A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 3
A Noiva do Príncipe Humperdraco




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Hermione sempre tinha antipatizado a protagonista do livro de S. Morgerstein, Buttercup.

Os passatempos preferidos de Buttercup eram cavalgar e atormentar o garoto da fazenda, Westley. Ela não gostava de lavar atrás das orelhas, e tinha nomeado o seu cavalo de Cavalo. E não ajudava que, mesmo que não se se desse ao trabalho de pentear o cabelo, aos quinze anos ela já estava entre as 20 mulheres mais belas do mundo.

A combinação de descaso com a própria aparência, um passatempo bobo como cavalgar, a complacência com a própria higiene e a mania de dar ordens sem parar tinha provocado aquela imediata antipatia da parte de Hermione.

Não melhorava quando Buttercup do nada se via apaixonada por Westley, e descobria que ele também a amava profundamente. E que, toda vez que o garoto dizia “o seu desejo é uma ordem, Buttercup” para cada pedido dela, na verdade o que ele queria dizer era “eu te amo, Buttercup”.

* * *

— Ah, nãão — Rose interrompeu, desgostosa. — Não me diga que essa vai ser uma história de beijo! Beijar na boca é tão nojento.

Hermione suspirou para a pulguinha impaciente que se remexia na cama e fazia uma careta tal que só podia ter vindo no pacote genético de Rony Weasley.

— … além do mais porque estamos começando de Buttercup? Eu quero saber dos monstros!

— Vai saber se me deixar contar, Rose — ralhou Hermione. — É preciso começar uma história pelo contexto, primeiro.

— C-o-n-t-e-x-t-o — Rose soletrou corretamente. — O que isso significa? 

— Significa a história que vem antes da história. Nesse caso, o que aconteceu antes que a aventura de Buttercup começasse.

— Tudo bem, mas seja rápida. Já estou ficando entediada de novo.

* * *

Buttercup e Westley, uma vez apaixonados, decidiam que precisavam se casar, mas o problema é que Westley não tinha dinheiro. Então, ele tomava a esperta decisão de fazer as malas e deixar a fazenda onde trabalhava para a família de Buttercup, em busca da própria fortuna.

A despedida era muito emotiva para Buttercup.

“Eu não acredito nisso” e “Eu tenho medo de que jamais o verei de novo”, era o tipo de coisa que ela dizia, abraçando Westley bem forte, enquanto o sol do fim da tarde fazia o seu cabelo parecer uma cortina de fios do ouro mais puro.

“É claro que você vai”, era o tipo de coisa que Westley respondia, e também: “Eu vou voltar para você. O que temos é amor verdadeiro. Você acha que algo assim acontece todo dia?”

Então Westley sorria para Buttercup e ela para ele, e havia mais um abraço apertado e longo, bem como um beijo caloroso sobre o qual não é preciso entrar em detalhes (basta saber que foi classificado na lista de cinco dos melhores beijos do mundo). Depois disso, Westley deixava a fazenda e Buttercup o assistia ir embora. A coisa toda era muito dramática e havia uma música de fundo com notas longas e tristes, embora não se soubesse de onde a música vinha, porque não havia nenhum violinista por perto.

* * *

— E para onde Westley está indo?  Não muito longe, não é? Senão Buttercup vai ter que ficar esperando — perguntou Rose, que não era do tipo que gostava muito de esperar, como Hermione bem sabia.

— Ah, bem, Westley sequer chegou ao seu destino. O navio em que ele estava foi atacado pelo Pirata Mosmordre, que nunca deixa prisioneiros vivos. Quando Buttercup soube o que tinha acontecido, ficou devastada…

— Ah, bem —  disse Rose, encostando as costas na cabeceira da cama, interessada. — Papai diz que piratas são irados.

* * *

Buttercup não achava piratas “irados”. Quando ela ouviu o que tinha acontecido com seu amado Westley, ficava devastada. Ela entrava em seu quarto e fechava a porta. Por muitos dias, ela não comia nem dormia. Então ela dizia algo como:

“Eu nunca mais vou amar de novo.”

Cinco anos mais tarde, o príncipe Humperdraco de Hogsmin ordenava a todos os seus súditos que se reunissem na praça. Quando a cidade inteira estava lá embaixo, ele aparecia na sacada do seu castelo, acompanhado dos seus velhos pais, o rei e a rainha, e do seu braço direito, o conde Riddle, para fazer um anúncio. E o que ele dizia era algo assim:

“Meu povo… daqui a um mês, o nosso condado completará o seu 500º aniversário. No fim deste dia, eu me casarei com uma dama que, um dia, foi uma plebeia como vocês. Mas, talvez vocês não a acharão tão plebeia, agora. Vocês gostariam de conhecê-la?”

A multidão, é claro, aplaudia e gritava com entusiasmo. O príncipe estava escondendo a identidade da sua futura noiva por muito tempo agora, como parte da publicidade para aumentar o impacto da revelação, então é óbvio que todo mundo estava muito interessado.

Hermione, que àquela altura tinha acabado de entrar na história, se deu conta de que estava no topo de uma grande escadaria montada do castelo até a praça, e que a multidão esperava lá embaixo. Esperava por ela.

Ela percebeu que estava metida em um vestido apertado de veludo com cauda, espartilho, capa e babados esvoaçantes. Honestamente, ela podia ter tomado o lugar de qualquer personagem do bendito livro. Precisava mesmo ser…

“Meus súditos, eu vos apresento… a princesa Buttercup!”

*** 

Hermione precisava pensar no que faria em seguida. Felizmente para ela, Buttercup mantivera sua predileção por cavalos após se tornar a noiva triste e seca do príncipe Humperdraco, então alguém lhe ofereceu um belo cavalo logo depois que ela foi autorizada a voltar para o castelo, ao fim da sua apresentação oficial para a população (que fora, em linhas gerais, de uma exposição pública deveras agonizante).

Hermione não sabia cavalgar, mas ali ela era Buttercup, que tinha feito isso a vida inteira. Ela percebeu que, uma vez dentro do livro – e do corpo – da protagonista da história, ela podia controlar Cavalo com muita habilidade.

Havia uma campina vasta que começava atrás do castelo e se estendia por muitas milhas. Ela supunha que era a rota que Buttercup gostava de tomar com Cavalo em sua cavalgada diária, pois foi para lá que Cavalo a levou no momento em que atravessaram os portões. Ela segurou as rédeas e deixou Cavalo fazer o seu trabalho, enquanto ela fazia o dela.

Precisava achar Rony. Uma vez dentro do livro, ela sabia que ele podia ter tomado o lugar de qualquer um dos personagens – e A Princesa Prometida tinha muitos sem nome. Era o livro que decidia, e livros encantados com narrativas imersivas eram tão particulares em suas escolhas quanto os autores que os tinham encantado.

Ao menos uma ela se lembrava dos seus estudos sobre narrativas imersivas: os personagens do livro tendiam a tomar a forma das pessoas que eram familiares ao “leitor”, quando este imergia na obra. Por exemplo, Hermione ainda não tinha superado o fato de que o príncipe Humperdraco se parecia exatamente com… bem, Draco Malfoy.

Apenas tente não se envolver demais na narrativa, Hermione lembrou a si mesma. Toda narrativa imersiva contava com um período inicial em que ainda era possível sair facilmente da história, bastando encontrar a chave de portal disfarçada que a levaria para fora do livro, e de volta à vida real. Quanto mais envolvida com a história, mais difícil ficava reconhecer esses portais, normalmente ocultos no fim de cada capítulo.

Distraída, Hermione demorou a perceber o grupo de três pessoas do qual ela e Cavalo se aproximava.

Personagens, ela lembrou a si mesma, não pessoas.

Um deles acenou e Hermione pensou reconhecê-lo. Ela instintivamente virou as rédeas de Cavalo e aproximou do grupo.

— Uma palavra, minha dama? 

Hermione piscou duas vezes, sem acreditar no que via. O homem que acabara de falar com ela era a cópia exata do professor Snape – nariz aquilino enorme, olhos escuros de besouro, a postura meio curvada. A única diferença era que, ao invés do cabelo oleoso que fora a sua marca registrada em vida, ele tinha uma careca brilhante e oleosa. E, se ela não tinha ouvido errado, um forte sotaque siciliano.

Ela olhou para os dois homens que esperavam um pouco atrás, na estradinha que ladeava o canal de Hogsmin, e não teve como não sorrir. Um deles era enorme, da altura de dois homens e da largura de três, com a barba e cabelos lanzudos e a face bondosa do guarda-caças de Hogwarts. O outro era um moreno magro e esguio, de cabelo bagunçado e espantosos olhos verdes, que vinha até mesmo com a cicatriz na testa, em forma de raio.

— Nos somos nada mais do que pobres artistas de circo, perdidos e famintos. Saberia nos dizer se há uma vila aqui por perto? 

Em sua excitação por encontrar justamente aqueles três conhecidos personificando os personagens do livro, Hermione cometeu o seu primeiro grande erro.

— Não que eu sabia — ela disse, pois havia cavalgado um bocado com Cavalo sem ver nada ao redor. — O que vocês-?

— Ótimo — disse aquela versão careca e estrangeira do seu falecido professor de poções, cuja familiar voz grave soava ainda mais impressionante no sotaque estrangeiro. — Então ninguém vai ouvir os seus gritos.

— Meus o quê? Ah, bolas — Hermione xingou. — Me esqueci porque vocês estão aqui. Olha, isso é um engano…

Enquanto ela tentava dar a ré em Cavalo – mas como é que se fazia um cavalo dar ré? — o sósia malvado de Snape fez um aceno para o meio-gigante, que em um passo de suas pernas enormes já estava do lado dela. Hermione arfou, soltando as rédeas e erguendo os braços para o meio-gigante.

— Escuta, eu não sou realmente a–

Mas o meio-gigante colocou uma mão enorme no nervo do seu pescoço, deu um apertozinho de nada e Hermione apagou, como uma vela soprada pelo vento.

(Continua...)


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