Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 12
Balas


Notas iniciais do capítulo

Bia:
Oie!
Talvez alguns leitores surtem um pouquinho xD
Boa leitura!



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Quando Marimar chegou em casa, falando toda animada sobre a roupa que comprou no brechó que ficava no térreo do nosso prédio, eu já estava arrumando a mala com os equipamentos que usaria de noite.

— Nossa, essa jardineira é a sua cara — comentei assim que ela puxou a roupa da sacola e a colocou em frente ao corpo.

— Sério mesmo? A Fabi disse que ficou ótimo em mim, mas dá pra desconfiar desses papos de vendedora.

Eu dei risada. — Sim, combina mesmo com você. — Fechei a mala com tudo pronto. — Eu preciso sair às três, então vou almoçar e ver alguma roupa decente.

— Quer ajuda?

— Quero.

Depois de almoçar, Marimar e eu ficamos na frente do guarda-roupa por pelo menos uma hora. Ela queria que eu me vestisse como se eu fosse a aniversariante, mas tive que dizer diversas vezes que o fotógrafo precisava ser discreto, e sua única função era tirar fotos, e não chamar atenção dos convidados.

Algumas pequenas discussões sobre as cores que eu devia usar passaram, e eu optei pela vestimenta clássica dos fotógrafos. Calça, camisa e sapatos pretos. Claro que minha amiga resmungou sobre eu estar “apagada demais”, mas eu prometi que a deixaria me vestir em outra oportunidade.

Saí um pouco mais cedo de casa, pois franceses odiavam atrasos, e esperei em um café próximo ao salão de festas até o horário combinado. De lá, as horas passaram voando, e três cartões de trinta e dois GB ficaram lotados até o fim da noite. Lá para as duas da manhã, pude chamar um Uber e voltar para casa, completamente exausta.

Domingo foi o dia da preguiça. Tanto Mari quanto eu acordamos depois do meio dia, não almoçamos, e pedimos comida mexicana no jantar.

...

Corri para deixar a bicicleta no estacionamento e voei para dentro do prédio. Eu estava completamente molhada, o cabelo pingando água e minhas meias faziam barulho dentro dos tênis.

Talvez seja o universo dizendo para eu parar de vir de bicicleta. Pelo menos quando o tempo estiver ruim.

Fui rapidamente para o elevador, porque eu não tinha forças para subir de escada. Apertei o botão e, assim que ele chegou, outro trovão soou, fazendo o chão tremer. Entrei no cubículo e acionei o terceiro andar. Antes que as portas se fechassem, uma mão as segurou, as fazendo abrir novamente, e Rayan entrou, sem fôlego, apenas com os ombros molhados.

— Uau. Acho que você está pior do que eu — comentou entrando, dando uma olhada no painel. As portas se fecharam.

— Acho que sim. Eu sempre esqueço de deixar uma capa de chuva na mochila.

O elevador se movimentou. Três segundos depois, parou, e as luzes apagaram.

Olhamos para cima ao mesmo tempo. A luz vermelha de emergência acendeu.

— O gerador vai ligar — informou ele.

O elevador voltou a subir, para nosso alívio. Logo parou e abriu as portas.

Para a parede.

E não se mexeu mais.

Rayan foi até o painel e apertou o botão de emergência, parecendo estar um pouco aflito. Apertou três vezes e olhou para cima novamente.

Suspirei, sentindo os ossos gelando, e me sentei no chão. Abracei minhas pernas para tentar me esquentar, o que provavelmente não funcionaria, não com aquelas roupas molhadas.

— Você está bem? — Ele indagou, preocupado.

— Sim, só estou com frio. — Prontamente, Rayan tirou seu casaco. — Não, não precisa.

— Tudo bem, você está encharcada. Eu não estou com frio. — Ele abriu a peça e a colocou sobre os meus ombros.

— Obrigada.

Mais uma vez, ele apertou o botão de emergência. Não ouvimos nenhum outro barulho além dos trovões ocasionais. Então, ele se sentou ao meu lado, na outra parede do cubículo, cruzando as pernas.

Conforme respirava, sentia o perfume que exalava de sua roupa. Era bom. Muito bom. Ele tinha bom gosto para perfume. Aconcheguei mais a peça em volta do meu pescoço. Sentia até o meu nariz congelando. Já Rayan arregaçou as mangas da camisa social e abriu o primeiro botão do peitoral.

Pelo jeito, ficar preso em um ambiente pequeno não era nada agradável para ele.

Abri minha mochila e peguei duas balas de maçã-verde. Estendi uma para ele.

— Quer uma bala? — Ele hesitou. — É do Brasil. E azeda.

Rayan engoliu, como se estivesse com a garganta seca, e pegou a bala. Abriu e a colocou na boca. Fiz o mesmo.

— Mastiga — sugeri.

Assim que ele mordeu a bala, fez uma careta. Ou várias. Eu comecei a rir enquanto mastigava a minha, já imune.

— Eu trouxe dois sacos dessa bala pra cá quando me mudei — comentei. — Sempre fui viciada, desde pequena.

Ele deve ter engolido dois litros de saliva depois que começou a comer a bala, mas pelo menos pareceu gostar.

— E não vende aqui?

— Não, já procurei em vários mercadinhos brasileiros, mas não vende. Então, eu peço para alguém da minha família me mandar... Parece que o sabor fica acentuado se você fechar os olhos. — Fechei os meus, esperando que ele também o fizesse. Esperei alguns segundos e dei uma espiada. Ele também fechou. — Consegue sentir os sabores?

Estávamos ouvindo apenas nossos dentes mastigando.

— Azedo e doce ao mesmo tempo.

Abri meus olhos e o observei. Seus cabelos, normalmente arrumados, estavam úmidos e pouco fora do lugar. Sua barba estava baixa, provavelmente tinha a feito hoje ou ontem. — Cítrico. Doce. Até demais, se você focar nele. Mas foca no cítrico. O maxilar chega a travar, às vezes.

E só porque eu falei, vi seu maxilar travar rapidamente, e um sorriso surgir em seus lábios. Sorri junto, feliz por ter tirado o foco dele na nossa prisão repentina.

Seus olhos verdes se abriram e me avistaram. Graças àquilo, senti meu rosto mais quente.

Rayan desviou o olhar para a embalagem em suas mãos. — Muito boa. Vou pedir para você me vender algumas.

Voltei à mochila, peguei mais quatro balas e as ofereci. — Pode pegar. Te vendo um saco delas quando conseguir mais.

— E você vai ficar sem?

— Ainda tenho algumas em casa.

Considerando, ele ergueu a mão, e eu deixei as balas em sua palma. Me senti idiota por me sentir envergonhada com um toque tão bobo como aquele.

— Eu trouxe várias coisas do Brasil, na verdade.

— Como o quê? — indagou ele, abrindo outra bala e a colocando na boca.

— Paçocas, um doce feito de amendoim; doce de abóbora, doce de goiaba que chamamos de goiabinha... Sem falar comidas mesmo, tipo feijão, canjica, polvilho doce... Aposto que nunca ouviu falar dessas coisas.

— Feijão tem aqui, não?

— Tem, mas não é a mesma coisa. Aliás, nada é a mesma coisa, nem a farinha de trigo, nem o fermento, nem o açúcar... É estranho. Ainda bem que eu não sou tão apegada a essas coisas.

Ele sorriu. — Você me parece ser uma pessoa extremamente calma.

— Eu sou. Dizem que até demais.

— Se não fosse pela sua tranquilidade, eu provavelmente teria surtado aqui dentro. Então, muito obrigado.

— Não há de quê. Podemos repetir a experiência — brinquei.

— Não aqui dentro.

Antes que eu tivesse tempo de ficar com vergonha, ouvimos barulhos acima de nossas cabeças. Alguém pisou no teto do elevador.

— Tem alguém aí?

— Sim — respondeu Rayan rapidamente, levantando. — Por que demorou tanto?

— Tinham outras pessoas presas no outro elevador. Vamos subir um pouquinho para chegar no terceiro andar.

Segundos depois, o elevador se moveu. Levantei e puxei o casaco do Rayan, mas ele o puxou de volta.

— Fique com ele até o fim da aula. Não insista.

Sorri, sem graça, e as portas se abriram, dessa vez para o corredor.

Agradecemos ao senhor que nos ajudou e saímos, aliviados. Vesti o casaco, vendo que ele ficara grande, e eu apenas dobrei as mangas duas vezes.

— Estarei na minha sala no fim da aula — informou ele, parando para observar sua roupa em mim, me deixando ainda mais envergonhada.

— Tá, vou devolvê-la depois. Obrigada.

— Por nada. Boa aula.

— Pra você também.

Ele seguiu para o fim do corredor. Eu entrei na minha sala, com algumas pessoas, e me sentei no meu lugar, com a cabeça longe.

Cinco minutos de aula depois, percebi que a energia tinha voltado.

...

Naqueles momentos eu agradecia ao universo por não existir lentura de mente, ou o professor saberia que eu mal prestei atenção na aula. Eu me senti culpada, coisa que esqueci assim que fomos liberados.

Esperei todos saírem da sala, e só depois coloquei a mochila nas costas e o casaco no braço. Na metade da aula já tinha o tirado, pois estava ficando quente novamente. Minhas roupas ainda estavam molhadas, só não tanto quanto antes.

Fui para o corredor, vendo que estava vazio, e segui para a última sala, parando na frente da porta.

Rayan estava apagando a lousa com um apagador, e eu precisei entrar para ele me perceber, já que parecia bem absorto em pensamentos. Ele se virou para mim.

— Obrigada mais uma vez. — Deixei a peça em cima da mesa

— Por nada. Espero que você não fique doente.

— Eu já peguei tanta chuva, não sei como ainda não fiquei — falei rindo.

— Precisa lembrar de andar com uma capa. É perigoso ficar tomando chuva sempre.

— Eu sei. Vou comprar uma assim que der... Melhor eu ir. Até mais.

— Vá com cuidado.

— Pode deixar. — Acenei e dei um sorrisinho, recebendo outro de volta.

Voltei ao corredor e senti o ar frio do prédio. Estava abafado lá dentro, né?


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Notas finais do capítulo

Bia:
Vocês ficariam com essa calma toda? Eu ia surtar legal kkk
Até mais o/

Ester:
E dona Júlia a calma em pessoa, presa no elevador? Com uma companhia dessas, não é de estranhar -q
Até mais, povo o/



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