com você — anunciou e dei um sorriso amarelo.

— Eu vou tentar entrar em contato com ele assim que der, obrigada — agradeci com educação e Lysandre se despediu com um aceno de cabeça.

Vi o cabelereiro ir de vez trabalhar, sumindo em um dos corredores da agência, e contive um grunhido. Eu precisava falar com Castiel? Obviamente que sim, já que até com Lysandre eu tinha posto as coisas a limpo. O problema? Eu não sabia como encarar Castiel depois de tudo. Era o tipo de coisa que você sabe que precisa fazer, mas fica procrastinando até onde der.

Eu provavelmente teria palavras parecidas às que disse para Lysandre? Com certeza. A grande questão era... A grande questão era nós dois! Esquecíamos todos aqueles momentos que vivemos e bola pra frente? A errada era eu naquela história, será que Castiel ia me perdoar e querer reatar? Apesar de eu ter estado muito chateada com ele, não era eu a pessoa com mais motivos para encerrar tudo.

Escondi o rosto nas mãos, soltando um grunhido baixo. Por que você tinha que complicar tanto minha vida, universo? 

Para meu azar, tive que esperar mais uns quarenta minutos até que Kentin aparecesse na recepção. Puxei-o pela manga e fui saindo o mais rápido que podia da agência. 

Eu sabia que Castiel estava na mesma prova de roupas, já que ele também iria desfilar para a Gavieira, e o que eu menos queria era encontrá-lo para conversar bem na recepção da agência. Ele com certeza pediria para irmos conversar em um lugar mais calmo. E eu definitivamente não estava preparada para isso.

— Pra que tanta pressa, Mari? — Kentin questionou, visto que eu ainda segurava seu braço e estava quase correndo.

Olhei para trás e vi que estávamos a quase duas ruas de distância da agência. Prendi um suspiro aliviado e soltei o braço do meu amigo, começando a andar mais devagar.

— Pra gente não perder o metrô — respondi com um sorriso amarelo e percebi que ele claramente não acreditou na desculpa, mas não quis insistir.

— Parabéns por ter passado no casting — o modelo parabenizou e quase pulei em cima dele para comemorar.

— A representante olhou bem pra minha cara, né...

E comecei a contar o que tinha acontecido na sala, excluindo Rosalya da história, regando a narrativa com — muita — empolgação. Kentin apenas ria, com nós dois exultando de felicidade pelos nossos trabalhos bem sucedidos.

Quando entramos no metrô, a conversa parou um pouco e fomos nos sentar em dois lugares vazios.

— Castiel perguntou de você hoje — Kentin soltou do nada e aquele seria um belo momento para fazer o congelamento de Avenida Brasil na minha cara.

— E o que ele disse? — questionei, tentando esconder a aflição.

— Apenas disse que queria falar com você e tentou ficar puxando assunto. Achei um pouco estranho, já que nas últimas vezes ele não olhava na minha cara. Mas com certeza se aproximou por causa de interesse por você.

Senti meu estômago roncar e fiquei em dúvida se aquilo era fome ou a situação estava me dando dor de barriga.

— Uma hora vocês dois vão ter que conversar, Mari. Não dá pra evitar ele pra sempre.

E essa era a grande questão. Ao menos, quem sabe eu poderia ensaiar as falas até esse momento chegar. O problema era seguir o plano quando a hora chegasse...




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Notas finais do capítulo

Bia
Eu gelei junto com a Mari quando o Lys apareceu, mas olha, até nesses momentos ele é um gentleman ❤️ E Castiel gritando pra Deus e o mundo "MARI FALA COMIGO" kkkkk só falta pendurar uma faixa na rua xD
Até mais o/



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