A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Armadilha para Bruxinhas Entediadas


Notas iniciais do capítulo

Essa história foi escrita para Isaac, o meu amigo secreto no Indignado Secreto de Natal de 2019 (evento do grupo Série Black Destiny).

Essa foi a segunda opção de Isaac (desculpa por não conseguir a primeira, mas estava no branco mesmo). O que ele pediu foi o seguinte: Releitura de um conto de fadas (você escolhe qual) com Romione.

Eu, que nunca na vida escrevi uma Romione, resolvi tornar a tarefa ainda mais difícil para mim, escolhendo um conto de fadas que eu nem mesmo tinha lido/assistindo antes de começar essa história!

Por fim, um aviso: existem spoilers de A Princesa Prometida nessa história. Trata-se de um filme de 1987, baseado em um livro de 1973. Recomendo muitíssimo que vejam o filme, e particularmente acho que essa história e o filme se complementam bem, em qualquer ordem (mas também funcionam de forma independente).

Isaac, espero que goste.

A você e aos demais, boa leitura!



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Como toda criança bruxa que se preze, Rose Molly Weasley pegou sarapintose* pouco depois de completar sete anos. A doença, extremamente contagiosa e quase sempre mortal em bruxos crescidos, não posava grande ameaça para bruxinhos menores de onze anos, e tendia a se curar naturalmente com muito repouso e suco de cenoura, ao passar de cinco ou sete dias.

Embora em teoria não devesse ser causa de maiores problemas, na prática a sarapintose de Rose estava se tornando um verdadeiro pesadelo para sua mãe, Hermione. Boa sorte, pensara Hermione, ligeiramente em pânico ao ver as pústulas surgirem na pele da filha, em tentar manter a espoleta, energética e incontável sobrinha de Fred e George Weasley confinada em uma cama o dia inteiro, por sete dias seguidos.

A tarefa de fazer Rose repousar acabara recaindo quase que inteiramente sobre os seus ombros, já que era véspera de natal, o que significava muito trabalho na loja de logros para Rony. Rony, que há poucos meses desistira da carreira de auror para trabalhar com os irmãos. Hermione, recém-nomeada secretária junior no departamento de leis mágicas do Ministério, podia se dar a luxo de pedir a licença para cuidar da filha doente. Um dos muitos benefícios de trabalhar para o governo, ela supunha.  

— MÃE! — Rose chamou do quarto, sua voz conseguindo soar ao mesmo tempo estridente e rouca. — ESTOU E-N-T-E-D-I-A-D-A!

Hermione suspirou, arrependida de ter deixado a filha participar daquele acampamento de soletramento no verão. Tivera esperança que o acampamento iria incentivar o interesse de Rose pelas palavras, mas a menina preferia usar a habilidade recém adquirida para enfatizar o que gritava quando estava irritada.

Sem se apressar, Hermione terminou de arrumar a bandeja com o lanche e a poção para coceira de Rose. Quando terminou, subiu as escadas do chalé em que ela morava com Rony desde o casamento, há oito anos. Estava ficando pequeno para eles, e ficaria ainda mais apertado quando o bebê nascesse. Hermione esperava que a solução de Rony para isso não fosse adicionar mais um andar – ela preferia que eles não morassem em uma réplica torta da Toca, se pudesse evitar.

— Você me ouviu? Estou e-n-t-e-d…

— Eu ouvi você, Rose. E você deve falar com a sua voz normal, sem gritar, já conversamos sobre isso — Hermione pousou a bandeja no criado-mudo ao lado da cama de Rose e colocou a mão em sua testa para medir a febre. — Como se sente? 

— Coçando — a menina resmungou. — Ficar doente é muito chato.

— Nem me fale — Hermione comentou, entregando a ela o sanduíche que trouxera. — Comida primeiro, depois a poção. O que quer fazer essa tarde? Podemos começar um livro novo.

Como Hermione esperava, Rose rolou os olhos para a sugestão, antes de morder o sanduíche de queijo. Ao menos a filha era boa de boca como o pai, e nenhuma infecção viral tirava o seu apetite, mas infelizmente Rose não herdara a sua característica mais marcante.

— Livros são c-h-a-t-o-s!

— Você acha tudo chato — disse Hermione, sem demonstrar a dor que sentia no coração toda vez que a criatura que ela carregara nove meses em seu corpo dizia aquela blasfêmia. Ela se esticou para alcançar a prateleira atrás da cama de Rose e passar o dedo pela lombada dos livros intocados, organizados por gênero e sub-organizados em ordem alfabética dentro de cada gênero, pensando que se fosse ela a ter uma prateleira como aquela quando ela tinha sete anos, teria sido a criança mais feliz do universo.

Hermione tinha tido livros aos sete anos, é claro, mas eles eram repassados dos seus primos e primas e vinham com orelhas, lombadas massacradas e manchas de descuido nas páginas. Os seus pais só passaram a comprar livros novos em folha para ela uns dois ou três anos mais tarde, quando Hermione já tinha devorado tudo em casa – desde os livros de receita da sua avó até os odontológicos meio nojentos dos pais – e ficou claro que o seu nível de leitura já tinha ultrapassado em muito os dos primos mais velhos que ela.

— Que tal se eu ler um para você? — sugeriu, esperançosa, mas mantendo a voz casual para Rose não achar que ela queria muito aquilo.

Não sabia o que seria da sua vida se não fosse capaz de desenvolver em sua filha, carne da sua carne, o gosto pela leitura. Ela provavelmente teria que se afogar no lago Ottery, deixando uma carta de despedida para trás, admitindo sua derrota no empreendimento da maternidade.

Rose fez um suspense, enquanto mastigava o último pedaço do seu sanduíche. Então ela soltou um grande suspiro dramático, como se soubesse o tamanho no favor que estava fazendo para Hermione.

— Tudo bem. Mas não me venha com uma das suas histórias trouxas, livros sem magia são um despropósito.

Onde Rose conseguia aquele vocabulário, senão em livros, era um mistério para Hermione.

— Livros trouxas também tem mágica, bobinha. Hmm… quem colocou isso aqui? — Ela estranhou, puxando um livro grosso pela lombada. Definitivamente não tinha comprado aquele livro.

Rose deu de ombros, esticando seu pequeno braço cheio de pintinhas roxas inflamadas para pegar a sua poção cor de violeta na bandeja.

— Sei lá, mãe. Eu nem vou nessa prateleira.

É claro que não vem, sua pequena ingrata, pensou Hermione, folheando o livro ao qual se referia. Era exatamente como se lembrava, e folhear as páginas lhe deu mesmo um calafrio. Diante do seu silêncio, Rose se interessou.

— Que livro é esse? 

— Não importa. Você não vai gostar desse — disse Hermione, fechando-o rápido. — Não é para crianças.

— Mas tem a capa colorida! — Rose se esticou para espiar. — E está na minha prateleira.

— Achei que você não quisesse saber de livros trouxas — disse Hermione, abrindo espaço para colocá-lo de volta entre os outros livros.

— Mas, esse tem mágica? — Rose quis saber. Hermione tentou não sorrir quando respondeu.

— Sim. E tem outras coisas também.

— Que coisas? 

— Uh, vejamos — ela fez uma pausa, fingindo que tentava se lembrar. — Luta de espadas, tortura, vingança, gigantes, monstros, perseguições, escapes, amor verdadeiro, até milagres, se me lembro bem. — Os olhos azuis de Rose cresciam em interesse a cada palavra, até ela parecer um filhotinho de gato ruivo vendo um atum dançar em sua frente, assim que Hermione terminou de listar. — Mas eu não posso ler esse para você, criança. É muito perigoso.

Aquela era a palavra mágica de Rose: perigoso. Ela tinha se sentado reta na cama. Se fosse mesmo um gatinho, suas orelhas estariam apontando para cima.

— Como pode ser perigoso? É só um livro!

— Mas alguns livros são traiçoeiros, podem prender a gente se não tomarmos cuidado.

Hermione colocou o livro de volta na prateleira sem fazer caso (ou melhor, sem demonstrar caso.) Ela fingiu que estava procurando outro livro para Rose, se aproximando da área de animais falantes e seus dramas sempre estranhamente humanos.

— Mamãezinha, por favor… pode ler o livro perigoso pra mim? Tomaremos cuidado.

Hermione reprimiu outro sorriso antes que estragasse tudo.

— Não tenho certeza, Rose. Eu precisaria que você ficasse muito atenta e quietinha para ouvir a história. É uma provação e tanto.

— Eu prometo que vou ficar — disse Rose, agora transformada em uma gatinha boazinha que enganaria os mais desavisados, mas não Hermione.

— Tudo bem, vamos tentar — foi a vez de Hermione dar um grande suspiro de redenção, puxando o livro de novo. — Talvez eu tenha que pular algumas partes. Como eu disse, não é um livro para crianças.

— Eu posso aguentar as partes violentas — disse Rose corajosamente, se ajeitando na cama. — Eu nem fico mais com medo mais quando tio Charlie conta como os dragões da reserva comem cervos inteiros começando pela cabeça.

— É, eu preciso mesmo conversar com o seu tio Charlie sobre isso. Então, preparada? 

— P-R-E-P-A-R-A-D-A! — Rose soletrou, animadíssima.

Não mais do que Hermione, no entanto. Era a primeira vez que ela conseguia enganar a espoleta que tinha parido e convencê-la a se sentar quieta para ouvir um livro de histórias.

Hermione pigarreou e começou pela capa.

— “A Princesa Prometida, por S. Morgenstern. Capítulo 1: Buttercup foi criada em uma pequena fazenda no condado de Hogsmin…”

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

*Eu dei uma mudada nas características da doença mágica sarapintose para servir aos propósitos dessa história.



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