MEGAN

Quando Amélia me ligou me convidando para a ceia de Natal não pude negar. – Por mais que pra mim, essa data não seja tão feliz assim.

Geralmente não trabalho no Natal. – Como profissional do sexo eu também não trabalhava.

Mas depois de passar alguns anos trabalhando com sexo, pra mim, toda essa magia de “família” acabou.

Me permitir passar o primeiro Natal com as pessoas que me acolheram de verdade. – Meus amigos. – Que não me julgaram, nem me apontaram. – Esse ano seria diferente, já que eu havia saído dessa profissão, e estava me permitindo comemorar com pessoas que gostam de mim.

E posso dizer que a noite foi incrível. – Tirando o Dave que estava lá.

Assim que a ceia acabou, começo a sentir um vazio voltando para o meu apartamento.

Penso em fazer o que fazia em todos os natais. – Espiar minha mãe com a sua nova família ignorando a existência da filha que ela nunca quis, eu.

Depois dela ter escolhido entre mim e meu padrasto eu nunca mais conseguir falar com ela novamente. – Tentava perdoa-la, mas doía tanto.

E foi com esses pensamentos que cai no choro antes mesmo de entrar no meu prédio.

Escuto o barulho de uma buzina e vejo um carro parado logo atrás de mim.

— Vai se foder, otário! – xingo alto não me importando. Odeio esses homens que mexem com mulheres, mas meu ódio fica ainda pior quando fazem isso com alguém que está chorando.

— Megan? – escuto uma voz conhecida me chamar.

Respiro fundo e fecho os olhos com força, não quero olha-lo. – Mas ouço a porta do carro bater e sinto sua presença se aproximar. – Antes que ele pare ao meu lado me viro de frente.

— O que você quer caralho? – pergunto com raiva.

— Você não está bem... – Dave me olha com preocupação e eu devolvo um olhar de raiva. – O que aconteceu?

— Não é como se você se importasse. – digo secando as lágrimas com o dorso da mão.

— Eu me importo com você...

— Dave! – digo seu nome alto. – Você se importa com o sexo que faz comigo, e olha tá tudo bem! Eu também não ligo pra você, pode ir embora daqui!

— Isso não é verdade! – Seu tom é de indignação.

— Não precisa fingir nada pra mim! Eu te conheço a muitos anos... Você não é do tipo que se preocupa com uma ex prostituta. – rebato e o vejo me olhar com tristeza.

— Você é mais do que isso. Sempre foi. – Ele se aproxima de mim e eu recuo.

— Não começa! Nossa relação é puro sexo. Você não tem que me consolar, ou fingir que gosta de mim.

— Deixa eu me aproximar de você Megan! – Ele da mais um passo a frente e dessa vez permaneço onde estou. – Não só fisicamente.

— Não confio em você! – digo sentindo a mágoa que guardo dele emergir. – Depois do que você me fez...

— Sei que errei...

— Você tinha vergonha de mim! – digo olhando nos olhos dele. Sinto a garganta secar e meus olhos arderem. – Eu largaria tudo por você Dave. Faria qualquer coisa por você. Mas você tinha vergonha de mim, de se envolver com uma ex prostituta!

— O que eu tenho que fazer pra você me perdoar? – indaga em desespero. – Faço qualquer coisa!

— Nada. – respondo sentindo as lágrimas molharem meu rosto. – Você me perdeu. – olhar em seus olhos é doloroso.

— Megan não. Eu preciso de você. – Dave se ajoelha na minha frente e eu fico sem reação. – Faço qualquer coisa por você!

— Levanta daí! – mando sentindo vergonha daquela situação.

— Me diz o que eu tenho que fazer! Você é a mulher mais incrível que já conheci. – diz enquanto vejo seu olhar de desespero. Ou ele falando a verdade ou é um ótimo ator. – Megan você não faz ideia de como me arrependo, de como sinto sua falta. Até da suas roupas ocupando o espaço do meu armário. Do jeito que você sorria quando eu te olhava, ou como você não conseguia controlar o riso quando eu falava alguma besteira.

— Para... – peço fechando os olhos. Sinto ele tocar minha mão enquanto ainda está de joelhos na minha frente.

Lembrar dos nossos momentos me faz sofrer, dói de um jeito incontrolável. – E por mais que eu ainda seja apaixonada por esse maldito babaca, não dava pra confiar.

Ele quebrou toda a confiança que havia entre nós. – E era por isso que eu apenas transava com ele. – Porque sentia sua falta, e esse era o único jeito de matar a saudade sem me envolver emocionalmente.

— Preciso de você Megan Ivy. – Dave me chama pelo nome, como ele me chamava quando estávamos juntos.

Sinto mais lágrimas escorrerem. – Lembrar disso me faz querer nunca mais ve-lo.

Ele se levanta e se aproxima de mim, sua mão toca meu rosto, sinto seus dedos acariciarem minha bochecha.

Seus lábios tocam os meus com carinho. – as lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto. – Mas acabo correspondendo o beijo dele. – Suas mãos pegam em meu rosto com cuidado e sinto seu polegar fazer carinho na minha pele enquanto nos beijamos.

Eu paro de beija-lo. – Encaro seus olhos mais uma vez, ele parece esperar por minhas palavras. – Mas antes de qualquer coisa o abraço demoradamente.

Sentia falta do carinho e do afeto dele, por mais que tenha sido eu que escolhi manter essa relação. – Somente sexo e nada mais.

No começo apenas ignorei ele. – Depois achei que poderia brincar com os sentimentos do Dave, mas acabei esquecendo que eu também era apaixonada por ele.

— Vai embora. – peço enquanto ainda estou em seus braços. – A Megan que você conheceu não existe mais.

Desfaço o abraço e ele me olha mais uma vez com intensidade.

— Eu te amo Megan Ivy. – Dave diz antes de se virar e entrar no carro.

O vejo ir embora mais uma vez. – Tantas vezes você tentou me fazer acreditar que seria diferente, e parte de mim realmente acredita, mas outra parte tem tanto medo de ser rejeitada de novo.

Não posso deixar mais ninguém partir meu coração. – Por mais que eu o ame com todas as minhas forças.