Brotherhood and Blood escrita por Bayons


Capítulo 5
Capítulo 4




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A esperada chuva torrencial dá a ilusão de vários rios se derramando nos vidros das janelas. As aulas já terminaram, porém a escola permanece repleta de alunos, lógico que o principal motivo é o chiado provocado por inúmeras gotas de água se jogando sobre o solo, tão intenso a ponto de fazer hesitar os prevenidos que levaram guarda-chuva. O segundo motivo está relacionado às atividades extracurriculares que a escola permite durante a tarde, os famigerados clubes. Um terceiro motivo, influenciado pelos anteriores, é um encontro no corredor do último andar entre pessoas que não esperavam se ver novamente, uma dessas coincidências comumente chamadas de destino.

Além de aninhar-nos no prédio, a torrente possui outros efeitos sobre as pessoas, em seus olhos comumente brilhantes é refletido apenas o cinza melancólico das nuvens. Sem dizer palavra, nós dois permanecemos calados observando através da janela distorcida pela água a se derramar nela. Não sei dizer quanto tempo já se passou, por todo esses momentos me perdi analisando seu rosto sem qualquer indício de sorriso ou ânimo tão característicos de Crista Reiss. Abro a boca, mas fecho-a, relutante. Incapaz de interromper seus pensamentos que devido a sua expressão serena me parecem tão profundos e delicados. 

Horas se passam, não, minutos. Ou foram segundos?  Não sei dizer, a chuva ameniza e alguns raios de sol podem ser vistos desbravando as nuvens. Os olhos de Crista passam a brilhar novamente refletindo os arco-íris, e como se alguém houvesse dado corda nela, começa a se mover com a mesma energia de quando a conheci dois dias atrás.

— Ni… — diz Crista confusa, talvez ainda libertando-se de seus devaneios.

— Ni…? — pergunto.

— Nicolau! — exclama Crista com a mesma expressão sorridente de antes, dando um vigoroso tapinha nos meus ombros, vigoroso até demais. — Olha só, quem diria que me transferi para seu colégio, isso não pode ser coincidência!

— Bem Crista Reiss, eu estou surpreso em lhe ver e certamente coincidências como essa são possíveis, porém… — dou uma pausa para limpar a garganta enquanto a encaro com uma expressão cética. — Nicolau? Quem é esse? 

— Hã? Seu nome não é esse? — sua expressão parece mais ainda confusa que antes, inclina a cabeça para o lado, pensativa. — É verdade, me desculpe, Neandertal. — faz uma reverência.

— Isso nem sequer é nome de gente! — digo quase gritando. — Com todo respeito aos nossos antepassados, pra sua informação eu sou um Homo Sapiens e meu nome é…

— Judeau, Judeau. Agora lembrei, sinto muito. — me interrompe com uma expressão sem graça coçando a nuca. — Normalmente esqueço o nome de pessoas sem nenhuma presença e que vivem lamentando a vida.

Uma ruga se forma na minha testa.

— Como pode ter tanta certeza? — Crista continua.

— Sobre o que?

— Sobre ser um Homo Sapiens, quem sabe você não seja um alienígena.

— Alienígenas nem existem.

— Existem sim... mas não como os que aparecem nos filmes. 

Eu retrucaria se seu tom não houvesse soado diferente, inóspito, semelhante ao de quando contemplava a chuva em absoluto silêncio. 

— Deixando as brincadeiras de lado, é bom ver você novamente. — Crista Reiss exprime em tom sincero. — É meio desconfortável se transferir para um colégio no meio do ano, fiquei com medo de não conseguir me enturmar, porém já fiz um amigo. — confessa com um sorriso meigo.

Essa já é a terceira vez que fico sem palavras.

— De que cidade está vindo? E logo no meio do ano? — enrubescido a enchi de perguntas para mudar de assunto. — Aliás, é bom te ver também. 

“O que eu estou falando?” pensei, ela apenas sorriu novamente e em seguida balançou a cabeça em negação.

— Apenas estou mudando de bairro, Ashley conseguiu um emprego novo aqui por perto e nos mudamos. Estava dando uma volta no parque enquanto ela fazia compras e coisas do tipo, foi quando nos conhecemos.

Ao ouvir o nome dela um arrepio sobe minha espinha, aquela mulher é assustadora. Mestra, não foi assim que Crista Reiss a chamou? Julgando ser muito pessoal, decido não entrar nisso por enquanto. Quando lembro de algo.

— Ah, gostaria de confessar uma coisa. — digo desviando o rosto me sentindo mal por não ter sido totalmente sincero com ela na última vez.

Um sorriso travesso se estende de orelha a orelha em seu rosto enquanto inclina para frente com um ar curioso e insinuador.

— Opa, opa, o que vem aí? Será uma confissão amorosa? — em seguida sua expressão fica séria, coluna reta enquanto põe a mão no rosto sussurrando consigo mesma, levemente enrubescida. — Essa não, o que eu faço? Quer dizer, assim tão rápido? Estou envergonhada, bom, primeiro preciso apresentá-lo pros meus pais, espera, não tenho pais. Ashley vai servir. Descobrir onde ele mora, para irmos para escola juntos, depois lancharmos juntos, irmos pro cinema nos finais de semana, apresentar pras minhas amigas, espera, eu ainda não tenho amigas aqui…

Seus sussurros se tornam cada vez mais baixos, em meio aos murmúrios tenho a sensação de ter ouvido algo intrigante. 

— N-Não é nada disso, é sobre …

— Lá vem, lá vem... — grita baixinho, põe as mãos na cabeça como se acabasse de acontecer um curto-circuito lá dentro, quase posso ver a fumaça saindo.

— … o real motivo da minha tristeza, um amigo de infância morreu a pouco tempo… ainda não superei.

Crista suspira aliviada.

— Então era isso, eu já sabia. 

— Algum do colégio lhe contou? — pergunto preocupado, não é uma notícia que deveria se espalhar por aí.

— Não, enquanto observava as árvores eu senti sua tristeza, tristeza pelos mortos. — ela diz orgulhosa, olhando para os lados se certificando de ninguém ouvir. — Afinal, eu sou uma necromancer, por isso me senti no dever de confortá-lo.

Necromancer? Esse tipo de coisa existe? É outra brincadeira dela? Ela sentiu minha tristeza… que outra explicação teria para sua abordagem? Seja como for, não importa no momento. Caleb… 

— Ele era muito incrível, há muito tempo atrás ele…. 

Sou interrompido por ela estendendo a mão num sinal de pare.

— Se for me contar uma história sou todo ouvidos num restaurante.

Como um trovão nossos estômagos mostram sua bravura, olho pela janela e a chuva já se dissipou a um tempo.

— T-Tem razão, vamos.

— Mas é você que vai pagar.

— Quê?!

 


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