A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 11
A Noite de Núpcias




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Hermione começou a achar que tinha algo muito errado em seu planejamento quando foi o próprio Humperdraco, e não algum servo, que a levou para os seus aposentos após a cerimônia.

— Tem certeza de que devia estar aqui? — ela perguntou como quem não quer nada. — Acho que você tem uma brecha em sua segurança. Devia tomar conta disso, antes de, uh... consumarmos.

— Não tem nenhuma brecha em minha segurança. Dois idiotas tentaram invadir o castelo durante o casamento, mas foram presos nas masmorras. Vou lidar com eles depois, preciso lidar com você primeiro.

E ele estava falando sério. Hermione avistou o conde Riddle e seus comparsas quando eles passaram pelo corredor, e ele também parecia tranquilo, o que significava...

Significava que Rony nunca tinha conseguido invadir o castelo com Hagrik e Henrico. Ele não viria para salvá-la. Talvez… talvez ele estivesse mesmo morto.

O fato de o livro estar forçando-a a seguir o roteiro ao pé da letra, quisesse ela ou não, não significava que fosse o mesmo para ele. A razão disto... ainda lhe era um mistério.

O príncipe sorriu ao ver a inquietação nos olhos de Hermione, achando que estava ali por sua causa.

***

— Isso é ruim. Muito ruim. Eu não consigo nem pensar como seria pior — disse Hagrik na cela úmida e pequena em que ele tinha sido enfiado com Henrico, onde não havia muito ar para ser respirado.

Uma coisa que Hagrik não contara para ninguém é que ele era um pouquinho claustrofóbico.

— Eu sou um pouquinho claustrofóbico — disse Hagrik para Henrico, achando que se ia morrer, era melhor colocar aquilo para fora de uma vez.

— Não se preocupe. Vamos dar um jeito — Henrico investigava o cadeado, que era do tamanho do seu punho fechado. — Se tivéssemos uma pira…

— Que ideia boba, fingir que eu era um trasgo. Trasgo são muito maiores. Mas, acho que eu poderia ter feito um trabalho de atuação melhor… ou então sacudido você um pouco menos, para que não derrubasse a capa.

— Você fez um trabalho ótimo, Hagrik. Nunca vi trasgo mais apaixonado — disse Henrico, e depois, saudoso: — Se ao menos eu tivesse a minha espada…

Os dois ouviram um ruído esquisito vindo do corredor, como se alguma coisa estivesse rastejando pelo escuro. A imaginação estava correndo solta na altura que a coisa chegou à frente da cela e eles descobriram que era o homem de preto, se bem que agora estava mais para o homem de cinza, as calças cobertas de poeira e sujeira porque ele chegara até ali se arrastando.

— Desculpem a demora. As pernas ainda não deram sinal de vida — ele se desculpou, ofegante. — Como funcionou o plano do trasgo? 

— Nunca vi plano pior — disse Henrico, embora muito surpreso que o homem de preto estivesse ali. Tinham-no deixado encostado ao paredão na companhia de Norebas e combinado que, uma vez que conseguissem espantar os guardas da entrada e pegar a chave com o chefe-de-guarda - que estaria muito assustado para reagir ao trasgo comedor de cabeças - eles voltariam para buscá-los.

— Ótimo, bem como eu previ, então. Enquanto vocês estavam distraindo a guarda, eu voltei para a floresta e achei a entrada das masmorras, na clareira, como vocês me contaram que estaria. O príncipe não colocou ninguém para vigiá-la, ainda nem descobriu que o meu corpo foi roubado. Norebas ajudou a encontrar o nó certo — ele disse, indicando o dragãozinho que tinha lhe acompanhado até ali, pulando ao seu lado. — Então, agora só precisamos abrir a cela.

— Precisamos de fogo — disse Henrico, de novo de pé e animado. — Conheço esse tipo de cadeado, é muito forte em temperatura ambiente mas amolece feito manteiga se for aquecido.

— Só que não temos fogo — disse o homem de preto.

Naquele momento Norebas deu um espirro por conta de toda a poeira que Rony tinha carregado, e fagulhas escaparam de suas narinas minúsculas.

— Promissor — Rony se alegrou, pegando Norebas em sua mão e o colocando em frente ao cadeado. — Agora, um espirro é bom, mas se tem alguma coisa ainda melhor para fazer um dragão soltar fogo, são umas boas cócegas.

* * *

O príncipe Humperdraco tinha toda a intenção de matar a sua noiva aquela noite, e ele até tinha guardado uma adaga debaixo do travesseiro para a ocasião. Ele esperava muitos gritos, por isso ele tinha mandado os seus guardas esvaziarem o corredor “para lhes dar alguma privacidade”, de forma que ninguém a ouviria.

Então ele abriria a janela, usaria a passagem secreta para fora do quarto e daria a volta, batendo na porta do quarto, que estaria trancada por dentro. Quando ele e os guardas a arrombassem e encontrassem a princesa morta, concluiriam que o assassino da princesa tinha fugido pela janela.

Humpedraco ficaria muito arrasado, mas o povo ficaria mais arrasado ainda. A guerra seria inevitável. Ele sentia os dedos dos pés formigarem de antecipação com a possibilidade.

Mas a princesa não reagiu com ele esperava quando ele tirou o a adaga de debaixo do travesseiro e o brandiu na direção dela.

— Ótimo, faça logo de uma vez — disse Hermione, conformada.

— Isso é de novo sobre aquele garoto odiável? Agora que ele não está vivo, você prefere morrer a viver num mundo sem ele? Não que eu me importe, desde que ninguém fique sabendo que seja esse o caso. Não vai ser bom para a publicidade.

— É, você está certo. Não quero viver numa hist– mundo em que ele não esteja.

Até porque se ele está mesmo morto, ou recomeçou o livro ou já está fora dele, e de qualquer modo eu estou encalhada nesse final irritante.

Amor verdadeiro. Tão superestimado — disse Humperdraco com desdém. — Que seja então. Não se mexa muito, não quero manchar as cortinas, ou a rainha me mata.

Hermione fechou os olhos apertados. Então houve um baque forte, a porta do quarto se escancarou e por detrás dela apareceu Rony, de espada na mão e expressão irada.

— Toque na princesa e será a sua morte, príncipe Humperdraco.

Hermione sentiu um alívio maior do que já tinha sentido a sua vida inteira, contando inclusive o que ela tinha sentido quando Harry derrotara Voldemort. Ela sabia que realisticamente aquilo era um absurdo, mas não pode evitar. Era apenas muito bom ver Rony vivo.  

— Você estava morto! — Exclamou o príncipe, ultrajado.

— Idiota, nunca leu um conto de fadas? O protagonista nunca morre no meio do livro, ele sempre volta.

— Como é? Você não está fazendo o menor sentido, homem. A tortura mexeu com os seus miolos?

Hermione reparou que Rony se apoiava no umbral da porta com muita dificuldade, o braço da espada fraquejando um pouco. Por um milésimo de segundo ele olhou para ela e ela teve a impressão de que ele estava tentando lhe dizer alguma coisa.

— Não — ele disse então, olhando bem fundo nos olhos agora inquietos do príncipe. — A tortura me deu inspiração para o que vou fazer com você. E me deixar esse tempo nas masmorras, quase morto, me deu a chance para ficar criativo. Então, primeiro eu vou começar cortando a sua língua, para não ter que ouvir os seus gritos. Depois, eu vou cortar você em fatias,  primeiro os dedos dos pés, depois os das mãos. Isso lhe causará imensa dor, mas não se preocupe, não irá matá-lo. Eu irei então arrancar os seus olhos, um depois o outro e obrigarei você a comê-los. Então, como isso lhe causará enorme agonia, mas não o suficiente para deixá-lo inconsciente, eu vou…

Hermione percebeu o que Rony estava fazendo, e devagar, muito devagar, ela começou a recuar, procurando pela visão periférica alguma coisa pesada. Alguma coisa que fosse mais dura do que a cabeça do príncipe Humperdraco.

— …vou abrir a carne detrás dos seus joelhos e puxar os seus nervos para fora. Com eles, vou fazer cordas que…

Hermione viu o vaso que amparava o buquê de flores enviado pela rainha, para embelezar a sua noite de núpcias. Era um buquê e tanto, portanto, também era um vaso e tanto.

— Você blefa — gaguejou Humperdraco, que ainda tinha a adaga, mas parecia ter se esquecido de como usá-lo. — Jamais poderia…

— Venci sozinho um homem do tamanho de três homens e derrotei o melhor espadachim do seu reino. Ludibriei o homem mais espero de Hogsmin, ou assim ele achava, e sobrevivi a máquina de tortura do conde, que deveria ter me matado. Acha mesmo que não posso lidar com um príncipe covarde e arrogante como você? 

O príncipe recuou com a intensidade da promessa de Rony e quando ele o fez, percebeu que Hermione já não estava ao seu lado.

— O quê…? — Quando ele se virou, Hermione deu com o vaso na cabeça dele com toda força. Houve um estalo e o príncipe cai no chão aos pés de Hermione.

— Uga  — ela largou o vaso, que nem mesmo tinha se rachado, em cima da cama. — Eu sei que ele não é Malfoy de verdade, mas mesmo assim é estranho fazer isso.

— Vai dizer que não tem nenhuma partezinha sua que está secretamente realizada por quebrar a cabeça de Malfoy, depois de todos esses anos? 

Hermione olhou para Rony sem acreditar no que os seus ouvidos tinham ouvido.

—Rony! Ah meu deus, você se lembra!

Ele sorriu amplamente e fez um aceno afirmativo com a cabeça. Hermione nem pensou duas vezes. Saltou o corpo de Humpedraco e foi se jogar nos braços de Rony. Ele balançou um pouquinho e quase caiu, mas a apertou de volta com entusiasmo.

— Ainda estou meio bambo — ele disse. — Eu morri e voltei, acredita nisso? 

— Acredito — ela disse com um sorriso ainda maior, quase rasgando os cantos de sua boca. — Então você conseguiu invadir o castelo com Hagrik e Henrico Montoya? Achei que não tinha funcionado, você está atrasado!

— Bem, foi preciso uma pequena adaptação nos planos. Você está bem? Minha nossa, você está fabulosa.

— Ah, sempre o tom de supresa — ela reclamou, embora satisfeita que ele tivesse reparado. — Como recuperou a memória? 

— Tenho uma teoria, mas podemos discutir isso mais tarde? Hagrik e Herico estão nos esperando nas masmorras para sairmos juntos do castelo.

— Quê? Não! — Ela o segurou pela camisa. — Não podemos ir para as masmorras, não é assim que o livro termina!

Rony olhou para ela com cara de interrogação.

— Precisamos seguir a narrativa do livro, senão não conseguiremos sair da história — ela explicou, bufando em seguida. — Esse é o problema com os contos de fada: se não “aprendemos a lição”, temos que ler tudo de novo, o que significa voltar do começo, e eu não sei você, mas eu enlouqueceria se tiver que fazer isso tudo mais uma vez.

— Ah, Mione, já te ocorreu que a lição possa ser diferente da que está esperando? 

— Quê? — Ela piscou, confusa. Não existe isso de lição diferente, é a mesma história…

Ela se interrompeu, pois eles ouviram sons vindo da extremidade do corredor. Os guardas deviam saber que havia alguma coisa errada. Talvez tivessem descoberto que os prisioneiros já não estavam em suas celas nas masmorras.

— Temos que ir, Mione. Tenha um pouco de fé em mim, será que é pedir muito? 

Hermione tinha uma má sensação sobre aquilo mas ela não tinha uma ideia melhor, então assentiu, segurando a mão de Rony. Ele a levou corredor abaixo – o caminho contrário ao que Hermione sabia que Buttercup e Westley deveriam seguir, se quisessem sair dali vivos.

(Continua...)


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