Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 49
Bem vindo à Era Lover




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— Tá tudo bem contigo, Nath? Tá meio amuadinho aí — questionei, vendo Nathaniel encostado do lado da mesa de Buffet com uma cerveja na mão, como se estivesse esperando aquela bebida ficar mais quente do que já devia estar. Gringos e sua mania de beber coisas quentes.

Ao menos ele só precisava esticar o braço se quisesse comer alguma coisa.

— Estou o que? — perguntou com uma sobrancelha erguida. Pela primeira vez na eternidade ele estava usando a camiseta com a gravata afrouxada e o cabelo não estava todo em ordem como se isso fosse a física natural dos fios. Um milagre, meus amigos.

— Meio triste, sabe. — Parei ao lado dele, aproveitando pra roubar alguns quitutes da mesa. — É que eu esqueci a palavra e acabei usando uma expressão em português mesmo.

Nathaniel gargalhou e me parabenizei por voltar a fazê-lo sorrir naquela festa.

— Estou apenas pensativo, Mari. — Bebeu um gole da cerveja, olhando para a pista de dança e para o nada ao mesmo tempo, fazendo uma cara digna de “O Pensador”.

— A gente resolveu tudo, mas você precisou demitir sua irmã, né? — Bem na mosca! Percebi assim que ele franziu a testa e bebeu mais um gole da cerveja, saindo do modo pensador.

Nunca imaginei que fosse vê-lo bebendo algo que não fosse vinho ou uma bebida de gente chique, mas o que fazer se aquele bando de loucos já havia secado todo o vinho da festa? Isso porque estávamos ali havia talvez uma hora e meia, talvez duas...

— Tipo, tá todo mundo feliz, a Jú recuperou o emprego, você vai parar de receber reclamações das modelos no seu ouvido, pelo menos sobre esse assunto, mas sua irmã meio que tá sendo atacada na internet, né? E sabe como esse povo é, algumas coisas respingaram em você. Eu não queria que você tomasse hate por causa dela e...

— Mari, respira — Bonnet me interrompeu, fazendo com as mãos para que eu me acalmasse e acabamos rindo junto.

— Eu sei, eu falo demais. — Ri escandalosa, enquanto ele balançou a cabeça. 

Nathaniel me ofereceu um pouco de cerveja, dizendo que finalmente pareceu recuperar a educação, e eu neguei. Não era muito fã da bebida e talvez fosse isso que estivesse me mantendo parcialmente sóbria, já que só sobrou isso e um pouco de champanhe.

— Eu não me importo com isso, de verdade. — Deu de ombros e cruzou os braços, arranjando um jeito de não derrubar a cerveja. Coisa de gente que bebe. — Isso vai passar daqui algumas semanas, a internet esquece rápido das coisas.

— Nisso eu tenho que concordar! Mas eu vou fazer uma thread no Twitter só pra falar bem de você, eu juro! — Beijei meus dedos cruzados em promessa. — Consegui vinte mil seguidores desde ontem e eles vão distribuir amorzinho pra você se eu pedir.

— Não precisa, Mari...

— Você não merece isso, Nath. — Coloquei a mão em seu ombro, interrompendo qualquer discurso anti-motivacional. — Você não merece a irmã que tem e nem ser odiado por qualquer coisa. Você sempre tentou fazer o que achava ser certo, mesmo que tivesse que ser contra sua família por causa disso.

— Obrigado — ele agradeceu dando um outro sorriso e afagou minha mão sobre seu ombro. 

— Falando em Ambre, como ela ficou depois da demissão? 

— Poupou qualquer escândalo na agência e foi no meu apartamento depois do expediente, tentando me convencer a devolver o emprego dela. — Balancei a cabeça com isso, pensando em como aquela mulher é cara de pau. — Mas eu não conseguiria ser injusto desse jeito. Ela foi demitida por justa causa e vou tentar fazer o possível para que ela saia com boas recomendações da agência.

Olhei para ele, com aquela cara de menino sofrido de novela, e o puxei para um abraço, claramente o surpreendendo. Não tínhamos mais nada romântico, era verdade, mas digamos que para pessoas de outros países ainda era um pouco estranho essa mania de brasileiro ser caloroso demais. Mas nada que nossos amigos já não estivessem se acostumando.

Nos separamos e ainda dei um beijo na sua bochecha.

— Eu falo sério quando digo que esse mundo não te merece, Nath — disse outra vez e vi um leve rubor passar por suas bochechas, me dando vontade de apertar.

— Eu não sabia que Júlia estava em um novo relacionamento — Nathaniel comentou, mudando de assunto e apontando com a cabeça para Júlia e Rayan em uma conversa que parecia hilária do outro lado do salão.

— Não tá com ciúmes não, né? — brinquei com ele e vi meu chefe me olhar como se eu tivesse acabado de dizer um absurdo. — Eu sei, só tô te zoando. — Ri escandalosa mais uma vez. — Ele é o professor/crush da Júlia. E antes que você diga qualquer coisa, looongaa história.

— Eu...

A fala de Nathaniel pareceu ficar bem distante quando uma batida conhecida começou a tocar, junto de barulho de estralar dos dedos.

— Ah não, agora a gente vai dançar! — exclamei e vi Nathaniel arregalar os olhos, achando que eu estava falando dele. — É a nossa música! Júliaaaa!

Sai berrando minha amiga até o outro lado do salão, deixando Nathaniel observando tudo com cara de tacho e como se tivesse certeza que eu não batia bem das ideias. Ou talvez ele achasse que eu estivesse mais bêbada do que aparentava estar. Dessa vez, a resposta seria não.

 

“ You are somebody that I don’t know

But you’re takin’ shots at me like it’s Patrón

And I’m just like: Damn

It’s 7AM

Say it in the street, that’s a knock-out

But you say it in a tweet, that’s a cop-out

 

Você é alguém que eu não conheço

Mas você está me dando tiros como se fosse doses de tequila

E eu fico tipo: caramba

São 7 da manhã

Quando você diz isso na rua, é um nocaute

Mas se você diz em um tweet, aí é uma covardia”

 

— Júliaaaaa. — Cheguei cantarolando o nome da minha amiga e já sai a puxando pela mão. — Desculpa roubar ela de você um pouco, Rayan, mas essa é a nossa música.

Vi-o rir, enquanto ia puxando minha amiga pela mão, com ela não mostrando lá muita resistência.

— Desde quando? — ela perguntou meio atrapalhada e finalmente chegamos na pista de dança, com algumas pessoas inventando uns passos meio nada a ver. Bêbados até demais.

— Desde agora, oras! — exclamei e segurei as duas mãos dela, puxando seus braços para tentar dançar. — Você já viu a letra dela? É totalmente a nossa cara com o que aconteceu.

 

“And I ain’t tryna mess with your self-expression

But I’ve learned a lesson that stressin’

And obsessin’ ‘bout somedoby else is no fun

And snakes and stones never broke my bones

 

E eu não estou tentando atrapalhar sua autoexpressão

Mas eu aprendi uma lição que se estressar

E ficar obcecado por outra pessoa não é divertido

E cobras e pedras nunca quebraram meus ossos”

 

Júlia começou a rir como se tudo aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo e passou a puxar minhas mãos de volta, entrando na dança comigo de um jeito todo desengonçado.

— É a era Lover, Jú! — exclamei, puxando-a para um abraço e saltitando no mesmo lugar. — Agora é só amor e fofura.

— Loveeeerrrr! — ela berrou feito doida e caí na risada

— Quanto você bebeu?

— Eu não estou bêbada. — Puxou minha mão outra vez, parecendo gostar da ideia de dançar. — Estou semi-bêbada.

— Ah, claro, porque isso é o que todos os bêbados do mundo devem dizer — soltei essa e vi-a dar uma risadinha.

 

“So oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh

You need to calm down

You’re being too loud

And I’m just like oh-oh, oh-oh, oh-oh

You need to just stop

Like can you just not step on my gown?

You need to calm down

 

Então oh-oh, oh-oh, oh-oh, oh-oh

Você precisa se acalmar

Você está sendo muito barulhento

E eu fico tipo oh-oh, oh-oh, oh-oh

Você precisa apenas parar

Tipo, você pode não pisar no meu vestido?

Você precisa se acalmar”

 

— É a nossa música mesmo, Mari! — Júlia gritou essa, parecendo ficar ainda mais animada do que já estava. — Loverrr!!

Caí na risada, achando a coisa mais hilária ver minha amiga desse jeito. O tipo de coisa que você via uma vez na vida e nunca mais.

— Parece que seu professor bonitão/crush tá só olhando a gente parecendo duas malucas na pista de dança — comentei baixinho, apontando para Rayan no mesmo canto de antes, nos observando de longe, sem nem querer disfarçar isso.

— Ele não é mais meu crush, Mari — Júlia soltou do nada, como se estivesse falando a coisa mais normal do mundo. — A gente tá namorando agora.

— O QUEEEE? — berrei no meio da pista de dança, assustando quem estava perto e quase caindo junto deles, tamanho o susto. — Ele te pediu em namoro?

— Na verdade, eu pedi — disse com o maior sorriso do mundo.

Abracei minha amiga, quase a tirando do chão, e passando a saltitar no lugar.

— O MEU SHIP É REAAAALLL! — gritei feito louca e em português mesmo, fazendo todo mundo achar que eu estivesse realmente bêbada. — Tá vendo só, universo? Esse você não vai separar!

Vi Júlia rindo e dançando descalça na pista de dança, parecendo querer aproveitar aquela festa como se fosse a melhor noite de todas. 

Viu isso, universo? A era de azar tinha acabado para nós. 

...

Acordei na manhã seguinte com o sol entrando pela janela e com a mínima vontade de abrir os olhos. Mas o meu sono já tinha ido embora, mesmo que a vontade de viver ainda estivesse a caminho.

Percebi que Júlia continuava dormindo na outra cama do beliche e o apartamento estaria no mais completo silêncio, se não fosse a barulhada de carros na rua. Se nem minha amiga acordou cedo para fazer yoga e otimizar o chacra logo de manhã, por que eu tinha que levantar primeiro?

Esfreguei os olhos e peguei o celular de debaixo do travesseiro, vendo que passava um pouco das nove horas. Em um sábado, em que todo mundo estava acabado depois da festa de ontem e provavelmente com ressaca. As campanhas de fim de ano estavam aumentando cada vez mais, fora os preparativos para o desfile dali a duas semanas, mas todos mereciam um pouco de descanso, não é mesmo?

Até eu sentia uma dor de cabeça e uma vontade de ficar na cama o dia inteiro. Eu devia ter estômago fraco pra bebida, era a única explicação.

Vi que meu celular tinha 34844 notificações e cliquei para apagar. Não bastasse meu Twitter ter passado dos vinte mil seguidores e continuar subindo todos os dias, o Instagram continuava no mesmo ritmo e aumentando até mais rápido. Eu já estava cansada de entrar no aplicativo e ver que 284848 pessoas haviam curtido minhas fotos e deixado mensagens na minha DM.

Porém, naquela manhã eu quase deixei o celular cair na minha cara, tamanho o susto. Não apenas 284848 pessoas haviam curtido minha última foto, com Júlia ontem na festa, mas uma em especial parecia ter me stalkeado e curtido todas minhas fotos das últimas semanas: @castielperrotreal.

É, aquele mesmo que me mandou DM depois daquela noite vergonhosa no pub e parou de me seguir no mesmo dia em que a bomba estourou. E o mesmo que havia deixado uma mensagem na noite passada.

 

“Podemos conversar?”

“Queria falar com você, é importante”

 

Respirei fundo e desliguei a tela do celular. 

Certo, era aquele mesmo Castiel pelo qual eu era simplesmente apaixonada. O mesmo Castiel que eu saí, beijei, vivi momentos maravilhosos e que gostava de mim. Pelo menos até tudo aquilo acontecer. O mesmo Castiel que me acusou sem dar espaço para me explicar e que me evitava em todos os lugares. Não tirava a razão dele, tudo parecia óbvio demais e saber que eu e Júlia realmente tínhamos tirado aquelas fotos só piorava as coisas.

Mas eu estava magoada com ele. Mesmo que a culpa fosse minha, doeu ser chamada de interesseira e ele ter achado que tudo o que vivemos foi uma mentira. Pra mim foi bem real e ele não acreditou nisso.

Em algum momento nós iriamos nos encontrar e colocar tudo em pratos limpos, mas naquele exato momento? Tudo o que eu precisava era de um café bem forte e um remédio para aquela dor de cabeça.


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Notas finais do capítulo

A musica que toca na festa é You Need To Calm Down da Taylor Swift: https://youtu.be/GWtfOHBF1_w

Bia:
Ai, gente, que vontade de abraçar o Bonnet, tadinho!
E olha, vossos corações dispararam igual ao da Mari, tenho certeza kkkk vocês acham que o Castiel merece ser ouvido?
Até mais o/



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