Christmas Week 2: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Thaís Romes, Ellen Freitas, SweetBegonia, MylleC


Capítulo 2
Christmas Wish - Ellen Freitas


Notas iniciais do capítulo

Relou, rapeize!!
Ellen aqui, enlouquecendo a Cin com o atraso da postagem, mas cheguei!!
Não sei vocês, mas eu amo o Natal, é minha época preferida do ano todo. Amo cada detalhe que o envolve e, quando recebi o convite, não pude dizer nada diferente de "claro que sim"!
Espero que aproveitem essa jornada, mantenham a mente aberta e abracem a loucura comigo nessa one!!
Até as notas finais... Bjs*



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William já estava entediado com o videogame portátil caríssimo que ganhou como presente de natal, e ainda era dia 23. Logo que fora morar com o pai, o garoto de onze anos tinha que confessar que havia gostado de todos os brinquedos caros, mas que agora, um ano depois, já não preenchiam mais o vazio deixado pela mãe e ignorado pelo pai.

Sua babá era legal, Raisa cozinhava muito bem tudo que ele queria comer e ainda contava muitas histórias para distraí-lo, mas ela havia viajado para a Rússia, seu país natal, para passar o feriado com a família, o deixando sozinho com seu pai, que há horas revezava entre digitar e ler algo em seu computador, e videoconferências em chinês.

― Ainda vai demorar, Oliver? ― O nome próprio ainda era o único cumprimento que conseguia usar para o homem que estava com sua guarda desde que a mãe morrera em um acidente. ― Estou de saco cheio de ficar aqui ― o garoto jogou o videogame ao seu lado no sofá. Oliver desviou os olhos da tela pela primeira vez naquela manhã, e o contato durou apenas alguns segundos, já que o empresário logo voltou à sua posição inicial.

― Estou ocupado, William.

― Mas amanhã já é véspera de natal, ninguém mais está trabalhando!

― Bom, eu estou. ― William pressionou os lábios com força, sua raiva do pai só aumentando. Era só não ter aceitado a droga da guarda, ele estaria muito bem com seus avós em Central City, mas não. O todo poderoso Oliver Queen nunca foge a um desafio, o que no fim das contas, era apenas o que o pré-adolescente sentia que representava para o pai. Um desafio.

― E eu estou fora daqui. ― Ele pegou o eletrônico em cima do estofado e se direcionou à saída, pisando firme.

― William! William, não saia do prédio, ou terei que mandar Diggle atrás de você. Tá me entendendo, William? ― Oliver foi prontamente ignorado em todos os chamados. ― Garoto complicado ― resmungou para a sala vazia.

― Pai de merda ― Will saiu reclamando para ninguém em particular.

Ele não queria o segurança de Oliver em seu pé, Dig estava ficando especialista em interceptar suas fugas, mas precisava fugir dali de algum modo, todas aquelas paredes de vidro e mobília luxuosa o estavam sufocando. Mesmo que amasse tecnologia, todas as horas sentado na sala do pai ou de sua secretária antipática estavam o fazendo repensar possuir aquele império, mesmo que a longo prazo.

― Ei. ― Uma loirinha de tranças puxava a barra de sua camiseta, enquanto ele buscava meios de escapar para ficar sozinho em algum lugar da empresa, e pela cara dela, não parecia ser a primeira vez que o chamava.

― Oi, coisinha. ― Ele não estava com o mínimo humor para crianças agora.

― Não sou coisinha, meu nome é Mia Smoak e eu tenho cinco anos.

― Tudo bem Mia Smoak de cinco anos. Estou indo.

― Não, você precisa me ajudar, estou perdida. Mamãe disse que estava ocupada e que eu devia ficar na creche, mas meninas lá estavam puxando minhas tranças. Eu bati nelas e a tia brigou comigo. Fui procurar a mamãe e agora não sei mais onde estou. ― Ela contava a história com nariz vermelho e lágrimas enchendo e deixando maiores seus olhos verdes.

― Sei como se sente, garota ― respondeu compadecido, assumindo que, assim como ele, a menininha tinha um cuidador de merda. ― Ok, Mia, como é o nome da sua mãe?

― Felicity Smoak.

― Sabe onde ela trabalha? ― continuou a perguntar, já se rendendo a ajudar a menina.

― Aqui, oras. ― Deu de ombros, num gesto que ele achou fofo, apesar de meio impertinente. ― Numa sala com computador e luzes e caneca de ratinho. ― Aquilo não ajudava muito William. Ele mal conhecia a empresa, e sendo uma de desenvolvimento de novas tecnologias, computador e luzes devia ser algo bem comum por ali em todos os ambientes.

― Ah, ok. Sabe mais ou menos o andar?

― Não. ― Mia girou o beicinho e franziu as sobrancelhas o choro mais iminente do que nunca. ― Eu nunca mais vou ver minha mãe! ― Quando ela começou a chorar, William quis chorar também, mas de desespero por não saber como agir e se ver encurralado na situação. Ótima hora para não ter ninguém por perto.

― Não, não! Não chora, coisinha. ― William se abaixou, sem saber bem como consolar uma criança. ― Tive uma ideia, eu te levo de volta para a creche.

― Não, aquelas meninas malvadas!

― Calma, calma! Lá eu pergunto onde sua mãe trabalha e te levo até ela. Mas você tem que parar de chorar, promete?

― Tá bom. ― Ela limpou o nariz vigorosamente com a palma da mão, para logo em seguida segurar a mão de William, formando uma careta de nojo no rosto dele com o contato com aquela meleca.

― Se isso aqui não foi um pacto, não sei mais o que é. ― Resolvendo não descontar o mau humor que seu pai lhe causara na menina perdida, respondeu sorrindo.

― O que disse?

― Nada. Meu nome é William, por sinal.

― Você é legal, Will.

Não haviam muitas crianças na creche da empresa, considerando a data que estavam, e as cuidadoras pareceram aliviadas ao ver Mia voltar, mas de repente ficaram tensas ao ver quem a acompanhava.

― Mia, não suma assim, você quase matou a gente de susto! ― Uma delas os alcançou primeiro, arrumando uma das tranças que desmanchava.

― Você pode contatar a mãe dela? ― William pediu educado.

― Sim, senhor Queen, obrigada por encontrá-la.

― Por favor, não me chame disso ― a corrigiu. ― E na verdade, Mia me achou. ― A mulher assentiu levemente constrangida. ― Olha, vou ficar ali com ela esperando até que a tal Felicity Smoak chegue, pode ser?

― Claro, como quiser.

Só quando sentaram em um dos estofados maiores, foi que Mia lhe largou a mão, o olhando com as sobrancelhas franzidas e olhinhos curiosos.

― O que foi?

― A tia Anna te chamou de senhor Queen, mas você disse que seu nome era William.

― E é.

― Senhor Queen é como minha mãe chama o chefe do chefe dela. ― Os olhos verdes da garota se arregalaram de repente. ― Você é o chefe do chefe da mamãe? ― William não conteve a risada.

― Não, esse senhor Queen é meu pai. Eu sou apenas William, ou Will.

― Ah. O que é isso aí? ― Apontou para o videogame na mão do garoto.

― Quer jogar?

― Eu posso? ― Bateu palminhas animadas, pegando brinquedo.

― Claro, só não acho que vá... Uau, você entendeu como funciona.

― Não é difícil ― retrucou atenta à pequena tela, movimentando os dedos com habilidade e velocidade pelos botões.

― Deveria ser, para alguém de cinco anos ― William comentou realmente impressionado. ― Você tem um desses em casa?

― Eu queria, mas mamãe disse que não podemos comprar esse ano. Nem isso e nem um cachorro. Talvez o Papai Noel me dê de presente, e... Acabei.

― Ok, você quebrou meu recorde. Não vou ficar ofendido nem nada.

― O que pediu pro Papai Noel, Will? ― O garoto teve que segurar um “Papai Noel não existe” na ponta da língua para não acabar com esperanças da menina.

― Não pedi nada.

― Você é burro, tem que pedir, se não ele não traz! Eu pedi esse videogame, a casa da Barbie, um cachorrinho, um computador novo e que mamãe sorrisse de novo.

― Que sua mãe... ― O último desejo chamou a atenção dele. ― O que aconteceu com ela?

― Desde que papai foi embora, ela fica sempre triste. Às vezes ela sorri quando estamos brincando, mas não do jeito de antes, entende?

― Me sinto um idiota agora por querer que meu pai trabalhasse menos.

― Os adultos não conseguem seus desejos porque não acreditam ― explicou quase que solenemente. ― Ah, tive uma ideia, por que não fazemos desejos por eles?

― Mia, eu não acho que...

― É sério! Me dá sua mão aqui. ― Relutante, William cedeu pegando as mãos dela. ― Fecha os olhos.

― Eu não vou...

― Will, fecha os olhos ― falou autoritária. ― E não adianta só fechar, tem que acreditar e repetir baixinho para você mesmo.

Surpreendendo a si mesmo, William se viu de olhos fechados, murmurando baixinho em conjunto com aquela garotinha até então desconhecida. Ele queria Oliver mais tempo com ele se comportando com um pai de verdade, mas acima de tudo, também queria seu pai feliz, queria uma família feliz.

― Mia! ― A voz feminina na entrada os fez abrir os olhos. ― Você quase me fez ter uma coisa, menina! ― A mulher loira, que parecia com a menina mas usava óculos de armação retangular, correu pela sala até pegar a loirinha em seus braços.

― Oi, mamãe ― Mia tentou falar, enquanto era espremida pela mãe.

― Você tá bem? Tá com fome, com sede? Tá machucada? ― Felicity colocou a garota no chão e se ajoelhou à sua frente, conferindo cada detalhe. ― Eu disse pra você ficar com as tias, quando sumiu me matou de preocupação! ― Não uma mãe de merda, afinal, William pensou, sentindo um aperto no coração pela falta da própria mãe.

― Desculpa, mas eu estou bem, mamãe. Esse é o William, ele me achou.

― Muito obrigada, jovenzinho. Me desculpe o trabalho, se eu puder fazer alguma coisa pra te ajudar, só me avisar.

― Imagina, moça, não foi trabalho. ― Foi quando uma lembrança lhe ocorreu. Ele havia desobedecido seu pai e fugido do segurança, estaria em problemas quando voltasse, a menos que... ― Na verdade, tem uma coisa.

― O que é, pode dizer.

― Pode ir comigo até a sala do meu pai? Ele deve ter ficado preocupado quando estava aqui, não quero que ele brigue comigo. ― Ok, ele sabia que estava manipulando as palavras para esconder a verdade, mas um escudo adulto seria bom para o proteger da raiva de seu pai naquele momento. Diggle não o ajudaria dessa vez.

― Claro, já estava vindo buscar Mia para o almoço de qualquer forma.

― Mamãe, sabia que o pai do Will é o... ― William levou o indicador aos lábios pedindo que ela não continuasse a falar, pois sabia que não teria apoio se Felicity soubesse quem era seu pai.

― O pai do William é o que, filha?

― Muito estranho. Cuidado com ele.

― Ok. ― Felicity estreitou os olhos para a resposta de William, mas decidiu nem insistir, apenas deixar o garoto lá e encerrar de vez esses minutos de pesadelo quando imaginou sua pequena Mia perdida em um dos quase trinta andares da QC.

~

― Se vira, Diggle! ― Oliver gritou ao telefone. ― Eu sei lá, ele tem doze, quão longe ele poderia ir para fugir de você?

Sendo seu filho, até a China ― o outro respondeu do outro lado da linha, usando bom humor para rebater todo o estresse do CEO. ― E se estamos sendo honestos aqui, Oliver, William está fugindo de você.

― Só encontra meu filho! ― E desligou.

― Agora entendi o garoto, você realmente é um pé no saco. ― Oliver se virou na direção da voz, encontrando apenas o vazio.

― Quem está aí? ― Armado com apenas o celular, o loiro logo assumiu uma posição de ataque, girando em torno de si para achar quem havia falado.

― Droga, ainda não controlo direito essa coisa de ficar invisível. Espera só um segundo, que eu vou... ― Um estalar de dedos foi ouvido, então a figura de vermelho e branco surgiu no meio da sala, bem ao lado de Oliver. ― Tcharan!

― Deus! ― O loiro levou a mão ao peito pelo susto, quase caindo para trás.

― Prazer, Noel. Não me chama de “papai” você é muito velho pra isso.

― Isso não pode ser possível. Só pode ser a porra de um pesadelo. ― Oliver começou a esfregar os olhos, tentando apagar aquilo de sua mente. Ele só poderia estar alucinando bem feio para estar vendo essa versão tagarela de Papai Noel no meio do dia em sua sala. Talvez Diggle tivesse razão e ele estivesse mesmo trabalhando demais.

― Caramba, você é mesmo muito bonito. ― Noel olhava com curiosidade para Oliver, andando ao redor dele. ― Quer intimidar meu buchinho com esse seu abdome trincado?

― Olha aqui, sua alucinação maluca, estou sem tempo, então se puder sumir... Vai de reto! ― O loiro fez gestos repetidos de cruz com as mãos para afastar a criatura.

 ― Tempo, é justamente por isso que estou aqui. Seu filho fez um desejo e estou aqui para transformá-lo em realidade, só afasta um pouquinho para eu consertar isso. ― Apontou para o próprio corpo, então estalou os dedos novamente.

As roupas totalmente vermelhas e chamativas, se tornaram uma calça jeans escura e uma blusa de malha bordô, para não fugir totalmente de sua essência. As botas de cano alto se modernizaram e toda aquela barba e cabelos brancos ficaram castanhos. Se Oliver não estivesse vendo tudo acontecer bem na sua frente, não acreditaria que se tratava da mesma pessoa. Aliás, mesmo vendo ainda não acreditava.

― Mandei bem, hein? ― Se elogiou, arrumando o próprio topete na primeira superfície espelhada que encontrou, no caso, a tela em descanso do computador. ― Agora ao trabalho com você, senhor Oliver Jonas Queen. ― Noel esfregou as mãos. ― Seu filho pediu que tivesse mais tempo com ele. Estive pensando em alguma doença debilitante, mas daí vai contra a coisa de “quero ver meu pai feliz” e tals. ― Ele afinou a voz ao imitar William.

― Ele pediu isso pra você? ― Oliver não pôde deixar de notar que seu filho desejara sua felicidade, apesar de não demonstrar qualquer tipo de afeição por ele em um ano. ― E eu não acredito que estou mesmo conversando com essa alucinação fajuta de natal.

― Fajuta é a sua avó! Me respeita ou te transformo numa hiena, pelo menos vai te servir para rir um pouco.

― Quer saber, não vou ficar ouvindo isso. Sai já daqui, ou chamo meu segurança!

― Aquele com quem você estava gritando no telefone? Duvido que ele venha, já te disseram que você é um chato?! ― Oliver começou a empurrar as costas do estranho para fora de sua sala e fechou a porta, encostando a testa nela, já sentindo sua velha dor de cabeça de estresse começar a surgir.

― Finalmente, silêncio.

― Para mundo, tive a melhor ideia! ― o grito fez Oliver se voltar na direção da sua mesa, para ver o tal Noel sentado em sua cadeira presidencial e os pés em cima da mesa. ― Você precisa de uma namorada! Não, não, você precisa de uma família!

― Como você...

― Cara, eu sou um gênio! E faço desejos estalando os dedos... E Aladdin é um dos meus musicais preferidos da Disney. ― Noel parou por um segundo, entortando o pescoço ao parecer se dar conta de algo, então sorriu. ― Oliver, o que acha de ter um amigo assim com a cara do Will Smith? ― Ele levantou os dedos prontos para os estalar novamente.

― Não, eu não quero ser amigo do Will Smith! Por favor, não se transforma no Will Smith agora. ― Estendeu as palmas da direção do moreno.

― Por quê? Todo mundo quer ser amigo do Will Smith.

― Mas eu não, ok? Só quero o silêncio da minha sala de volta e você fora daqui!

― Você é mesmo um porre. De todo jeito, não vou sair até realizar o desejo, então voltando ao assunto namorada... Tá de olho em alguém que goste do William? Facilitaria meu trabalho se dissesse um nome.

― Não há ninguém, agora dá o fora da minha sala.

― Droga ― resmungou, ignorando o pedido nada sutil para que saísse. ― Tem a mãe da menininha amiga do William, mas você sendo tão insuportável, iria contra o desejo da Mia de ver a mãe sorrir. Cara, a não ser que...

― A não ser que nada, e para de me chamar de cara.

― Toda vez que tentar ser um pé no saco com as outras pessoas, sua língua vai enrolar e não vai conseguir, nada além de gentileza vai emanar de você, senhor Queen. Felicity se apaixona, vocês formam uma família bem feliz e mato dois pássaros com uma só pedra. Não que eu seja a favor de matar animais, #Pets, #SalveAmazônia, #lacrei.

― Ok, você está alucinando também, e não sei como está fazendo essa merda de aparecer aqui do nada, mas... ― A apito do elevador fez Oliver parar sua frase no meio.

― Hora do show. ― Noel ergueu ambas sobrancelhas e sorriu ao estalar os dedos, desaparecendo em seguida.

― Onde você foi parar, seu... ― Sua língua travou quando ele foi mandar a ofensa para o nada. ― Mas que zorra aconteceu aqui? Carvalho! ― Ótimo, nem um palavrão descente conseguia soltar.

Do lado de fora, Felicity sentia o estômago revirar. Como ela adivinharia que o garoto estranho que ajudou sua filha era ninguém menos que o filho do presidente da empresa que trabalhava? E considerando como o coitado se encolhia atrás dela, mais a fama de mão de ferro do senhor Queen, ela sabia que estava com problemas. E dos grandes.

― Por que não disse que era filho do senhor Queen, William?

― Vocês teriam vindo?

― Não.

― Sim!

― Mia, fica quieta. ― Felicity ralhou com a menina, que parecia super feliz em enfrentar o diabo em pessoa, lhe segurando firme a mão. Crianças e sua inocência.

― Ele está zangado comigo porque fugi daqui, pensei que se talvez mostrasse uma criança fofa que estava perdida ele pegue mais leve comigo.

― Então quer usar minha filha como amortecedor?

― E você como escudo, se precisar. ― Sorriu sem graça.

― Você é um garoto bem esperto, Will, tomara que seja o bastante para aplacar seu pai. Qualquer coisa a gente pega a Mia e corre, que tal?

― Fechou. ― William tocou o punho fechado no de Felicity, a distraindo por alguns segundos, que foram o suficiente para Mia correr e entrar na sala sem aviso.

― O que está acontecendo aqui? Quem é você, mocinha, e porque todo mundo resolveu invadir minha sala hoje? ― Oliver já não estava em seu melhor humor, e agora tinha sua sala invadida por Papais Noeis e crianças.

― Meu nome é Mia Smoak e eu tenho cinco anos. ― Ela estendeu a mão para o homem que sorriu, mesmo que seu instinto fosse fazer uma careta.

― Mia, junto! ― Felicity pegou a mão estendida da filha. ― Me desculpe, senhor Queen, ela é espontânea demais. A gente já vai indo.

― Não, pelo amor de Deus, fica, Felicity!

Só então Oliver notou a presença do filho na sala, soltando um discreto suspiro de alívio. William nunca entendia que os seguranças eram algo necessário para pessoas como eles.

― William, você está aí. ― Quando pensou que uma bronca viria a seguir, Will se surpreendeu com o abraço que recebeu do pai, só não mais que o próprio Oliver. Aquela coisa com o Papai Noel/gênio tinha mesmo mexido com suas reações.

― Agora que está entregue, vamos saindo. Vem, Mia. ― Mais uma vez Felicity tentou sair pela tangente antes de ser realmente notada, mas foi em vão.

― Oliver, essas são Mia e Felicity. ― Oliver na hora lembrou dos nomes, o doido que estava em sua sala minutos antes havia citado eles como sua futura e feliz família, mas resolveu deixar aquilo para lá. Podia ser apenas coincidência.

― Obrigado por encontrá-lo.

― Não foi nada, senhor Queen. Vamos, filha.

― Quem é esse moço encolhido ali no canto? ― Todos olharam na direção do dedinho estendido de Mia, dando de cara com o Noel.

― Todo mundo me vendo? ― As caras de estranheza com pergunta mostravam que a resposta era afirmativa. ― Eu preciso mesmo treinar a coisa da invisibilidade ― comentou quase que para si mesmo. ― Oi, todo mundo, meu nome é...

― Um amigo. Ele é um amigo meu, que está de passagem e já deveria ter ido embora ― Oliver o interrompeu, fingindo um sorriso e ganhando um divertido do outro. O que ele não precisava é que seus funcionários achassem que ele estava ficando doido.

― Oi, meu nome é Mia Smoak, e eu tenho cinco anos. ― A pequena correu até ele e estendeu a mão, que, ao contrário do que aconteceu com Oliver, foi prontamente retribuído. ― Qual é o seu nome?

― Muito prazer, meu nome é...

― Tommy ― o CEO o cortou novamente, improvisando na hora o nome que viu na bolsa que William havia deixado jogada com suas coisas. Entendendo a deixa, Noel acompanhou o olhar para a bolsa.

― Isso, meu nome é Tommy Hilfiger.

― Como a marca de roupas e bolsas? ― Felicity perguntou com o cenho franzido.

― Não, o sobrenome dele não é esse, não é, cara? Pare de dizer isso para as pessoas, vai acabar conseguindo um processo, Tommy.

― Ai, meu Deus! ― Deu uma palma estalada, que fez Mia pular de susto. ― Acabei de ter a melhor ideia de todas!

― Lá vem mais uma...

― E se Oliver convidar Felicity para almoçar? Ninguém aqui comeu ainda, certo? Todo mundo precisa comer, certo? Seria muito gentil da sua parte chamar, Ollie, afinal, ela te trouxe seu filho fujão de volta.

― Por que não? ― As palavras saíram no automático, antes que ele sequer as programasse. Em seu normal jamais deixaria seu trabalho para almoçar com estranhos, então algo estava mesmo errado.

― Não, não precisa mesmo ― Felicity refutou a ideia na hora, tudo que ela não queria era um almoço constrangedor. Ali era seu chefe, e considerando como a filha dela tinha tendência a falar demais, assim como ela própria, mais o amigo esquisito do senhor Queen, era receita para um desastre.

― Por favor, eu e William insistimos.

― Perfeito! Vamos? Você paga, chefão. ― Deu dois tapinhas no ombro de Oliver, indo em direção à porta sem esperar por ninguém.

― Você vai também, Tommy?

― Claro, como perderia um almoço tão divertido, hein, Ollie?

~

Noel estava muito incomodado. Ele armara aquela ideia do almoço para Oliver não segurar os elogios perto de Felicity, ela se encantar por ele de volta, e os quatro viverem felizes para sempre, resolvendo aquele pedido em tempo recorde para um novato como ele naquela função.

Por mais que jamais admitisse, ele não era perfeito naquele trabalho. Mas quem poderia culpá-lo, era seu primeiro natal assumindo as funções e poderes do seu tio, que havia sido o Papai Noel pelo último século e agora pedia por uma aposentadoria, o deixando no lugar. Ele negou o treinamento básico, não podia ser tão difícil, certo?

― Então... Tem algum motivo para vocês dois estarem comendo como doidos ou vamos continuar a ouvir apenas Mia falar?

Haviam motivos para Oliver estar pulando todas as restrições alimentares de sua dieta rígida e não ter parado de comer macarrão, enquanto Felicity estava levando no mínimo dois minutos em destrinchar cada pequena folha de sua salada: os dois não confiavam nas palavras que poderiam sair da sua boca.

Oliver parecia ter perdido o controle desde a macumba que aquele doido que dizia ser o Papai Noel havia jogado nele, enquanto Felicity nunca tivera muito disso sobre o que saía de sua boca, principalmente quando estava nervosa. E estar almoçando com seu chefe, o filho dele e o amigo desconhecido a estavam deixando além disso.

― Essa é uma salada muito boa mesmo. ― Felicity apontou com o garfo para o próprio prato ainda com a boca cheia.

― Essa massa também ― Oliver completou. ― Quer saber, eu deveria ir falar isso pessoalmente ao chef.

― Não ― Noel segurou o braço dele, quando fez menção de levantar, o fazendo sentar de novo. ― Conta, Felicity... Onde você trabalha na QC? ― Ela suspirou, finalmente um assunto que conseguiria falar tranquilamente.

― TI. Crio o sistema primário de defesa contra ataques cibernéticos à empresa.

― Uau, impressionante, hein Ollie? Onde se formou?

― Na verdade, não terminei a faculdade, tive que me mudar para Star City antes disso.

― Porque ela ficou grávida de mim.

― Quieta, Mia!

― Ela e o papai deixaram a escola e vieram trabalhar aqui ― a pequena falou ignorando o aviso da mãe. ― Mas ele já foi embora.

― Você parece ser uma grande mãe, Felicity.

― Ela é a melhor do mundo! A gente brinca de boneca e de montar computador.

― Filha, pare de falar.

― Não, por favor, continua, Mia... ― William, que se mantinha bem calado, se manifestou. ― Acho que todos poderíamos aprender um pouco sobre como é ser pai de verdade. ― Oliver trincou os dentes e as garotas Smoak tiveram a sensatez de ficarem caladas dessa vez.

― Torta de climão para sobremesa. ― Foi Noel que quebrou o silêncio constrangedor quase um minuto depois. ― O que acham de substituirmos isso por um sorvetinho aqui na frente, crianças?

― Qualquer coisa pra sair dessa mesa. ― William foi o primeiro a levantar.

― Vem com tio Tommy, Mia. Conversem, crianças grandes. ― Apontou para os adultos na mesa, antes de pegar na mão da loirinha e estender a outra livre para Oliver.

― O que é?

― Dinheiro pro sorvete, oras. ― O empresário rolou olhos, mas depositou uma nota de cem na mão dele, os três os deixando a sós.

― William está certo, sabia? Sou um pai de merda.

― Tenho certeza que ele não acha isso de fato, senhor Queen.

― E quem poderia culpar o garoto? Eu não tenho sido um pai de verdade desde que ele perdeu a mãe, a gente não é amigo, não consegue trocar uma sequência de palavras sequer que não envolvam ordens e ofensas.

― Deve ser complicado começar já com um pré-adolescente ― falou compreensiva.

― Ele diz que eu trabalho demais, mas eu só estou pensando no futuro dele, sabe? Tudo isso vai ser dele um dia.

― Um dia... William não quer saber sobre futuro, senhor Queen, ele quer o senhor agora, com ele. Se eu pudesse passaria cada segundo do meu dia grudada na minha pestinha, mesmo que ela seja o motivo de todas minhas preocupações.

― Você é uma mãe melhor que eu, senhorita Smoak, pensei que isso já estivesse acertado aqui na mesa. ― Ela sorriu levemente, não entendendo como eles pararam naquela conversa tão íntima.

― Você não é tão ruim como pensa, e ele vai ver isso. Eventualmente.

― Como pode dizer isso com certeza?

― Porque eu vi. ― Felicity tomou uma respiração profunda. ― Ok, sei que todo mundo já diria isso de cara, mas cresci em Las Vegas ― ironizou.

― Sério?

― Só porque não tenho tatuagem de baralho e minhas roupas não tem lantejoulas, não quer dizer que não sei contar cartas, senhor Queen. Mas a coisa é que, minha mãe não estava tão presente quanto eu queria e não posso dizer que não sentia falta dela e me sentia incompreendida na época, mas eu entendi quando Mia nasceu. Aquela coisa de querer fazer o melhor para aquele pacotinho, cuidar, proteger, tenho certeza que conhece o sentimento, ou não pareceria tão nervoso quando fui deixar William em sua sala, e ele só havia sumido por alguns minutos. O senhor é pai, acredite, só precisa se ajustar a isso.

― Você é fantástica, senhorita Smoak. ― Felicity arregalou os olhos para o elogio tão repentino do seu chefe que nunca havia lhe dirigido a palavra até o momento. ― Quer dizer, você é linda também. E inteligente. ― A cada vez que Oliver tentava se corrigir, nada além de elogios saíam de sua boca. Droga de feitiço!

― Acho que isso está ficando inapropriado.

― Me desculpe, eu só não consigo parar de falar isso pra você ― ele tentou se explicar, mas ela entendia menos.

― Voltei ― Noel estava de volta à mesa com sua casquinha em mãos.

― Mia, vamos embora.

― Mas, mamãe...

― Obrigada pelo almoço, boas festas. ― Mia até tentou reclamar, mas logo era quase arrastada para fora pela mãe.

― O que você fez, idiota? ― Noel esmurrou o loiro no ombro.

― Nem fala comigo, seu mer... Seu mer... lyn. Qual é, me devolve ao menos os palavrões! ― implorou, mas o outro apenas negou com a cabeça.

― Nada disso. Eu vou pensar em um modo de consertar isso, e vocês vão para casa. Tchauzinho, garotos Queen.

~

Carteira, pasta, celular, chaves, convites para o baile de gala. Oliver conferia um a um se já havia pego todos os itens antes de sair de casa.

― Vamos, William, já estamos atrasados!

― Cara, você não dorme? ― O empresário saltou de susto e até deixou cair o celular no chão. Noel tinha uma xícara fumegante de café nas mãos, uma expressão de sono no rosto e um pijama vermelho com branco que Oliver classificou como não menos que ridículo.

― Você ainda está aqui?

― Claro, ou você não entendeu a dinâmica da coisa? Eu não vou embora até ter realizado o pedido do seu filho.

― Ok, estou sem tempo para essa loucura tão cedo. ― Oliver o dispensou com mão, fazendo uma careta para a tela do seu celular trincada em pelo menos dois lugares. ― William, vamos, ainda temos que passar no alfaiate e buscar nossos smokings! E depois na empresa ― falou mais alto para chamar a atenção do garoto que ainda não tinha saído do quarto.

― Falando em Smoak...

― Ninguém aqui falou em... ― Oliver até tentou o interromper, mas foi prontamente ignorado.

― Você vai chamar as garotas Smoak para o baile de gala da sua empresa.

― Por sua culpa, estou a pois passos de um processo de assédio sexual, então não vou ficar ao redor de Felicity Smoak até você ter sumido.

― Mas...

― Nada de “mas”. Eu faço o que eu quero, então a menos que tenha um feitiço mais forte, você vai sumir da minha frente agora!

― Tudo bem, você venceu. ― Oliver teve de confessar que não esperava que o chato desistisse tão cedo.

― Você vai sumir? ― testou.

― Não, vou usar algo mais forte. ― Oliver soltou um suspiro pesado e caminhou até o quarto de William para chamá-lo. ― Poção do amor.

― O quê? ― Quando o loiro se virou para esclarecer sobre o que ele falava, só viu o pó colorido voando na direção de seus olhos, junto com o cheiro de caramelo, seus sentidos sempre tão aguçados ficando nublados de repente.

― Agora você vai convidar Felicity.

― Eu vou?

― Vai. E vai levar vestidos maravilhosos para ela e Mia e não vai aceitar não como resposta.

― Não aceitar não como resposta ― repetiu no automático.

― Bom garoto. Até mais tarde. ― E um estalar de dedos depois e Oliver estava novamente sozinho em sua sala de estar, mas dessa vez com um objetivo claro em mente. Ele só precisava de dois vestidos.

~

― Mamãe, e lá no parque pode comprar sorvete de palitinho? E pipoca doce? E um cachorro quente? E um cachorrinho de verdade? E pipoca salgada? E maçã do amor?

― Se você terminar seu almoço todinho, pode escolher duas dessas coisas, filha. ― Felicity colocava tudo que usou para fazer o almoço de qualquer jeito na lava louças. ― E um cachorro não é uma opção agora, já conversamos. ― Ela teve que segurar um riso da esperteza de Mia ao colocar o que queria de verdade no meio de uma lista de itens falados em alta velocidade.

― Mas, mamãe, você disse sete anos. Eu ainda tenho cinco, tá tão longe! ― dramatizou.

― De onde você puxou ser tão exagerada, garota?!

― E se eu ganhar quando fizer seis? ― Fez uma carinha fofa que convenceria até o coração mais duro, mas Felicity já estava acostumada com aquele tipo de manipulação infantil.

― Isso não é uma negociação, Mia, por mais encantador que seja você aprender a contar de trás pra frente só pra isso. ― A menina até fez beicinho de birra, que prontamente ignorado. ― Termine seus legumes ― Felicity a deixou na cozinha quando a campainha soou.

― Se for o gatinho da senhora Fernandes, podemos ficar com ele?

― Desista, Mi… Senhor Queen? ― perguntou surpresa, mesmo que ainda duvidasse que aquele fosse mesmo seu chefe em sua porta. ― Estou demitida? ― Oliver sorriu abertamente, dando um passo para o lado e revelando a presença de William, que, apesar de não querer estar ali, parecia menos mal humorado agora. ― Sempre leva seu filho para demitir pessoas na véspera de Natal?

― Você não está demitida, Felicity.

― Não? Como você sabe, Will?

― Oliver não veio aqui demitir você, só está ocupado demais te encarando e babando pra ir direto ao assunto.

― William! ― os dois o repreenderam ao mesmo tempo.

― A gente pode entrar ou não?

― Cl-claro ― ela gaguejou.

― Will! ― Mia correu da cozinha para a sala, se agarrando a William logo que o viu. ― Oi, papai do Will! ― Acenou efusivamente para Oliver.

― Posso conversar com você? ― Com apenas dois passos Oliver já estava perto o bastante para invadir o espaço pessoal de Felicity, que recuou um pouco.

― Precisa ser tão de perto?

― Desculpe ― pediu, mas não se afastou. ― Você quer ir ao baile de natal da QC comigo? ― Felicity quis gritar um "tá ficando doido, homem?", mas nem isso ela pôde, já que o susto a fez engasgar com a própria saliva, uma crise de tosse vindo a seguir.

― Pelo amor de Deus, Oliver, tem uma criança aqui! Maior vergonha alheia! ― William escondeu o rosto entre as mãos.

― Mia, por que não mostra seu quarto pro Will? ― A garotinha, que não entendia metade do que acontecia até o momento, começou a pular animada, pegando a mão de William.

― Você tem que ver meu videogame antigo, talvez a gente consegue consertar ele junto!

― Comporte-se ― alertou à Oliver, como se ele fosse o pai da situação.

William não sabia o que estava acontecendo com Oliver na última hora, ou nas últimas 24 horas, na verdade. O comportamento estranho e o amigo bizarro do dia anterior tinham dado lugar a esse ser bobão, que não parava de falar sobre uma mulher que eles haviam conhecido no dia anterior, deixando totalmente de lado as responsabilidades da empresa e se ocupando apenas em ensaiar palavras que acabaram não saindo e comprar vestidos de festa, mesmo que nenhum dos dois entendesse nada sobre o assunto.

Agora ver seu pai cantando garotas na frente dele ia além disso, e ele preferia passar o show, principalmente quando Felicity lhe desse um fora. Ela não parecia ser maluca o bastante para embarcar na loucura recente de​ Oliver.

― Boa ideia, dispensar as crianças. ― Quando Oliver novamente tentou se aproximar, Felicity recuou espalmando a mão no peito dele.

― O que está acontecendo aqui, senhor Queen?

― Estou tentando te beijar, pensei que já estava sendo bem óbvio. ― Piscou e foi quando ele enlaçou a cintura dela e a puxou para mais perto.

― E eu pensei que tinha sido óbvia ontem. Você é meu chefe e isso é no mínimo assédio!

― Me processa. ― Sorriu travesso, e por alguns segundos ainda conseguiu distrair a atenção dela para sua boca, foi quando balançou a cabeça vigorosamente tentando retomar o foco.

― Para, para, para. Não vamos fazer isso.

― Olha, Felicity, eu sei que nos conhecemos ontem, mas eu já estou absurdamente apaixonado por você.

― Quê? ― A voz dela subiu uma oitava. ― Não está não.

― Sim, me atingiu essa manhã como uma bala de canhão. Olha, você é essa mãe, profissional, pessoa maravilhosa, por que não estaria?

― Porque nos conhecemos ontem!

― E foi o bastante. ― Dessa vez a aproximação dele foi mais cuidadosa, tanto que ela estava tão atordoada que só o notou quando já estava a poucos centímetros dela. ― Me diz que você também não sentiu uma conexão. ― As mãos dele emolduraram o rosto dela. ― Me diz que não sente agora.

Felicity franziu as sobrancelhas, não consigo negar. Ela não era cega, Oliver era um homem extremamente bonito. Mas ela também não era surda, e os boatos sobre a mão de ferro e intransigência do Queen não eram em nada velados pelos corredores da empresa. Mas ontem ela vira alguém diferente, uma pessoa gentil e preocupada em ser um bom pai. E agora essa versão apaixonada.

Droga, ela sentia.

― Felicity, eu vou te beijar agora, por favor, não me afasta.

 E ela não afastou, ao contrário disso, segurou firme na gola do casaco grosso que ele usava, recebendo os lábios do loiro nos seus. Primeiro devagar, um toque suave e lento, então um choque mais intenso e forte, empolgante até. Então a loirinha só consiga pensar como aquilo era bom e naquele cheiro de caramelo.

Peraí, de onde está saindo esse cheiro de caramelo?

Quando Felicity abriu os olhos, era como se visse seu patrão pela primeira vez de novo, só com pequeno detalhe que algo estava diferente. Seu coração acelerado, a vontade de simplesmente agarrar Oliver com força e nunca mais soltar. E foi o que ela fez.

― Acho que estou apaixonada por você ― murmurou e ele riu, antes de beijá-la mais uma vez.

― Perfeito, porque eu também estou.

― Quarto? ― perguntou direta, e ele não poderia ter ficado mais feliz com a sugestão.

― Quarto.

― Não, nada de quarto! ― Noel surgiu do nada na sala. ― O que tá rolando aqui? Minha ideia deu certo? ― questionou com malícia na voz.

― Como você entrou aqui? ― Felicity questionou, mais ainda sem se soltar de Oliver. ― Não importa, fica de olho nas crianças. ― E começou a puxar Oliver para o quarto dela.

― Não vou olhar crianças, eu hein? O que você fez com ela, cara?

― Eu não fiz nada. Ainda. Dá pra facilitar pra gente, não era o que você me falou para fazer?

― Vocês conversaram sobre mim? ― Felicity perguntou curiosa.

― Tommy, sai daqui.

― Ok, acho que talvez eu tenha pesado a mão um pouco na coisa do amor ― falou reflexivo. ― Oliver, melhor sairmos daqui agora, pode dar problema.

― Eu não vou. ― Noel gargalhou falsamente.

― Vai sim. ― Oliver fechou a cara e agarrou forte o braço do outro, o levando para fora do apartamento.

― Seguinte, você vai sair daqui e me deixar com Felicity. Não foi o que você estava planejando no fim das contas?

― Sim, mas era para vocês quatro formarem uma família, mas aparentemente coloquei vocês dois no cio! Existe uma classificação etária aqui, homem!

― Eu vou te dizer o que vamos fazer: eu vou te dar meu cartão de crédito, e você vai sumir com essas crianças daqui pelas próximas horas.

― Não, esse não era objetivo! Quer saber, não vou sair da sua cola.

― Eu posso te obrigar, sua criatura mágica doida!

― Ou eu posso te obrigar. ― Noel estalou os dedos. ― Vai lá, Oliver. ― Abanou com as mãos na direção da porta.

― Tá, não vejo diferença nenhuma.

Oliver deu de ombros, mas quando caminhou para voltar para dentro, foi como se uma linha invisível e forte o bastante para puxá-lo de volta para o Noel.

― O que você fez?

― Te amarrei comigo. Se quiser ia dar uns pegas na loirinha, vai ter que lidar comigo coladinho em vocês. ― Sorriu inocentemente, e Oliver o amaldiçoou mentalmente umas mil vezes. Pela última gracinha e por nem poder falar um palavrão agora para aliviar o estresse que estava sentindo.

― Filho de uma... Ah, esquece! O que você quer pra me soltar?

― Nós vamos embora. Você tem um baile para ser anfitrião, e se quer que Felicity esteja lá, precisa deixar que ela agora.

― Mas...

― Você precisa se controlar, homem! Você não entendeu, eu fiz você se apaixonar por ela para acelerar as coisas, talvez eu tenha exagerado um pouquinho, mas tudo era para fazer o que os filhos de vocês queriam, não para isso. ― Fez gestos com a língua e mãos pelo próprio corpo.

― Você é um pé no sac...Sac... Desisto! ― Jogou as mãos para cima. ― Você não vai mais sair do meu pé mesmo?

― Não até eu dar um jeito nessa coisa que rolou.

― O baile é em duas horas, se eu não ver ela lá, venho buscar pessoalmente.

― Tá, que seja. ― Deu de ombros, voltando para o apartamento.

― Finalmente, você voltou. ― Felicity segurou Oliver pela mão, o trazendo para um abraço.

― E as crianças também, que coisa boa ― Noel observou. ― Tio Tommy ama todo mundo, mas os meninos já têm que ir saindo.

― Mas já?

― Graças a Deus! ― William exclamou, passando pela porta.

― Nos vemos na festa, vocês são lindas, aproveitem os vestidos que ele deixou em algum lugar por aí. Vem, Oliver.

― Mas...

― Até daqui a pouco, Felicity. ― Oliver foi literalmente arrastado, enquanto lhe lançava uma última piscadela para a mulher.

― Mamãe, vamos no parquinho agora?

― Não, filha, nós vamos nos arrumar para uma festa.

~

― Você parece nervoso, sabe? Do jeito que não para um segundo quieto, estou ficando cansado de andar por esse salão de festas atrás de você ― Noel reclamou, fazendo beicinho.

― Me solta dessas mald... maldi... maldivas algemas. Carvalho! Me solta e você não precisa andar comigo.

― Se eu soubesse que você seria um idiota tão grande quando estivesse apaixonado, jamais teria colocado o feitiço em primeiro lugar.

― Pois tira!

― Eu não sei como, já disse! ― exclamou exasperado.

― Que Papai Noel fajuto fui arrumar, Deus me livre.

― Pare de descontar em mim o fato dela ainda não ter chegado. Se ela vier, claro.

― Ela vem ― falou resoluto.

― Oh, ela veio.

O olhar do loiro foi direto para a porta. Mesmo que o vestido tivesse sido comprado por ele, não o deixou de deslumbrar, ainda mais porque ele não estava preparado para o impacto que era Felicity Smoak naquele vestido vermelho.

― Finalmente.

― Devagar, Oliver ― Noel reclamou quando foi arrastado pelos passos apressados do empresário em direção à entrada.

― Você está fantástica, perfeição.

― Você também, amor da minha vida.

― Eu te amo.

― Eu também te amo.

― Okay! ― Noel gritou, ficando entre os dois, que já iam começar outro beijo. ― Parou com loucura, vocês ninguém ama ninguém. E tem uma criança aqui, por que vocês sempre esquecem disso? ― falou chamando atenção para Mia, que estava ocupada demais admirando as luzes brilhantes e a árvore de natal de cinco metros no meio do solão.

― Mia, por que não vai procurar o William?

― Ele está na sala da presidência ― Oliver complementou a sugestão de Felicity.

― Por que não leva ela lá, Felicity?

― Ou você pode fazer isso, Noe... Tommy. Aproveita e fica lá de olho neles pra gente ― o loiro sugeriu. Noel ponderou. Oliver era o dono daquela festa lotada, o que poderia acontecer? E ao contrário dos dois adultos, as crianças pareciam precisar de mais atenção no momento.

― Que saco, tá bom! ― Oliver suspirou de alívio quando sentiu que o prendia ao Noel não existia mais. ― Só tentem não ser presos por atentado ao pudor enquanto estou fora. Vem, Mia. ― Pegou a mão da menina, foi quando viu Diggle e veio a ideia. ― Ei, Dig. Fica de olho no seu patrão para ele não fazer nada anormal, tá bom? Estou na sala dele com as crianças. ― Só quando o segurança assentiu, foi que ele ficou mais tranquilo para subir. Talvez devesse aproveitar o tempo para consultar o manual e encontrar uma solução para aquela bagunça.

O caminho até a cobertura foi preenchido por Mia contando mais uma de suas histórias enormes e detalhadas. Noel tinha de admitir que amava aquela garota e toda a espontaneidade infantil no falar e os pulos de ansiedade para ver alguém que ela mal conhecia. Tudo bem, ele podia ter exagerado e pego pesado demais com a coisa da poção do amor, mas que aqueles quatro seriam uma família perfeita, disso ele tinha certeza.

― Will, o que você está fazendo? ― A loirinha entrou logo perguntando, mas o garoto parecia estar em um humor pior que nunca. ― Posso jogar também? ― perguntou quando viu se tratar de um videogame.

― Faz o que você quiser, coisinha. ― Entregou o jogo e pegou o celular.

― O que foi? O tio Oliver brigou com você?

― Ele não é seu tio, ele mal é meu pai. ― Mia torceu o lábio inferior para o tom rude, e logo seu nariz começava a ficar vermelho de um choro que vinha aí.

― Ei, cara, pega leve com ela.

William se sentiu culpado na hora, mas não conseguia esconder como estava chateado. Ele pensou que o fato de seu pai ter encontrado uma pessoa legal o deixaria mais feliz e talvez disponível para fazer coisas que não envolvessem apenas trabalho, mas todo aquele amor o havia transformado em um lunático, com menos tempo ainda para ele. Estava tudo pior que antes, e vontade dele agora era de chorar junto com Mia.

― Desculpa, Mia, não quis gritar com você. ― Fez carinho no cabelo loiro dela e bastou isso para ela parar o choro, abrir um sorriso e pular no sofá feliz com o joguinho em mãos. ― Quer dizer que eles já estão lá embaixo de novo? Juntos?

― Pensei que gostasse da Felicity.

― Gostava. Até ela começar a corresponder esse amor doido do meu pai com a mesma medida de loucura. Você não acha isso estranho?

― Puff. Não ― falou tão falsamente que William nem precisou argumentar mais para provar que estava certo.

― Mentira. É como se o pouquinho de atenção que ele ainda me desse tivesse ido por água abaixo. Eu poderia sumir e ele nem daria falta.

― Claro que sentiria, William, seu pai te ama.

― Então ele é péssimo nisso.

― Pra isso eu não tenho contestação, mas vai melhorar, eu prometo.

― E pensar que Mia ainda me obrigou a fazer aquele desejo estúpido, e eu nem tenho mais idade pra acreditar nesse tipo de baboseira.

― Ei, não culpe o Papai Noel, aposto que ele está fazendo o máximo que pode! ― William franziu o cenho para a reação do homem, mas resolveu deixar para lá. Aquele era mais doido que todo mundo junto.

― Tanto faz, foi estúpido. ― Noel ainda ia contestar, mas o telefone da sala da presidência começou a tocar tão insistentemente, que resolveu atender.

― Sala de Oliver Queen.

Você é aquele amigo do senhor Queen, não é? Aqui é o Diggle, o segurança dele.

― Fala aí, Dig, o que manda?

Você disse para avisar sobre algo anormal acontecendo. Oliver planejar um pedido de casamento na hora de discurso é anormal o bastante?

― Eita, merda! Segura ele aí, estou descendo. Crianças, não saiam daqui! ― Quando estava fora de vista, Noel só precisou de um estalar de dedos e já estava no andar inferior. ― Onde ele está?

― Uau, como chegou aqui tão rápido?

― Onde?

― Nos bastidores, se preparando para entrar.

― E a garota de vermelho que estava com ele? Cadê ela?

― Acho que lá também. Que história é essa, e quem é você?

― Um amigo.

― Que amigo?

― Depois eu explico, eu vou lá. ― Mostrou os dois indicadores na direção de onde ficavam os bastidores da preparação para o evento da noite, indo para lá em seguida. ― Para tudo! ― Por sorte (ou não) estavam apenas os dois, Oliver inclusive já estava ajoelhado na frente de Felicity. ― E vocês podem ficar falando por meia hora, eu não estou acostumado a correr, chegar aqui me deu uma canseira! ― pediu ofegante.

― Sai daqui.

― É sai daqui, Tommy!

― Para isso, não pede ela em casamento, Oliver, você vai acabar de vez com sua relação com seu filho. Vocês não estão raciocinando direito, não podem simplesmente casar com alguém que acabaram de conhecer! Não viram Frozen?

― Você juntou a gente, criatura.

― E agora estou mandando irem devagar, mesmo sabendo que talvez não consigam, já que eu meio que ferrei com tudo com aquele feitiço, mas...

― Olha, você é maluco. E, sim, Oliver, eu aceito casar com você.

― Perfeito! Será que arrumamos um ministro nessa festa?

― Não! E seus filhos, eles não estão felizes.

― São crianças, vão superar ― Oliver retrucou sem abalar. ― Agora se nos der licença, vou me casar.

― Vamos nos casar! ― Felicity lhe deu um selinho, sorrindo animada.

― Calados. ― Estalou os dedos e nenhum dos dois conseguia mais falar nada. ― Finalmente! Preciso pensar, preciso pensar. Nesse manual deve ter alguma coisa. ― Começou a folhear um livro gigante que apareceu em suas mãos. ― Poção do amor, poção do amor... Aqui! Só pode ser quebrada por um amor maior. Droga, como isso me ajuda? ― Como por uma iluminação divina, a ideia veio. ― As crianças! Só um amor maior para quebrar essa loucura, eu sou um gênio! Nós três vamos lá para cima, vocês vão abraçar aqueles pentelhos e tudo vai voltar ao normal. Fim da história.

Foi quando Felicity começou a murmurar tentando falar algo, mas o feitiço de silêncio a impedia. Ela já estava ficando vermelha e quando largou Oliver para tentar bater no Noel, este recuou alguns passos, resolvendo deixá-la falar.

― Minha filha não deveria estar com você?

― Ela está com o William.

― Você deixou uma criança tomando conta de outra criança e desceu para uma festa?

― Relaxe, vamos para lá agora, eles estão bem. Mas essa reação é uma boa notícia, mostra que vocês ainda têm solução.

A cada segundo que ficava longe de Mia, Felicity sentia toda aquela atração inexplicável por Oliver diminuir. Uma coisa era sua pequena sumir em horário de trabalho, haviam somente funcionários no prédio. Agora com aquela festa lotada, seu estômago afundava com os piores cenários se formando em sua cabeça.

― Felicity, e nosso casamento? ― Oliver a chamou, e ela precisou de alguns segundos o olhando, a vontade de ficar ainda era forte, mas ela tinha outra prioridade no momento.

― Desculpa, Oliver. É minha filha. ― E acompanhou Noel para o elevador. Oliver ainda não conseguia se imaginar em algum lugar que ela não estivesse, então os seguiu. ― Onde os deixou?

― Sala da presidência na cobertura.

O elevador parecia demorar três vezes o tempo normal, Felicity quase quicando no lugar de nervoso, Oliver a olhando como um bobo apaixonado e Noel achando que estava tudo a segundos de se resolver. Quando tudo isso acabasse, talvez ele pedisse algum tipo de treinamento mais intensivo para seu tio, ele não estava pronto para o trabalho.

― Me diz que existe outra sala da presidência nesse andar ― a loira murmurou quase chorando.

― Do que você... Cadê eles? Eu podia jurar que deixei os dois aqui dez minutos atrás ― ponderou franzindo o cenho.

― Onde está minha filha, seu maluco? Por que ela sumiria? ― esbravejou.

― Oh, entendi. Quando saí, William estava falando sobre não fazer falta e esses conflitos adolescentes chatos. Pensei que fosse só mais drama.

― O que parece agora? Droga, onde ela poderia estar?

Oliver, que até o momento só estava irritado por ainda não estar casado, começou a ficar preocupado e culpado. Pelo que aquele doido estava falando, a culpa do sumiço das crianças era especialmente dele.

― Dig? ― falou ao telefone, ligando para um dos seus números de discagem rápida. ― William sumiu de novo, preciso que o encontre.

De novo, Oliver?

― Sem lição de moral agora, vê o circuito interno de segurança, algo do tipo. Ele está com Mia, uma loirinha de uns cinco anos. Por favor, tem muita gente no prédio, faz isso rápido. ― E desligou. ― Vamos encontrá-los, Felicity ― Tentou uma espécie de conforto, lhe afagando as costas. ― Por que carvalhos você os deixou?

― Sei lá, pra impedir o casamento de vocês? Cara, eu sou muito ruim nisso!

― Você acha? ― Oliver ironizou.

― A sala das crianças! ― A ideia veio de Felicity. ― Foi onde os encontrei ontem, vai que...

― Boa ideia. Você é mais rápido, fala com Diggle e vê as câmeras daquela área. Eu e Felicity vamos direto para lá. ― Noel concordou com a cabeça e logo que Felicity virou de costas, sumiu no ar.

― Como ele pode ser mais ráp... Sumiu?

― Vamos, Felicity.

Foi como se o peso de um planeta inteiro saísse dos ombros de Felicity, quando ela viu uma cena parecida à do dia anterior, os dois jogando juntos no maior sofá da creche da empresa. Ela soltou a mão de Oliver, que nem lembrava direito quando havia pego e correu até ela, pegando Mia colo e apertando com força.

― Graças a Deus, filha! Garota, você quer me fazer ter um treco? Dois dias seguidos?

William ainda observava a cena com uma pontada de inveja e saudade da própria mãe, foi quando um abraço surpresa o envolveu também. Seu pai murmurava um surpreendente, inédito e aliviado pedido de desculpas.

― A gente não sumiu nem por meia hora ― Will se justificou envergonhado.

― Parceiro, não faz mais isso, achei que não fosse voltar para mim! Eu sou o pior pai do mundo. ― Oliver ainda não o tinha soltado e William negou a ideia com a cabeça, mas só ele sabia que não fosse Mia em sua cola, essa seria uma fuga definitiva, talvez para a casa dos seus avós em Central City. ― Vai em frente, pode dizer. Mas qualquer xingamento seu não pode ser pior do que eu já estou dizendo para mim mesmo por te fazer querer ir embora.

― Não tenho nada para dizer. ― Oliver o olhou confuso. Podia parecer simples, mas aquele abraço e o pedido de desculpas era o que ele sempre quis e precisou de verdade. ― Tá tudo bem, pai.

― Pai? ― Oliver estava definitivamente emocionado. Era a primeira vez que alguém lhe chamava assim e ele nunca pensou sentir algo tão forte quando ouviu do seu filho.

― E meu trabalho aqui está feito! Mais ou menos. ― Noel, que observava tudo da porta, se manifestou, exagerado como sempre. ― Vocês agora são família, desculpa ter mexido com tudo e não ter dado muito certo, mas não estraguem daqui para a frente. E vocês, crianças, façam pedidos mais fáceis ano que vem, por favor. ― Noel piscou para os quatro e simplesmente desapareceu na frente de todos.

― Mas que merda?! Oba, eu consigo falar palavrões!

― Eh, mas seria melhor que não falasse. ― Felicity indicou a filha com o olhar.

― Desculpe ― pediu constrangido. Era bom finalmente conseguir olhar para ela sem a vontade de largar tudo só para estarem juntos para sempre, mesmo que a vontade de estar junto não tenha sumido por completo.

― Er, melhor voltar para lá. O senhor tem uma festa para anfitrionar e nós duas temos que ir.

― Ou vocês poderiam aproveitar com nós dois. ― Oliver sugeriu com cautela. ― Até onde sei, Natal é pra passar com muita gente.

― Não acho que...

― Por favor, Felicity. Não está vendo como ele está contidamente desesperado para que fique?

― William! ― Os adultos o repreenderam juntos.

― Por favor, mãe, estou com fome e tem uma mesa cheia de doces lá embaixo.

― Tudo bem, formiguinha, mas você não vai sair da minha vista, okay? ― Pegou a mão dela e foi em direção ao salão de festas.

― Vamos, filho. ― Oliver passou um braço pelos ombros do garoto, sentindo orgulho em falar a palavra. ― Vamos mostrar para as garotas Smoak como os garotos Queen podem ser divertidos.

~

― Mas, mamãe, não quero brócolis. Por que não posso comer batata frita?

― Porque a senhorita abusou do açúcar ontem naquela festa e tenho certeza que vai pedir tudo que tem de doce naquele parque mais tarde. E não adianta fazer esse bico, mocinha. Termine seu almoço. ― Indicou o prato quando foi atender a porta ao soar da campainha, uma sensação estranha a atingindo. ― Senhor Queen? E William. ― Felicity passou a mão pela testa em um gesto quase desesperado. ― Estou tendo o pior dejavù da história.

― Podemos entrar? ― Oliver questionou com cuidado, mantendo uns bons dois passos de distância da porta.

― Cl-claro, que falta de educação a minha. ― Ela soltou a maçaneta da porta, dando espaço para os dois. ― Fiquem à vontade.

― Will! ― Como no dia anterior, Mia chegou correndo e abraçando William. ― Oi, papai do Will! ― Acenou para Oliver.

― Oh, agora vi seu ponto. Dejavù ― comentou apenas para Felicity, que riu constrangida. ― Bom dia, Mia. Tudo bem você?

― Eu estou sim, mamãe me disse que vai me dar uma surpresa de Natal.

― Sério? ― Oliver se abaixou para ficar à altura dela. ― Espero que não seja melhor que a minha surpresa e do Will pra você.

― Você trouxe presente para mim?

― Mia, se controle. Não precisava comprar nada, senhor Queen.

― Oliver. Por favor, me chama de Oliver ― pediu. ― E não foi incômodo nenhum, Will me disse que ela queria muito.

― Oh, você não... ― William correu até o lado de fora e voltou com uma bolinha branca de pelos nas mãos, e estendeu para Mia, que logo lançou aquele olharzinho mais pedinte que o do próprio cachorro, pedindo autorização para a mãe.

― Posso, mãe?

Se isso fosse no dia anterior, Felicity já imaginava os sérios problemas que iria entrar ao ter que devolver o bichinho, mas ela já estava decidida a antecipar o presente em quase dois anos. Perder Mia na noite anterior a havia traumatizado e resolveu conceder aquela vontade da filha.

― Que nome pretende dar a ele? Ela? ― Felicity também se agachou à altura da filha, acariciando a cabeça do cachorro.

― Ele ― foi William que respondeu.

― Então eu posso? ― Quando Felicity concordou, Mia pegou o filhote no colo o apertando junto ao peito. ― Obrigada, você é a melhor mãe do mundo todo! Que tal a gente dar o nome do amigo do tio Oliver, o tio Noel?

― Não era Tommy?

― Ele disse para mim no elevador que era Noel, então o cachorrinho vai chamar Noel. Uh! Era segredo! ― Levou as duas mãozinhas à boca.

― É um bonito nome, Mia ― Oliver elogiou.

― Eu sei.

― Mia, agradeça ao Oliver e ao Will pelo presente.

― Obrigada, tio. ― Oliver não teve opção a não ser abraçá-la de volta quando a menininha colocou o cachorro no chão e se jogou em seus braços.

― Ei, por que você não me mostra onde o Noel vai dormir? ― William lançou um olhar significativo para o pai, que dizia algo do tipo “não ferre tudo de novo”. ― Comporte-se, pai ― brincou, correndo atrás de Mia, que corria atrás do cachorro.

― Pai, uh? Parece que progrediram. ― O loiro concordou com a cabeça.

― Me desculpe se o cachorro foi demais. ― Oliver ficou em pé, estendo a mão para ajudar Felicity a levantar também.

― Tudo bem, estávamos de saída para darmos um a ela. Mas agora, acho que minha filha gosta mais de você do que de mim, então aceito suas desculpas por isso. E como você e William estão bem, parece que você é o pai preferido do local.

― Estou longe disso, mas obrigado por achar que sim. ― Ele tomou uma respiração profunda. Era mais fácil quando estava enfeitiçado. ― Eu...

― Eu... ― Os dois começaram ao mesmo tempo. ― Pode falar.

― Não, por favor... Fala você.

― Okay. Ontem foi um dia esquisito.

― É, eu sei. Mas, na boa, não foi ruim no fim das contas.

― Nós perdemos nossos filhos, Oliver ― falou com uma risada amarela.

― Mas os encontramos. E nos divertimos na festa. E encontramos um ao outro.

― Por favor, você é meu chefe.

― E daí? Eu gosto de você, Felicity. ― Ela arregalou os olhos para a declaração repentina.

― Direto ao ponto, então ― comentou corando e mordendo o lábio.

― Não tenho mais idade ou disposição para meias palavras ou enrolação, Felicity.

― Não vai dar certo. Estávamos malucos, sei lá, agora voltamos ao normal e temos vidas normais, separadas e muito, muito divergentes.

― Eu não me importo, podemos fazer acontecer. Sim, ontem foi um dia esquisito e fizemos algumas coisas que não deveríamos, como quase casar, mas no fim das contas, foi um saldo positivo. Me conectei com meu filho que amo mais que tudo, conheci essa garotinha super esperta e a maravilhosa mãe dela. Não quero deixar o que tive.

― Oliver, não posso deixar que qualquer pessoa entre assim em nossas vidas, por mais que eu...

― Por mais que você? ― a incentivou.

― Eu também gosto de você. Não do você maluco apaixonado, mas do você você. Sei que parece a mesma coisa, mas soa diferente na minha cabeça.

― Eu entendi. E entendi a sua preocupação com Mia, eu também jamais deixaria alguém ao redor do meu filho que não fosse mais do que confiável, mas ele já te adora. E vamos combinar, William é um julgador de caráter dez vezes melhor que eu. Faremos dar certo.

― Você é um negociador e tanto, senhor Queen ― murmurou coçando um ponto imaginário na testa. ― Tem certeza disso?

― Como de poucas coisas na minha vida. ― Felicity olhou para o corredor que dava em direção aos quartos. ― O que está procurando?

― As crianças?

― Para quê?

― Pra elas não verem isso. ― O beijo dessa vez foi cheio de promessas e expectativas de um futuro ainda incerto, mas que eles não viam a hora de viver nele. ― Então, querem ir ao parque com a gente? Você deu o cachorro, espero que ajude a cuidar.

― Eu sou o rei dos animais domésticos! ― Se gabou ainda abraçado a ela. ― Eu já te falei de quando trouxe dez gatos de rua para a mansão? Minha mãe ficou doida!

― E quando por acaso, teve oportunidade de falar isso pra mim? ― questionou retoricamente.

― Tem razão, temos muito assunto para atualizar. Mas uma coisa tenho que confessar logo: é a primeira vez que levo meu filho para um encontro.

― Uh, primeira vez pra mim também.

― Olha aí, já achamos uma coisa em comum! ― Piscou para ela. ― Mia, William, vamos levar o Noel para um passeio? ― Como se soubesse que falavam dele, a criaturinha foi o primeiro a chegar na sala correndo, seguido de perto pela menininha.

― Vamos, vamos! ― Mia pegou na mão de Oliver o puxando para fora de casa.

― Ei, tudo bem pra você? ― Felicity perguntou à William lhe afagando o ombro.

― Ele está feliz, era o meu desejo no fim das contas. Passamos a manhã conversando, o que me fez feliz também, então... Estar perto de vocês o faz ser um pai melhor. ― A loira sorriu, negando com a cabeça, para então sair pegando a bolsa, chaves, celular e os óculos de sol.

― Você é que o faz ser um pai melhor, sabia?

― Que seja. ― Deu de ombros. ― E você está feliz? Porque se ainda não sabe, foi o que Mia pediu de Natal.

― Bom, foram dias estranhos... ― começou passando o braço pelos ombros do garoto saindo de casa, os dois sorrindo ao verem de longe Oliver sofrer ao tentar colocar a coleira no inquieto Noel. ― Mas parece que o Papai Noel estava bem generoso esse ano.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam dessa família linda?
Porque afinal, Natal é basicamente sobre amor e família.
Espero que tenham gostado. Nos vemos pelos comentários. Bjs*