Hajime Hanami escrita por Aislyn


Capítulo 1
First love


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786622/chapter/1

Kurosaki Katsuya gostava muito do que fazia; demorou um bom tempo para escolher o curso de veterinária, mas não se arrependia, mesmo que alguns dias fossem mais difíceis que os outros, ou às vezes cansativos, como quando tinha alguma cirurgia.

 

Aquele foi um desses dias, mas por sorte o fim de semana havia chegado e poderia descansar. Trancou as portas da recepção após a saída do último cliente, colocando o jaleco sujo no cesto e depois subindo para o primeiro andar, onde morava com a família.

 

A casa estava silenciosa naquele final de tarde. Os pais haviam saído para jantar com alguns amigos e o namorado avisou mais cedo que dormiria na própria casa, pois teria um jantar de negócios e não sabia o horário que iria terminar. O único cômodo ocupado era o quarto de Mayu, sua irmã mais nova, que assistia alguma coisa abraçada à uma almofada.

 

— Cheguei! Vamos pedir alguma coisa pra jantar ou vamos tentar explodir a cozinha? – Katsuya questionou divertido ao entrar no quarto, massageando a nuca enquanto se sentava na ponta da cama e a menina pausava o vídeo, pensando na proposta.

 

— Vamos pedir! Quero comer takoyaki! – num pulo ela se jogou para o outro lado do colchão, alcançando o celular e procurando o telefone de algum restaurante que fazia entregas. Katsuya não imaginou que chegaria o dia em que teria inveja daquela alegria. Ele estava exausto!

 

Pedido feito, o rapaz informou que ia atrás de um banho, questionando, apenas para manter a conversa, se o que a irmã estava assistindo era bom e, após uma afirmativa, disse que ia fazer companhia pra ela, oferta que foi aceita imediatamente. Gostavam de fazer esses programas de irmãos, fosse jogando ou assistindo qualquer coisa juntos. As brigas existiam, mas eram extremamente raras, Katsuya sendo dotado de grande paciência para escutar sem retrucar, e quando necessário, ele cedia, mesmo estando certo.

 

* * *

 

A comida não demorou a chegar e jantaram no quarto mesmo, enquanto assistiam ao anime, Katsuya não conseguindo se lembrar quando a irmã começou a acompanhar aquele gênero. Sabia que Mayu gostava de romance, mas não com foco em dois rapazes. Algumas cenas o deixaram desconfortável, talvez por imaginar que nunca faria com Mikaru, mas o que realmente o incomodou foi uma frase dita sobre o primeiro amor não se tornar verdadeiro. Era só um anime, mas sendo um romance, não devia sugerir que o final seria feliz? Remexeu-se inquieto, analisando as relações de todos os amigos que tinha, e notou que a maioria que começou a namorar no colegial não estava mais junta. O mesmo valia para os que começaram a namorar na faculdade. Talvez um ou dois deles ainda mantinha o namoro, mas nenhum dos relacionamentos avançou para um noivado ou casamento. Por fim se pegou pensando em Izumi e Shiroyama… tinha certeza que Takeo não era o primeiro amor de Izumi, pois ele já havia comentado algo a respeito, sobre um namoro que acabou quando veio para Tóquio. Analisando o outro lado, ouviu falar que Takeo teve vários casos na adolescência, mas não sabia o que ele pensava sobre amor verdadeiro. Quanto a ele, ao relacionamento dele, foi aquilo que o deixou mais pensativo. O primeiro amor de Mikaru, seu namorado, foi Takeo, que agora estava com Izumi, então não havia se concretizado para o empresário… mas ele… Mikaru era o primeiro amor dele. Será que aquilo era um sinal de que algum dia chegaria ao fim?

 

Naquela noite, Katsuya foi dormir totalmente exausto, física e psicologicamente. Como se já não bastasse o dia de trabalho puxado, somou a isso os pensamentos sobre seu namoro e se um dia ele seria mais um daqueles na lista dos que não tiveram o primeiro amor realizado.

 

Acordou se sentindo estranho na manhã seguinte, a claridade incomodando seus olhos e o fazendo lembrar que dormiu muito tarde, a cabeça cheia de dúvidas, constatando que ainda estava esgotado. Quando prestou atenção ao seu redor é que ouviu o leve som do teclado em uso, notando o namorado sentado em sua mesa de estudos. Quando ele havia chegado ali?

 

— Bom dia… – murmurou enquanto se virava e esticava no colchão, ficando de frente para o empresário, que parou o que fazia para encará-lo de volta, levantando da cadeira e sentando ao seu lado na cama.

 

— Achei que estivesse ficando doente. – Mikaru murmurou num tom preocupado, levando a mão à sua testa, gesto que o deixou surpreso pelo carinho contido ali – Nunca te vi dormindo até tão tarde…

 

— O trabalho foi puxado ontem… depois fui assistir algumas coisas com a Mayu… perdi a hora de dormir… – Katsuya explicou em tom sonolento, gostando demais daquela carícia em seu rosto – Chegou tem muito tempo?

 

— Por volta das nove. Já é quase meio-dia. – Mikaru explicou, imaginando que a pergunta viria a seguir – Pensei em te chamar, mas Mayu comentou que você parecia tenso, achei melhor te deixar descansar.

 

— Mesmo assim… deixou demais… – se os carinhos no rosto estavam bons, vê-lo se acomodar ao seu lado no colchão foi inesperado. Num ímpeto, Katsuya se afastou um pouco, encarando Mikaru em dúvida, sendo encarado de volta da mesma forma.

 

— Algum problema?

 

— Não… eu… só não esperava… – sentia seu coração bater tão rápido e forte, que pareciam socos do lado de dentro. Não conseguiu não desconfiar da situação. Mikaru sendo atencioso e carinhoso era tão raro. E se alguma coisa tivesse acontecido? E se aquela atitude fosse a calmaria antes da tempestade? Se fosse um prenúncio do fim?

 

— Tsc… como se eu nunca fizesse isso… – Mikaru levantou no mesmo instante, ajeitando a roupa e se afastando para a saída – Te espero na mesa.

 

— Espera! – mas a porta foi fechada como resposta.

 

O que estava fazendo, agindo como se Mikaru nunca tivesse lhe dado atenção? O namorado tinha seus momentos, na maioria das vezes evitava demonstrar o que sentia, principalmente perto de estranhos, mas quando estavam sozinhos, não tinha do que reclamar. Ele sempre o escutava, fosse sobre o trabalho ou algo na família, até mesmo o menor dos problemas ou algo idiota que o fez rir, também gostava de assistir filmes ao seu lado, com a cabeça em seu ombro ou as mãos entrelaçadas e até aceitava seus convites para sair, para qualquer lugar que fosse, mesmo que parecessem dois colegas aos olhos dos outros.

 

Havia se precipitado.

 

Levantou da cama e se trocou, indo se reunir com a família para o almoço. Mikaru conversava com sua irmã, mas não o encarou e nem pausou o assunto quando entrou no cômodo. Só de estar ali já era um bom sinal pois, se estivesse mesmo chateado, ele teria ido embora.

 

— Não está exagerando no trabalho, está? – a mãe questionou preocupada quando o rapaz se aproximou, tomando seu lugar na mesa.

 

— Não estou, foi só ontem. Tive que fazer alguns procedimentos de última hora.

 

— Por que não tira uma folga prolongada por alguns dias?

 

— Eu pareço tão cansado assim? – Katsuya ergueu o olhar para a mãe, depois encarou o pai, incomodado com toda aquela insistência.

 

— Digamos que se fizer mais alguns extras, vão dizer que estou te influenciando de um jeito ruim. – Mikaru se intrometeu quando sentou ao seu lado, o comentário saindo despreocupado – Deixe o vício em trabalho pra mim, faça as coisas no seu ritmo, como sempre fez.

 

— Três contra um, não vou nem contestar.

 

— Eu não dei minha opinião ainda! – Mayu sentou ao lado do cunhado, sorrindo para o irmão quando ele lhe deu atenção – Você está horrível! Dormiu enquanto assistia anime comigo! Nem sei como conseguiu ir pra sua cama.

 

Katsuya ia retrucar, mas Mikaru começou a rir baixinho, sendo acompanhado pelos pais. Era melhor ouvir o conselho e descansar, já que foi unânime.

 

— Ok, vou remarcar algumas consultas da semana que vem e sair mais cedo na sexta. Tudo bem assim?

 

— Folga na sexta. Temos compromisso. – contou Mikaru.

 

— Temos? – Katsuya tentou se lembrar de algo que combinaram, mas nada vinha a mente. Recebeu apenas um aceno afirmativo do namorado, mas nenhuma explicação. Achou melhor deixar de lado e perguntar depois, já que o almoço foi servido.

 

Pelo menos Mikaru estava conversando normalmente, o que realmente era um bom sinal. Ia chamá-lo para esclarecer a situação depois. Foi um erro dele e nem sabia porque havia feito aquilo. Talvez ainda estivesse com sono e por isso estranhou a aproximação.

 

Contudo, assim que voltaram para o quarto, Mikaru fechou a expressão, caminhando até a outra ponta do quarto e parando em frente a janela, encarando a rua abaixo.

 

— Você está chateado comigo, não é? – Katsuya arriscou, inseguro.

 

— Parece que você, assim como todos à minha volta, gosta de comentar sobre o que eu faço ou deixo de fazer, o que combina ou não comigo e como devo agir em determinadas situações.

 

— Não… eu entendi errado aquela hora. Ainda estava com sono e-

 

— Não esperava que eu ficasse por perto, porque não sou assim e não faço isso normalmente, não é? Eu devia apenas olhar de longe, fingindo desinteresse, sem me preocupar.

 

— Mikaru…

 

— Assim parece que nunca me aproximo de você. Eu estou distante?

 

— Achei que quisesse terminar comigo. – Katsuya desabafou o que o incomodava, com a certeza que parecia um idiota.

 

— Como? – Mikaru esperou que o namorado repetisse, mas a explicação não veio – O que eu fiz pra você pensar isso? Estou te tratando tão mal assim?

 

— Não! Pelo contrário! Você me tratou tão bem, foi tão atencioso e carinhoso… pensei que quisesse compensar por algo ruim que viria depois…

 

— Continuo tendo a impressão que estou sendo horrível com você. – Mikaru suspirou frustrado, voltando para o meio do quarto e se sentando na cama – Precisa me falar quando eu fizer algo que te magoa. Às vezes estou distraído com o trabalho e não presto atenção no que falo ou então falo da forma errada…

 

— Você não fez nada de errado… Eu fiquei pensando em coisas que não devia ontem a noite, por isso fui dormir tarde. Acabei sonhando com isso, que você terminava comigo. Aí quando você apareceu aqui, preocupado, eu achei que era bom demais pra ser verdade.

 

— Então foi um mal entendido?

 

— Bom, sim… acho que sim…

 

— De onde veio isso? – Mikaru estendeu a mão, chamando Katsuya para se aproximar – Essa desconfiança?

 

— O programa que vi com Mayu ontem… – Katsuya murmurou envergonhado, se sentindo uma criança enquanto juntava as mãos e entrelaçava os dedos aos do namorado – Teve uma frase que ficou martelando na minha cabeça a noite toda e não consigo sentir que seja falsa.

 

— Está assim por conta de um anime? – Mikaru encarou-o incrédulo, pensando se teria que contatar Takeo para que ele falasse com o tal amigo otaku da banda. Não sabia lidar com aquele estilo. Se fossem jogos, talvez…

 

— ‘O primeiro amor não vira realidade’, ou algo assim… repassei todos os casais que conheço, de todos os amigos e conhecidos, do colégio e da faculdade, até o pessoal da cafeteria, nenhum deu certo com a primeira pessoa que se apaixonou.

 

— E isso te incomoda porque…

 

Katsuya sentiu o rosto queimar, sem conseguir colocar em palavras. Mikaru não costumava soltar declarações tão abertamente e ele acabou por se conter também, para não deixar o namorado envergonhado. Agora não sabia como falar a respeito.

 

— Eu sei que sou seu primeiro namorado, mas-

 

— Primeiro em tudo. – Katsuya conseguiu baixar ainda mais o tom de voz, obrigando Mikaru a se inclinar em sua direção para ouvir – Primeiro namorado, primeira vez, primeiro amor…

 

— Ah… sério? Nenhuma paixonite na infância? Algum coleguinha de classe? Alguém de algum clube?

 

— Não que eu me lembre…

 

Mikaru não parecia incomodado com a confissão, então por que ainda estava com vergonha? Esperava algum outro tipo de reação do namorado? Talvez vê-lo mais feliz pela descoberta? Era possível que Mikaru já soubesse, ele era um homem inteligente, afinal de contas. Em contrapartida, ainda se sentia um adolescente.

 

— Não sei se isso te ajudaria a acalmar, mas nós já terminamos e reatamos. Então, o eu do passado seria o seu primeiro amor. O eu de agora é um novo. O que acha? – mesmo que tentasse disfarçar, era possível notar um leve tremor na voz de Mikaru. O empresário não estava acostumado a falar de seus sentimentos tão abertamente e de forma tão leviana – Bom, também podemos usar uma expressão conhecida e culpar sua mãe. – ao ser encarado em dúvida, Mikaru continuou – Ela nunca disse que ‘você não é todo mundo’? Só porque o anime disse que o primeiro não vira realidade, não quer dizer que isso sirva pra todo mundo. Você pode ser uma exceção.

 

Katsuya sabia que o namorado estava tentando animá-lo e conseguiu! Não tentou disfarçar o sorriso de satisfação. Foi uma das melhores coisas que ouviu vindo de Mikaru!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O próximo capítulo é uma cena extra.
Até lá~



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hajime Hanami" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.