Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW
A melhor parte de fazer um casting à tarde era não precisar acordar cedo e que eu raramente chegava atrasada — o que já era uma vitória —. Daquela vez, a melhor parte ainda era ir junto de Castiel, que também tentaria participar da propaganda para uma conhecida marca de jeans. Não bastasse isso, ainda passamos a tarde juntos, pois assisti a mais um ensaio da Storm Riders. Como tínhamos compromisso, fomos os primeiros a ir embora. Sim, naquele máquina de dez mil cavalos do Castiel. Ou qualquer que fosse a potência daquele carrão vermelho e com teto solar.
— Nunca tinha te visto ir de carro na agência antes — comentei, observando-o dirigir.
— Você que nunca prestou atenção no estacionamento antes — respondeu com um sorrisinho, atento à rua.
É, naqueles dias juntos, aprendi que Castiel era o rei das respostas engraçadinhas, ironias e tudo o que estava incluso no pacote. A vida com um famoso do lado era completamente diferente do que as redes sociais aparentavam, não é mesmo?
Chegamos à agência e, após sairmos do estacionamento, passamos por uma recepção com alguns modelos aleatórios conversando e fomos direto para a sala onde aconteceria o casting. Micalina e Kentin, que também participariam, ainda não tinham chegado. As únicas pessoas presentes eram Dake e uma modelo que eu não conhecia. Ela falava sem parar e ele apenas virou o rosto na minha direção, dando um daqueles sorrisos de quem se achava o centro do mundo. Enganchei no braço do Castiel e fingi que nunca nem vi, indo nos sentar mais à frente.
— Que foi, garota? — ele questionou, estranhando eu ter enroscado o braço no dele.
Ocupamos as cadeiras e olhei para trás, vendo que Dake tinha parado de me encarar e parecia mais entretido em analisar os próprios pés, enquanto a modelo ao lado dele continuava falando sem parar. Apesar de ele ser um chato, não deixava de sentir um pouco de pena por ter que aguentar o falatório no ouvido.
— É aquele lá. — Apontei com a cabeça e Castiel se virou pra ver, nem um pouco discreto. — O Dake. Toda vez que ele me vê, vem encher o saco.
Recebemos nossos números de Chani e vi que Viktor ainda arrumava a parafernália dele, junto da assistente de iluminação.
— Aquele lá não pode ver uma mulher na frente dele que já vai se engraçando — o guitarrista comentou e passou o braço sobre meus ombros. — Pronto, agora ele não enche mais. — Me deu um sorriso e olhei para frente, entre sentir minhas bochechas esquentarem, morrer de amores por dentro e ter vontade de enfiar a cabeça de Dake na privada.
Antes que continuássemos qualquer conversa, ouvi a voz alta de Micalina praticamente do meu lado.
— Olha só quem tá aqui! — Ela se sentou na cadeira ao lado da minha e Kentin veio logo atrás, ocupando o lugar à direita dela. — Oi — ela cumprimentou meio sem graça, ao ver Castiel sentado comigo e com o braço sobre os meus ombros. — Micalina — se apresentou e apontou para o russo ao lado dela. — E esse é o Kentin. — Ele apenas deu um aceno de cabeça, talvez com aquele receio com relação ao outro ainda.
— E aí? — O guitarrista cumprimentou de forma casual, surpreendendo aos dois recém-chegados, que provavelmente esperavam pela soberba em pessoa.
A mim, que já estava me acostumando com aquele jeitão dele, nem tanto. Quem diria que um dia eu poderia dizer isso, não é mesmo? Pelo menos um ship do universo tinha dado certo.
— Que cara é essa? — perguntei sem som para Micalina, que encarava a nós dois como se estivéssemos vestidos feito o Patati e Patatá no meio da agência.
Kentin parecia meio alheio à companhia, se contentando em observar o teto branco. Castiel tirou o celular do bolso e começou a digitar, talvez conversando com os rapazes no grupo da banda.
— Vamos no banheiro, Mari? Preciso retocar um pouco a maquiagem. — Sem deixar espaço para resposta, ela puxou meu pulso e nos levantamos. — Temos tempo antes de começar o casting — disse mais para os meninos, que sequer se mexeram. Apenas o francês deu espaço para sairmos.
— Que cara é essa? — Continuei sem entender nada e saímos da sala, enquanto mais modelos com cara de azedo chegavam e recebiam seus números.
— ¿Como no me dijiste nada de el? — ela questionou em espanhol, provavelmente para ninguém em volta entender.
— Como assim? Eu já te falei que eu e o Castiel estávamos saindo — respondi em português, já que ela entenderia e as pessoas em volta, não. Entramos no banheiro.
— Es difícil de creer. Él es... — Ela deixou no ar, deixando claro a frase. — Él parecía ser tan arrogante. — Em outras palavras, Micalina era a perfeita definição daquele meme do Chihuahua do “não acredito”.
A mexicana começou a pentear os cabelos negros com os dedos, meio que pra ter um pretexto pra ir até ali. Cruzei os braços, encarando a mim mesma e a minha amiga no espelho. Minha maquiagem não precisava de retoque, então não tinha com o que me preocupar.
— Ele não é arrogante, Mica — continuei em português. — O Castiel só é bem na dele. Tem muita gente que fica no pé dele porque ele é famoso, então...
— Comprensible. — Terminou de arrumar os cabelos que iam até o meio das costas e encostou-as na pia, me encarando com um olhar brincalhão. — Pero tienes que contarme sobre este ensayo. ¿Castiel tiene una banda?
De repente, uma das cabines do banheiro se abriu e Ambre, a professora das modelos e irmã de Nathaniel, saiu, indo lavar as mãos ao meu lado. Eu e Micalina ficamos em silêncio e ela deixou o recinto da mesma forma, nos ignorando.
— Todo mundo tem essa cara de azedo nessa agência? — Voltei para o francês e rimos alto.
— Vem, vamos voltar pra lá, senão vamos nos atrasar. — Deixamos o banheiro para trás. — Escuta, o que você acha de sairmos todos juntos depois daqui? Eu meio que reservei um horário num lugar pra gente...
— Que lugar? — questionei e apenas tive um sorrisinho como resposta. — O que é que você tá aprontando, dona Micalina?
— É uma surpresa... — Continuou bancando a misteriosa e suspirei. — Você pode levar o Castiel — disse como se fosse um meio de me convencer.
Empurramos a porta da sala, que agora estava lotada de modelos.
— Isso se ele e o Kentin não matarem um ao outro no meio do caminho, né? — brinquei. Mesmo que um parecesse ignorar o outro quando nos juntamos, o russo ainda dava umas torcidas de nariz para o guitarrista. Mesmo que eu insistisse em dizer que ele era legal.
— Parece que isso não vai ser mais um problema. — Micalina apontou, assim que nos aproximamos de nossos lugares anteriores.
Kentin e Castiel permaneciam sentados, porém, trocaram a distração do teto e do celular por uma conversa que parecia até empolgada.
— Eles não vão ganhar o campeonato desse jeito — Kentin argumentava — enquanto aquele técnico não sair.
— Tô te falando, o Luchenzza vai ser um reforço e tanto... — O número de Castiel foi chamado, já que Dake e a modelo faladora não estavam mais lá. — Deixa eu ir.
Eu e Micalina nos encaramos, como se pra acreditar no bate papo daqueles dois, e voltamos pra nossos lugares.
— Parece que alguém descobriu que o Castiel não é um monstro de sete cabeças — provoquei e vi Kentin cruzar os braços, como se não fosse dá-los a torcer.
— Ele até que conhece bem de esporte...
— Lá vem o bate papo sobre futebol, quer ver só? — Micalina interviu e o russo franziu o cenho, no que ela apenas mandou um beijo no ar.
Rimos entre nós enquanto Castiel era testado para o casting. Assim que terminou, disse que ia me esperar lá fora e fui para a frente da sala, com a promessa para Mica de que iríamos com ela onde quer que tivesse hora marcada. E não, ela não queria revelar durante aquele tempo todo.
Saí para a recepção e vi o modelo francês sentado em uma das cadeiras, respondendo mensagens no celular.
— Você vai precisar de uma rehab se continuar desse jeito — brinquei e me sentei ao seu lado.
— São coisas de banda, morena. — Ele guardou o eletrônico de volta no bolso e morri um pouco por dentro. Usar o apelido era ponto fraco. — E eu quase não uso quando tô perto de você, tá feliz? — Deu seu sorriso copyright Castiel.
— Você vai acabar tendo uma tendinite depois. — Ri alto, o que acabou chamando a atenção de Amália, que me deu um olhar de censura. Me encolhi, como se pedisse desculpas, e percebi o modelo ao meu lado balançar a cabeça, como se pensasse “só ela mesmo”. — A Micalina nos convidou pra ir a algum lugar, quer ir também?
— Que lugar?
— Não sei. — Dei de ombros e vi-o erguer as sobrancelhas.
— Você me convida pra um lugar que não sabe nem pra onde é?! — exclamou e eu tive que concordar. Vai que ela tinha marcado hora num SPA? Não que fosse má ideia ir em um...
— Ah, vai... Eu conheci seus amigos e agora é hora de você conhecer os meus, que tal? E ainda passamos a tarde juntos! Você vai ver que eles são legais... — Tentei convencê-lo com meu melhor olhar de cachorrinho pidão e o modelo soltou o ar pela boca, dando-se por vencido.
— Olha lá onde sua amiga vai nos meter... — Cruzou os braços de forma mal humorada e dei um beijo na bochecha dele, como consolo. Elas ficaram levemente rosadas e acabamos chamando a atenção para nós dois mais uma vez.
Discrição? Claramente não era comigo.
...
Assim que Kentin e Micalina fizeram o casting, fomos todos no carro de Castiel, saído diretamente do seriado da Nova Super Máquina. A mexicana continuou fazendo questão de permanecer com o suspense e ela mesma digitou o endereço no GPS. Tá, né?
Quando a voz deu como tendo alcançado o endereço, o modelo francês parou o carro no meio fio. Mica foi a primeira a descer, toda empolgada. Estávamos em frente a uma construção até que comum, parecia uma casa de dois andares, com uma placa...
— Karaokê da Mirabi? — Kentin disse o nome em voz alta e seguiu a mexicana, que entrou quase correndo para o estabelecimento. — O que é que você tinha na cabeça pra nos chamar pra um lugar desses, Mica? — Entrou reclamando, no que nossa amiga desmiolada mal pareceu se importar.
— Olha só onde foi nos meter — Castiel sussurrou no meu ouvido quando paramos na recepção.
Micalina conversava com o rapaz atrás do balcão e do computador, falando do horário que tinha marcado. Kentin assistia tudo de braços cruzados, provavelmente preferindo estar em mais um casting do que ali.
— Não tenho culpa de nada dessa vez. — Tentei me esquivar e começamos a subir a escada para o segundo andar. — E você canta bem ainda por cima, não vai nem passar vergonha.
— E eu me preocupo com isso? — Se fez de “nem aí”, com as mãos nos bolsos do jeans.
Ri, percebendo que aquela era mais uma frase marca registrada dele.
O atendente abriu a porta da sala e nos deixou entrar, dizendo que logo chegaria qualquer pedido de bebida ou comida que fizéssemos, e que estivesse no menu, claro. A porta foi fechada, nos deixando naquele quarto com as paredes pretas e alguns quadros pendurados nelas. Ao fundo, havia uma TV ocupando quase toda a parede e um rack logo abaixo, com fichários, controles, microfones e o próprio console do karaokê em cima. De cada lado estavam sofás beges, com uma mesa de centro entre eles, contendo o cardápio sobre ela.
— Da onde você conhece esse lugar? — perguntei para Micalina, que foi logo pegar um dos microfones.
Nós três nos sentamos nos sofás, com eu e Castiel de um lado e Kentin do outro, ainda preferindo estar em casa do que num karaokê, mesmo que não houvesse ninguém além de nós na sala.
— Eu vi na internet sobre esse karaokê japonês e quis vir conhecer. E seria chato vir sozinha, né? — Riu para si mesma e balancei a cabeça, enquanto Castiel pegou um dos menus. — Quem quer dar as honras? — Silêncio. — Sério, gente? Que desânimo. — Suspirou e se virou para mexer em um dos fichários.
— Eles têm sorvete, pelo que parece — Castiel comentou, olhando as opções de comida. Assim como eu, ele também era um saco sem fundo.
— Pena que não tem maçã verde com manjericão — disse para ele, lembrando-me da nossa primeira saída juntos.
— Vai ter que se contentar com chocolate dessa vez, morena — ele respondeu com seu sorriso e não contive um riso baixo com o apelido mais uma vez.
A música do karaokê começou a tocar e Micalina ficou frente a frente com a TV.
— Baby, can’t you see? I’m callin’, a guy like you should wear a warnin’, it’s dangerous, I’m fallin’. — Ela começou acabando com a pobre Toxic da Britney Spears, com direito ao que parecia uma performance.
— Esses seus dois amigos tem alguma coisa? — Castiel questionou no meu ouvido, apontando para Kentin com a cabeça. O russo assistia o pocket show de nossa amiga de camarote, ainda de braços cruzados. — Pra quem tava reclamando há uns minutos atrás...
— Ele não tira os olhos dela — devolvi no mesmo tom, com Kentin observando a desafinação ao vivo de Micalina. — Esses dois vivem se bicando, mas é assim mesmo. Qualquer dia desses, eu vou ficar segurando vela pra eles.
Castiel riu e perguntou para o russo se ele queria algo do cardápio, pois iria pedir para o funcionário trazer.
— Alguém se animou agora? — Micalina se virou para nós quando a música acabou, balançando o microfone para quem quisesse.
— Eu só vou se puder cantar Taylor — comentei e a mexicana me entregou o objeto rindo, indo se sentar ao lado de Kentin em seguida.
Comecei a procurar pelos números das canções nos fichários, ouvindo a risada de Mica ao fundo. Castiel poderia não estar lá tão errado sobre os dois...
Assim que achei minha música e a selecionei pelo controle remoto, me virei para meus amigos, afinal, eu sabia a letra de cor e salteado. Assim como todas as outras da minha cantora favorita.
— I stay out too late, got nothing in my brain. — Comecei a cantar e vi Castiel rindo, enquanto eu assassinava a pobre da música. Kentin e Micalina nem tchum. — That’s what people say, mmm, mmm.
A porta se abriu e o rapaz de anteriormente deixou nossos comes e bebes sobre a mesa de centro. Eu perdi toda a atenção enquanto os três se concentravam em encher os próprios estômagos.
— ‘Cause the players gonna play, play, play, play; And the haters gonna hate, hate, hate; Baby I’m just gonna shake, shake, shake, I shake it off, I shake it off.
Me aproximei o máximo que o fio do microfone deixava e vi Castiel me encarando com os olhos risonhos, enquanto enchia a boca de salgadinho. Mica e Kentin pareciam mais entretidos em conversar e ele ficar com as bochechas coradas.
— But I keep cruising, can’t stop, won’t stop grooving, it’s like I got this music.
Continuei com a minha performance digna de um Framboesa de Ouro, que fazia Castiel rir até não poder mais. Os outros dois pareceram lembrar-se da minha existência ao som das gargalhadas do outro.
— Arrasa, Mari! — Micalina tentou me incentivar, enquanto os rapazes enchiam a boca de comida.
— Shake it off, I shake it off, I, I, I shake it off, I shake it off.
Dessa vez eles prestaram atenção à minha bela performance, que terminou com uma pequena salva de palmas. Fiz uma reverência, como se eu não tivesse assassinado uma das minhas músicas favoritas instantes antes. Pobre Taylor...
— Quem quer ser o próximo? — ofereci, vendo que Micalina continuava tentando incentivar Kentin, que não parecia muito feliz com a ideia de mostrar os dotes vocais.
— Eu canto. — Fui surpreendida por Castiel, que se levantou e veio na minha direção. — Mas se você cantar comigo. — Me encarou em desafio, sem nem pegar o microfone da minha mão.
— Dueto! Dueto! — A mexicana incentivou empolgada e Kentin suspirou aliviado, pelo que seria os próximos minutos.
— Só se eu escolher a música. — Peguei o outro microfone de cima do rack e ofereci para Castiel, que aceitou num postura de “chalenge acepted”.
Enquanto procurava qualquer música, berrei por dentro. Eu estava cantando com o meu crush, aquele mesmo que é modelo e tem uma banda nas horas vagas? Bem, a minha última semana e pouco sequer parecia real, com tudo aquilo acontecendo. Finalmente eu voltaria a ser eu e passaria vergonha mais uma vez.
Selecionei a música pelo controle remoto e logo a batida de sintetizador dos anos 80 começou a tocar.
— Não sabia que você gostava desse tipo de música — Castiel comentou e dei de ombros.
Meu pai amava esse tipo de música, então eu não era lá totalmente alheia apenas ao pop atual.
— Words like violence break the silence, come crashing in into my little world. — Castiel começou a cantar com sua voz rouca e afinada, que hipnotizava qualquer Marimar e qualquer um que gostasse desse tipo de timbre. — Can’t you understand, oh my little girl.
Ouvi Micalina gritar de empolgação ao fundo e ele ainda me encarava, a centímetros de distância. Só percebi que eu tinha que fazer alguma coisa com aquele microfone pelo mover de suas sobrancelhas, já que eu praticamente tinha esquecido o que estava fazendo ali.
— All I ever wanted, all I ever needed is here in my arms. Words are very unnecesssary, they can only do harm.
Cantamos em um dueto onde eu destruía completamente a música e Castiel tentava consertar em uma afinação perfeita. Mas, ali entre amigos, nenhum deles se importou se eu passava vergonha ou não. A gente apenas curtiu aquela tarde juntos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
As músicas que eles cantam, são:
Toxic da Britney Spears: https://youtu.be/LOZuxwVk7TU
Shake It Off da Taylor Swift: https://youtu.be/nfWlot6h_JM
E Enjoy the Silence do Depeche Mode, no dueto: https://youtu.be/aGSKrC7dGcY
Ester:
Preciso dizer que estou amando esse tanto de interação Mariel nos últimos caps ♥ E será que também vamos ter outro ship rolando aí por baixo? Time will tell xD
Até mais, povo o/
Bia:
Ai, gente, olha esse dueto! Como não amar esses dois!
E um detalhe que eu gostei muito, Mica falando em espanhol e a Mari entendendo e respondendo aaa tão fofinhas! ❤️
Até mais o/