Bella sabia que, provavelmente, Edward não estaria mais ao lado dela quando acordasse. Mas constar aquele fato não deveria doer tanto. Ela não estava apaixonada por ele, mas tinha sentimentos que não deveria ter. Sentimentos que a faziam querer acordar ao lado dele e retomarem o que estavam fazendo durante a noite. Ela queria que as coisas fossem mais simples... Não era só a diferença de idade que atrapalhava tudo. Bella teve um casamento terrível e não queria repetir a experiência.

No começo tudo era maravilhoso. Não havia defeitos e nem complicações. Então, tudo mudava. Edward era jovem e jovens eram volúveis. Ele dizia que a amava, mas o que ele sabia sobre amor? Como podia ter certeza do que queria sendo tão jovem? Não, ela não se arriscaria novamente. Não entregaria o coração para ser destroçado uma segunda vez.

E dessa vez tinha mais pessoas envolvidas. Pessoas que ficariam magoadas se descobrissem o deslize dela. Era hora de levantar e esquecer tudo o que tinha feito. Edward continuaria a ser o melhor amigo do filho dela e nada além disso.

—Bom dia, mãezinha. – Bella estava terminando o almoço quando o filho entrou na cozinha.

—Parece que a festa foi boa. – Apontou para o sorriso largo dele.

—Foi ótima. Pena que o Edward saiu cedo. Ele disse que estava cansado, então tive que aproveitar por ele. Estava com saudades da Rose. – Confidenciou sentando-se na bancada. – Queria que fossemos para a mesma universidade.

—Vocês não estarão tão longe. Podem se ver todo final de semana. – Colocou a travessa com salada em cima da mesa. – Pode pegar os pratos? – Apontou para o armário.

—Sim, mas não vai ser a mesma coisa. – Ele arrumou a mesa. – Também vou sentir a sua falta, mãe. Não quero que você fique sozinha.

—Filho. – Bella colocou a mão no ombro dele. – Estou bem. – Ele a olhou com desconfiança. – Juro que estou bem. Passei por uma fase difícil, mas já superei isso. Estou mais forte do que nunca.

—Me promete que se precisar de qualquer coisa vai me ligar imediatamente? Qualquer coisa e eu venho voando.

—Prometo. Quero que se preocupe apenas com os seus estudos. Quero que tenha uma carreira brilhante.

—Vou te deixar orgulhosa, mãe. – Prometeu dando um beijo no topo da cabeça dela. – Vamos comer só salada ou tem algo mais?

—Depois de quase dois meses e de você voltar tão magrinho acha mesmo que eu iria fazer você comer só salada? Macarrão com queijo, costelas de porco e molho barbecue e torta de maçã. – Foi apontando colocando as travessas em cima da mesa. – Fiz brownie também. – Ele sorriu animado. – Me conte tudo sobre a viagem.

—Foi incrível demais... – Bella ouviu com atenção cada palavra do filho. Ele não merecia ser magoado e era o principal motivo para ela esquecer Edward por completo.

[...]

—Pronta para arrasar? – Emmett sorriu para a mãe. Os dois passaram a tarde toda vendo as fotos da viagem.  – Está diferente. – Não era só o cabelo e as roupas novas, a atitude dela estava mais confiante e ela parecia mais feliz também.

—Meu bebê está de volta, estou feliz por isso. - Apertou a bochecha dele. Era noite de karaokê, o passatempo preferido deles. – Edward vai nos encontrar lá? – Tentou soar casual. Ela tinha se preparado o dia todo para vê-lo novamente, tudo voltaria a ser como era antes.

—Não. Essa noite somos só nós dois. Edward foi para a universidade. – Bella apoiou no sofá. Ela tinha partido o coração dele. Estava tão preocupada com o dela que não pensou nele. – Ele vai começar uns cursos para estar preparado quando as aulas começarem de verdade. Coisa de nerd. Estamos de volta e em menos de 24 horas ele já foi estudar. – Riu e olhou preocupado para a mãe. – Tudo bem?

—Uma dorzinha de cabeça, mas nada importante. – Balançou a mão ignorando o falso problema. – E você, não pretende seguir os passos do seu amigo?

—Não mesmo. Quero aproveitar cada segundo de liberdade que ainda tenho. – Emmett se sentou no sofá e esticou as pernas. – Mãe, acho que tem algo de errado com o Edward. – Bella pigarreou e se colocou atrás do filho para não ter que encará-lo.

—Só porque ele foi mais cedo para a universidade? – Emmett inclinou, olhando para a mãe.

—Não. Ele está escondendo alguma coisa de mim. – Levou as mãos ao queixo, pensativo. – Será que ele é gay?

—O quê? Não! – O filho não pareceu notar o comportamento estranho dela. – Ele nunca deu nenhum indício de que fosse gay.

—Não. É claro que não. Ideia idiota a minha. Não que se ele for tenha algum problema. Ele é meu melhor amigo e isso nunca vai mudar. Só estou preocupado com ele. As europeias se jogavam em cima dele e ele parecia nem notar.

—Aposto que elas também se jogavam em cima de você. – Ela olhou para o filho em busca de uma confirmação de que ele não tivesse feito nada que magoasse Rosalie.

—É diferente, mãe. Eu tenho a Rosalie e amo ela. Eu nunca ficaria com outra garota. – Emmett se levantou num pulo. – Ele está apaixonado por alguém. E é alguém que ele não quer que eu saiba. – Andou de um lado para o outro. – Jessica!

—Jessica Stanley?

—Ela é doida por ele. Não consegue nem disfarçar. – Revirou os olhos. – E se ele também gosta dela, é claro que não me contaria. Se ele contasse, eu contaria para a Rosalie e ela ficaria muito brava. As duas se odeiam.

—Odiar não é uma palavra muito forte? – Ela sabia que as duas tiveram algumas desavenças quando crianças.

—Não mesmo. A Jessica fez a Rosalie quebrar a perna no ano passado.

—Aquilo foi um acidente, querido. 

—Não mesmo. – Ele saiu em defesa da namorada. Rosalie tinha a certeza de que Jessica a derrubara de propósito na pista de gelo. – Sem falar que ela arruinou o vestido da Rose no baile de formatura. Edward não pode gostar da Jessica. – Ele teria que falar com o amigo e alertá-lo sobre o erro que estava cometendo.

—Acho que está imaginado coisa. Ele só deve estar ansioso com a universidade.

—Acho que tem razão. – Ele riu. – Viajei legal agora. Antes de receber os resultados ele ficou super estranho. – Emmett pegou o casaco. – Vamos? Estou com a voz super afinada hoje. Vou até cantar a música do Titanic.

—Isso eu quero ver. – Bella sorriu se esquecendo dos problemas. Ela precisava se desculpar com Edward, e precisava esquecê-lo também. Admitir que nutria sentimentos por ele fora um erro terrível. Mas agora era tarde e ela precisava seguir em frente. Acabar com aquela relação foi a coisa mais sensata que fez. E os dois perceberiam aquilo. Só não sabia quando.

[...]  

—E aí colega de quarto? – Emmett jogou a mala em cima da cama e abraçou o amigo.

—Demorou para chegar. – Emmett se jogou na cama e analisou o quarto em que passaria os próximos quatro anos.

—Nem todos são tão nerds e correm para a universidade na primeira oportunidade. E aí, como são as coisas aqui?

—A biblioteca daqui é incrível. – Emmett gargalhou e jogou o travesseiro no amigo.

—Fala sério, cara. Biblioteca? E as baladas, festas, as gatinhas... Ou gatinhos.

—O quê? – Edward segurou o travesseiro e encarou o amigo.

—Edward, você é gay? – Edward se engasgou com a pergunta. – Não tem problema nenhum se você for. E se alguém disser o contrário eu acabo com ele. Você sempre será o meu amigo e eu estarei ao seu lado.

—Obrigado, Emm. – Ele sabia que sempre poderia contar com o amigo e isso o fazia se sentir ainda pior por mentir para ele. Os dois eram amigos desde os 5 anos e não havia segredos entre eles.

Edward sorriu se lembrando de como os dois se tornaram amigos.

[...]

Era o segundo dia de aula e Edward estava nervoso. Ele não era bom em fazer amizades e estava com medo do menino que sentava ao lado dele. O garoto era o maior da turma e ele sempre apanhava dos garotos maiores no parquinho. Edward não viu que alguém tinha derrubado água no chão e escorregou derrubando todo o lanche. Ele não queria chorar na frente dos colegas, mas todo o lanche dele estava no chão e ele não tinha nada para comer.

—Pode ficar com o meu sanduíche de amendoim. – O garoto grande estendeu a mão para ajudá-lo a levantar.

—Não vai me bater? – O garoto sorriu para ele.

—Claro que não. Sou o Emmett. – Os dois sentaram debaixo de uma árvore.

—Eu sou o Edward. Obrigado pelo sanduíche. – Emmett dividiu o suco com ele.

—Você não fala muito. – Edward passou o dia anterior sozinho, sem saber como interagir com as outras crianças.

—Minha mãe diz que eu sou tímido. Não tenho amigos.

—Então eu vou ser o seu amigo. E vou pedir minha mãe pra fazer sanduíche pra você. Se o seu lanche cair de novo você não fica sem. – Os dois sorriram e desde então se tornaram inseparáveis.

[...]

O último mês foi complicado. Ele se arrependia de ter ido embora no meio da noite, queria ter ficado com Bella, mas no fundo ele sabia que fez a coisa certa. Os dois precisavam de espaço e Bella precisava de tempo para vencer o medo.

— Obrigado mesmo, mas eu não sou gay.

—Tirando aquela menina do seu acampamento, e eu tenho certeza de que ela praticamente abusou de você. – A garota se jogou para cima dele e como Bella ainda era casada na época e ele nunca imaginou que um dia os dois ficariam juntos, ele cedeu as investidas dela. – Nunca o vi com ninguém. Você nunca falou que gostava de alguma garota. – Edward só gostou de uma garota e ele nunca poderia contar aquilo ao amigo. – Você agiu estranho depois que chegamos de viagem. E achei que essa teoria fosse melhor do que a outra. A outra eu nunca poderia aceitar. – Edward engoliu em seco, será que o amigo descobriu tudo? – Que você gosta da Jessica.

—Da Jessica? – Edward riu. – Rosalie me mataria.

—E eu não a impediria. Fala aí cara, o que está rolando? Fiz algo durante a viagem que te deixou chateado? – Era hora de mentir.

—Já que tocou no assunto... Você ronca demais, cara e solta umas bombas terríveis. – Emmett gargalhou. - Não quero perder essa bolsa. – Completou e era em partes, verdade.

—Seus pais são ricos, não é como se fosse o fim do mundo se você perdesse a bolsa.

—Não seria o fim do mundo, mas eu não quero decepcioná-los.

—Você é o cara mais inteligente que conheço. Levanta e vamos dar uma volta pelo campus. Amanhã você volta aos estudos.

—Tem uma lanchonete ótima aqui perto.

—Agora falou a minha língua.

Edward guiou Emmett pelo campus da universidade. Ele estava feliz por ter o amigo por perto. Os dois eram tão diferentes e isso só servia para fortalecer a amizade deles.

[...]

—Mãe, faz mais um? – Emmett pediu observando a mãe preparar o lanche dele.

—Filho, já tem dois.

—Não é pra mim. É pro meu amigo, Edward. O lanche dele caiu no chão e dividi o meu com ele. Só que eu fiquei com fome. – Confidenciou corando.

—Era só o que faltava, ter que sustentar o filho dos outros. – Jacob reclamou dobrando o jornal. – Se o garoto é tonto o problema é todo dele.

—Edward não é tonto. – Emmett defendeu o amigo.

—Vou preparar um sanduíche para ele só por precaução. Foi gentil da sua parte ter dividido o lanche com o seu amigo. – Bella beijou os cabelos do filho.  

—Você mima demais esse garoto. – Jacob a repreendeu. – Ele precisa aprender que a vida não é fácil. Você quis colocá-lo nesse colégio que mal temos condições de pagar.

 -Posso trabalhar para ajudar a pagar a mensalidade. Quero que o nosso filho tenha a melhor educação. Não vou abrir mão disso.

—Se você trabalhar quem vai cuidar da casa? Não seja boba, Bella. – Ele levantou jogando o jornal na mesa. – E você, garoto, aprenda uma coisa. Esses garotos ricos não são seus amigos. Eles têm coisas que nunca poderemos te dar, então não me venha pedir nenhum joguinho ou brinquedo caro. Entendido? – Emmett olhou para a mãe, ele não gostava do pai. – Agora vou trabalhar, já que tenho que sustentar mais um.

—Filho. – Bella agachou para olhá-lo nos olhos. – O que você fez foi muito gentil e quero que você continue assim. Não ligue para o que o seu pai disse.

—Edward vai ser o meu amigo para sempre.

—Claro que vai. E ele terá sorte por ter um amigo tão legal quanto você.

[...]

—Já amo a universidade. – Emmett falou com a boca cheia. Ele estava certo quando disse que eles seriam amigos para sempre. – Melhor hambúrguer de todos.

—Pensei em você quando vim aqui.

—Não é uma loucura que estejamos na universidade? Daqui um tempo teremos empregos de verdade, uma família... O futuro dá medo. Já pensou em como será quando tivermos filhos? – Só havia uma pessoa com quem Edward queria ter filhos e ela não parecia querer o mesmo.

—Cara, acabamos de entrar pra faculdade, não vamos pensar em filhos. E eu nem tenho uma namorada.  

—Eu não quero ser como o meu pai. – Jacob foi um pai terrível.

—Você nunca vai ser como o seu pai. – Edward declarou. – Você se parece com a sua mãe.

—Ela é incrível. – Edward concordava completamente com ele. – Ela disse que está bem, mas eu tenho dúvidas. E se ela tiver uma recaída? Aquela vez na piscina...

—Ela não tentou se matar. – Foi o que Bella disse a ele, e ele acreditava nela. – Deve ter bebido além da conta e acabou caindo.

—Quero acreditar que sim. Ficaria mais tranquilo se ela tivesse alguém. Se eu tivesse um irmão mais novo ajudaria bastante. Alguém para distraí-la e ficar ao lado dela. O trabalho está ajudando e pedi ao Jasper pra ficar de olho nela. Seus pais e os da Rosalie também vão ajudá-la, mas não é a mesma coisa. Ela ainda vai voltar para uma casa vazia.  

—Sua mãe passou por muita coisa, ela precisa de tempo para superar tudo. Podemos dar um cachorrinho pra ela.

—Você sabe que eu sempre quis ter um cachorro. Não vamos ter um justamente quando sai de casa.

—Então só resta confiar que a sua mãe vai ficar bem sozinha. Ela é mais forte do que você pensa.

—O que mais tem de bom aqui? E não fale biblioteca.

—Tem um fliperama incrível por aqui. – Emmett ergueu as mãos.

—Eu amo a universidade.