Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 29
Momentos de lucidez


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Alguém aí quer mais um pouco do nosso ship Mariel? E um certo cabeleireiro pra fechar o trio? Então vão amar esse cap :3
A música que eles ouvem no carro é Is This Love do Whitesnake.
Boa leitura ;)



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O porteiro deu a autorização para eu e Castiel subirmos ao apartamento de Gerald e logo chegamos no andar do baterista da Storm Riders.

— Achei que tivesse se perdido pelo meio do caminho — o rapaz loiro comentou, assim que a porta foi aberta.

— Só fui buscar alguém. — O modelo apontou pra mim, logo atrás dele. Ergui a mão num aceno e sorri. — Tem plateia hoje.

Os dois se cumprimentaram com tapas nas costas e entramos. O músico fechou a porta, me encarando.

— Então você é a morena que o Castiel disse que ia trazer hoje… Boa sorte pra aguentar essa TPM diária dele — brincou, fazendo com que o amigo torcesse o rosto em uma careta.

— Coitada da Sue, que te atura o dia inteiro — o modelo devolveu a provocação. — Pode vir — me convidou, como se fosse o dono da casa, e fomos passando pelo corredor do apartamento do músico.

— Marimar — me apresentei ao anfitrião, lembrando que eu devia ter o mínimo de educação. 

— Gerald — respondeu com um sorriso simpático. — O Castiel já andou falando de você pra gente, Marimar.

Ergui as sobrancelhas, mais do que surpresa. Não bastasse Castiel me convidar pra sair com ele pela terceira vez em menos de uma semana, ainda ficava falando de mim pros outros? Okay, talvez eu tivesse entrado em uma realidade paralela ou possuísse mesmo muitos créditos com o universo.

Ri, sem saber o que responder. 

— Que bom saber. — Me repreendi mentalmente e apenas vi o músico rir sem som. 

Ficando sem jeito em menos de cinco minutos com pessoas desconhecidas.

— Achei que fosse precisar ir na sua casa pra te buscar. — Pietro, aquele mesmo do dia do show, brincou com o modelo, já com sua guitarra presa ao pescoço.

O quarto que entramos não era lá muito grande, mas, diferente de todo o resto do apartamento em tons de salmão, as paredes eram brancas. Talvez tivesse algum tipo de isolamento acústico, ou então seriam os vizinhos mais odiados do prédio.

O baixista estava perto da bateria, parecendo afinar seu instrumento, e bem no canto, longe de toda a parafernália, havia um pequeno sofá de dois lugares, onde Lysandre conversava com uma moça de cabelos ruivos… Sim, aquele mesmo Lysandre cabeleireiro/ninja nos momentos inoportunos. 

— Bom te ver de novo, Marimar — Pietro disse pra mim, enquanto Castiel passava por ele para pegar seu instrumento, que já estava ligado. — A Júlia não veio com você?

Parei de olhar para a arrumação toda — a qual Gerald havia se juntado outra vez — e encarei o guitarrista alto.

— Não, o Castiel convidou só a mim. — Senti que a resposta foi um pouco grosseira e o músico apenas coçou o cavanhaque, parecendo desapontado.  E não era pela rispidez acidental. — Ela tava muito cansada, ontem teve que aturar uns pestinhas na agência e hoje devia querer entrar em um retiro espiritual, pra purificar o chacra.

Pietro riu e em seguida passou as mãos pelos cabelos pretos curtos, parecendo um pouco pensativo.

— Ela é bem ligada nessas coisas?

— É... Júlia é a pessoa mais zen que eu já conheci. Tipo, você pode ter revirado o apartamento de cabeça pra baixo, e mesmo assim ela não vai gritar com você — brinquei e vi Pietro gargalhar.

Nossa conversa foi interrompida pelo chamado de um dos companheiros de banda do rapaz.

— Diz pra ela que eu mandei um alô, fazendo um favor. — Com esse pedido, se afastou, indo conversar com Gerald e Castiel.

— Olá. — A moça ruiva se aproximou, me cumprimentando com dois beijos no rosto. — Eu sou a Sue, namorada do Geh, e você deve ser a Marimar. Vem, senta aqui. — Me guiou para o sofá, onde Lysandre estava sentado. Ele se levantou, dando lugar para ela. — Pode ficar, Lys, eu sento na beira.

— Não é preciso. — Com todo o cavalheirismo que o cabeleireiro parecia ter, gentilmente cedeu o sofá para nós duas e se sentou no braço do móvel.

— Você é modelo na mesma agência que o Lys e o Castiel trabalham, né? — Sue questionou. Dei uma olhada de canto para Lysandre, que observava a banda, como se nós duas nem estivéssemos ali.

Será que o Castiel havia contado pra ele sobre toda aquela minha desconfiança sobre os dois? Eles eram bem amigos, será que daquele tipo que conta tudo um pro outro? E aquilo envolvia o Lysandre também...

— Marimar chegou à agência há algumas semanas — o cabeleireiro disse, me tirando das minhas paranoias e fazendo-me voltar pra conversa. — Tem sido bastante querida entre alguns.

Fiquei realmente surpresa com o elogio e sorri. O cabeleireiro sorriu de canto e fiquei surpresa ao quadrado. Talvez ele não me odiasse... Ou talvez não quisesse ser antipático em frente a pessoas que ainda não me conheciam.

— Bonita desse jeito, aposto que tá conseguindo vários trabalhos na agência — Sue comentou e ambos os olhares estavam sobre mim.

Sorri sem graça e senti as bochechas esquentarem. Antes que eu tivesse tempo de responder, o som da guitarra começou alto, o baixo e bateria vindo logo em seguida.

— Querem ir pra cozinha?  Lá vai tá mais baixo e vocês podem comer um lanche enquanto eu preparo um pros meninos. — A ruiva precisou abaixar o rosto em nossa direção e falar mais alto que o normal para ser ouvida.

Quando Castiel me convidou para o ensaio, não achei que fosse passá-lo em uma cozinha tomando café com pão junto de Lysandre e da namorada de um dos integrantes da Storm Riders. Mas, parece que alguém se esqueceu que visitantes também precisavam de protetores auriculares, caso não quisessem ficar surdos...

— Se deixar um pouco da porta aberta, dá pra ouvir daqui — Sue disse e se sentou em uma das cadeiras da mesa de quatro lugares da cozinha.

A conversa era dominada por ela e por Lysandre, que com certeza a conhecia há mais tempo. 

— Você também participa da banda, Lysandre? — questionei, curiosa no porque ele estaria ali.

— Sou amigo de todos os integrantes e apenas um espectador — respondeu lacônico e tomou um gole de café. Talvez fosse a primeira conversa entre nós que não envolvesse o clima ou algo da agência.

— O Lys é muito modesto pra dizer que canta bem — Sue soltou, fazendo o cabeleireiro encará-la. — Ele quase entrou pra banda.

— A voz de Castiel combina mais com a sonoridade da Storm Riders — interrompeu e a ruiva apenas me devolveu um sorrisinho, como se dissesse “tá vendo, só?”.

— Não disse que era modesto? — Rimos e o cabeleireiro apenas escondeu o rosto parcialmente atrás da caneca. O interfone tocou. — Deixa eu atender, porque deve ser o rack que eu comprei pra sala.

E assim Sue saiu, deixando a mim e Lysandre sozinhos na cozinha, junto dos pães, das xícaras de café e dos lanches preparados pros integrantes da banda. Ainda podíamos ouvir um pouco da música vazar pela fresta da porta no final do corredor. Entre nós, silêncio. Agora que estávamos sozinhos, ficava um pouco em dúvida sobre...

— Castiel comentou comigo sobre as suas suspeitas acerca de nós dois — ele disse de repente e eu quase cuspi meu café.

Castiel realmente era sincero com seu amigo. Ou talvez ele apenas fez isso porque envolvia os dois. Ou talvez pra darem umas boas risadas. Apesar de tudo, Lysandre não parecia irritado, muito pelo contrário, comia pão como se falássemos sobre o último capítulo da novela no café da tarde. Ou talvez apenas fosse esse o jeito dele de se manifestar. Talvez ele fosse um bom concorrente a Júlia no quesito calmaria.

— Me desculpa, Lysandre, de verdade. Eu não devia ficar dando ouvidos a boatos e... — Comecei mais uma rodada de desculpas, girando a xícara entre as mãos.

Lysandre ergueu a mão, como se para parar meu falatório que não teria fim. Bebeu do seu café e começou a falar:

— Castiel me contou sobre tudo o que falaram acerca desse assunto, não precisa se desculpar. Creio que as reclamações dele tenham sido mais do que suficientes — disse com um sorrisinho, como se tudo aquilo o divertisse, e ri. 

De todos os caminhos possíveis para aquela conversa, esse era um que eu certamente não imaginaria. Aqueles dois eram realmente surpreendentes.

— Apenas agradeço por perguntar sobre isso diretamente a um de nós. — Abaixou os olhos para a xícara, observando o café se movimentar dentro dela. — Não é a primeira vez que alguém tenta invadir nossa privacidade quanto a esse assunto.

Ah, se ele soubesse... Senti meu rosto queimar de vergonha, lembrando-me de tudo que eu e Júlia fizemos nas nossas frustradas tentativas de paparazzi. Bem, ninguém além de nós precisava saber, agora que estava tudo esclarecido.

— Mas vocês dois não se importam em desmentir? Tipo...

— Boatos rolam o tempo na agência. Você irá descobrir com o tempo — me interrompeu, em um certo tom de “sabedoria”. — Assim que esse boato acerca de nós for diminuindo ao longo do tempo, logo outra pessoa será o alvo.

— As modelos podem ser bem maldosas às vezes — comentei e o cabeleireiro assentiu. Ele estava até mais ciente do que eu quanto a isso.

Enquanto toda essa conversa rolava, ouvíamos uma barulhada vinda da sala, com o rack sendo montado, se misturando com o ruído baixo da música. Apesar de tudo, nunca que eu me imaginaria tendo uma conversa tão agradável com Lysandre.

...

— O que as senhoras ficaram tricotando na cozinha? — Castiel questionou enquanto dirigia o carro, levando a mim e a Lysandre para casa. Como o prédio do cabeleireiro não ficava tão longe, ele optou por sentar-se no banco de trás, deixando o do carona pra mim.

Já era quase sete horas da noite e começava a escurecer. Os rapazes da Storm Riders ensaiaram bastante, tanto que, quando saíram do quarto/estúdio, eu e Sue já havíamos comido boa parte dos pães e Lysandre tomado várias xícaras de café. 

Depois de brincadeiras e consumir o que sobrou, nós três fomos os primeiros a ir embora. Segunda-feira era dia de trabalho e Lysandre tinha hora pra acordar. Diferente de mim e de Castiel, que sabe lá quando teríamos casting ou algum outro trabalho de novo.

— Inteirei Marimar sobre nossa conversa de ontem — Lysandre respondeu a pergunta e eu só queria ser pequeninha e ir escorregando pelo banco do carro.

Sinceridade é tudo entre esses dois, não é mesmo?

— Até agora não consigo acreditar que você achava... — Castiel sequer completou o pensamento, começando a rir no exato momento.

Olhei para trás de soslaio, vendo um sorriso no rosto do cabeleireiro, com certeza segurando o riso. 

— Ela tá queimando de vergonha, Lysandre — Castiel comentou com o amigo e eu me surpreendi em como ele conseguia prestar atenção em mim enquanto dirigia.

— Não vão dizer que nunca na agência alguém veio perguntar isso pra vocês? Impossível eu ter sido a primeira! — Quase joguei as mãos pro alto, exasperada.

— Tiveram outras ocasiões — Lysandre respondeu.

— E rimos em todas elas — Castiel finalizou com uma gargalhada.

O modelo manobrou e estacionou o carro no meio fio. 

— Tá entregue — o modelo anunciou para o amigo. — Depois te mando mensagem no grupo.

Lysandre assentiu a abriu a porta do carro, fazendo com que o vento frio entrasse. O outono francês parecia ser mais pesado do que o brasileiro.

— Boa noite, Castiel, Marimar. — Com isso, ele foi embora.

O modelo voltou a manobrar o carro e a figura de Lysandre caminhando para seu prédio foi se distanciando.

— Eu achava que o Lysandre me odiava — comentei e Castiel parou de mexer no rádio do carro, surpreso.

— Por que ele ia te odiar? — questionou, plugando um pen drive na entrada USB.

— Não sei… Ele era bem seco nas respostas…

 

"All aboard hahahaha"

 

Dei um pulo no carro, tomando um susto quando a música começou a tocar. Castiel riu e mudou pra próxima.

— O Ozzy é estranho, mas não precisa ter medo dele — comentou e uma canção mais calma começou, com um sintetizador à lá anos 80.

— Isso parece com as músicas que o meu pai ouve — disse, apenas olhando para o caminho que fazíamos.

— Seu pai tem bom gosto — retrucou com seu sorriso de canto.

 

"Wasted days, and sleepless nights

An' I can't wait to see you again”

 

“Dias desperdiçados e noites sem dormir

E eu mal posso esperar pra te ver de novo”

 

Entre entrar no modo nostálgico por me lembrar do meu pai — que eu sentia falta —, resolvi analisar aquela letra.

— Meio romântico isso aqui, né?

— A maioria das músicas do Whitesnake são sobre amor — ele respondeu, ainda focado na rua à frente.

Apenas assenti, observando o asfalto passar através do vidro do passageiro.

 

"I find I spend my time

Waiting on your call

How can I tell you, babe

My back's against the wall

I need you by my side"

 

“Percebi que passo meu tempo

Esperando a sua ligação

Como eu posso te dizer, meu bem

Estou contra a parede

E preciso de você ao meu lado”

 

Olhei para Castiel enquanto aquela letra toda melosa tocava. Ele percebeu que era encarado, através da visão periférica, e só não desviou os olhos pra mim porque precisava manter-se focado.

— O que foi?

— Nada… A gente saiu várias vezes desde quinta, né? — Isso porque ainda era domingo.

— E você não gostou? — Arqueou uma sobrancelha.

— Claro que eu gostei! — E quem não iria gostar de sair com o crush? Pelo menos agora eu estava sóbria o bastante. E, principalmente, não precisava me preocupar com vomitar em ninguém. — Eu só achei que você não fosse me convidar outra vez, depois do vexame no pub.

Um sorriso se formou no rosto de Castiel, talvez se lembrando de toda a vergonha que passei.

— Eu também gostei do tempo que a gente passou junto, Marimar, por isso te chamei pra sair de novo. — Ele me olhou com seus olhos cinza e justamente naquela hora um semáforo tinha que fechar.

Minha respiração quase falhou por um instante e fiquei sem saber o que responder. 

 

"Is this love that I'm feeling

Is this the love that I've been searching for

Is this love or am I dreaming"

 

“É amor o que estou sentindo?

Esse é o amor que eu tenho procurado?

Isso é amor ou estou sonhando?”

 

— Nunca imaginei que eu estaria na França vivendo isso. — Suspirei. — Parece até um daqueles romances clichês, da menina que sai com o artista que ela gosta.

O semáforo abriu e Castiel soltou um riso abafado quando voltou a dirigir. Estava quase na rua da minha casa. A música continuava tocando e as declarações românticas rolando soltas na letra. Por que tinha que tocar esse tipo de coisa justamente em momentos assim?

— Não sabia que você gostava de ler essas coisas.

— Falta do que fazer. — Dei de ombros e rimos.

O carro parou. 

— Tá entregue. — Ele apoiou o pulso sobre o volante, voltando-se pra mim.

 

"An' I can't wait too see you again

So I can hold you in my arms"

 

“E eu mal posso esperar pra te ver de novo

Para que eu possa te envolver em meus braços”

 

— Então… — Brinquei com os dedos pelo cinto de segurança, me atrapalhando de novo pra soltá-lo e sem saber o que responder.

Castiel esticou o braço e apertou uma parte, fazendo o cinto afrouxar. Meus dedos roçaram os seus de leve.

— Agora já sabe como soltar da próxima vez — zombou um pouco da minha trapalhada.

— Então vai ter próxima vez? — inquiri em um misto de empolgação com surpresa.

Eu estava bem lúcida dessa vez. Mas parecia muito com um sonho.

— Se você quiser que tenha uma próxima vez. — Sorriu de canto, deixando a decisão nas minhas mãos.

 

"Is this love or am I dreaming

This must be love

'Cause it's really got a hold on me"

 

“Isso é amor ou estou sonhando?

Isso deve ser amor

Pois isso realmente tem um controle sobre mim”

 

— É claro que eu quero! — respondi num tom meio menina/como proceder com o crush? Eu tinha que descer do carro, não?

— Então tem uma próxima vez. — Berrei por dentro, mesmo que ele dissesse isso como se fosse a coisa mais simples.

Talvez fosse mesmo.

— Então… Até a próxima. 

Com isso, me aproximei para um beijo de despedida. Senti sua mão tocar meu braço e deixei que ele me aproximasse de si ainda mais, cobrindo meus lábios com seus com o ritmo que deveríamos ter tido naquela noite.

Não havia mais toda aquela pressa e desespero da minha parte. Assim como Castiel, eu aprendi a ir mais devagar e aproveitar o momento como deveria.

Completamente lúcida enquanto nos beijávamos em seu carro.

 

"Is this the love that I've been searching for

Is this love or am I dreaming

Is this the love that I've been searching for"

 

“Esse é o amor que tenho procurado?

Isso é amor ou estou sonhando?

Isso é o amor que tenho procurado?”


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Notas finais do capítulo

Is This Love, Whitesnake: https://youtu.be/GOJk0HW_hJw
Ester:
Isso não é dólar nem euro, dona Marimar, é reaaaaalll!!! Ela pode estar vivendo um clichê, mas todas nós temos aquele clichezinho que amamos -q
Até mais, povo o/

Bia
Ai, gente, como não suspirar junto da Mari? Temos que concordar que ela está vivendo um clichê -q
Até mais o/



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