Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 4
Pedalada


Notas iniciais do capítulo

Bia:
Oieee! Vocês ficaram curiosa(o)s sobre a relação da Jú com o chefe dela? Hoje teremos algumas explicações.
E olha quem é a carinha da Júlia. A Patrícia Pilar mais nova ♥
Boa leitura!

Ester:
Um aesthetic da Ju pra vocês ❤
Boa leitura ;)



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Assim que deu dezoito horas da tarde, acelerei o passo para guardar os equipamentos usados no dia. Finalmente chegara o grande dia da primeira aula, e eu não poderia me atrasar. Tinha um longo caminho pela frente.

A Escola Nacional Superior Louis-Lumière ficava em Saint-Dennis, ou seja, longe daqui. Eu precisava ir para casa, pegar minhas coisas, a bicicleta, e ir para lá. Eu até poderia ir de ônibus, mas o caminho seria mais longo, e também, eu sei que preciso me exercitar mais. Ando tão sedentária que reclamo de incômodo nos joelhos sempre que subo as escadas do prédio.

Quinze minutos de bicicleta não me matariam. Eu acho.

Peguei minha mochila e saí apressada, fechando a porta da sala. Andei rapidamente pelo corredor e quase me bati com Bonnet, que estava terminando de descer as escadas.

— Uou, calma aí. — Ele me segurou meus ombros, já que perdi o equilíbrio para não empurrá-lo. — Por que essa pressa toda?

— Desculpa, desculpa. Minhas aulas começam hoje, não quero me atrasar.

— As aulas de fotografia?

— Sim. Eu ainda vou passar em casa e pegar minha bicicleta.

— Não é mais fácil ir de ônibus?

— Eu preciso fazer um pouco de exercício — expliquei apressadamente, lhe dando dois beijinhos no rosto. — Até amanhã!

— Até. Boa aula!

— Valeu!

Esbarrar com ele assim, às vezes, era engraçado. Me fazia pensar na nossa relação desde o começo.

Eu não gosto de pensar que eu tenho um “caso” com meu chefe. Tudo bem que ninguém sabe, mas... Bom, nunca foi algo realmente... sério. Aconteceu de forma natural. Provavelmente nós dois estávamos meio carentes naquele dia. Não que tivesse sido algo tão inesperado. Já estávamos flertando desde meus cinco meses de estágio, depois que pegamos certa amizade.

Estávamos em uma reunião entre nós, conferindo equipamentos, fazendo lista de compras, coisas assim, no estúdio principal. Sentamos no chão, tiramos tudo de dentro do armário e listamos cada coisinha. Já era quase oito horas da noite quando terminamos, cansados, com sono, com fome. Não tinha mais ninguém na agência, nenhum barulho, apenas nós dois, conversando pertinho um do outro. Foi praticamente inevitável.

É uma relação estranha, mas boa, sem cobranças. Damos uns amassos quando queremos, depois cada um vai para o seu lado e continuamos amigos, nos ajudando sempre que necessário.

Saí na recepção, me despedi das meninas e tomei rumo para casa. Assim que cheguei, belisquei algumas coisas que a Mari estava cozinhando, peguei a outra mochila, a bicicleta e saí novamente para a rua.

Nunca comentamos sobre firmar, e também nunca comentamos em parar. Na realidade, acho que nunca falamos desse esquema nosso, sempre foi espontâneo demais, e isso que me mantinha ali, mesmo que eu não fosse apaixonada por ele.

Era legal. Mas não era o que eu queria para a minha vida.

Meu sonho sempre foi encontrar alguém que me fizesse sentir o coração bater mais forte, que me fizesse sentir as pernas bambas, as mãos suadas só de estar perto. Um sentimento de paixão e amor inexplicáveis... Eu não sei se ainda sentirei tais coisas, e eu espero muito que sim.

Eu basicamente teria que seguir reto por muitas quadras, virar à esquerda, continuar reto, depois virar na Rua de Saint-Dennis e depois para a rua Ampère. Aí chegaria na escola.

Já estava com o coração na boca no meio do caminho. Os joelhos estavam reclamando, assim como os músculos das pernas. Desisti faltando algumas quadras e fui empurrando a bicicleta até chegar. A deixei no estacionamento próprio para bikes, prendi com o mecanismo de segurança — apesar de eu saber que ninguém roubaria, estava acostumada com aquilo por causa do Brasil — e entrei no prédio. Me informei em qual sala deveria ir e corri, pois já estava atrasada cinco minutos.

A porta estava aberta, e antes de entrar, dei alguns toques com os nós dos dedos e pedi licença. O professor, que estava sentado na beira de sua mesa, me olhou, assim como os alunos. Ele assentiu, com um sorriso, e eu corri para uma das mesas no centro da sala, mais ao fundo.

— Como eu dizia, espero muito que vocês gostem do curso. Eu organizei as aulas com muito carinho, e espero não ver meus alunos dormindo. — Riu, fazendo todos darem uma risadinha.

Olhei para o quadro negro, contendo uma escrita em giz branco.

“Professor Rayan Zaidi”

Mais dois alunos chegaram e entraram na sala.

— Bom, como temos novos alunos, vou repetir o que disse no começo da aula — comentou Rayan, despreocupadamente. — Eu não dou aula para vocês hoje, e sim de sexta-feira. O professor encarregado por Narrativas Visuais e Estética da Fotografia não pôde comparecer por problemas pessoais. Eu dou História da Arte e Fundamentos da Fotografia, e Teorias da Comunicação e Processos Midiáticos.

Está aí algo que eu não tive em Artes Visuais...

— Já que estamos aqui, que tal uma apresentação? — perguntou retoricamente. — Pode começar. — Indicou a garota na primeira fileira da janela.

Peguei meu celular para ver meu reflexo na tela. Meus cachos estavam com tanto frizz que seria difícil abaixar, por causa da velocidade da viagem. Passei as mãos, tentando dar algum resultado, provavelmente em vão.

Os alunos foram se apresentando, e eu tentei pelo menos lembrar dos nomes de cada um. Quando o homem à minha frente terminou de falar, o professor olhou diretamente para mim, com um sorriso incentivador. Engoli seco. Eu nunca tive problemas em falar em público, mas às vezes ficava desconcertada quando me dirigia a pessoas muito bonitas. O que era o caso.

— Ah... Meu nome é Júlia, tenho vinte e quatro anos... — Demorei uns segundos para pensar em mais alguma coisa relevante. — Eu sou brasileira e vim trabalhar aqui há pouco mais de um ano.

— É mesmo? Interessante. Você quase não tem sotaque — observou ele, interessado.

— Eu já tinha francês básico antes de vir. Sempre gostei do idioma. E eu treino muito.

— Então saiba que seus esforços funcionaram. Trabalha com o quê?

— Sou fotógrafa.

— E por que resolveu fazer um curso? Renovar os conhecimentos?

— Na verdade, eu sou graduada em Artes Visuais. Tive aulas de fotografia e me apaixonei, e comecei fazendo alguns bicos. Eu consegui um estágio graças a uma indicação, vim para cá, e depois de um ano fui efetivada. Estava mais que na hora de aprimorar meus conhecimentos — acrescentei, com um sorriso sem jeito.

— Uau. Seu trabalho deve ser incrível. Com certeza gostaríamos de ver algum dia.

— Claro.

— Seja bem-vinda. Obrigado.

Acenei com a cabeça, e Rayan partiu para o próximo aluno.

Respirei fundo, e só naquele instante senti o rosto esquentar.

No fim, depois de meia hora fomos liberados. Voltei para casa, jantei com a Mari vendo televisão, cuidei da louça e fui dormir, exausta pela pedalada quase completa.

Pelo menos eu poderia acordar tarde. Não havia trabalho nenhum marcado para o período da manhã.

Praticamente desmaiei na minha cama de cima do beliche.

Infelizmente, não consegui dormir mais depois das nove horas, então levantei, fui ao banheiro e deixei a cafeteira trabalhando. Depois, aproveitei o sol entrando na sala e estendi meu tapetinho de yoga. Havia muito tempo que não fazia yoga na semana.

Quinze minutos depois, de corpo e alma renovada, coloquei o café pronto em uma xícara e lá fui eu me sentar na porta da varanda minúscula. Se é que poderia ser chamada de varanda.

Derrubei a bebida no meu pijama quando o interfone tocou de repente. Só não xinguei porque estava de alma limpa. Deixei a xícara na mesa, peguei as chaves e desci até o térreo.

— Entrega para Marrimar Gárcia da Sílvá — anunciou o rapaz, já voltando para detrás da van.

Abri a porta de forma sonolenta e esperei ele voltar, levando um susto quando o fez. Ele me entregou uma caixa grande cheia de plantas em vasinhos, deixou outras maiores na entrada e pediu para que eu assinasse o papel. Deixei tudo no chão, assinei, e ele foi embora.

Por que essa menina comprou tanta planta...?

Fechei a porta e levei a caixa para cima com certa dificuldade. A deixei na mesa e fui para o quarto.

— Mari? Você gastou seu salário com plantas?

Je ne veux pas... — resmungou ela em francês. — Quê? — Acordou, me olhando.

— Por que você comprou tantas plantas? — perguntei pacientemente.

— Chegou?! — Marimar empurrou as cobertas e pulou para fora da cama. — Cadê o resto?

A segui de volta para a cozinha. — Na entrada...

Sem que eu precisasse falar, ela saiu do apartamento euforicamente.


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Notas finais do capítulo

Bia:
Ai, ai, esse professor Zaidi, viu. Acaba com todas xD
Até mais o/

Ester:
Sejamos como a Ju: fitness, de alma limpa e que não treta com as coleguinhas, mesmo quando elas aparecem com uma pequena amostra da selva amazônica na sua casa xD
Até mais, povo o/



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